2014 foi um ano duro e muito triste. E, de imediato, a voz de minha Avó - triste é passar fome. Ela sabia do que falava, eu nunca soube. Mas não só a advertência dela me faz moderar os adjectivos. Hoje de manhã troquei mails "oficiais" com uma colega minha. E, de repente, resposta a abarrotar de sorrisos - fui sua aluna no ICBAS!
Sou um privilegiado. Sobreviverei na memória de alguns, mas, bem mais importante, na prática de muitos, que ajudei a encarar a Medicina como a entendo - o diálogo entre duas pessoas inteiras nos direitos e deveres, a colaboração de dois Sujeitos e dois Saberes, a prática clínica tocada a quatro mãos. Tive muitos alunos, mas apenas um punhado de discípulos. E o presente enternecido dessas juventudes que, gentis e ávidas, me escutaram, faz com que modere o discurso - 2014 foi um ano muito triste para um homem com muita sorte.
quarta-feira, dezembro 31, 2014
segunda-feira, dezembro 29, 2014
Ai o traidor:)))))).
Os Homens não Sabem o que é o Amor
De forma geral, os homens não sabem o que é amor, é um sentimento que lhes é totalmente estranho. Conhecem o desejo, o desejo sexual em estado bruto e a competição entre machos; e depois, muito mais tarde, já casados, chegam, chegavam antigamente, a sentir um certo reconhecimento pela companheira quando ela lhes tinha dado filhos, tinha mantido bem a casa e era boa cozinheira e boa amante - então chegavam a ter prazer por dormirem na mesma cama. Não era talvez o que as mulheres desejavam, talvez houvesse aí um mal-entendido, mas era um sentimento que podia ser muito forte - e mesmo quando eles sentiam uma excitação, aliás cada vez mais fraca, por esta ou aquela mulher, já não conseguiam literalmente viver sem a mulher e, se acontecia ela morrer, eles desatavam a beber e acabavam rapidamente, em geral uns meses bastavam. Os filhos, esses, representavam a transmissão de uma condição, de regras e de um património. Era evidentemente o que acontecia nas classes feudais, mas igualmente com os comerciantes, camponeses, artesãos, de forma geral com todos os grupos da sociedade. Hoje, nada disso existe.
As pessoas são assalariadas, locatárias, não têm nada para deixar aos filhos. Não têm nada para lhes ensinar, nem sequer sabem o que eles poderão vir a fazer; as regras que conheceram não serão de todo aplicáveis a eles, porque eles viverão num mundo completamente diferente. Aceitar a ideologia da mudança permanente significa aceitar que a vida de um homem está reduzida estritamente à sua existência individual e que as gerações passadas e futuras não têm, aos seus olhos, nenhuma importância.
É assim que nós vivemos, e ter um filho, hoje, para um homem, já não faz qualquer sentido. O caso das mulheres é diferente, porque elas continuam a sentir a necessidade de terem um ser que amem – o que não é, nem nunca foi, o caso dos homens. É um disparate acreditar que os homens também têm necessidade de acarinhar e de brincar com os filhos, de lhes fazer festinhas. Por mais que no-lo digam, é um disparate. Depois de nos termos divorciado e de o quadro familiar se ter desfeito, as relações com os filhos perdem o sentido. Um filho é uma armadilha que se fechou, é o inimigo que temos de continuar a manter e que vai acabar por nos enterrar.
Michel Houellebecq, in 'As Partículas Elementares'
As pessoas são assalariadas, locatárias, não têm nada para deixar aos filhos. Não têm nada para lhes ensinar, nem sequer sabem o que eles poderão vir a fazer; as regras que conheceram não serão de todo aplicáveis a eles, porque eles viverão num mundo completamente diferente. Aceitar a ideologia da mudança permanente significa aceitar que a vida de um homem está reduzida estritamente à sua existência individual e que as gerações passadas e futuras não têm, aos seus olhos, nenhuma importância.
É assim que nós vivemos, e ter um filho, hoje, para um homem, já não faz qualquer sentido. O caso das mulheres é diferente, porque elas continuam a sentir a necessidade de terem um ser que amem – o que não é, nem nunca foi, o caso dos homens. É um disparate acreditar que os homens também têm necessidade de acarinhar e de brincar com os filhos, de lhes fazer festinhas. Por mais que no-lo digam, é um disparate. Depois de nos termos divorciado e de o quadro familiar se ter desfeito, as relações com os filhos perdem o sentido. Um filho é uma armadilha que se fechou, é o inimigo que temos de continuar a manter e que vai acabar por nos enterrar.
Michel Houellebecq, in 'As Partículas Elementares'
quinta-feira, dezembro 25, 2014
segunda-feira, dezembro 22, 2014
domingo, dezembro 21, 2014
terça-feira, dezembro 16, 2014
segunda-feira, dezembro 15, 2014
Uma "loucura" que me assusta...
Alguns marselheses estão loucos
14.12.2014
AZEREDO LOPES
Quem gosta do Astérix sabe que, em quase todos os álbuns, alguém diz "Estes romanos são loucos!" Os romanos não são de certeza mais loucos do que os outros. Mas que alguns marselheses estão (não sei se são) loucos, ai isso estão, e concentram-se na Câmara e no equivalente francês do INEM. A questão veio a lume há uns dias, e conta-se depressa.
Com a melhor das intenções, estão a ser distribuídos aos sem-abrigo marselheses (e há-os, bastantes) "cartas de socorro", que deverão ser preenchidas e mantidas em local bem visível, com a indicação do nome e do apelido do sem-abrigo em questão, assim como referência explícita às doenças crónicas que a pessoa possa ter, como a diabetes, a doença cardíaca, o HIV e a esquizofrenia. Não se trata de uma opção: é um dever, apenas aplicável àquela categoria de pessoas. Pressupõe-se, pelo que se compreende das explicações algo atabalhoadas da Câmara de Marselha, que, tratando--se de pessoas vulneráveis pela ausência de laços sociais, a medida é necessária para salvar vidas.
Ora, se logo a começar causa espécie que só os sem-abrigo sejam sujeitos a tanto desvelo (uma vez que a maioria consegue exprimir-se e dizer o que tem ou o que não tem como doenças), do ponto de vista não material a opção agrava-se pelo facto de, na parte de trás do cartão, estar inscrito um triângulo amarelo. E aí, mexemos na História e é o diabo a quatro.
Qualquer um que procure estar atento ao que nos rodeia tem a noção de que, em sociedades muito competitivas como aquelas em que agora vivemos, a tendência para a classificação, a hierarquização e a catalogação é cada vez maior. Por razões de eficiência, por exemplo, criaram-se empresas que se dizem mais competentes a ajudar a escolher e a excluir, a puxar a si o "eleito" ou a deixar no meio da manada todos os restantes.
A "Ciência", agora, também ajuda nestes processos cada vez mais deterministas e darwinianos. Ainda há pouco, a diferença entre quem tinha meios e os restantes era a capacidade de poder diagnosticar o mais cedo possível a maleita e, depois, aceder às formas mais evoluídas de a tratar. Hoje, antecipa-se, definem-se probabilidades: de ter cancro, de ter Alzheimer, de ter isto ou de ter aquilo, definem-se riscos que podem vir a condicionar a hipótese do empréstimo porque, por exemplo, pode a companhia de seguros não ter interesse nenhum em segurar aquilo que acha que não é seguro. E temos, então, um belo negócio: porque, determinando-se a priori aquilo que é seguro, desaparece ou fica bem diminuída a imponderabilidade (a roleta) que sempre fora associada à saúde ou à falta dela. Quanto à doença, aliás, sempre me pareceu irónico este sentimento de posse (o "ter") relativamente àquilo que de certeza bem se dispensaria, mas a língua é assim, tem - justamente - destas coisas.
E, depois, temos a loucura abjeta da classificação. Aquela em que o "classificado" é tido como inferior ou intocável e em que o objeto da tipificação é a diminuição, a perseguição ou a eliminação do "outro". Os nazis bem nos "ensinaram" como fazer, fosse em relação aos judeus, aos ciganos, aos homossexuais, aos deficientes, aos comunistas ou a outros. E não faltam exemplos, ainda hoje, desta definição implícita ou explícita do inimigo ou do alvo.
Não deixa de ser verdade, no entanto, que a Alemanha nazi (em medida menor, a África do Sul do apartheid) levou ao esplendor burocrático a obsessão que tinha em relação aos seres "inferiores". Definiu-os, estabeleceu graus de parentesco, classificou-os, catalogou-os, atribuiu-lhes, até, símbolos identificadores: no caso, as famosas estrelas cujo uso impôs, essencialmente, aos judeus, introito ao plano de extermínio depois executado.
E aqui é que entra o "triângulo" amarelo dos sem-abrigo de Marselha. Como disse, a simples existência do cartão de saúde que deve ser exibido incomoda e é discriminador pela exibição. A sua associação inevitável a um passado de repelência é estúpida, incompetente e indefensável.
Ora, aí, não há boas intenções que possam ser invocadas e até discutidas calmamente. Aí, estou do lado dos sem-abrigo de Marselha. Aí, a estupidez ignorante deve ser castigada.
quinta-feira, dezembro 11, 2014
quarta-feira, dezembro 10, 2014
:(.
Durante os namoros, 25% dos jovens têm comportamentos abusivos e 22% já foram vítimas deste tipo de situação. As bofetadas, insultos e difamações são as agressões mais comuns, mas em muitos relacionamentos juvenis também se assiste a tentativas de estrangulamento. Os dados constam de um estudo da investigadora e docente da Universidade Fernando Pessoa Madalena Sofia Oliveira que será divulgado em breve.
Com o título 'Transmissão intergeracional da violência: o contexto familiar, as relações de intimidade e as crenças dos jovens', o trabalho, realizado ao longo de três anos, assenta em inquéritos a 1.500 estudantes de 57 escolas do ensino secundário e profissional, entre os 15 e os 20 anos, de 26 municípios do Norte e Centro do país.
Nos inquéritos, dos jovens com relacionamento violentos, entre 38% a 42% indicaram os insultos e as difamações como os actos mais praticados. Entre 30% e 40% sinalizaram a bofetada e entre 9% a 15% referiram a tentativa de estrangulamento.
Segundo a autora, estes comportamentos resultam em grande parte das cenas de violência doméstica que assistem no seio da família. “Os jovens expostos a ambiente familiar violento são potenciais agressores”, diz Madalena Sofia Oliveira no estudo, concluindo que “a violência transmite-se de geração em geração”.
O estudo, a que o SOL teve acesso, refere que metade dos 1.500 jovens admitem ter assistido a insultos (56%) e a gritos (47%) em casa dos pais. Além disso, 255 confessam que, no seu contexto familiar, viram uma pessoa atirar um objecto contra outra e 210 testemunham alguém a bater noutra.
Nas famílias portuguesas, de acordo com os dados recolhidos, são também comuns as atitudes coercivas: do total de inquiridos, 33% assistiu a um dos elementos do agregado familiar a ser proibido de sair de casa e 14% registou alguém a ser obrigado a trabalhar arduamente e a ser forçado a guardar segredo de um acontecimento.
Para concluir que a violência é mesmo transmitida entre gerações, a investigadora cruzou os dados das agressões nos namoros e da violência doméstica com as crenças dos jovens sobre estes comportamentos. E verificou que 53% acha que os pais batem nos filhos para “os corrigir” e 22% considera que as pessoas “merecem apanhar para aprender”. Ao mesmo tempo, 73% concorda que “para uma pessoa magoar outra tem que haver um motivo”, enquanto 30% considera que a “violência é um método de resolução de um problema”.
'Acham normal o namorado controlar telemóvel'
Apesar de referir que os agressores são de ambos os sexos, o estudo identifica as jovens mulheres como as maiores vítimas.
A forma como a juventude encara a violência está, aliás, a preocupar a Associação Democrática de Defesa dos Interesses e da Igualdade das Mulheres. “Os jovens desvalorizam a violência. E acham natural que o namorado controle o telemóvel e a maneira de se vestirem”, diz ao SOL Carla Mansilha Branco, presidente desta associação, segundo a qual 10% das 27.218 queixas de violência doméstica apresentadas em 2013 às autoridades são de menores de 16 anos.
Mansilha Branco lembra que, segundo as estimativas, “um em cada quatro jovens portugueses” é vítima de violência no namoro. “É um problema de saúde pública”, alerta, explicando que o cyberstalking (assédio e perseguição através da internet) é um dos abusos mais praticados nas relações juvenis. Dados da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) confirmam: 75% da população universitária já foi vítima de cyberstalking. A solução, defende Rosa Saavedra, da APAV, é apostar na formação, especialmente na escola.
“As vítimas de uma fase de namoro abusiva tendem a acreditar que tudo melhora no casamento”, frisa Mansilha Branco, lembrando que, em vez disso, se assiste a uma escalada da frequência e gravidade das agressões, como prova o facto de este ano já terem morrido 35 mulheres por violência doméstica, mais duas do que em 2013.
segunda-feira, dezembro 08, 2014
8 de Dezembro.
Minha Nossa Senhora da Conceição,
Obrigado por mais um ano sem grandes sobressaltos. Os miúdos vão bem e os miúdos deles seguem o mesmo caminho. Cá estarão todos ao almoço, mimando a Mãe, sabeis que cá em casa a tradição ainda é o que era - passámos a dedicar-lhe - e a Vós - dois dias por ano, embora confesse que, para mim, este é mais igual do que o outro. Lá diz o Povo que burro velho não aprende Línguas . Que me lembre nunca vos pedi nada de concreto, a não ser a continuação desta carinhosa saga familiar, mas vou abrir uma excepção, com ela relacionada - protegei o nosso Primeiro Ministro, que nos manteve a salvo da crise. E porque todos somos irmãos, acompanha-o nos seus esforços para também minorar o sofrimento de tantas pessoas que em vez de nós se lixaram.
Um mexilhão agradecido.
domingo, dezembro 07, 2014
sábado, dezembro 06, 2014
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