domingo, agosto 29, 2010
A caminho.
Na véspera da estrada o nervoso miudinho faz as malas comigo. A preguiça também... São velhos conhecidos. Como o imponente porteiro do hotel, "prazer em tê-lo connosco outra vez". Do serviço de quartos virá pergunta risonha, "o costume?". Sou um tipo previsível , rotineiro e meticuloso, que dispensaria a ansiedade se pudesse trabalhar sem ela. Não posso, a adrenalina põe-me em guarda e capaz de enfrentar o mais impiedoso dos críticos - o que já saliva dentro de mim. Nunca lhe arranquei uma salva de palmas, já a não espero. Basta-me um quase imperceptível aceno aprovador...
segunda-feira, agosto 23, 2010
The remains of the day ( eu sei, título roubado...).
Tu vais-te embora. E da soberba chuva desse cabelo restam apenas gotas do meu suor. Fatigadas; e contudo escrevendo a mesma pergunta em cada centímetro deste corpo agradecido - quando choverá outra vez?
Há vida para além do campeonato:).
Não contem comigo para desancar o puto de 24 anos e olhar aterrorizado que sofre horrores na baliza do Benfica, ao longo dos anos vi aquela expressão, ele já passeia pelo Inferno sem a minha ajuda:(. Por isso lhe desejo que tenha entrado em casa, feito zapping e tropeçado em O Amor Acontece pela enésima vez. Espero que aprenda mais novo do que eu a não sentir vergonha por curtir um happy end enroscado no sofá. Irra!, valham-nos os filmes:).
sexta-feira, agosto 20, 2010
Sextas.
À Sexta, quando chego a Cantelães, vou jantar à Mindinha. Mas se estiver por aqui de férias, à Sexta... vou à Mindinha:). Muito antes de ensinar Antropologia Médica já me apercebera da importância dos rituais - dão-nos uma sensação inigualável de segurança, pertença, calor humano. É, no meu caso, difícil estabelecer a diferença entre o ritual securizante e a rotina do murcon incorrigível? Concedo sem discussão. Mas não arrisco um milímetro para simular uma flexibilidade que não possuo - invariavelmente regresso a locais e pessoas que me fizeram sentir aconchegado. Por egoísmo enternecido:).
terça-feira, agosto 17, 2010
Bloqueio.
Amarfanhou a página e e ofereceu-a à lareira. As palavras interrogaram-no - doridas; silenciosas; por escrever. Murmurou - "não consigo, prefiro o silêncio a ofender-vos". E elas partiram, em busca de quem conseguisse fazê-las dançar. Ficaram as lágrimas, por definição clandestinas em discurso macho, logo, sem nada a perder. E que não precisam da escrita, apenas da solidão, para verem a luz do dia...
domingo, agosto 15, 2010
Na segunda parte massacrámos, trá-lá-lá..., pardais ao ninho:).
É pá, assim vai ser fácil comentar os jogos do meu Benfica, antes de mais uma insónia pintada de asneiras vermelhas. Jesus disse que não haveria desculpas, o que me facilita a tarefa, limito-me a fazer copy/paste do que opinei sobre o jogo contra o FCP - a exibição foi uma vergonha:(. E escreveria o mesmo em caso de empate ou vitória milagrosa de carambola ao minuto 94, os três pontos não apagariam o que (não) vi, por exemplo, em Peixoto, Sidnei, Cardozo ou Aimar. A jogar assim, o Benfica pode estar afastado da luta pelo título à décima jornada... Engolir o que acabo de escrever? Meninos, se for caso disso, fá-lo-ei deliciado:))))))))).
quinta-feira, agosto 12, 2010
50 anos.
Pois, os Beatles..., esses amigos íntimos que não me conheciam:). No Cabedelo, durante a actuação dos Azeitonas, o João e o Miguel solavam deliciados e o Guilherme - não menos deliciado... - berrava-me ao ouvido - "AC/DC". Também eu ondeava, mas à espera da cereja em cima do bolo. Os breves acordes e a minha vez de inundar a orelha do mais velho - "Beatles, Ticket to Ride". Ele sorriu, compreensivo mas alheio ao ritual, a religião que partilhamos é o Benfica. O caçula, saiba-o ou não - e eu acho que sabe... -, quando lhes toca a música, não se limita a curti-la, com um dos sorrisos enlevados que apenas surgem às cavalitas da guitarra. Também redime o adolescente sem talento que assassinou All my Loving, em dueto com paciente amiga sueca, num palco de Folkestone; o quarentão que se deixou cair no sofá para chorar Lennon; e tantos outros Júlios que viveram ao ritmo deles. Por isso, o alinhamento do reportório dos Azeitonas continuou, imperturbável, mas, clandestino na multidão, um sexagenário cantarolava, não menos imperturbável - "she said that living with me, was bringing her down, yeah...".
Hum, será que o meu péssimo feitio influenciou uma letra dos Beatles?:).
Hum, será que o meu péssimo feitio influenciou uma letra dos Beatles?:).
terça-feira, agosto 10, 2010
A caixinha mágica.
Maria,
Comecei as gravações para a televisão. Lembras-te da frase que o meu Pai gostava de citar? - "um bom improviso leva muito tempo a preparar". Já não bastam os holofotes, a maquilhagem, as mãos "amarradas" para não entrarem em planos que não são meus, ainda surgem os barulhos inesperados, as falhas do material, o tempo espremido para uns incríveis quatro minutos que parecem implorar simples chavetas:(. Este O Amor é... nunca será o O Amor é... da rádio, falta-lhe o jejum visual que acarreta a celebração da palavra. Resta o óptimo ambiente da equipa e a boa onda que eu e a Inês continuamos a surfar:). Mas falta a tua opinião, lembras-te do Sexualidades? Os meus velhotes ignoravam, risonhos, qualquer réstia de isenção, mas tu vias, ouvias e criticavas. (Construtivamente, como agora se diz...). A verdade é que acertavas sempre, "Júlio, aceito que estivesses cansado e ansioso pela estrada durante a gravação, mas o programa de ontem foi um bocado preguiçoso...". O teu sorriso - "não que me desagrade imaginar-te ansioso pela estrada!". E eu mentia, dizendo que já estava a caminho do hotel e pendurava-me na tua campainha a horas de sair em busca de pão quente, mas na esperança de matar larica e frio no calor dos teus braços.
Comecei as gravações para a televisão. Lembras-te da frase que o meu Pai gostava de citar? - "um bom improviso leva muito tempo a preparar". Já não bastam os holofotes, a maquilhagem, as mãos "amarradas" para não entrarem em planos que não são meus, ainda surgem os barulhos inesperados, as falhas do material, o tempo espremido para uns incríveis quatro minutos que parecem implorar simples chavetas:(. Este O Amor é... nunca será o O Amor é... da rádio, falta-lhe o jejum visual que acarreta a celebração da palavra. Resta o óptimo ambiente da equipa e a boa onda que eu e a Inês continuamos a surfar:). Mas falta a tua opinião, lembras-te do Sexualidades? Os meus velhotes ignoravam, risonhos, qualquer réstia de isenção, mas tu vias, ouvias e criticavas. (Construtivamente, como agora se diz...). A verdade é que acertavas sempre, "Júlio, aceito que estivesses cansado e ansioso pela estrada durante a gravação, mas o programa de ontem foi um bocado preguiçoso...". O teu sorriso - "não que me desagrade imaginar-te ansioso pela estrada!". E eu mentia, dizendo que já estava a caminho do hotel e pendurava-me na tua campainha a horas de sair em busca de pão quente, mas na esperança de matar larica e frio no calor dos teus braços.
sábado, agosto 07, 2010
Perder é sempre uma hipótese...
... mas de pois desta exibição aos níveis anímico, técnico, táctico e disciplinar... é uma vergonha!
sexta-feira, agosto 06, 2010
O Credo e o sorriso na boca.
Cantelães dormita, aconchegada no vale. Mas para lá dos montes o fumo espreita, parece divertir-se a mudar de localização e rumo, vejo as crianças na piscina com um sorriso enternecido e cercado... Ontem os castelos de nuvens negras eram impressionantes e teimosos, o vento não pressagiava nada de bom. Telefonema para a D.Irene,´"é perto?". E a surpresa quase ofendida, "se fosse perto já estava aí". É verdade, ela e o marido combateram o fogo a poucos metros da casa há um par de anos, enquanto esperavam os bombeiros. De arbustos em punho chicotearam a besta, mas não esconderam a crueza dos factos - "se o vento soprasse ao contrário...".
Cantelães é um Paraíso ameaçado pelas chamas. E não são as do Inferno...
Cantelães é um Paraíso ameaçado pelas chamas. E não são as do Inferno...
segunda-feira, agosto 02, 2010
Reconfortante.
Um bom artigo no Público do Juiz Desembargador Narciso Machado sobre o Vaticano e o sacerdócio da mulher. Gostei sobretudo do entrelaçar de uma cultura de igualdade actual e da vertente histórica, que, apoiada nos textos sagrados, indubitavelmente prova o importante papel das mulheres nas primeiras comunidades cristãs. E para além da morte e ressurreição de Jesus, a Sua vida, claro! Com elas privou e falou, escutando-lhes e até aceitando os argumentos, como no episódio da mulher cananeia. Naquele banho cultural era em absoluto revolucionário... Por isso me entristece que tantas passagens da Bíblia sejam hoje apresentadas em função do contexto histórico e no que às mulheres diz respeito ele desapareça e a eterna ladainha dos apóstolos homens assuma o estatuto de Verdade imune a tempo e espaço. Trata-se de uma mistificação urdida por homens que citam S. Paulo, mas reservam o "não há homem nem mulher..." para consumo externo. Santa Teresa de Ávila tinha razão quando sotto voce exprimia ao Senhor o seu desencanto face à gritante desigualdade entre os sexos:(.
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