quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Última loucura:).

http:/postit.producoesmurcon.com

Veremos o resultado final.

Aconselhamento só a pedido da mulher Susete Francisco

As mulheres que pretendam interromper uma gravidez até às dez semanas poderão requerer aconselhamento psicológico e apoio social, mas esta é uma escolha que caberá às próprias. "Acompanhamento facultativo" foi a solução encontrada por PS, PCP e BE na nova lei do aborto. A proposta foi concertada pelos três partidos na última semana e ontem entregue no Parlamento. O documento - mais detalhado do que foi inicialmente previsto pelo PS -, consagra a despenalização do aborto até às dez semanas, estabelecendo no artigo 142.º do Código Penal que a interrupção voluntária da gravidez (IVG) não é punível se "for realizada por opção da mulher, nas primeiras dez semanas da gravidez".Seguem-se as condições : os estabelecimentos de saúde (sejam oficiais ou reconhecidos oficialmente) ficam obrigados a "garantir em tempo útil" a realização de uma consulta. De carácter obrigatório,e na qual a mulher será informada sobre o acto clínico em si, sendo-lhe também transmitido que poderá requerer acompanhamento psicológico ou por uma assistente social durante o período de reflexão (que terá no mínimo três dias). Com carácter facultativo: apesar dos diferentes entendimentos sobre esta matéria no PS, na proposta ontem entregue a mulher pode dispensar este acompanhamento. Mas os estabelecimentos que pratiquem a IVG são obrigados a tê-lo, assim como têm de garantir encaminhamento posterior para uma consulta de planeamento familiar. A proposta estabelece também o dever de sigilo dos profissionais de saúde e a objecção de consciência.IVG antes do VerãoDe acordo com Osvaldo Castro, presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais, a lei será debatida na especialidade a 7 de Março. Caso seja aprovada (e conta desde já com uma larga maioria), o mais provável é que suba a votação final global logo no dia seguinte - 8 de Março, dia da Mulher. A lei seguirá então para Belém e, após promulgação, o Ministério da Saúde terá 60 dias (o prazo inicial era 90, mas foi encurtado) para a regulamentar, organizando o Serviço Nacional da Saúde (SNS) para que dê resposta às solicitações. O que significa que a nova lei da IVG poderá ser implementada antes do Verão.Uma proposta "equilibrada"As negociações entre PS, PCP e BE iniciaram-se logo na primeira semana após o referendo, então ainda de modo informal. Já esta semana decorreram reuniões entre os líderes parlamentares dos três partidos, que acertaram o texto final. "Esta iniciativa - que é do PS, do PCP, do BE e de Os Verdes - destina-se a criar as condições para a aprovação de uma lei o mais alargada possível", afirmou ontem o presidente da bancada socialista, Alberto Martins, acrescentando que o texto está "aberto à assinatura de outros deputados" - uma referência a nomes do PSD que votaram pela despenalização, mas que não foram chamados à elaboração do texto. Já quanto a eventuais alterações propostas por outros partidos, Martins referiu que a proposta será ainda discutida na especialidade. Mas o certo é que a maioria de esquerda não deverá acolher alterações substanciais. Até porque a proposta ontem entregue, como fizeram questão de defender Martins, Bernardino Soares (pelo PCP) e Helena Pinto (pelo BE) é uma tradução "equilibrada" do resultado do referendo de 11 de Fevereiro e que resulta de um "consenso" alargado. As mesmas palavras usadas por Cavaco Silva na semana passada, mas então sob a forma de "alerta".


Comentário - Estou completamente de acordo com o carácter facultativo do acompanhamento durante o período de reflexão. Tivesse eu o poder na "ponta da esferográfica" e sairia caro ao Estado a outro nível:))) - a consulta obrigatória seria efectuada - obrigatoriamente... - por uma equipa multidisciplinar. Passo a explicar porquê. A avaliação psicológica seria preciosa para despistar eventuais processos depressivos ou estruturas de personalidade que tornassem aconselhável um acompanhamento - facultativo, embora recomendado... - após a interrupção de gravidez, a ajuda possível não se esgota no indispensável planeamento familiar. E quanto à informação sobre apoios à maternidade, não considero os médicos o grupo profissional mais adequado para a propiciar. Estes dois exemplos simples chegam para explicar por que razão durante a campanha sempre falei de equipas multidisciplinares. Mas atenção! - responsáveis por acolhimento e consulta não directivos, e não por um "aconselhamento" paternalista, dissuasor mais ou menos encapotado da interrupção da gravidez, logo, violando a opção da mulher e, por arrastamento, o referendo.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Consequência de se pensar em "grupos de risco" e não comportamentos de risco...

SIDA: Heterossexuais infectados aumentam em PortugalQuase metade dos casos de infecção por VIH/SIDA são toxicodependentes, seguidos dos heterossexuais - cuja transmissão da doença está a crescer em Portugal - e dos homossexuais, de acordo com os dados referentes a 31 de Dezembro do ano passado.
Segundo o relatório do Centro de Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmissíveis, em 31 de Dezembro do ano passado estavam notificados em Portugal 30.366 casos de infecção VIH/SIDA «nos diferentes estados de infecção».
O maior número de casos notificados («casos acumulados») corresponde à infecção em «toxicodependentes», constituindo 45% (13.684) de todas as notificações (30.366).
O segundo grupo de infectados é composto por heterossexuais (37,5%), enquanto os homossexuais masculinos representam 11,9% dos casos.
O documento alerta para o facto dos casos notificados de infecção VIH/SIDA, que referem como forma provável de infecção a transmissão sexual (heterossexual), apresentarem «uma tendência evolutiva crescente importante».
As restantes formas de transmissão correspondem a 5,6% do total.
O total acumulado de casos de SIDA em 31 de Dezembro de 2006 era de 13.515, dos quais 449 causados pelo vírus VIH2, e 189 casos que referem infecção associada aos vírus VIH1 e VIH2.
Segundo este relatório, «os casos de SIDA «apresentam a confirmação do padrão epidemiológico registado anualmente desde 2000: verifica-se um aumento proporcional do número de casos de transmissão heterossexual e consequente diminuição (proporcional) dos casos associados à toxicodependência».
Diário Digital / Lusa
26-02-2007 16:12:00

sábado, fevereiro 24, 2007

Em tournée.

Ontem falei em Chaves. Começámos às 19.30 e ainda havia resistentes pelas 21.30... Ao longo dos anos constatei esta gratificante avidez sobretudo nas cidades do interior. As pessoas continuam a dizer - com razão... - que nos ficamos (preguiçosamente) pelo litoral. Mas não "amuam", e tratam-nos como príncipes quando aparecemos:)))))))).

P.S. Tenho a acrescentar que na Adega da Luz se come bem e à fartazana por 7,5 euros por cabeça!

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

A homenagem.

O Zeca Afonso homenageado. E uma saudade imensa dos discos trocados, escutados, sagrados. Não fui sequer um cauteloso, obscuro e resguardado combatente anti-fascista. Era jovem, do contra e burguês até à medula. Aderi a greves, corri à frente de polícias pesadões, gritei meia-dúzia de palavras de ordem, estive na Faculdade de Ciências e saí aterrorizado por entre duas filas de gorilas de choque, firmemente convencido de que seguiria directo para o vizinho Hospital de Santo António. Currículo anémico de revolucionário de café, mais habituado a escutar, fascinado, as histórias sobre os exílios familiares que meu Pai narrava, comovido. Por isso admito sem problemas que era a música do homem, mais do que a revolta nela escondida, a encantar-me. Uma música que saltitava entre o coro austero alentejano e o inconfundível balanço africano, antes de visitar a mais simples (?) balada de amor. Do homem, que não conheci, lembro sobretudo os últimos concertos e a morte que já pairava sobre músculos intermitentes, perante os olhos enevoados dos amigos fiéis que o rodeavam em palco.
Dói-me ouvir tão pouco a sua voz por aí...

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Depois do genérico.

Cartas de Iwo Jima representam o exorcismo das perplexidades provocadas pela guerra através da arte. Uma arte que Eastwood depura de forma inigualável no seu cinema. Resta-nos a utopia de sonharmos um mundo em que a busca de transcendência - sem recurso ao divino - perdesse tão deplorável "matéria-prima":(.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Ando a cortar na lamechice por ordem dos meus filhos:).

Maralhal,

Obrigado por dois anos muito fixes. Fiquem bem.

Como fidalgos, à moda do Porto:).

Ontem, eu e o João visitámos longamente a Biblioteca Municipal do Porto em S.Lázaro. Recebidos com fidalguia por quem a dirige e suas colaboradoras, a "peregrinação" foi interessantíssima e comovedora, até artigos científicos de meu Pai nos esperavam. Mas um "pormaior" me impressionou em particular - a descrição do trabalho de voluntários gravando livros que outros escutarão. Sou médico, a palavra "voluntário" faz-me sempre pensar em hospitais, lares, doença, velhice. Visão míope e "corporativa", mea culpa, mea culpa. Nobre gesto esse, transportar a cultura na voz e oferecê-la a quem anseia por ela!

domingo, fevereiro 18, 2007

Anúncio ao maralhal.

Os magos da tecnologia informam-me que a última loucura das produções murcon estará disponível nas próximas horas. (Não deixa de ser adequado, estamos no Carnaval...).

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Monogâmico por cansaço?:).

Estou a ler O Mito da Monogamia, preparando um encontro na Almedina. Ora vejam esta passagem: "Há diversas formas através das quais uma fêmea pode frustrar os esforços do parceiro para conquistar outras fêmeas. Uma das mais interessantes envolve a sua própria sexualidade: a fêmea de estorninho mostra-se especialmente propensa a solicitar cópulas ao parceiro quando este corteja activamente outras fêmeas!".

O livro dedica-se a demolir qualquer hipótese de a monogamia ser instintiva na esmagadora maioria das espécies. Incluindo o nosso conhecido Sapiens...

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Após reflexão sem Comissão de Aconselhamento, mas de uma forma livre por informada:).

Não será por mim que a proposta de jfr ficará no tinteiro. Se formos incapazes ou preguiçosos regressaremos ao porto sem dramas. A palavra aos magos da informática. Que uma coisa fique clara: a irmos para a frente, serei apenas mais um colaborador!

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

A vitalidade murcónica:).

Aquele que considero o facto mais relevante da vitória do SIM, é a possibilidade de uma congregação de esforços, à volta de um objectivo, decorrente dos vários intérpretes da campanha: a maximização da diminuição dos abortos clandestinos.

A grandeza desse efeito - no novo quadro legal que o referendo determinará -, será directamente proporcional à quantidade das causas que se conseguirem enunciar. Só conhecendo as causas, se combatem os efeitos que as têm por origem.

Por pensar assim, decidi falar-lhe sobre uma possibilidade de utilizar o espaço Murcon - no qual, creio, participa um elevado número de gente informada, experiente, conhecedora e com capacidade crítica, tendo em vista dinamizar a acção, através do seguinte:

1 - Criação de um blog colectivo, gerido pelo Murcon, no qual poderiam postar todos os que se inscrevessem, para o efeito;
2 - A inscrição resultaria de um mail, enviado para a caixa do blog, e corresponderia a um post no blog;
3 - O conteúdo do post deveria corresponder ao tema pré-definido (no caso exemplo “As causas de aborto clandestino, pós referendo”) e seria da responsabilidade do Murcon a decisão sobre a sua adequação, ou não, para postagem;
4 - O blog não aceitaria comentários. Estes seriam sempre propostas de postagem. Ou seja, pretende-se que o blog não seja uma espécie de chat.
5 - Decorrido o tempo considerado suficiente (a definir) para a enumeração e discussão, seria proposta pelo Murcon a lista das causas a considerar em definitivo;
6 - Os intervenientes inscritos teriam oportunidade de opinar sobre a lista e qual o efeito legal que, na opinião de cada um, seria justificado para cada causa.
7 - Este e outros assuntos que viessem a ser objecto de actuação similar, poderiam ser discutidos, antes da elaboração de documento definitivo (post no Murcon, brochura?, folheto? opúsculo?, livro? das Produções Murcon,) por todos os intervenientes (num chat programado para o efeito? num encontro (Coimbra)? dois encontros (Porto e Lisboa)?
8 - Após o fecho de um assunto seguir-se-ia um outro.

Não me estendo mais. Ou, por último, até sugiro nome para o blog (O "Post it" dos Murcónicos).

Desculpe o tempo que lhe tomei. Cheguei a pensar colocar isto como comentário num dos post do Murcon, mas senti que poderia ser uma indelicadeza para consigo. Nomeadamente, se a ideia “pegasse” junto dos Murcões. Deixo, assim, ao seu critério o interesse e oportunidade da ideia.

Um abraço sincero.


P.S. Alguém sugeriu mais esta "loucura". Confesso que fiquei atarantado, mas, como habitualmente, a Nação se pronunciará:).

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Esclarecimento.

Sobre um artigo hoje publicado no Público referente ao que aconteceu com O Amor é... de Sexta-Feira, cumpre-me esclarecer o seguinte:

1 - No programa de Quinta-Feira não "fizemos veladas críticas à actual lei sobre a IVG", discordámos dela abertamente e explicámos porquê.

2 - Também as críticas às posições de Marcelo Rebelo de Sousa foram assumidas de forma explícita.

3 - Não houve qualquer crítica a posições do Daniel Sampaio, por uma razão simples: ele defendia o Sim - ao contrário do afirmado no Público - e de uma forma com que ambos concordávamos.

4 - Nunca disse a ninguém que a CNE me tinha referido o programa de Marcelo Rebelo de Sousa como alvo de queixas. Bem pelo contrário, escusei-me a indicar programas em concreto nas conversas que mantive com vários jornalistas, por uma questão de lisura para com a minha interlocutora.

5 - É verdade que na Sexta o programa se debruçava sobre o que apelidávamos de Sim exigente, razão pela qual o repetiremos, pois o consideramos agora mais justificado do que nunca e já não estamos em campanha eleitoral.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Quando me pagavam para peguilhar com as mulheres:).

FIM-DE-SEMANA


António deixou-se cair no sofá. Ela disse,
- Nem penses!
O pobre atarantado, o dia a trabalhar em segredo para a concorrência, a publicidade é um mundo cão e precisava de uns cobres além do salário. Já não a podia ouvir a queixar-se dos sinais de riqueza dos vizinhos, mais três anos de Sábados sem descanso e teriam um segundo carro e o faqueiro anunciado no Chá das Tias da TVI. Seguramente entendera mal, oito da noite, arriscou pedido de esclarecimento,
- Como?
- Era o comias! Passei a tarde metida em casa...(Chegara do cabeleireiro há meia hora)
... e tu a brincar com o maldito computador. Sou uma escrava, (Linguagem de telenovela)
... a verdadeira mulher objecto.
(Lera isso na tradução brasileira de um texto feminista por baixo de um anúncio a panelas de pressão numa revista da sala de espera do médico)
... Durante o namoro só falinhas mansas, juntos para sempre, minha fofa... Bem me enganaste, mas hoje não. Faz essa barba imunda. Vamos jantar fora.
( Durante o namoro a barba rala excitava-a, por um não sei quê de revolucionário)
- Jantar fora?
A pergunta saiu lamentosa, sonhava um dia pô-la no seu lugar. Ah, um dia!... Não foi aquele.
O restaurante carote e o bife duro, António dissecava-o laboriosamente quando ela voltou à carga.
- Conversa comigo.
- De quê?
Grossa asneira, seguiu-se um discurso inflamado sobre o diálogo como forma de preservar o casamento e mais um remoque ao seu romantismo passado. Ele quase perguntou por que não lhe era permitido falar durante a telenovela, mas absteve-se por razões de segurança pessoal.
Conversaram. Ela falou, ele concordando em silêncio. Foi acusado de distracção e hipocrisia. Pressuroso, discordou uma vez em tom baixo e respeitador. Foi acusado de ser implicativo.
Saíram rumo ao carro.
- Vamos dançar.
- Como?



- Pareces um disco rachado. Dançar, António. Já te esqueceste? Aposto que não. E não estou a falar de nós, bons tempos!, era preciso vigiar essas mãozinhas marotas e pôr cachecol no dia seguinte para os meus pais não notarem o estado em que me deixavas o pescoço. Agora estás sempre cansado e o barulho incomoda-te, mas às reuniões de actualização que a empresa paga ao fim-de-semana em hotéis da província não faltas tu. Abri os olhos, filho, quando os homens se juntam sem as mulheres a primeira coisa que fazem é arranjar outras, de preferência pouco vestidas.
(As reuniões eram chatérrimas e à noite jogava-se a bisca a feijões)
Foi dançar. Primeiro adormeceu, ninguém o avisara de que as discotecas só começam a animar depois da uma da manhã. Ela sabia, qualquer revista o diz.
(Ele não tinha tempo para ler revistas)
António pulou obedientemente durante algumas horas, estranhando a excitação e a sede dos jovens que o rodeavam. Ecstasy, sentenciou a mulher. Perfume?, perguntou ele. Droga fina, respondeu ela, metem-se nisso porque têm pais afectivamente ausentes.
(Nunca perdia o " A minha vida dava um filme " e as explicações da psicóloga)
Deitaram-se às cinco e António adormeceu como uma pedra. Para ser acordado três minutos depois com acusações de desinteresse sexual, provavelmente devido à influência de alguma lambisgóia do escritório. Num assomo de coragem referiu as enxaquecas, períodos longos e mil e uma justificações para os "hoje não" de outras noites. Foi mimoseado com um diagnóstico de má-fé e total ignorância acerca do ambiente de carinho necessário à expressão sexual das mulheres.
(A vizinha do lado gabara-se por o marido sempre lhe ir dar um beijo à cozinha quando chegava e pelo menos uma vez por semana trazer bombons)
António ouviu a reprimenda e tentou aproveitar a inesperada oportunidade, mas ela acusou-o de não ser espontâneo e foi dormir para a sala.
Por onde ele passou como um foguete sem se dignar responder ao seu "onde vais?", imperioso e estremunhado. Às oito estava à porta do estádio das Antas. Passou pelas brasas ao sol da manhã, comeu uma bifana e foi o primeiro a entrar. Olhou em volta com satisfação, a bancada ia-se enchendo. Só homens.
(E algumas mulheres partilhando o mesmo amor)
Quando o Minguinhos marcou o primeiro golo dos dragões António ergueu os braços ao céu e gritou,
- Gooloo! Até a..., perdão, os comemos, carago.
E sentiu-se em fim-de-semana.

domingo, fevereiro 11, 2007

O primeiro passo.

Acabou por ser melhor do que temera. E - obviamente, do meu ponto de vista! - o Porto foi uma agradável supresa. Mas não contem comigo para euforias, nada acabou hoje. Bem pelo contrário!, se esta vitória não se honrar a si própria com legislação e prática adequadas o descrédito não tardará. As reduções do aborto clandestino e do aborto em geral são objectivos que não se compadecem com intervenções pontuais e números de circo políticos. Hoje votou-se; a partir de amanhã é preciso planear com bom senso para executar com humana eficácia.

Para que conste.

Ao princípio da tarde telefonei para a Comissão Nacional de Eleições e perguntei se me podiam dar uma opinião sobre o que se passou Sexta-Feira com O Amor é..., ou se teria de formalizar o pedido. Foram gentilíssimos! Eis o que fiquei a saber: embora se trate de um programa de autor, levando em conta a delicadeza do tema "igualdade de oportunidades" numa situação referendária, a minha interlocutora considerou justificadas as precauções tomadas pela Direcção da Antena1. Mais me foi dito que existia na Comissão uma queixa pelo facto dos mesmos critérios não terem sido aplicados a outros programas (que não da responsabilidade da Antena1). Embora não me agrade ser o único "beneficiário" de uma regra:), a questão é para mim secundária. Continuo em absoluto desacordo com o que aconteceu, mas a resposta da CNE confirmou a que dei a uma jornalista anteontem: não me passou pela cabeça que amigos meus tomassem tal atitude de ânimo leve. Porque acabar um programa de rádio não seria grave; com sorte, outro se seguria, mais mês, menos mês. Mas ter de admitir que amigos tenham sido levianos para connosco pode levar a estradas sem retorno. Fico satisfeitíssimo por não ter de as calcorrear:).

sábado, fevereiro 10, 2007

Já sei, sou lamechas:).

Eterno abraço
Desenterrado casal abraçado há mais de 6000 anos
Lembra um poema: arqueólogos italianos desenterraram um casal abraçado na cidade de Mantova, a norte do país. A descoberta é considerada «um caso extraordinário»


©Reuters
«Porém mais tarde, quando foi volvido/ Das sepulturas o gelado pó, / Dois esqueletos, um ao outro unido, /Foram achados num sepulcro só» são os últimos versos de«Noivado do Sepulcro», elegia ultra-romântica do poeta português Soares dos Passos.
Contudo, esta fantasia oitocentista tornou-se realidade: na cidade de Mantova, os arqueólogos desenterraram dois esqueletos neolíticos, à primeira vista jovens, ternamente abraçados.
Elena Menotti, líder das escavações, considerou que a descoberta é um «caso fantástico». A arqueóloga afirmou ainda que as duas ossadas pertencem quase certamente um homem e uma mulher jovens devido à arcada dentária bem conservada.
«Devo dizer que quando nós os descobrimos ficamos muito entusiasmados. Tenho este emprego há 25 anos. Fiz escavações em Pompeia, todos os sítios famosos», declarou Menotti à Reuters. «Mas eu nunca fiquei tão comovida assim, porque esta é a descoberta de algo especial».
Um laboratório tentará determinar a idade do casal à época da morte e há quanto tempo estão enterrados.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Pedido de desculpas e agradecimento.

Maralhal,
A campanha está no fim. Sei que o Murcon não primou pela variedade nos últimos tempos. Acontece que há oito anos me limitei a votar preguiçosamente e desta vez jurei que faria mais. Por isso me centrei no referendo quase a tempo inteiro. Mas quero agradecer-vos, com enorme satisfação, a forma como discutiram ao longo destes dias - sem azedumes e respeitando a opinião alheia. O meu querido Velho diria, com aceno aprovador, que o fizeram com elevação:). Obrigado.

Por uma questão de lisura.

"A Direcção de Programas da Antena 1 informou ontem os autores de “O amor é…”, Júlio Machado Vaz e Ana Mesquita, sobre a decisão de não transmitir a edição de hoje do referido programa.
As posições aí tomadas pelos autores sobre o Referendo do próximo dia 11, colidem frontalmente com o princípio de neutralidade a que a rádio pública está obrigada e com o imperativo de independência que caracteriza o próprio conceito de serviço público.
O programa retomará as suas emissões habituais, nos mesmos horários, a partir do próximo domingo, dia 11 de Fevereiro."

P.S. Não publiquei a declaração porque não ouvi a emissão da manhã e o não possuía. Seria deselegante da minha parte não a citar. Escusado será repetir que dela discordo em absoluto.

Comunicado ao país murcónico:).

Porque uma rádio já se antecipou, devo-vos um pedido de desculpas, habituado como estais - ó sagrados murcónicos! - a receber notícias das minhas aventuras em primeira mão. Ontem à tarde, a Direcção da Antena1 contactou-me e à Ana Mesquita, a propósito das opiniões expressas no programa da manhã. Referiu terem existido queixas a propósito do mesmo, invocando quebra da isenção exigível a uma estação pública no que ao referendo diz respeito. Foi-nos sugerido que gravássemos um novo programa para hoje, pois tínhamos deixado a promessa de nos debruçarmos sobre a regulamentação legal adequada, caso o Sim ganhasse. Respondemos - quase em coro:) - que não o desejávamos ou podíamos fazer. O O Amor é... não fala de floricultura, culinária ou física quântica, mas de sexualidade, seria esotérico não abordar a questão do aborto (como, aliás, já aconteceu no passado). Presumo que a Direcção da Antena1 tenha averiguado se estaria a violar a lei e chegado a uma resposta afirmativa. Longe de mim querer prejudicar uma rádio que me acolheu com ternura e é dirigida por pessoas como o Rui Pêgo e o Tiago Alves, meus amigos pessoais. Mas também longe de mim abdicar do que considero serem os meus direitos e obrigações mais básicos como cidadão e co-autor de um programa... de autor!, logo, da exclusiva responsabilidade, quanto aos conteúdos, da Ana e deste vosso humilde servidor. Seguramente por ignorância, não percebo como poderia a Comissão Nacional de Eleições responsabilizar a Antena1 pelas nossas opiniões, por acaso coincidentes. Eis a razão porque hoje a Ana e eu decidimos exprimir-nos pelo silêncio:))))))).

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Pedir desculpa à sociedade? Por escrito? No telejornal das 20? Se ela recusar é condenada por desobediência?

"Os médicos é que deviam ir para a cadeia"
malacó
Daniel Serrão diz desconhecer situações objectivas em que mulher não pode ter o filho
Helena NorteMédico, especialista em ética da vida e conselheiro do Papa, Daniel Serrão defende o Não no referendo de dia 11. As mulheres são vítimas e precisam de apoio. Não de cadeia. Os profissionais de saúde que fazem abortos é que deviam ser presos.A mulher deve ser punida, mas não com cadeia. Mas a penalização na lei deve continuar porque aborto é um "acto mau". Os militantes do Não devem apoiar as grávidas em dificuldades. E comparar o aborto a terrorismo, como fez Bento XVI, é uma forma de chamar a atenção para a gravidade da questão.JNPor que é que a vida intra-uterina até às dez semanas deve ser mais defendida do que a decisão de uma mulher?Daniel SerrãoNinguém é dono da vida. Nem da sua, muito menos, de outra. E o que está em causa é a vida da criança. Não a vida da mãe. Se houver um conflito entre a vida da mãe e do feto, cabe à mulher decidir. Então, deve mandar-se para a prisão uma mulher que aborte?Claro que não. O aborto não é um acto bom, não deve ser permitido, excepto nas situações já previstas na lei. Mas não deve ser punido com prisão. Aliás, não é a mulher que mata o filho. É o médico, a enfermeira ou quem lhe faz o abortamento. Os médicos é que devem ir para a cadeia?É evidente. Com a actual lei, praticar aborto é crime, logo, o médico que o faz deve ir para a cadeia. Se a lei mudar, já não comete um crime. Mas, do ponto de vista médico, deve continuar a ser censurado - pelos próprios órgãos representativos ou pela sociedade -, porque não se trata de um acto médico.O Código Deontológico dos médicos deve mudar se a lei sobre interrupção voluntária da gravidez for alterada?O Código devia cobrir as situações previstas na lei, que constituem uma intervenção médica, para tratar uma situação clínica, em que a destruição do feto é um efeito colateral. Se o Sim ganhar, devia ser feito um referendo à classe para perguntar se está de acordo que os médicos façam uma intervenção que, embora legal, não é um acto médico.Mas o que está em causa, neste referendo, não é a penalização dos médicos mas, sim, das mulheres. Não é uma hipocrisia manter a penalização se concorda que não devem ir para a prisão?Não. O que está em causa, neste referendo, é perguntar à sociedade se considera bem que uma mulher saudável, com uma gravidez normal e um feto normal, possa destruir o filho. Deve haver punição, mas não concordo que seja uma pena de prisão. A mulher que pratica o aborto precisa de apoio, tudo o que evite a que ela volte a estar numa situação de gravidez indesejada. Está a falar de apoio, mas defende a punição. Qual seria a punição justa?A sociedade devia definir uma punição. Para mim, seria suficiente chamar a mulher, fazer-lhe um discurso que a obrigasse a ponderar. Bastava que pedisse desculpa à sociedade para arrumar o assunto. Olho para a mulher como uma vítima.Sabendo-se que a penalização da mulher não evita a prática do aborto, por que deve impedir-se que seja realizado em estabelecimentos de saúde autorizados e em condições que assegurem a saúde da mulher?O Governo e o Parlamento não sabem o que fazer. Por isso, estão a fazer uma pergunta que se desvia das questões de ética e confunde com pormenores jurídicos e assistenciais. O que devia perguntar-se era se a mulher pode ou não destruir livremente a vida. Se é antes ou depois de um certo prazo, ou em que tipo de estabelecimento, não é o fundamental.E perpetua-se aborto clandestino?Uma grávida sem doença, que deseja ser abortada, quer manter a clandestinidade no sentido de confidencialidade.O que um apoiante do não deve fazer a uma mulher que objectivamente não tenha condições para ter um filho?Não conheço essas situações. Se não tem dinheiro, um apoiante do Não deve arranjar-lhe apoios. Se é um problema social, cabe à sociedade dar-lhe uma solução. As unidades de saúde deviam ter redes de apoio para a encaminhar.Isso é o ideal, mas não existe.A solução é fazer com que exista. Não é o aborto. Mas, claro, para muitas é um encargo difícil de suportar. Por isso, voto Não com muito sofrimento. No entanto, a esmagadora maioria dos casos não é de mulheres pobres. São mulheres das classes média e alta que não querem ter filhos. Como médico, considera válido que a mulher interrompa a gravidez se a sua saúde psicológica estiver em risco?Se os graves problemas psíquicos forem devidamente atestados por médicos, depois de uma avaliação ponderada, claro que sim. Se a mulher tem, em relação à gravidez, uma resposta anormal do ponto de vista psíquico - que até a pode levar ao suicídio - e a única forma de tratar esse problema é o abortamento, é um acto médico que já está contemplado na lei.Em Espanha, a interpretação que é feita sobre a saúde psicológica é diferente e aceita-se que a mulher interrompa a gravidez quando esse motivo é alegado.Acredito que a maioria dos atestados é falsa. Em Badajoz, há uma clínica com um psiquiatra que passa atestados sem ver as mulheres que abortam. É conselheiro do Papa para as questões da vida. Como comenta as recentes declarações de Bento XVI que comparou o aborto a terrorismo, do cardeal de Lisboa que o classificou de "violência contra a paz" ou do bispo de Miranda-Bragança que o equiparou à pena de morte?Como membro da Academia Pontifícia para a Vida, a minha defesa é pela vida - é um argumento biológico. Os responsáveis da Igreja que citou usam, para a defesa da posição católica, comparações com situações em que esse direito não é comparado.Acha aceitável esse tipo de argumento quando se deveria reflectir com tranquilidade sobre esta matéria?Trata-se de um problema gravíssimo. Deve inquietar. Mas as comparações não são argumentos. Visam apenas chamar a atenção para a gravidade do problema. O terrorismo ataca quem não se pode defender nem sabe que vai ser atacado. O feto não pode defender-se nem sabe que vai ser atacado.Então, a mulher que faz aborto é terrorista?Não, a mulher é vítima desta situação. Admitindo que só o faz em desespero, em caso de extrema necessidade, ela é quem merece mais desculpa.


P.S. O Professor Daniel Serrão é um velho amigo dos Machado Vaz. Escolhi a sua sugestão por isso mesmo - tenho a certeza de que é sentida e bem intencionada e não traduz qualquer oportunismo eleitoral de última hora.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Nas asas da tecnologia.

www.youtube.com/watch?v=oMYzdf4t8IY


Mais um contributo.

Versão oficial para o meu ar de velhinho - estava a sair de uma gripe.

Triste realidade:( - O Noise fez um péssimo trabalho de maquilhagem!:).

Sorry:))))))), estava errado.

domingo, fevereiro 04, 2007

Estou de acordo, mas 36 acho cedo:).

"Quando um romancista que se preza atinge os trinta e seis anos, já não traduz a experiência para a fábula, está a impor a sua fábula à experiência."


Philip Roth, Traições.

Mas evidentemente:( O mais grave não é acontecer, é aparecer no telejornal!

Bagão Félix acusa defensores da despenalização de expôr mulheres julgadas
Bagão Félix acusou hoje os defensores do Sim de terem prejudicado gravemente as mulheres que nos últimos tempos foram julgadas por aborto, ao focalizarem a opinião pública para esses julgamentos.

«Nos casos em que houve julgamento, foram os adeptos do Sim que prejudicaram essas mulheres gravemente, com manifestações para manipular a opinião pública e pressionar o poder judicial, pouco preocupados com a privacidade das senhoras em causa», afirmou.
Bagão Félix procurava desmontar assim o argumento dos partidários do Sim de que, com a actual lei, as mulheres são sujeitas à devassa da sua vida privada e à humilhação pública, durante uma sessão em Vagos, promovida pelo movimento Liberalização do aborto? Não.
Bagão Félix acusou ainda os que defendem o Sim de quererem «condenar a prisão as mulheres que praticarem aborto às 12 semanas», em vez de defenderem, como ele, outra moldura penal.
«Se o aborto for praticado às 12 semanas também pode levar à prisão, pelo que para eles a questão não é de fundo, mas de prazo. Qual é o critério?», questionou.
O ex-ministro criticou também que a prática de aborto possa vir a ser suportada pelo Serviço Nacional de Saúde, quando encerram maternidades e urgências e se impõem taxas moderadoras.
«Exportamos nascimentos para Badajoz e importamos abortos para Lisboa. Que país é este?», interrogou.
Na sessão interveio também o procurador da República Tiago Miranda, o qual abordou o tema na perspectiva jurídica, para concluir que a lei em vigor tem por função evitar a prática do ilícito (o aborto clandestino) e o quadro legal fornece «válvulas» para várias situações.
Exemplificou com a gravidez indesejada de uma menor de 16 anos que se relacione com um homem mais velho, em que o actual quadro legal permite o aborto, ou de uma mulher portadora de deficiência mental, para além de outros.
A actual lei «atribui a mesma moldura penal a quem der uma bofetada», salientou, questionando se o valor da vida, consagrado na Constituição, não será mais importante e realçando ainda que o próprio Código Civil atribui direitos ao nascituro, desde o início da gravidez, nomeadamente de herança.
A obstetra Filomena Ramos Pereira descreveu o processo de formação desde a concepção até ao nascimento e sublinhou que, mesmo depois do nascimento, o ser humano não tem ainda todas as etapas do seu desenvolvimento, pelo que não considera um critério válido.
O economista João Paulo Barbosa de Melo, outro dos oradores, defendeu que «as questões sociais (da falta de condições para ter filhos) resolvem-se com políticas sociais» e referiu que a legalização do aborto em Espanha e no Reino Unido não acabou com a sua prática clandestina.
Lusa / SOL

sábado, fevereiro 03, 2007

É por isso que elas nos matam:(.

Afinal não há guerra de sexos
2007/02/03 21:17

Investigadores do cérebro garantem que luta pela superioridade está ultrapassada. Elas são corredoras de fundo. Eles desistem mais facilmente mas têm melhor memórial espacial. E o leitor, acha que existe um «sexo forte» e um «sexo fraco»?

MAIS:
Mulheres são mais intensas
Os investigadores do cérebro acreditam que a guerra entre os géneros está «ultrapassada» e que ninguém procura encontrar um «sexo forte» mas as diferenças cerebrais entre homens e mulheres ainda geram discordâncias entre os especialistas.
«É inegável que existem diferenças, mas não há guerra de sexos»
«É inegável que existem diferenças entre o cérebro masculino e o feminino» afirmou Manuel Paula Barbosa, director do Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina do Porto, para quem as distinções «vão de aspectos como o peso (o cérebro do homem pesa cerca de 1.450 gramas e o da mulher cerca de 1.350) a variações de índole molecular».
No entanto, o especialista desmistifica a ideia de guerra dos sexos: «Nenhuma investigação actual visa determinar se a mulher é superior ao homem ou o contrário, isso está ultrapassado e caminhamos para a igualdade absoluta, reconhecendo que os cérebros de homens e mulheres se complementam e que as diferenças são salutares».
Mulheres são «corredoras de fundo»
Exemplificando, Manuel Barbosa considerou que «as mulheres são autênticas corredoras de fundo - mais perseverantes e estóicas e com uma enorme capacidade de trabalho, além de possuírem uma memória do imediato muito mais desenvolvida do que os homens».
Homens agem «por pulsões» e «desistem com maior facilidade»
«Já os homens agem mais por pulsões e desistem com maior facilidade dos seus objectivos, embora tenham uma melhor memória espacial e uma grande capacidade ao nível da intuição musical e da matemática», adiantou.
Diferenças condicionadas por hormonas sexuais
De acordo com o também professor de Neuroanatomia é ainda preciso compreender que «essas diferenças assentam em características morfológicas condicionadas por hormonas sexuais».
«Um macho castrado nunca terá um cérebro masculino normal», sublinhou.
A influência hormonal no dimorfismo sexual cerebral foi também assinalada à agência Lusa por Dulce Madeira, professora no Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina do Porto.
Devido à estreita ligação entre o cérebro e as hormonas sexuais, «ao longo dos anos as variações hormonais vão influenciando a morfologia cerebral e a neuroquímica, nomeadamente fazendo com que certas diferenças se tornem menos evidentes», declarou.
Autismo e esquizofrenia predominantes no homem
A investigadora do Centro de Morfologia Experimental destacou ainda que a diferença entre os cérebros masculino e feminino passam por «uma assimetria existente entre os dois hemisférios cerebrais, que é mais acentuada no género masculino».
«Doenças como o autismo e a esquizofrenia, que são predominantes no homem, têm relação com essa maior assimetria», realçou a docente de Anatomia.
«No caso da mulher, há uma maior semelhança entre os dois hemisférios, existindo também uma maior comunicação entre eles, o que faz com que as representantes do sexo feminino tenham maior capacidade de recuperação de acidentes vasculares cerebrais (AVC)».
E o leitor, acha que a ideia de guerra de sexos já foi ultrapassada no século XXI? Ainda existe um «sexo forte» e um «sexo fraco»?
[Helena de Sousa Freitas, da Agência Lusa]

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Cantelães.

A casa sorriu-me, compreensiva. Dois graus centígrados à chegada, agora menos. Estou tão cansado que acolhi o empate do Benfica com uma bonomia embrutecida. Mas não é só cansaço. Ontem fui recebido com ternura pela JSD de Gaia. Não me surpreendeu ou desgostou estar em solitária minoria a discutir o referendo, ao longo de trinta anos fui raramente "maioritário". E no entanto, ouvir alguém descrever a discussão do aborto clandestino como démodée no nosso estádio civilizacional pôs-me os cabelos em pé. A ser verdade, também estou démodé. Aceito que se vote Não com a mesma naturalidade com que voto Sim, mas démodé discutir as formas de minorar o sofrimento... Que sociedade é esta? O que estará então na moda? Uma das soluções (?) apresentadas foi multar as mulheres em vez de as mandar para a prisão. O que virá a seguir? Reguadas? Para o quarto sem sobremesa? Fim-de-semana sem telemóvel? Se defendesse alguns dos (legítimos) argumentos que ouvi e o Não ganhasse, eu estaria Segunda-Feira na rua a recolher assinaturas para modificar a actual lei. Com pena das mulheres violadas e oferecendo-lhes todo o apoio, mas criminalizando-lhes o comportamento. Argumentando que não existe vida de primeira e de segunda para retirar a alínea referente às malformações. E aceitando - que remédio... - a necessidade de em certos casos escolher entre a vida presente da mulher e o futuro do embrião. Mas apregoar a inviolabilidade da vida humana e punir o crime de a interromper - até aos nove meses... - com multas provocar-me-ia um curto-circuito cerebral se não soubesse tratar-se de mera cedência a estratégia eleitoral - "tudo menos a prisão". Como de costume já estive mais acompanhado. Os defensores do Não, embora amáveis na sua esmagadora maioria, não concordam comigo. Et pour cause! Mas há gente do Sim que me reprova a obsessão pela indispensável regulamentação pós eventual vitória. Não importa; a casa acena, aprovadora. Tudo tem um preço, incluindo adormecer de consciência tranquila no dia 11. E depois há a ternura dos amigos - o Pedro, o Tiago e o Viktor afadigam-se para pôr no Tube uma intervenção minha. Não faço ideia como irão votar, nem me interessa. Alguns de vocês até se deram ao trabalho de me avisar por mail que vão votar Não. O Murcon fará anos em breve e valeu a pena:). Fiquem bem. A casa manda-vos um abraço e eu aprovo.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Divirtam-se:).

http://www.youtube.com/watch?v=tOpl2z09Klg

Dois em um:).

Quatro horas de animado debate
Por Pedro Guerreiro
Helena Roseta, Zita Seabra, Joana Amaral Dias e o psiquiatra Pedro Afonso protagonizaram esta quarta-feira um aceso debate no Instituto Superior de Psicologia Aplicada, em Lisboa


«Como o Futebol Clube do Porto a jogar na Luz». Foi assim que a social-democrata Zita Seabra se sentiu quando soube que ia defender o 'não' no Sócrates Café.
A autora da actual lei de interrupção voluntária da gravidez, de 1984 - quando era ainda militante comunista -, afirmou naquele bar do ISPA que «se há coisa que evoluiu desde então foram os métodos contraceptivos» e que considera «absurdo estar ainda a discutir o aborto neste momento».
Do lado do 'sim', contudo, a socialista Helena Roseta declarou-se «impressionada» com o facto de Zita Seabra «estar agora do mesmo lado dos que a atacavam em 1984». Para a deputada do PS, os métodos contraceptivos «não foram tornados facilmente disponíveis», e o actual incumprimento da lei «põe em causa o Estado de Direito».
Roseta citou Simone de Beauvoir para afirmar que «se há lei e ela não é cumprida, ou se muda a lei ou o Estado de Direito é uma anedota». A deputada de 59 anos declarou que «não gostava de morrer sem ver este problema [da despenalização do aborto] resolvido».
Já o psiquiatra Pedro Afonso citou Martin Luther King para defender a necessidade de «uma lei que garanta o direito à vida». «A Lei não pode obrigar um branco a amar-me, mas pode evitar que ele me linche», lembrou.
De seguida, Pedro Afonso citou uma série de dados provenientes de estados norte-americanos em que a interrupção voluntária da gravidez foi despenalizada. «64 por cento das mulheres são coagidas a abortar. 67 por cento não teve qualquer apoio antes de decidir abortar. 54 por cento não está segura da sua decisão», afirmou o psiquiatra citando um estudo sobre a relação entre o aborto e o desenvolvimento de doenças psiquiátricas na mulher.
O psiquiatra do Hospital Júlio de Matos disse que, apesar de «não haver uma relação causa-efeito (...), há risco acrescido de depressão, disfunção sexual e suicídio» na mulher que aborta.
No âmbito da saúde reprodutiva e infantil, Pedro Afonso lembrou que o estado não comparticipa a nova vacina contra o papilomavírus – que causa o cancro do colo do útero – nem a alimentação láctea para crianças alérgicas. O psiquiatra recordou ainda que «não existe nenhum espaço que possa acolher e proteger em menos de 24 horas uma mulher coagida a abortar».
Novamente do lado do 'sim', a psicóloga Joana Amaral Dias declarou que «nenhum dos estudos citados [por Pedro Afonso] tinha validade científica».
A deputada do Bloco de Esquerda, que afirma que «quem não tem argumentos fala em números», disse ser «de uma enorme sobranceria e arrogância dizer que se sabe quando começa a vida», em resposta a Pedro Afonso, que afirmara que «a vida começa no momento de concepção».
Joana Amaral Dias disse haver, no entanto, «um relativo consenso científico sobre a diferença entre um feto pré-consciente [até às 12-20 semanas, sem sistema nervoso central] e um feto consciente [com sistema nervoso central]».
A bloquista considera apropriado o prazo de 10 semanas pois este «corresponde ao tempo que uma mulher precisa para saber que está grávida e depois tomar uma decisão rápida».
Tanto Joana Amaral Dias como Helena Roseta afirmaram que «o prazo de 10 semanas é uma questão prática» assim como «o limite de velocidade na auto-estrada é de 120 e não de 121 km/hora».
A deputada do Bloco afirmou que «os defensores do 'não' caem numa contradição insanável», uma vez que «o direito à vida em absoluto» já é posto em causa com a lei de 1984. «Um filho de um violador é menos vida? Um feto com trissomia 21 é menos vida?», questionou a psicóloga.
«Eu sou contra o aborto, a favor dos métodos contraceptivos, mas os humanos não são máquinas, são falíveis, tal como os contraceptivos», declarou Joana Amaral Dias, que diz que «quem anda à chuva molha-se».
«Quem anda à chuva molha-se? Usem o guarda-chuva!», respondeu Zita Seabra, para quem «o aborto não é um direito cívico». «Temos a responsabilidade e a obrigação de o evitar», afirmou.
A social-democrata referiu que a perseguição e julgamento das mulheres que abortam é «um problema de polícia que corresponde a uma situação de justiça miserável», posição que foi satirizada por Helena Roseta e Joana Amaral Dias, que recordaram o sketch dos Gato Fedorento (ver vídeo), em que os humoristas ridicularizam o tempo de antena de Marcelo Rebelo de Sousa no Youtube (ver vídeo). Zita Seabra respondeu ao afirmar que «o aborto é uma bandeira política de uma esquerda que já não tem nada a dizer».
A deputada do PSD disse ainda que «concordou com o PCP» quanto à não convocação do referendo, mas que considera que o respeito e a ausência de insultos «estão a marcar a campanha».
Algo que a católica Helena Roseta desmente, ao lembrar momentos em que foi «apontada dentro da Igreja» por defender a despenalização e em que foi «chamada de assassina».
A deputada socialista afirma que «o aborto já está legalizado, mas da pior maneira possível», e que «a lei deve dizer que o aborto é feito a pedido da mulher, pois é ela que se confronta com a decisão de ser mãe».
Após um animado período de perguntas por parte de uma plateia jovem em que o 'sim' levava alguma vantagem sobre o 'não', Joana Amaral Dias disse numa última intervenção que «a montante estão todos de acordo. O que nos divide está a jusante, quando todos os métodos falham. É isso que vai a referendo. Damos a mão e o melhor que o Estado pode oferecer ou deixamos apodrecer a um canto?».
pedro.guerreiro@sol.pt