quinta-feira, junho 28, 2012

O pesadelo.

Maria,
Água nos degraus de Cantelães... Oito anos e n empreitadas depois, o problema da humidade não se resolve. E se a minha teimosia já saiu caríssima, forçoso é admitir que não estará ao alcance dos rapazes o sorvedoiro em que esta casa se tornou. Pior!, existe o perigo de Cantelães gerar conflitos entre eles. Pela primeira vez encaro a hipótese de vender. Imaginas o que sinto... Sempre me culpabilizei por a não construir a tempo de de ver os Pais à cabeceira da mesa, como admitir abandonar a árvore onde repousam e me esperam? Nem os cães entenderiam, habituados como estão a saudar a minha passagem tardia no corredor com um abanar de cauda solidário. Mas que fazer? A cabeça num torno, o coração apertado, wish you were here...

segunda-feira, junho 25, 2012

Apesar da variada sobremesa.

O jantar de homenagem aos voluntários a quem a Comunidade Paulo Vallada (também) deve manter as portas abertas deixou-me com um travo amrgo no espírito. Ao ver as nossas meninas/mães agradecerem a dedicação de tanta gente e entregar-nos um texto que acaba com "Muitos beijinhos das meninas cá da casa" perguntei-me, como os responsáveis de outras valências idênticas!, quanto tempo aguentaremos nas actuais circunstâncias. E o que acontecerá às miúdas se e quando...

segunda-feira, junho 18, 2012

Só para me contrariar!

Segunda de manhã. SMS do João - Macca faz setenta anos! Mail doce do Guilherme. A lenda familiar assegurada. E ainda há parvalhões a dizer - e escrever! - que tal dia é rotineiro:).

domingo, junho 17, 2012

Domingo à noite.

Domingo à noite o presente é escravo do futuro próximo. O corpo demanda o quarto, mas a cabeça não repousa na almofada; vê nela a ante-estreia do rotineiro filme de Segunda-Feira. 

quarta-feira, junho 13, 2012

Para o João Cutileiro.

Porque a exposição já foi inaugurada, aqui deixo o texto que o João teve a gentileza de me pedir.


Serão os espelhos Medusas angelicais?

Chegam trazidos por mãos calejadas e risos abertos – “onde os quer?” - ,  aceitam paredes e avessos de armário sem azedume. Ou são  hóspedes antigos,  em plena crise pedem asilo não político a coberto de memórias, um cálice de vinho ou saudade e regressa  o tempo em que fitávamos, olhos nos olhos,  cinturas adultas. Faces amadas, perdidas e achadas, substituem  a nossa, os ouvidos juntam-se à cabala,  vozes doces… - “como estás, menino?”. “Sem vocês”, respondemos. E polimos os sacanas como Aladino a  lâmpada, na louca nostalgia de uma nova aparição. Desconfiados? Nem por sombras! Eles exibem obediência e fidelidade caninas;  reflectem sem pensar. Viramos costas e oferecemos flancos sem medo, estamos portas e ferrolhos adentro, quem precisa de pontes levadiças?

Puro engano; esperam. Um dia, moldura ante moldura, deixam réplicas holográficas para – neste caso… - português (se) ver e invadem-nos com terramotos à arreata. Afinam a mão apontando maus fígados ou bons corações. Depois, enchem o peito e sufocam o nosso, tomam de assalto as ameias da alma e sussurram, “lembra-te do que fazíamos nas feiras - eras gordo e magro, alto e baixo, tudo em vertigem risonha, brincamos outra vez?…”. Pergunta retórica e anestésica, sem resposta prevista, muito menos livre. Medos, culpas e desejos enlouquecem –  tanto trabalho  para os manter aferrolhados… -, a cabeça estoura. Corpos há muito ausentes da cama bailam pelo corredor; voltam, alucinados, murmúrios enrouquecidos e cabelos que nos choviam sobre o peito antes de inundarem coxas; Senhor por que inventaste paixão sem cruz ou maiúscula para os irmãos do Teu Filho?

Logo…, serão os espelhos Medusas infernais?

Tal agonia corre montanha acima e desagua no mar esquivo da lucidez. A tortura arrancou-nos a verdade, não a ferros mas a vidros, “aquilo” somos nós. A céu aberto e Céu perdido,  Deus que o perdoasse não teria perdão.  O velho Sartre o intuiu e se enganou – o Inferno são os outros. Não!, somos nós - petrificados por tantos, tantos nós, que marinheiro algum os conseguiria dar, quanto mais desatar.

Trabalho feito, os espelhos regressam a paredes e armários.  Por amor os estilhaçamos antes de chegarem os amigos, por ódio os  oferecemos a quem nos magoou, por desespero os colocamos  à lapela, como os antigos gregos nos escudos, muito antes dos euros  contornarem as Termópilas. Mas a vidinha da gente não muda, triste e baço mundo este, nem sequer autoriza morte em combate honroso. Parte-se à míngua, rodeados por ostentação.   

 Um tipo fica assim – não granítico, como o velho Afonso da Maia ou a cascata da Pena Ventosa,  apenas bovinamente parado. Na varanda pousam gaivotas de olhar fixo. Em terra, mas sem borrasca ou água nos bicos. Abutres disfarçados, pressentem que a lucidez é doença fatal.  

(E contudo permite-nos cair de pé...)

Com tal parênteses nos seus currículos e porta-fólios, a contragosto exausto lhes faço justiça - os espelhos são Medusas ferozes, mas seminais.


sábado, junho 09, 2012

O espectador monástico.

Um tipo vê o jogo sozinho em casa para poder comentar "à moda do Porto". (Bom, na companhia de croquetes da Ribeiro e uma garrafa de Soalheiro...). Pelo meio ainda segue o Benfica-Porto em hóquei num canal que não sabia existir e funciona aos soluços:(. (Seremos campeões se ganharmos aos tigres de Almeirim, não os conheço, espero que sejam fraquinhos ou benfiquistas...). Resultado? Mais uma vitória moral, ainda por cima contra a Alemanha da senhora Merkel, padroeira das traves. (Claro que o Dr. Passos Coelho lhe vai dizer que a vitória foi merecidíssima...). Comentar à moda do Porto? Ó gente inculta! - Pi que os concebeu, uma sorte do pi, o pi do Ronaldo nunca nos deixa de boca aberta na selecção, somos uns pi sem sorte nenhuma, como é possível o pi do Gomez saltar com o João Pereira no golo... Perceberam? O Porto é uma cidade do pi, carago:))))))))).

sexta-feira, junho 08, 2012

Canal 58, já!

BBC Entertainment, concerto em Buckingham para festejar o Jubileu. Um mar de gente. E este amor por Londres, que a idade só aguçou:).

quinta-feira, junho 07, 2012

Os outros fiéis depositários.

Feira do Livro. Chego a resmungar e saio agradecido, as pessoas são de uma gentileza enternecedora. Mas hoje..., we have a winner! Ele ficou ali, de sorriso nos lábios, recordando minha Mãe. Que todos os dias parava na Casa Moreda, bebia uma taça de rosé, comia um rissol - de vez em quando cedia ao charme de um pastel de nata:) - e conversava. Não foi o único a pedir licença para me falar dela. E eu dou comigo a recear o tempo em que ninguém me voltará a chamar "o filho da Clarinha"... 

domingo, junho 03, 2012

Zapping.

 Amadeus. Nunca gostei do riso idiota que lhe inventaram e da sugestão de que o seu talento era Heaven sent, como os Beatles cantavam em Lady Madonna. Acerca de dinheiro...:). A interpretação de Murray Abraham valeu bem o Óscar obtido, aquele Salieri é capaz da inveja, da adoração, do arrependimento e da loucura lúcida que o torna ´"santo padroeiro dos medíocres". E vogando sobre tudo e todos, a música. Essa música tão genial que até eu consigo seguir-lhe os passos, adivinhar-lhe o futuro próximo, recordá-la quando se desvaneceu. Quando vi o filme, não imaginava que um dia, assustadíssimo, mergulharia nas biografias para escrever uma conferência sobre Mozart nos Encontros da Casa da Música. E o velho Milos tem razão - todos os caminhos iam dar ao pai Mozart, a intensidade psicológica da correspondência entre os dois é de cortar a respiração.
Está bem, confesso - e para um psi a tentação irresistível de nela mergulhar e construir uma narrativa relacional que nem a morte interrompeu. Próxima do que realmente se passou entre os dois? Da "verdade dos factos"? E isso existe, no mundo dos afectos?

sábado, junho 02, 2012

O "complicómetro".

Serralves. A Invenção da Alma, do Jaime Milheiro. O desconhecido acarreta a ideia securizante de Deus. A cultura formata-nos numa das religiões. E a base de tudo isto sofre de injustiça - por que razão desvalorizamos a "simples" razão emoldurada pelos afectos?