terça-feira, outubro 29, 2013
Old Fashioned Love Song (1975) - Three Dog Night
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Em breve, por lei, passarão a ser os Two Dog Night:(.
http://www.youtube.com/v/rKaQzQAlNn4?version=3&autohide=1&autohide=1&autoplay=1&attribution_tag=_snNI5Kh64wkQuiRp423jg&showinfo=1&feature=share
segunda-feira, outubro 28, 2013
Na falésia.
Maria,
Quando eu morrer, não te vás
despedir de mim à Lapinha. Não mereço
calça, culote, paletó, almofadinha. E detesto cordões de ouro... Vai a Charing
Cross e compra um bilhete para Folkestone. Tu sabes – uma daquelas cidadezinhas
debruçadas sobre a Mancha sem Quixote, quando pára de chover os ingleses correm
à praia e aos bicudos seixos, coitados!, nunca namoraram em areia fina, vento cortante e Atlântico gelado. (Eu sei, eu
sei, a culpa era minha, detestava o Algarve...). Vai à falésia, mas não procures França ao
longe - se a nostalgia te assaltar ouve a canção de Oldfield, a música leva-nos
everywhere, como aí se diz -, vê onde pões os pés. Não, não, nada disso!, é
terra firme em país que reinou sobre os águas, estás segura, querida. Quero que
sigas as pegadas na relva, that’s all. Mais tarde ou mais cedo verás um coreto
que abriga uma banda, hélas!, sem Sargento Pimenta. Ao seu redor cadeiras de
lona e mantas para joelhos e não só, algumas sobem a peitos friorentos e dados
a caprichos da tosse, a maior parte deles com vidas longas e futuros anémicos,
mais uma razão para mergulharem nos seus acordes favoritos e patrióticos, “rule
Britannia, Britannia rule the way...”. Há um estrangeiro entre eles.
Estrangeiro e não estranho, sente-se confortável na loira Albion, mas nasceu a
Sul e a ele voltará, tristesse oblige.
Sou eu – adolescente; inseguro;
sozinho; só. Em resumo – antes de ti, primeiro; da tua saudade, mais tarde.
Dá-lhe um beijo. E eu dir-me-ei, aliviado, ao espelho – R.I.P. (Vivo, não foi
possível sem ti...).
sábado, outubro 26, 2013
Os neoliberais,,, Quanto à "vingança", nem pensar!
AS PREMONIÇÕES DE
NATÁLIA
"A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".
"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"
"A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".
"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"
"Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural,
como toda a Europa, todo o Ocidente".
"Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda
querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não
depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica".
"Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes,
sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade
ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste
reaccionário centrão".
"Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de
Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores?"
"As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria,
fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A
Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior
conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão
gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de
assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos
e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar
das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras
derrocadas a vir".
Natália Correia
Natália Correia
Todas as
citações foram retiradas do livro "O Botequim da Liberdade", de
Fernando Dacosta.
quinta-feira, outubro 17, 2013
Ageing on the road.
Maria,
Fazer anos não no tempo dos relógios, mas no espaço dos afectos, disperso por este Portugal - brando nos costumes, cinzento no humor, vingativo na governação. E assim repetir o jantar dos Machado Vaz por aldeias sem fim, os roadies armando o restaurante e o sorriso do senhor Manuel dia após dia, até eu ser um honesto idoso de 65 e com tímida falta de vergonha pedir outra voltinha aos meus rapazes e mais uma opulenta costeleta para os netos. Tricotar conversa de treta que não me distraia do essencial - vê-los ao meu redor. E em prece silenciosa de agnóstico pedir que a tua sms, como sempre, seja certeira - "um óptimo jantar para todos, à sombra da asa do patriarca".
Que aspira ainda a proteger os seus, mas se limita a invejar voos alheios desde que partiste.
GMDT.
Fazer anos não no tempo dos relógios, mas no espaço dos afectos, disperso por este Portugal - brando nos costumes, cinzento no humor, vingativo na governação. E assim repetir o jantar dos Machado Vaz por aldeias sem fim, os roadies armando o restaurante e o sorriso do senhor Manuel dia após dia, até eu ser um honesto idoso de 65 e com tímida falta de vergonha pedir outra voltinha aos meus rapazes e mais uma opulenta costeleta para os netos. Tricotar conversa de treta que não me distraia do essencial - vê-los ao meu redor. E em prece silenciosa de agnóstico pedir que a tua sms, como sempre, seja certeira - "um óptimo jantar para todos, à sombra da asa do patriarca".
Que aspira ainda a proteger os seus, mas se limita a invejar voos alheios desde que partiste.
GMDT.
quinta-feira, outubro 10, 2013
O sortalhão.
Maria,
Sabes como a existência de Deus e
do Diabo me colocam na defensiva – ninguém me arranca um “sim”, mas aceito um “por
que não?” sem taquicardia ou suor, afinal o ateísmo não passa de outra fé! Mas
acredito piamente na sorte, precisasse ela de um crente embaixador e levantaria o dedo, por prazer e obrigação.
Mais uma viagem, mais um Congresso, mais uma voltinha sem carros de choque e
Palácio de Cristal. De repente, a dúvida – onde e a que horas falo? Telefonema
ao Pedro Vendeira, resposta pronta, “até amanhã, Professor”. Há trinta anos
atrás eram os mais velhos a mimar-me, hoje é a geração mais nova, quantas vezes
estive ombro a ombro com o Pedro? Inúmeras, pelo menos uma à sua frente,
transido de um medo gélido que o maroto conseguiu apaziguar. Maria, tive
fortuna ensanduichada, recebi abraço carinhoso de – pelo menos! - duas gerações.
Assim não envergonhe eu o Pedro amanhã... Dois ingleses da minha geração
sorriem à minha frente, escutando os Abba de mãos dadas. Quando acabar (?) de
te escrever fugirei, sorrateiro, para a minha varanda. Com a pergunta
abastardada do Eugénio a martelar-me a cabeça – por quanto tempo conseguirei
trabalhar com estes jovens sem os envergonhar?
GMDT.
sábado, outubro 05, 2013
A árvore.
Maria,
Nem discursos opostos ao dia soalheiro;
nem bandeiras às quais não fazer o pino
chega para adejar ufano; nem mecânicas
saudações, que a fila é extensa; nem varandas que melhor seria transformar em
marquises de vidro duplo, pois na rua há quem não de demita de pedir demissões;
nada. E digo-o com alívio... Mas aqui em Cantelães, como na infância atenta à
incorrecção factual de Pai solenemente risonho, aqui o 5 de Outubro continua a
ser feriado nacional, imune a gula política ou compreensão eclesiástica;
granítico, como o velho Afonso. Singelo também. Apenas eu e a Mila, que exibe
literal fidelidade canina, fitamos a árvore em silêncio. Porque os chavões não
acrescentam nada a amor e saudade e “feliz aniversário, Mãe” belisca nostalgia
megalómana – ainda que enroscada na sua paixão de cinquenta anos para a eternidade,
o sorriso, que Espírito Santo e Diabo procurarão sem sucesso imitar - por lhes
garantir um assinalável aumento de eficácia... -, “esse” sorriso, apenas se
abrirá quando eu me juntar a eles.
Dorme bem. Amo-vos.
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