terça-feira, outubro 29, 2013

Old Fashioned Love Song (1975) - Three Dog Night

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Em breve, por lei, passarão a ser os Two Dog Night:(.

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segunda-feira, outubro 28, 2013

Na falésia.

Maria,
Quando eu morrer, não te vás despedir de mim à Lapinha.  Não mereço calça, culote, paletó, almofadinha. E detesto cordões de ouro... Vai a Charing Cross e compra um bilhete para Folkestone. Tu sabes – uma daquelas cidadezinhas debruçadas sobre a Mancha sem Quixote, quando pára de chover os ingleses correm à praia e aos bicudos seixos, coitados!, nunca namoraram em areia fina,  vento cortante e Atlântico gelado. (Eu sei, eu sei, a culpa era minha, detestava o Algarve...).  Vai à falésia, mas não procures França ao longe - se a nostalgia te assaltar ouve a canção de Oldfield, a música leva-nos everywhere, como aí se diz -, vê onde pões os pés. Não, não, nada disso!, é terra firme em país que reinou sobre os águas, estás segura, querida. Quero que sigas as pegadas na relva, that’s all. Mais tarde ou mais cedo verás um coreto que abriga uma banda, hélas!, sem Sargento Pimenta. Ao seu redor cadeiras de lona e mantas para joelhos e não só, algumas sobem a peitos friorentos e dados a caprichos da tosse, a maior parte deles com vidas longas e futuros anémicos, mais uma razão para mergulharem nos seus acordes favoritos e patrióticos, “rule Britannia, Britannia rule the way...”. Há um estrangeiro entre eles. Estrangeiro e não estranho, sente-se confortável na loira Albion, mas nasceu a Sul e a ele voltará, tristesse oblige.

Sou eu – adolescente; inseguro; sozinho; só. Em resumo – antes de ti, primeiro; da tua saudade, mais tarde. Dá-lhe um beijo. E eu dir-me-ei, aliviado, ao espelho – R.I.P. (Vivo, não foi possível sem ti...).  

sábado, outubro 26, 2013

Os neoliberais,,, Quanto à "vingança", nem pensar!

AS PREMONIÇÕES DE NATÁLIA

"
A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".

"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"

"Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".

"Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica".

"Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".

"Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores?"

"As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir".

Natália Correia
Todas as citações foram retiradas do livro "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta.



quinta-feira, outubro 17, 2013

Ageing on the road.

Maria,
Fazer anos não no tempo dos relógios, mas no espaço dos afectos, disperso por este Portugal - brando nos costumes, cinzento no humor, vingativo na governação. E assim repetir o jantar dos Machado Vaz por aldeias sem fim, os roadies armando o restaurante e o sorriso do senhor Manuel dia após dia, até eu ser um honesto idoso de 65 e com tímida falta de vergonha pedir outra voltinha aos meus rapazes e mais uma opulenta costeleta para os netos. Tricotar conversa de treta que não me distraia do essencial - vê-los ao meu redor. E em prece silenciosa de agnóstico pedir que a tua sms, como sempre, seja certeira - "um óptimo jantar para todos, à sombra da asa do patriarca".
Que aspira ainda a proteger os seus, mas se limita a invejar voos alheios desde que partiste.
GMDT.

quinta-feira, outubro 10, 2013

O sortalhão.

Maria,
Sabes como a existência de Deus e do Diabo me colocam na defensiva – ninguém me arranca um “sim”, mas aceito um “por que não?” sem taquicardia ou suor, afinal o ateísmo não passa de outra fé! Mas acredito piamente na sorte, precisasse ela de um crente embaixador e  levantaria o dedo, por prazer e obrigação. Mais uma viagem, mais um Congresso, mais uma voltinha sem carros de choque e Palácio de Cristal. De repente, a dúvida – onde e a que horas falo? Telefonema ao Pedro Vendeira, resposta pronta, “até amanhã, Professor”. Há trinta anos atrás eram os mais velhos a mimar-me, hoje é a geração mais nova, quantas vezes estive ombro a ombro com o Pedro? Inúmeras, pelo menos uma à sua frente, transido de um medo gélido que o maroto conseguiu apaziguar. Maria, tive fortuna ensanduichada, recebi abraço carinhoso de – pelo menos! - duas gerações. Assim não envergonhe eu o Pedro amanhã... Dois ingleses da minha geração sorriem à minha frente, escutando os Abba de mãos dadas. Quando acabar (?) de te escrever fugirei, sorrateiro, para a minha varanda. Com a pergunta abastardada do Eugénio a martelar-me a cabeça – por quanto tempo conseguirei trabalhar com estes jovens sem os envergonhar?

GMDT.

sábado, outubro 05, 2013

A árvore.

Maria,
Nem discursos opostos ao dia soalheiro; nem  bandeiras às quais não fazer o pino chega para  adejar ufano; nem mecânicas saudações, que a fila é extensa; nem varandas que melhor seria transformar em marquises de vidro duplo, pois na rua há quem não de demita de pedir demissões; nada. E digo-o com alívio... Mas aqui em Cantelães, como na infância atenta à incorrecção factual de Pai solenemente risonho, aqui o 5 de Outubro continua a ser feriado nacional, imune a gula política ou compreensão eclesiástica; granítico, como o velho Afonso. Singelo também. Apenas eu e a Mila, que exibe literal fidelidade canina, fitamos a árvore em silêncio. Porque os chavões não acrescentam nada a amor e saudade e “feliz aniversário, Mãe” belisca nostalgia megalómana – ainda que enroscada na sua paixão de cinquenta anos para a eternidade, o sorriso, que Espírito Santo e Diabo procurarão sem sucesso imitar - por lhes garantir um assinalável aumento de eficácia... -, “esse” sorriso, apenas se abrirá quando eu me juntar a eles.

Dorme bem. Amo-vos.