Gostei de Whatever works, do velho Woody. Estou de acordo com a maioria dos críticos: o maroto foi buscar um "capanga" capaz de ser mais credível no azedume e agressividade, sem perder a ternura. A mensagem parece traduzir a prioridade que resiste - ou surge... - após um trajecto de vida: estamos sozinhos "cá em baixo" e o caos é a ordem reinante, logo, cada réstia de céu azul relacional deve ser aproveitada enquanto dura... Nada de novo em Allen, o fim de Annie Hall ia na mesma direcção. Claro que as combinações apresentadas no filme porão os cabelos em pé a muitos, que as decretarão sinais de um intolerável relativismo ético. Para gáudio dele, desconfio:).
Este fim-de-semana revisitei Shadowlands com Hopkins e Debra Winger. Continuo a ter aquela sensação estranha de que certos actores - lembro-me de Olivier, Gielgud e Burton, por exemplo... - nos fizeram um enorme favor não se limitando ao teatro. Claro que não foi assim, não resistiram a Hollywood. Mas ver Hopkins para lá do enorme sucesso de O Silêncio dos Inocentes é um privilégio raro, Despojos do Dia parece-me outro espectáculo fabuloso de representação "ferozmente ascética". E não deixa de ser curioso que a mensagem é muito semelhante: viver o aqui e agora, aceitando que o sofrimento futuro faz parte da felicidade actual.
P.S. Tive uma epifania - sou sportinguista desde pequenino:).
domingo, fevereiro 28, 2010
quarta-feira, fevereiro 24, 2010
Vão espreitar!
Peter Sellers no TVC2, Bem-vindo Mr. Chance. Uma alegoria genial à sociedade de aparências que já então se desenhava. E o epílogo ideal para o meu dia:).
domingo, fevereiro 21, 2010
Projecto de vida.
Subir ainda uma vez a Quéribus e esperar. Porque é estúpido procurar respostas neste frenesim acéfalo. Subir a Quéribus e esperar. Não por Deus, romano ou cátaro; por mim.
terça-feira, fevereiro 09, 2010
O filho da Mãe.
Por vezes, ao longo dos anos, houve momentos ou breves minutos durante aulas em que senti uma paz "cósmica", que me fazia bordejar a transcendência, se a expressão me é permitida. Ouvia-me dizer exactamente o que desejava da forma que desejava e a dúvida gania - "não vai durar". Com efeito, o encanto era de vida breve:(. Ficava a esperança... Como se mulher muito querida me afagasse o cabelo garantisse, quase coquette - "eu volto". Sorrio perante a comparação. Ela traduz uma profunda idealização da figura feminina e minha Mãe está-lhe na origem, como é óbvio. Acredito que neste deserto cinzento, são as mulheres a saber por trás de que dunas se escondem os oásis.
Mas só guiam quem lhes dá na real gana, as marotas:).
Mas só guiam quem lhes dá na real gana, as marotas:).
terça-feira, fevereiro 02, 2010
A violação.
“Meu querido,
Não te digo metade (a metade graaaande:) ) do que penso, quando penso em ti . E é muito!, porque moras em todos os meus pensamentos. Pelo menos os bons… Gostava de te guardar no bolso e partir à (nossa) descoberta here, there and everywhere, de Porto Covo a Berlim. Quando alucino uma casinha – eu sei, tresanda a XutosJ -, ela tem um sofá inundado pelo sol onde te enroscas e ao qual eu me encosto, livros espalhados pelo chão e os cabelos pelos teus dedos. Assustadora a fantasia, de tão “conjugal”? Estás enganado, acontece que te levo sempre comigo, das caminhadas na Ericeira aos jantares com amigos no Bairro Alto, os sítios e as pessoas ficam mais bonitos porque vistos por olhos que te procuram e recordam. Se estivesses a meu lado falaríamos de tudo – eu, pelo menos, falaria de tudo! -, não escapavas a poema, notícia ou até coscuvilhice – credo… - escutada, lida ou pressentida. E com razão me decretarias chata, mas com um requebro doce na voz.
Não sei o que o futuro nos reserva; gosto de ti; tenho medo(s)... Principalmente o medo de não saber o que poderia fazer melhor por e para nósL. Gostava de estar nos teus braços e explorar mais de perto esse cheiro por trás do perfume que prefiro acreditar escolhido por amiga de peito...; de ter a certeza que me escutas e não apenas ouves; de te acolher os segredos, os beijos cegos e as mãos em abençoada vagabundagem, talvez um riso infantil e grato em face das prendas ridículas – agora cheira a Pessoa… - com que me imagino a inundar-te.
A verdade é que não te digo metade da metade da metade…, ah!, basta dizer(-te) que adormeço a pensar em nós e tal abraço não é opcional. Boa noite, um beijo grande. Amanhã dir-te-ei bom dia num qualquer corredor e o beijo que trocaremos, acredita!, não passará de uma versão a preto e branco e burocrática deste, mesmo a solo.”
Fechou o diário, à culpa juntava-se um remorso pungente, sem fim à vista. De volta à sala e ao marido, cujos receios exibiam agora a moldura da impaciência.
- Então?
E ela admitiu para si mesma que fora cúmplice da devassa. A rapariga sozinha em Lisboa, as notas a baixarem, as olheiras húmidas, as fugas para o quarto em fins-de-semana, “vão vocês”. O medo deles como álibi, mas sem justificar absolvição. Em voz surda,
- Não são drogas, é doença de amor.
O alívio optimista e amnésico dele,
- Óptimo, isso desaparece com a idade.
A teoria do aquecimento global em definitivo descartada, jorrou de coração e lábios gelo suficiente para uma vida inteira.
- A doença ou o amor?
Ele já regressara ao telejornal.
Não te digo metade (a metade graaaande:) ) do que penso, quando penso em ti . E é muito!, porque moras em todos os meus pensamentos. Pelo menos os bons… Gostava de te guardar no bolso e partir à (nossa) descoberta here, there and everywhere, de Porto Covo a Berlim. Quando alucino uma casinha – eu sei, tresanda a XutosJ -, ela tem um sofá inundado pelo sol onde te enroscas e ao qual eu me encosto, livros espalhados pelo chão e os cabelos pelos teus dedos. Assustadora a fantasia, de tão “conjugal”? Estás enganado, acontece que te levo sempre comigo, das caminhadas na Ericeira aos jantares com amigos no Bairro Alto, os sítios e as pessoas ficam mais bonitos porque vistos por olhos que te procuram e recordam. Se estivesses a meu lado falaríamos de tudo – eu, pelo menos, falaria de tudo! -, não escapavas a poema, notícia ou até coscuvilhice – credo… - escutada, lida ou pressentida. E com razão me decretarias chata, mas com um requebro doce na voz.
Não sei o que o futuro nos reserva; gosto de ti; tenho medo(s)... Principalmente o medo de não saber o que poderia fazer melhor por e para nósL. Gostava de estar nos teus braços e explorar mais de perto esse cheiro por trás do perfume que prefiro acreditar escolhido por amiga de peito...; de ter a certeza que me escutas e não apenas ouves; de te acolher os segredos, os beijos cegos e as mãos em abençoada vagabundagem, talvez um riso infantil e grato em face das prendas ridículas – agora cheira a Pessoa… - com que me imagino a inundar-te.
A verdade é que não te digo metade da metade da metade…, ah!, basta dizer(-te) que adormeço a pensar em nós e tal abraço não é opcional. Boa noite, um beijo grande. Amanhã dir-te-ei bom dia num qualquer corredor e o beijo que trocaremos, acredita!, não passará de uma versão a preto e branco e burocrática deste, mesmo a solo.”
Fechou o diário, à culpa juntava-se um remorso pungente, sem fim à vista. De volta à sala e ao marido, cujos receios exibiam agora a moldura da impaciência.
- Então?
E ela admitiu para si mesma que fora cúmplice da devassa. A rapariga sozinha em Lisboa, as notas a baixarem, as olheiras húmidas, as fugas para o quarto em fins-de-semana, “vão vocês”. O medo deles como álibi, mas sem justificar absolvição. Em voz surda,
- Não são drogas, é doença de amor.
O alívio optimista e amnésico dele,
- Óptimo, isso desaparece com a idade.
A teoria do aquecimento global em definitivo descartada, jorrou de coração e lábios gelo suficiente para uma vida inteira.
- A doença ou o amor?
Ele já regressara ao telejornal.
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