segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Amici,

O furacão que varre o sistema político italiano não é uma surpresa, as pessoas pura e simplesmente estão fartas dos partidos tradicionais e das areias movediças – sobretudo para nós! - em que se movem…tradicionalmente. O mentor do Movimento Cinco Estrelas – com indiscutível sabor hoteleiro - é Beppe Grillo, antigo humorista, recuperado do vício de Ferraris e iates e condenado por homicídio negligente, o que impediu a sua candidatura. Olho em volta. Areias semelhantes. Cansaço semelhante. O Ricardo Araújo Pereira com cadastro impoluto e talento para dar e vender. Hum…

quarta-feira, fevereiro 20, 2013

Fevereiro...

Não chateia. É simplesmente triste ver a canção de Zeca Afonso ser "cantada" como a "cantou" Miguel Relvas. E não se trata de analisar a monumental desafinadela do apaniguado ministro de Pedro Passos Coelho, o primeiro-ministro que, em tempos, confessou que seria "mais feliz se fosse cantor". Uma confissão com que, provavelmente, a maioria dos portugueses estaria hoje tentada a concordar. Até porque, no que toca aos dotes vocais do ministro-adjunto, já quase tudo foi dito. E tudo o que se disse foi 'fait divers'. Cantar fora de tom, como diria o próprio Relvas, "é a vida". E quem não tem cavalo mas insiste em inscrever o jumento no concurso de saltos de hipismo tem a vida que merece. Desafinada, aos solavancos e sem entender o significado de um protesto que usa a canção-senha do 25 de abril como arma. Também não chateia observar o tom desafiador e o sorriso de cavaleiro solitário com que Relvas encara as manifestações hostis e a forma aparentemente corajosa com que enfrenta quem contra si se indigna. O que chateia verdadeiramente é a arrogância calculista do ministro. Se assim não fosse, Relvas não voltaria a meter-se na boca do lobo um dia depois dos protestos de Gaia. Não é obra do acaso, é premeditação. Ao aceitar comparecer na comemoração dos 20 anos da TVI, Miguel Relvas estava consciente dos riscos. E não se fala de riscos físicos. Esses, a verificarem-se, assentariam que nem uma luva na busca da vitimização, ao estilo kamikaze, que parece mover o braço direito de Passos Coelho. Trata-se de avaliar os riscos políticos de aparições em noites que, para o ministro, são iguais "a tantas outras". Mas não são. Ontem, o todo-poderoso ministro da coligação PSD/CDS apareceu no ISCTE exibindo o mesmo sorriso com que desafinou a "Grândola Vila Morena", mas escoltado por um incomparavelmente maior número de guarda-costas do que em Vila Nova de Gaia, onde defendeu - pasme-se - que "a melhor maneira de ter medo é ter coragem". Durante a récita na peculiar sessão do Clube dos Pensadores, Miguel Relvas foi mais longe ao afirmar que "a pior coisa que um governante pode fazer é amedrontar-se". Ao sair ontem atribuladamente do ISCTE, em Lisboa, sem intervir e rodeado de seguranças, Relvas revelou-se medroso, sem coragem e, desta vez, em direto na TV, sem qualquer filtro. Pelo segundo dia consecutivo, vê-se vaiado em público, impedido de exercer a sua atividade política. Relvas experimenta agora nas ruas aquilo que muitos portugueses, incluindo da classe política - até do seu próprio partido - têm afirmado: o ministro dos Assuntos Parlamentares não tem condições de exercer o cargo. Por muito que, desta vez, um diligente e rápido comunicado governamental tenha deixado claro que o Executivo não se deixará condicionar por protestos como os manifestados no ISCTE. Mas a dúvida mantém-se: um ministro que não tem condições para sair à rua tem condições para governar? Alfredo Leite, JN. P.S. Hoje, na Assembleia da República, Vitor Gaspar desceu à terra. O Ministro da Saúde foi interrompido no Hospital de S. João, mas depois pôde falar. O que me agrada. Silenciar alguém, mesmo com base numa indignação justa, é um flirt com o totalitarismo. Quanto ao Ministro Relvas, acrescentaria algumas palavras às de Alfredo Leite. Vivemos numa sociedade do efémero, cada estímulo é rapidamente substituído por outro e nós reagimos de forma mecânica, não meditada. O Ministro foi claro há tempos atrás – não cometeu nenhuma ilegalidade. E é verdade, a ter acontecido – continuo à espera de conclusões… - ela saiu de canetas universitárias. (Trata-se de outra característica dos tempos modernos – não pensar se o legal também é legítimo.) Portanto, algum tempo de recato, o futebol, o Papa, o meteorito, os entusiasmos do ex-Secretário de Estado da Cultura, os “dramas” do jet set e o regresso aos mercados torná-lo-iam assunto requentado. Enganou-se. E tomem nota do que vos digo – ainda estamos em Fevereiro, 2013 vai assistir a muito desespero, infelizmente.

domingo, fevereiro 17, 2013

O talento sempre actual de um velho amigo:).

Cantiga da velha mãe e dos seus dois filhos Ai o meu pobre filho, que rico que é ai o meu rico filho, que pobre que é Nascidos do mesmo ventre Um vive de joelhos pró outro passar à frente E esta velha mãe para aqui já no sol poente Um dia há muito tempo, vi-os partir levando cada um do outro o porvir Seguiram pela estrada fora Um voltou-se para trás, disse adeus que me vou embora Voltaremos trazendo connosco a vitória De que vitória falas, disse eu então Da que faz um escravo do teu irmão? Ou duma outra que rebenta como um rio de fúria no peito feito tormenta quando não há nada a perder no que se tenta? Passaram muitos anos sem mais saber nem por onde passavam, nem se por ter criado os dois no mesmo chão eram ainda irmãos, partilhavam ainda o pão E o silêncio enchia de morte o meu coração Depois vieram novas que o que vivia da miséria do outro, se enriquecia Não foi para isto que andei dias que foram longos e noites que não contei a lutar pra ter a justiça como lei Às vezes rogo pragas de os ver assim Sinto assim uma faca dentro de mim Sei que estou velha e doente Mas para ver o mundo girar de modo diferente Ainda sei gritar, e arreganhar o dente Estou quase a ir embora, mas deixo aqui duas palavras pra um filho que perdi Não quero dar-te conselhos Mas se é teu próprio irmão que te faz viver de joelhos Doa a quem doer, faz o que tens a fazer Sérgio Godinho, in "os sobreviventes", 1971

domingo, fevereiro 10, 2013

Um tropeção previsível.

Quem entrega, vou repetir - entrega!, - um jogo destes dificilmente pode ser campeão. Por isso, responsabilidade total do resultado para o Benfica e para quem ainda não entendeu que as grandes equipas se constroem a partir da defesa (e não estou a falar de Jesus...). Quanto à arbitragem, Pedro Proença continua incapaz de controlar a sua sede de protagonismo.

"Nos teus olhos altamente perigosos" é um verso do caraças:).

Um Adeus Português Nos teus olhos altamente perigosos vigora ainda o mais rigoroso amor a luz dos ombros pura e a sombra duma angústia já purificada Não tu não podias ficar presa comigo à roda em que apodreço apodrecemos a esta pata ensanguentada que vacila quase medita e avança mugindo pelo túnel de uma velha dor Não podias ficar nesta cadeira onde passo o dia burocrático o dia-a-dia da miséria que sobe aos olhos vem às mãos aos sorrisos ao amor mal soletrado à estupidez ao desespero sem boca ao medo perfilado à alegria sonâmbula à vírgula maníaca do modo funcionário de viver Não podias ficar nesta casa comigo em trânsito mortal até ao dia sórdido canino policial até ao dia que não vem da promessa puríssima da madrugada mas da miséria de uma noite gerada por um dia igual Não podias ficar presa comigo à pequena dor que cada um de nós traz docemente pela mão a esta pequena dor à portuguesa tão mansa quase vegetal Mas tu não mereces esta cidade não mereces esta roda de náusea em que giramos até à idiotia esta pequena morte e o seu minucioso e porco ritual esta nossa razão absurda de ser Não tu és da cidade aventureira da cidade onde o amor encontra as suas ruas e o cemitério ardente da sua morte tu és da cidade onde vives por um fio de puro acaso onde morres ou vives não de asfixia mas às mãos de uma aventura de um comércio puro sem a moeda falsa do bem e do mal Nesta curva tão terna e lancinante que vai ser que já é o teu desaparecimento digo-te adeus e como um adolescente tropeço de ternura por ti Alexandre O’Neill.

terça-feira, fevereiro 05, 2013

Meditação do dia.

“Dentro de cinco ou dez anos eu e a minha família também podemos ser sem-abrigo”. Fernando Ulrich. Meu Deus, protege-os! Com eles sem-abrigo não estarão os Machado Vaz agarrados ao rebordo de alguma sarjeta?