terça-feira, janeiro 27, 2009

Boa noite.

Maria,

O cansaço, como a doença e a velhice, tem o condão de pôr a vida em perspectiva. (Talvez por com elas partilhar uma certa melancolia distanciada). Por isso me quedo a desejar-te, baixo-relevo cravado no silêncio da casa. E dos dois sou eu o fantasma precário, assombrando a tua memória, granítica por eterna. Como o amor...

domingo, janeiro 18, 2009

Feliz aniversário, Eugénio!

Os joelhos

Considerai os joelhos com doçura:
vereis a noite arder mas não queimar
a boca onde beijo a beijo foi acesa.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Se bem me lembro, S.Francisco de Assis falava do "irmão lobo", mas não neste registo:(.

Cardeal Patriarca alerta jovens portuguesas para «montes de sarilhos» de casarem com muçulmanos
O Cardeal Patriarca de Lisboa surpreendeu na noite de terça-feira o auditório do Casino da Figueira da Foz ao advertir as jovens portuguesas para o «monte de sarilhos» de se casarem com muçulmanos


Falando na tertúlia «125 minutos com Fátima Campos Ferreira», que decorreu no Casino da Figueira da Foz, D. José Policarpo deixou um conselho às jovens portuguesas quanto a eventuais relações amorosas com muçulmanos, afirmando: «Cautela com os amores. Pensem duas vezes em casar com um muçulmano, pensem muito seriamente, é meter-se num monte de sarilhos que nem Alá sabe onde é que acabam».
Questionado por Fátima Campos Ferreira se não estava a ser intolerante perante a questão do casamento das jovens com muçulmanos, D. José Policarpo disse que não.
«Se eu sei que uma jovem europeia de formação cristã, a primeira vez que vai para o país deles é sujeita ao regime das mulheres muçulmanas, imagine-se lá» , ripostou D. José Policarpo à jornalista e anfitriã da tertúlia, manifestando conhecer «casos dramáticos» que, no entanto, não especificou.
Na sua intervenção, o Cardeal Patriarca de Lisboa considerou «muito difícil» o diálogo com os muçulmanos em Portugal, observando que o diálogo serve para a comunidade muçulmana demarcar os seus espaços num país maioritariamente católico.
«Só é possível dialogar com quem quer dialogar, por exemplo com os nossos irmãos muçulmanos o diálogo é muito difícil» , disse D. José Policarpo durante a tertúlia.
Respondendo a uma pergunta da anfitriã sobre se o diálogo inter-religioso em Portugal tem estado bem acautelado, o Cardeal Patriarca sublinhou que, no caso da comunidade muçulmana, «estão-se a dar os primeiros passos».
«Mas é muito difícil porque eles não admitem sequer [encarar a crítica de que pensam] que a verdade deles é única e é toda» , sustentou.
Sublinhou ainda que o diálogo serve para os muçulmanos, num país maioritariamente católico, «como fazem os lobos na floresta, demarcarem os seus espaços e terem os espaços que eu lhes respeito».
Mais tarde, quase no final de mais de duas horas de conversa e respondendo, na altura, a uma pergunta da assistência sobre a presença muçulmana na Europa, lembrou que a comunidade muçulmana de Lisboa representa cerca de 100 mil fiéis «centrados à volta de três grandes mesquitas» e definindo as relações com o Patriarcado como «habitualmente boas e muito simpáticas».
No entanto, e noutro registo, alertou para a necessidade de existir «respeito e conhecimento» sobre a religião muçulmana enquanto "primeira atitude fundamental" para o diálogo.
«Nós somos muito ignorantes, queremos dialogar com muçulmanos e não gastámos uma hora da nossa vida a perceber o que é que eles são. Quem é que em Portugal já leu o Alcorão?» , inquiriu.
«Se queremos dialogar com muçulmanos temos de saber o bê-a-bá da sua compreensão da vida, da sua fé. Portanto, a primeira coisa é conhecer melhor, respeitar» , acrescentou D. José Policarpo.
Outra atitude a praticar na relação com os muçulmanos, sublinhou o Cardeal Patriarca é «não ser ingénuo», afirmação que ilustrou com a visão que alegadamente possuem de que o sítio onde se reúnem para rezar «fica sempre deles».
«Os muçulmanos têm uma visão na sua religião que o sítio onde se reúnem para rezar fica na posse deles, é o sítio onde Alá se encontrou com eles portanto mais ninguém pode rezar naquele sítio» , disse D. José Policarpo.
Lembrou, a propósito, um «problema sério» ocorrido na Catedral de Colónia, na Alemanha, cedida pelo Cardeal da cidade à comunidade muçulmana local para uma cerimónia no Ramadão.
«Depois consideravam a Catedral posse deles, foi preciso a intervenção da polícia para resolver aquilo (...) Não sejamos ingénuos na maneira de trabalhar com eles» , argumentou.
Lusa / SOL

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Crianças em fundo branco.

Maria,

O sofá do corredor gozando o sol aberto, alheio ao frio que reinava para lá do vidro, mas se via desafiado, mesmo portas afora, pelo gozo dos miúdos. Os cães, filosoficamente enroscados junto a mim, a sesta preguiçosa nem um pouco impressionada pelos caprichos meteorológicos. Cantelães vestida de um branco único de tão espesso, imagina que me abraçava os tornozelos! O livro cambaleante nas minhas mãos, sem remorso contagiadas pela modorra canina. O pensamento em nevoenta roda livre - o silêncio morno e aconchegado de aquário é herança tua. Que me obrigaste a cultivar o ócio tribal até reconhecer a evidência - morrer é não parar.

terça-feira, janeiro 06, 2009

De partida.

Maria,

A estrada. O nervoso miudinho, há trinta e sete anos que entra nos anfiteatros empoleirado no meu ombro. E contudo... Antigamente deixava-os a tricotar dúvidas monótonas: gostaram?; aprenderam alguma coisa?; fui simples e não simplista? Hoje, o público mais severo acoita-se dentro de mim. Acontece terminar uma conferência e ouvir, espantado, elogios. Pois não perceberam - como eu! - que discurso e pensamento avançavam (?) aos solavancos?
Quando estavas e ficavas... Eu dizia não me apetecer partir e buscava esse colo, ao mesmo tempo maternal e excitante. O sorriso; a mão à solta pelos meus cabelos; o beijo na testa, que fugi aos meus lábios, ansiosos por atraso, desculpa de última hora, recuo, desfazer do saco que tu supervisionavas para eu não me passear disfarçado de mendigo.
"Quando voltares, para mim e para o Porto...", dizias. E eu apontava à estrada, calando o ciúme pelo arquitecto que te arrastava a asa quando me sabia ausente e não só, eu forçado a admitir que fosses tu minha filha e to aconselharia em vez de mim, péssimo partido e duvidoso amante; impróprio para consumo, até em sociedade que nele se lança de olhos fechados e carteiras escancaradas.
Espero que a A1 me devolva ao Porto. Mas sei que me receberá de braços abertos e sobrolho franzido, "e ela?". Porque sempre me vê partir com a firme convicção de que a única boa razão para o deixar és tu - disposta, por fim, a regressar. E como não duvida do teu amor, volta ao granítico cinzento com a certeza de quem é o culpado do vosso divórcio. É verdade, conheço-te. Saia eu da cidade - ou em definitivo da tua cabeça... - e voltarás.
Quase me apetece buscar refúgio em Gaia, diluir-me na paisagem, sacar dos binóculos e esperar. Pois não fazem assim os amantes das aves?