quinta-feira, março 31, 2005

Vergonhas matinais

1) O julgamento de Setúbal. Esta via sacra vergonhosa continua...


2) O vídeo, referido por uma de vocês, sobre a selvajaria reservada aos animais que têm a desdita de serem usados ao pescoço pelo "beautiful people". Curioso, não é? Animais sujeitos a tratamento animalesco por parte da "elite" da evolução:(

quarta-feira, março 30, 2005

O risco

E depois de anos de sexo puro e duro consensual, ele deixou-a com a sensação desagradável de ter deixado quadro ou canção por assinar. Parou o carro, porque o código da estrada tinha mudado e as finanças andavam coxas. Ainda hesitou perante o "criar mensagem", mas decidiu-se - "continua a ser óptimo". (Parar antes de pisar o risco, por o risco ser demasiado grande...). O palavrão em inglês por causa da sua educação convencional - "fuck it!". Mergulho de cabeça - "gosto muito de ti".
A espera de credo na boca. O sms de resposta. A última defesa, "não leio e apareço na próxima semana como se nada tivesse acontecido". O dedo, em auto-gestão, abrindo a mensagem - "também eu".
Guardou-lhe as palavras, sabendo que duvidaria delas. Louis Armstrong no CD e aos berros, "it's a wonderful world". Nem a Brigada na curva seguinte lhe apagou o sorriso beatífico. O guarda esboçou um gesto para o fazer parar, mas recolheu-o.
Não sabia qual a multa para a felicidade...

Para a Maria João

Plutarco escreveu um dia que os médicos não podem abdicar da filosofia e os filósofos devem ocupar-se da saúde do corpo. Esta visão “inteira” do doente – hoje diz-se holística… - não foi a dos herdeiros da revolução científica. Embora a OMS defina saúde como um bem-estar físico, psíquico e social, a medicina privilegiou uma visão linear da doença, tipo causa-efeito: agente etiológico leva a efeito indesejável. Tratamento? Anulação do agente etiológico (modelo das doenças infecciosas). Trata-se do sublinhar da doença como entidade, em detrimento da pessoa doente, única na sua humanidade. Quanto à relação terapêutica, os estudos não deixam dúvidas – o “bom doente” é o que obedece e não faz perguntas. Por isso a discussão bioética é tão pertinente. Quais os objectivos da medicina? Que palavra – e com que peso… - tem o doente a dizer sobre a terapêutica e possíveis efeitos laterais? Quanto tempo levará a relação clássica médico-doente a deixar o registo paternalista para se transformar numa relação sujeito-sujeito, sem prejuízo do saber médico?
Uma referência final às populações que alguns de vocês referiram como discriminadas. É verdade. Basta pensar nos idosos e nos seropositivos. Gente que incorre numa morte social que antecede a biológica. Porque não são jovens e “eficazes” numa sociedade que privilegia a memória computorizada ou simbolizam a “decadência moral” que é apanágio…, dos outros. E contudo, nos inquéritos, todos nos afirmamos incapazes da xenofobia!

Lá dizia Plutarco:)

O homem escreveu que os médicos não podiam passar sem a Filosofia e os filósofos se deviam ocupar também da saúde dos corpos:). Hoje, a Medicina tem dificuldade em escapar a uma visão da saúde como um corpo que funciona, apesar da famigerada definição da OMS, que preconiza o bem-estar físico, psíquico e social, etc... Há estudos interessantes sobre as expectativas dos alunos de Medicina antes de iniciarem o curso e ao terminá-lo. No primeiro caso, explícita ou implicitamente, declaram-se motivados para curar e cuidar; no segundo já se vêem "apenas" destinados a curar, deixando o cuidar para outras profissões, como a Enfermagem, a Psicologia e o Serviço Social. O doente já se tornou um mero portador de doença... O mesmo processo de aculturação torna-os, muitas vezes, resistentes a estratégias de prevenção e promoção de saúde e ao trabalho interdisciplinar quando não dirigido pelos médicos envolvidos. Não é por acaso que a principal queixa dos doentes não se centra na competência, mas na qualidade do encontro terapêutico. A Medicina abandona a custo uma relação de ajuda paternalista, em que o "bom doente" é o que obedece e não faz perguntas. Assim, a discussão à volta da Bioética é preciosa, por colocar a questão fulcral: ao serviço de quê e quem está a Medicina, sem abdicar - obviamente! - de saberes e práticas próprios? Que palavra - e com que peso... - tem o doente a dizer sobre os objectivos e danos colaterais do seu tratamento?
Uma só palavra sobre grupos que alguns de vocês mencionaram, os desfavorecidos. Como os idosos e os seropositivos: dizemos em Sociologia Médica que nesses casos a morte social antecede a biológica (acho que já falei disto:(). Além de alguma Medicina, parte da sociedade varre-os para baixo do tapete e evita a profunda angústia que provocam se forem encarados como cidadãos de pleno direito. Com desculpas variadas: não são produtivos e belos ou simbolizam a "decadência e anarquia dos costumes".
E contudo, todos juramos a pés juntos sermos incapazes da xenofobia...

domingo, março 27, 2005

A "vida humana"

Penso que o Vasco Pulido Valente punha bem a questão no Público de ontem. A Medicina tem sido muito mais eficaz a prolongar a quantidade de vida do que a assegurar a sua qualidade. Posso compreender a angústia dos pais de Schiavo, em cada pormenor verão um sinal de esperança para o futuro. No limite, preferirão tê-la assim do que enfrentar-lhe a ausência física (já abordei o "egoísmo" do amor em million dollar baby). Prefiro, portanto, abordar o tema em abstracto. Antigamente a morte constituía parte integrante e fundamental da narrativa de vida. Como salienta Ariès, era muitas vezes pública e "representada" de acordo com a vontade do moribundo, em geral morrendo em casa e de porta aberta às despedidas. A morte moderna é medicalizada e assume, por vezes, o estatuto de uma derrota para os profissionais. Que se encarniçam contra ela apoiados num arsenal tecnológico que todos abençoamos, mas pode fazer esquecer a pessoa em que a batalha se desenrola. Por isso o alívio da dor nos estados terminais, a que amorosa e fielmente tantos colegas meus se dedicam, exigindo - e bem! - mais recursos para o apoio domiciliário, não chega para alguns. A vida, para quem a não considera "emprestada" por Deus, é uma pequena obra de arte individual e relacional, com pressupostos éticos e estéticos. E para que o todo nos satisfaça minimamente é preciso que uma das suas partes - a morte - não ameace a coerência do conjunto (pode até resgatá-lo...) A sua "forma" não é, assim, pormenor de somenos. Eu já tomei providências. Não quero simplesmente estar vivo, mas ter uma vida. Aceito, com gratidão!, todas as máquinas e artifícios terapêuticos que me ajudem a gozá-la, esculpi-la, vivê-la. Mas não quero ser um mero apêndice de visores, tubos e agulhas. O progresso da tecnologia não deve beliscar o respeito pela dignidade de cada um, defendida e decidida pelo próprio e não sujeita à ditadura de outros. Seguramente bem intencionados, mas impondo uma visão das nossas pequenas vidas decorrente da sua ideologia sobre "A Vida". A minha vida pertence-me. Tentarei vivê-la de cabeça levantada e costas direitas até ao último instante, mesmo que para tal deva antecipá-lo. Já o disse e escrevi muitas vezes: tenho horror à hipótese de sobreviver a mim próprio. Afinal, à minha vida humana...

quinta-feira, março 24, 2005

Boa Páscoa

Apesar de levar a "besta" para Cantelães, quero desde já desejar a todos uma Boa Páscoa. E agradecer o carinho com que me receberam na blogosfera, tenho uma curiosa sensação de "privacidade pública", como se vocês me proporcionassem uma tertúlia à moda antiga:). Um abraço,
Júlio.
(Sinto-me cada vez menos "professor". O que me parece denotar de alguma sabedoria. Já não era sem tempo!).

quarta-feira, março 23, 2005

O desperdício

É perturbador encontrar um amigo íntimo que nos desleixou a amizade. Porque a velha química de novo se põe em marcha e a conversa flui. Como se não passasse do capítulo seguinte num livro feito de muitas noites, bastantes copos, alguns amores e dois homens a céu aberto. Mas não é verdade:(. O coração abre-se; como ele o caixote das recordações e a caixa dos afectos. Mas a caixinha da confiança cega, no interior de tudo o resto, permanece intransigente. A chave apodreceu, de tanto esperar...
É muito bom o reencontro! Mas se voltarmos a viajar juntos cada um dormirá no seu quarto. E encontrar-nos-emos de manhã, na sala do pequeno-almoço, como os excursionistas japoneses, delicados e munidos das suas máquinas fotográficas. Porque a amizade, quando mostra as garras, furiosa por ter sido desperdiçada, pode revelar-se bem mais severa do que o amor.

domingo, março 20, 2005

Dia do Pai

Passei o Dia do Pai em Cantelães. E olhando a Cabreira, coroada por moinhos anorécticos que talvez fizessem Cervantes arranjar outros adversários para D.Quixote, recordei o meu velho com um sorriso - como ele detestava abandonar a "civilização"! Se ali estivesse, não tardaria a sugerir, inquieto, o regresso ao Porto; abraçando os amados jornais com o desespero de náufrago exausto. Minha Mãe, atenta, mexeria eficazes cordelinhos para lhe fazer a vontade, qualquer sinal de angústia por parte do seu amor a afligia. A morte resolve este tipo de problemas. Ontem, o velho não teve outro remédio se não admirar a Cabreira comigo. (Na realidade, dentro de mim...). E ouvir o filho lamentar que o carinho entre os homens seja tão complicado e tímido que, amiúde, só conheça a luz do dia quando a de uma vida se apagou:(.

sexta-feira, março 18, 2005

O silêncio

Pedir emprestado o tubo de ensaio em que o Gedeão analisou uma lágrima de preta (os poetas são melhores nestas coisas). Introduzir nele o silêncio e acrescentar aos procedimentos mencionados o microscópio electrónico e a tomografia axial computorizada.
Evitar grosseiro erro metodológico - existem muitos silêncios. Manter a calma. Multiplicar as observações, para enriquecer a amostra e legitimar o estudo. Incluir - sobretudo! - silêncios dolorosos: de mulheres usadas, homens lacrimejantes, crianças guerreiras e... ( vai ser um processo lento:( ). Atingir, por análises sucessivas e cada vez mais finas, a essência do silêncio. Depois, à boa maneira da ciência ocidental, (re)fazer uma síntese - eis-me dono do silêncio absoluto.
Ir-te buscar ao emprego. Conversar acerca de ninharias, acariciando no bolso esta arma secreta. De chofre a confissão - "amo-te". E o silêncio!, liberto e contudo obediente, moldura para a tua figurinha severa. De tão espesso, capaz de amordaçar todos os sons, até os mais tímidos. Nele ouvir, recortado, o teu pensamento, milésimos de segundo antes da sentença ditada por olhos e boca.
E assim matar à nascença o "eu não" que me aterroriza, com frase risonha que não adivinharás amarga e triste, "que parvoíce, deve ser a Primavera!". Bons amigos de novo. O inferno do ciúme de novo. O desejo clandestino de novo. A ternura ambiciosa de novo. Paciência!, tudo menos perder-te.
Mas... Por uma questão de rigor científico tenho de pôr a hipótese de ouvir "eu também". Que fazer, meu Deus?
(Presumo que Ele não se ofenda com a pergunta, adivinho-o mais próximo da vida real que os burocratas cá de baixo, apostrofando o amor em Seu nome.)
Não responde... Era previsível, por Graça ou ausência Sua, foi-nos concedida a liberdade.
Que fazer?, ponto final e humano.
Talvez pedir ao silêncio absoluto que regresse. E me invada, paralise e guarde, a meias com o teu sorriso.

quarta-feira, março 16, 2005

E no entanto...

... Se os bordarmos às almofadas com "ferocidade amorosa" - ou desespero solitário? - arriscamo-nos a tornar muito mais árdua a sua caminhada para a indispensável autonomia. Porque são nossos e contudo não nos pertencem.

terça-feira, março 15, 2005

As mães.

Canção tonta

Mamã.
Eu quero ser de prata.

Filho,
terás muito frio.

Mamã.
Eu quero ser de água.

Filho,
terás muito frio.

Mamã.
Borda-me em tua almofada.

Está bem!
Agora mesmo! García Lorca.


A propósito dos adultos teóricos: Só as mães:)?

segunda-feira, março 14, 2005

A ternura

Há na ternura uma constância impossível na paixão e finita no amor romântico, que nela desagua muitas vezes. É um carinho rumorejante, oficialmente pouco ambicioso, mas capaz de resistir às mirabolantes tropelias do coração. Porque nem o ressentimento mais azedo pode garantir a sua morte, ela sobrevive, com doce arrogância, em meia-dúzia de neurónios fiéis depositários de recordações politicamente incorrectas. Também nasce de amizades surpresas e indiferenças "definitivas". Tudo isto sem alarde. Mas deixando marcas; pistas; tiros de partida; promessas de chegada:)...

domingo, março 13, 2005

Adultos teóricos

A minha cria mais velha na estrada, regressando dos Pirinéus. Estrada perigosa, morte e portugueses aí rimam com frequência. E este nervoso miudinho desde manhã cedo... Miudinho o revejo a ele, agora com trinta anos e pai dos meus netos. É difícil tratá-los como adultos, "por acaso" também nossos filhos. Resultado: um equilíbrio precário no discurso, com medo de os ofender e abafar ou, inversamente e na aparência, os desleixar.

Frase do dia - "Repara! Repara bem! Tu não amas os homens, Hugo. Tu amas apenas os princípios." Sartre, As Mãos Sujas.

Bem mais fácil e asséptico, digo eu. Cristo sabia a enormidade do Seu pedido, quando nos exortava a amar o próximo como a nós mesmos...

sábado, março 12, 2005

Aviso à navegação

Eu sou benfiquista!:)

Agradecimento

Obrigado a todos pela "palmada nas costas". Mas um agradecimento especial - e aliviadíssimo! - ao Peter. Descobrir que se influenciou a escolha profissional de alguém é uma responsabilidade enorme, ainda bem que ele não está arrependido.

Frase do dia - À sombra da sua ausência brincam filhos da memória.

sexta-feira, março 11, 2005

Irmão de filho único

Amanhã faria anos o Pierre. Que durante muito tempo confirmou a minha teoria sobre as relações humanas - a unidade fundamental é a "tribo afectiva", não a "família de sangue"! Éramos hilariantemente opostos. Comigo desempenhando o papel do distraído sem qualquer sentido prático e ele o de irmão mais velho, exasperado pela azelhice suicidária do caçula. E no entanto, quantas vezes me telefonou, "preciso da tua opinião". E discutíamos o problema até ao osso, sem contemplações, no jardim maravilhoso que era o seu. Menti-lhe durante ano e meio acerca da sua doença. Não me orgulho disso. Mas também não me arrependo, acho que depois das primeiras pesquisas na Net, decidira agarrar-se à esperança até ao fim. Penso nele todos os dias. Como penso no Zé Gabriel, que comigo fez O Sexo dos Anjos. Porque os amigos íntimos são demasiado preciosos para que nos possamos dar ao luxo de permitir à morte roubá-los. Não; só o esquecimento o poderia fazer. E nessa armadilha não caio eu:)

quarta-feira, março 09, 2005

O escravo:)

Então não é que recebi protestos de uma leitora por não escrever "há muito tempo"? Ah, patifes da blogosfera, que não respeitam as cãs - e a decrepitude física e mental (snif, snif) - de um pobre cinquentão!


Frase do dia - "Numa daquelas tardes, em vez de conversar comigo, chorou sem lágrimas. Hoje ter-me-ia alarmado, porque considero o choro reprimido como um recurso infalível das grandes mulheres para forçar os seus propósitos." García Márquez.

Só o reprimido? Só as grandes mulheres? E - ó heresia! - só as mulheres?:).

terça-feira, março 08, 2005

Pânico:)

Os netos transformando a minha cama ora em baliza de futebol, ora em cama elástica. Eu e o João fascinados por tanta energia, deliciosamente emoldurada por risos que ninguém julgaria efémeros. E de repente o Tiago em voo demasiado ambicioso, que o levou de cabeça ao chão e não à trave. O pânico de avô e tio. O choro com três raízes: dor, susto e orgulho ferido. As mentiras do costume, "isso já passa", "não foi nada", "dou-te um beijo e ficas bom". O drama sem fim à vista, a olhos vistos cresceu o galo. Pensamentos catastróficos, e se... Olhos fixos, o choro já hesitante, o indicador tirânico: "quéquilo?". O meu neto mais novo acabara de descobrir outra pepita na mina ainda pouco explorada que é a casa do avô. E desceu do colo, transformado em irritante empecilho para as suas viagens. O galo acompanhou-o, obediente.
Uf!

segunda-feira, março 07, 2005

Cassandra Wilson

"You don't know what love is". Mas quem assim canta sabe de certeza!

Frase do dia - "- A tua teologia diz isso?
- Não sei se o diz ou não, mas sei o que devo pensar. Tire o senhor o diabo do mundo e verá que nada melhora". Ballester, Don Juan.

E tuso se torna mais chato, acrescentaria eu...

domingo, março 06, 2005

Domingos...

Este velha embirração, que me faz passar grande parte do Domingo a trabalhar:( Não é a contagem decrescente para Segunda, e sim algo de mais profundo. Talvez a nostalgia de mesas enormes e apinhadas, algazarra tarde fora, é sonho comum entre filhos únicos e as minhas "crias" andam por longe.
Leio Badinter, que se revolta contra determinado feminismo americano, incapaz de conceber a mulher noutro estatuto que não o de vítima nas suas relações com os homens. Sorrio, já li algo de semelhante em Camille Paglia - nos casos de assédio fora de uma relação hierárquica de poder, Badinter aconselha um "bom par de estaladas", como sugerido pela antiga ministra francesa dos Direitos das Mulheres, Véronique Neiertz.

Frase do dia - "O mínimo dos seus gestos, tacto e calor permaneciam ainda impressos na sua pele. Outros amores não tinham conseguido apagar a sua marca". Pérez-Reverte.

sexta-feira, março 04, 2005

Frase do dia

Ele tinha aprendido a pior lição que a vida pode ensinar - que é absurda. E quando isso acontece, a felicidade nunca mais volta a ser espontânea.
Philip Roth.

quinta-feira, março 03, 2005

Compromissos

Estou afundado nos profissionais:(. Por isso uma pequena "vingança":).

Compromissos

Voltar a ver-te, amor, desocupado.
Um dia, por fim livre. Um dia livre.
Quero dizer, uma noite inteira. Ouvir-te
do quarto, já quase em sonhos,
parar o carro na minha casa, subir no elevador,
subir, subir, subir, muito lentamente,
como se nunca fosses chegar,
e desligar o tempo, que não soe amanhã,
ou, em todo o caso, dizer-lhe que não está ninguém, que estamos
com febre ou na cama
convalescentes.

Inmaculada Mengíbar.

E no entanto, às vezes, quando o outro fica livre e se muda com armas e bagagens para casa de quem o esperava - ou vice-versa... - as nuvens surgem no horizonte. Porque a rotina mudou de poiso? Porque a clandestinidade a conta-gotas alimentava a relação? Porque os raros momentos vividos até aí favoreciam a idealização do outro? Por tudo ao mesmo tempo? Prefiro pensar nos casos em que a relação funciona em novos moldes e alguém diz ao espelho - "valeu a pena arriscar a espera".

quarta-feira, março 02, 2005

A minha próstata é famosa!

Domingo a minha próstata saiu na Pública! Saliente-se, por elementar justiça, a importância do artigo, não se justifica o desleixo dos homens numa altura em que a intervenção atempada diminui drasticamente as consequências de patologia tão letal como o carcinoma prostático. Mas - há sempre um mas... - nem tudo correu sobre rodas na sua elaboração. A jornalista enviou-me um mail, solicitando uma entrevista "por ter lido algures um artigo meu autobiográfico sobre a matéria". Sem tempo para a conversa solicitada, confirmei-lhe a vaga recordação e citei o nome da revista, tratava-se da Mealibra. Ah, a pressa dos tempos modernos! - o texto era para ontem, não poderia eu...? Não podia. Despedimo-nos cordialmente. Afinal teve tempo para ler. Mas também para fazer algo que é lamentável, ou seja, retalhar o texto. A lógica subjacente não surpreende - duas frases pareceram mais elucidativas, por que não juntá-las, apesar de estarem separadas por boa meia-dúzia de páginas? Dito e feito. Por maldade? Não acredito, inclino-me para simples ligeireza, do tipo "hhmm, que bem resultava esta frase no arranque do artigo!". Sem um telefonema ou um mail a solicitar autorização do autor (que obviamente a recusaria). Vivemos numa sociedade em que se reage aos estímulos e às necessidades "sur le champ", sem uma pausa para a reflexão que conduz ao agir amadurecido, que evite o atropelamento dos outros na nossa pressa de chegarmos... ao próximo ponto de partida!
Que vá em paz e o Senhor a acompanhe:)

terça-feira, março 01, 2005

Agradecimento

Ó gente, obrigado por tanta cordialidade na blogosfera (é assim que se diz?:)). Hoje estou tão cansado que vos agradeço com palavras dos outros, troca que só reverte em vosso favor!:).

Conta-mo outra vez

Conta-mo outra vez, é tão formoso
que não me canso nunca de escutá-lo.
Repete-mo de novo, os dois da história
foram felizes até vir a morte,
ela não foi infiel, ele nem
se lembrou de enganá-la. E não esqueças,
apesar do tempo e dos problemas,
todas as noites sempre se beijavam.
Conta-mo mil vezes, se faz favor:
é a história mais bela que conheço. Amalia Bautista. Boa noite e obrigado, gente.