sexta-feira, novembro 29, 2013

Uxia - Verdes São Os Campos

quinta-feira, novembro 28, 2013

CAT STEVENS - LADY D'ARBANVILLE

quarta-feira, novembro 27, 2013

Maybe...

Maria,

Longa insónia à vista. Controlo remoto ao leme. Pela enésima vez Milk e um Sean Penn esplendoroso. Vou ficar. Quem sabe? Talvez hoje não morra assassinado; talvez eu adormeça convencido que ainda presenciarei o direito à indiferença; talvez tu atravesses a mítica passadeira de Abbey Road, trauteando we can work it out; talvez...
Sleep tight, darling.

Barbara Jones - Will You Still Love Me Tomorrow

terça-feira, novembro 26, 2013

segunda-feira, novembro 25, 2013

domingo, novembro 24, 2013

Muito gosto eu do homem:).

A família: a felicidade controversa?

A Pastoral da Família não se destina a restaurar uma herança em ruinas e algo idealizada, por isso é ainda mais necessária e urgente.

1. Não há só um modelo de família. Ao longo dos tempos e segundo a diversidade de povos e culturas, os historiadores e os antropólogos podem testemunhar tanto a pluralidade das suas formas como a sua presença constante.
Mesmo hoje, em Portugal, apesar da maior fragilização dos laços conjugais, o aumento dos divórcios, a diminuição dos casamentos e dos filhos, a família apresenta-se, do ponto de vista da realização e da estabilidade emocional, a grande referência. Mais de 70% dos portugueses continua a associar a felicidade à vida em casal. O fim de uma relação não põe em causa esse ideal, embora seja vivido em novos cenários (1). É sugestiva a descrição que alguns sociólogos espanhóis fizeram do ciclo vital dos nascidos no ano 2000. Antigamente, o ciclo vital constava de três ou quatro etapas, agora, de modo mais complexo e diluído, pode estender-se a nove.
A experiência vital começa, para muitas crianças, com o cenário, feliz e curto, de um lar normal, de um filho pequeno com os seus pais. A esta breve etapa, segue-se outra, um pouco mais longa: esta mesma criança vivendo só com a mãe, separada ou divorciada. Uma terceira experiência é, talvez, a de um adolescente vivendo num novo lar com a sua mãe recasada e com uma figura menos atractiva, a de um pai adoptivo ou padrasto. Chegado à maioridade, esse jovem unir-se-á à sua noiva, vivendo com ela em união de facto. Num quinto ciclo vital, a maioria destes jovens acaba por se casar com o seu par e, depois de poucos anos, entram na sexta etapa, a dos divorciados. Irão passar por um tempo de solidão, mas voltam a casar. Chegados a esta etapa de maturidade, ficarão viúvos e irão para um lar ou residência de terceira idade, onde, esporadicamente, o filho ou a filha ou o neto o irão visitar (2).
2. Perante esta situação – com esta ou outras configurações – a “Pastoral da Família” pode ser tentada por um regresso ao passado que já deu quase tudo o que tinha a dar e se tornou inabitável. O cristianismo, aliás, não é a nostalgia de um paraíso perdido, mas a saudade de um futuro de transfiguração. É verdade que muitos pais, ao não desejarem reproduzir um mundo em que nem sempre foram felizes, não encontraram as alternativas que imaginavam. Por outro lado, certa educação liberal, preocupada em nãoimpingir valores convencionais, deixou os jovens abandonados a si mesmos ou como se diz, com desencanto, obrigados a não acreditar em nada.
A Pastoral da Família não se destina a restaurar uma herança em ruinas e algo idealizada, por isso é ainda mais necessária e urgente. Deve ser mais exigente. Além do esforço para estabelecer laços estimulantes entre gerações, tem de saber escutar, acompanhar, dialogar com todas estas novas formas de viver em casal, propondo a descoberta existencial da hierarquia de valores, sem tentar impor o que só pode ser escolhido.
A pergunta a que temos de responder, por obras e palavras, é esta: que podemos nós, Igreja – de solteiros e casados, de casados e recasados – aprender com estas novas experiências onde o bem e o mal, o santo e o perverso, os êxitos e os fracassos humanos andam sempre mais ou menos misturados? Que caminhos abrem estas realidades a outras formas de viver o Evangelho?
Os casais cristãos – os que não se julguem o casal-modelo – em vez de guardar a sua experiência num cofre forte familiar, como diz o Papa, podem estimular as novas gerações a desenvolver uma espiritualidade que não tem necessariamente de reproduzir as mais recomendadas no mercado religioso do passado e no mundo clerical. Alguém dizia que as homilias dos padres, nos casamentos, oscilavam entre as tentativas apoetadas e as apatetadas, tendendo todas para um moralismo sem ética praticável.
As apresentações da doutrina católica da família tendem a mostrar um itinerário que arranca do Antigo Testamento e vem até aos nossos dias como uma auto-estrada, com raros e pequenos desvios. A ocultação das sombras e do escuro não favorece a verdade.
O papa Francisco sabe que as questões da contracepção, da coabitação, do divórcio, das novas uniões, das uniões entre pessoas do mesmo sexo, a adopção de novas tecnologias de fertilidade, etc., apresentam dificuldades que não podem ser resolvidas de forma abstracta, com mais ou menos tolerância ou intolerância. A consulta que desencadeou é mais do que um inquérito. Sendo um método de dinamização de toda a Igreja, não se espere que fique tudo resolvido no Sínodo.
3. Jesus Cristo nasceu e cresceu numa família de cultura e religião judaicas. As narrativas do Novo Testamento não ocultam o longo contencioso que viveu com esta instituição. A fonte das suas reacções mal- humoradas acabam por ser o seu maior elogio. O desígnio de Jesus era lançar a corrente do mundo família: reunir todos os filhos de Deus dispersos. Não aguentava que a sua família o quisesse prender ao modelo que ele queria superar. Não suportava, por outro lado, que o direito mosaico fosse invocado para abandonar a mulher aos caprichos do marido (3).
A família será sempre uma feliz controvérsia.
 Frei Bento Domingues.

sexta-feira, novembro 22, 2013

quinta-feira, novembro 21, 2013

Os tristes têm duas razões para o ser: ignoram ou esperam."
 Albert Camus.

terça-feira, novembro 19, 2013

Maria,
Os “nossos” jogos de futebol... Que demoraram a nascer, eu viciado em malta, cerveja e vernáculo, tu receando que me sentisse a trair os rituais de macho solteirão,  indeciso e desconfiado da astúcia feminina. Quando me disseste que gostavas da bola dei-te o benefício da dúvida, mas a declaração de benfiquismo fez soar todos os alarmes - pensei em estratégia da aranha escarranchada no voo da águia Victória, “a seguir vai dizer que adora os Beatles e o Languedoc, o quarto de banho é o menos, tenho dois, a cozinha?, virtual, só eu sobrevivo ao caos da secretária, com o álibi da coluna passo temporadas no sofá unipessoal,  mas a cama  que a cobiça à noite prefere-a na sua  de manhã e as mulheres consideram o pequeno-almoço prova de amor, adeus liberdade!”.
Adeus a ti... A liberdade é tanta que as sobras construíram uma solidão de legos feitos de recordações. O dia foi longo, a fila no supermercado não.  Comprei um frango, na esperança de o roubar ao Rui Patrício, se errar é humano então os guarda-redes devem ser marcianos, um golo consentido apaga dez evitados, só na guerra a rectaguarda permite um suspiro de alívio. Estivesses tu aqui e falaríamos para o Servemcasa por volta das sete e meia para tentar acertar no intervalo. Eu - sempre rotineiro... -, sugeria filetes de pescada com arroz de camarão, o teu encolher de ombros divertido, “para dois”. Escolher o vinho. A sombra de regras quase esquecidas, amiúde violadas, “peixe, branco”. A minha indecisão crónica, “está frio, abrimos um tinto?”. O alijar de responsabilidades, “se quiseres bebemos água, é Terça e não fim-de-semana, pão nem vê-lo!, portamo-nos bem”. A tua sobrancelha erguida, “a todos os níveis, presumo...”. O gemido, “já custa tanto fazê-lo à mesa, Maria”. A gargalhada, esse preguiçoso levantar do sofá que me fazia desejar-te ao longo dele, eu estendia a mão para cintura que fugia e deixava no seu lugar um “depois” levemente enrouquecido, deve ser a isso que chamam tantalização do prazer, eu preferia citar o Chico, “quem espera nunca alcança!”, o teu riso cobria o saltar da rolha, “boa ideia, pôe música”.
A cabeça no teu colo, discussão de lampiões, tu sempre isenta, “um mês para o Jesus não foi nada mau”. Eu escondendo paixão cega por trás de deformação profissional, “o rapaz só queria a camisola e voltar para a bancada, era deixá-lo ir, o JJ ferve em pouca água e tem idade para guardar más recordações de polícias de pé e a malta no chão, ainda me lembro do que aconteceu em 69 e...”. Os dedos esguios pelo meu cabelo, a língua deliciosamente próxima do ouvido mas com intenções pacatas, “Júlio, se quiseres Sábado vais à Luz e pedes-lhe a gravata ou o nome do cabeleireiro. Hoje, reza para o Cristiano estar inspirado e não tires os olhos da relva, qualquer comentário às suecas e é a morte – e abstinência... - de artista e anfitrião, capice?”. (“Meu Deus, faz com que as nórdicas loiras tenham ficado em casa ou eu me torne daltónico para o amarelo durante noventa minutos e abençoa o CR7 das botas até à ponta dos cabelos, para que aconteça o impossível e ganhemos o jogo fora e em casa ao mesmo tempo!).
Heróis do mar...

Ganhámos! Da alegria solitária ao abraço feliz vai a distância da tua ausência.      

segunda-feira, novembro 18, 2013

STING The book of my life

terça-feira, novembro 12, 2013

No Franganito.

Maria,
Já me ocorreu fazer um guia Michelin sobre restaurantes, mas com sorrisos e braços abertos furando o monopólio de estrelas e cozinha entrelaçadas. Fui jantar ao Franganito. Como vou há quarenta anos. Tempos houve em que não sabia como crismar a refeição, as horas sugeriam chá e scones, eu atacava o bife com batatas, o Sebastião e os pais cercavam o resto da mesa, ora aprovando em silêncio o meu sólido apetite, ora satisfazendo o deles, obrigado a esperar a saída de clientes com horários quase tão bizarros como os meus. O eterno bife estava óptimo, um dia finjo consultar o menu e mato de espanto a família toda. A família toda... (Imaginas a inveja aliviada com que o digo). Há quarenta anos que os visito, sabes? A comida é um pretexto delicioso, mas não indispensável, são meus amigos. E por isso me alegra nunca ter  murmurado um “sinto muito” sem jeito ou dado abraço que não de alegre reencontro. Um luxo na minha idade!, partout je trouve des chaises vides et des passe-partout accablés par ces sacrés morts qui refusent de mourir dans nos têtes,  you know what I mean, please excuse my rusty french, já nem o Michelle dos Beatles me lembro de trautearL. O olhar do Sebastião, que jogou nos juniores do Porto, mas nunca frequentou Psicologia e não precisa, viu-me crescer cada ruga e cabelo branco, é tão fiável como este Verão de São Martinho - tagarela, sorri ou apenas paira, conforme o tempo que me vai na alma. E sabe ouvir perguntas retóricas, o maroto. Eu rosnei – “para onde fugiu o raio do anticiclone dos Açores?”. E ele, impassível – “Alentejo ou Douro?”. Tentei espetar um queixo beligerante e só consegui imitar um rufia de série B – “Londres”. Sentou-se, ombro encostado ao meu, os pais de um lado, o filho do outro, só restávamos nós no restaurante. Falou enquanto o Ronaldo, à nossa frente, abria os braços tauromáquicos  ao público - “sou o maior no futebol e nos anúncios, para não falar de namoradas, o que esperam para votar...” -, “pensei que se tinha demarcado dessa região”.
Uma garrafa, quatro pães, um bife, duas doses de batatas fritas, uma salada, um fondant e uma conta benemérita depois, respondi – “eu também”.

Mas enganei-me...  

sábado, novembro 09, 2013

Coliseu, Sábado à noite.

Maria,
Não deixa de ser caricato, pedir desculpa pelo atraso de uma carta que nada me garante ser lida. E no entanto faço-o. Como se tivesses perguntado “que tal correu?” e o silêncio vivesse, culpado e arrependido, uma longa semana depois. Correu bem é curto, a vida plena é cheia de pormenores. Que os Machado Vaz fazem gala de entregar nas mãos da última hora... Resultado –  polvilhámos o Coliseu à distância de números e filas, que não de afectos, as duas cadeiras de orquestra reservadas para os meninos, afinal são vanguarda e hospital de rectaguarda da família.
Sabes que vi Os Azeitonas muitas vezes, mas esta foi diferente, havia sabor a festa no ar e um aconchego todo portuense nos corações; foi diferente. Perigoso também!, a senhora a meu lado dançava de cotovelos bem abertos, mantive o entusiasmo sentado com receio de um grand final na Urgência do Santo António. Espectáculo terminado, banda e filarmónica já desaguando em Passos Manuel, fui em busca dos petizes. E de imediato me dediquei a tarefa obrigatória de Avô, acrescentar um verso à lenda familiar. “Vocês têm sorte”, disse, “Pai e Tio artistas”. Os putos duvidosos, habituados como estão às minhas loucuras, “mas só o Tio João é músico”. Era a deixa que esperava para dissertar com abundante ignorância sobre o estatuto da arquitectura, “voilà” (guardei o q.e.d. para mim, presumo que terão escapado ao rosae, rosarum, pois se nem o meu amado francês dominamL).
E o Gaspar, sorriso maroto em punho, ripostou – “a Psicologia também é uma Arte, Avô Júlio”. Imaginas o que aconteceu – o nome voou para quem mo legou, o miúdo exibia elegância ternurenta que parecia jorrar dos neurónios florentinos de meu Pai, fiz-lhe um afago no cabelo para compensar a greve de palavras que o nó na garganta decretara. Na rua a festa continuava,  desci rumo a automóvel e noite de sono antecedida de memórias, vi “O dia mais longo” naquela sala com minha Mãe segredando, encantada – “o teu Pai no cinema, é um milagre”. Não era, o  velho estudava a Segunda Guerra Mundial com desvelo de coleccionador, abrira uma excepção em rotina de noites caseiras para confirmar suspeitas, “o livro é melhor”.

 Imerso no passado, notei o presente à queima-roupa, o João aflorava-me o ombro, um descia e outro subia, rua e vida!, a imagem é adequada. Chamei-o, a medo e envergonhado, a rua era de todos, mas à festa não pertencíamos eu e a minha nostalgia. Abençoada surdez o feriu, egoísta desconsolo se me pendurou ao pescoço por breves instantes, miúda eufórica o substituiu, “deve estar tão orgulhoso, gosto muito do seu filho”. E seguiu-o, corrente acima, amantes da pop e salmões devem ter algo em comum! De novo meu Pai, afectuosamente irónico – “sou marido e pai de vedetas”. Divorciado, a frase inteira está-me vedada, mas quando olho os meus rapazes, entendo, reivindico e saboreio a segunda parte dela...