segunda-feira, julho 30, 2012

Segunda tentativa...

E na semana de 27 a 31 de Agosto na Capoeira?

quinta-feira, julho 26, 2012

Dia dos Avós



Pouco original, tive quatro. E no entanto…

O Avô Ângelo era – como eu… - hipocondríaco, mas naquele tempo esse farejar ansioso do corpo ainda me era desconhecidoJ. Vai daí, ofendia-me que durante as minhas gripes me acenasse da porta do quarto e se pusesse ao fresco. Guardo a recordação de um homem pequenino, escrevendo em pé a sua crónica de jornal, aureolado pela luz do fim da tarde na Rua Alves da Veiga. Eu ia chamá-lo para jantar e descíamos à conversa, mas faltava-lhe calor em palavras e gestos, treinou-me os neurónios e deixou o coração a cargo de outros.

E outras… A Avó Manuela era um doce! Tinha ensurdecido durante a gravidez de meu Pai, ele acarretava uma enorme culpa injustificada pelo facto. Lembro as mulheres da família em adoração da velha telefonia, que exalava a primeira novela, custeada pelo célebre Tide. A heroína sofria de um qualquer problema, ainda por cima enxertado numa pobreza atroz, para alívio de todas o amor de um rapaz descrito como esbelto e solidariamente rico derrubava todas as fronteiras e a igreja acolhia-os, antes do ritual banho de arroz. Menos comovido do que as tias e a protectora Maria da Glória, eterna cozinheira da família, eu encarregava-me de gritar as peripécias do enredo a minha Avó, que acenava, aprovadora. Já ignorante das coisas do amor, pasmava por meu Pai chegar do consultório e  dirigir-lhe palavras bem menos ricas em decibéis, emolduradas por mãos tímidas no afago, excepto para ela e minha Mãe. E a Avó Manuela sorria e respondia, certeira. Levei muitos anos a perceber que ela ouvia os meus gritos, mas escutava as palavras dele, é diferente.

A Avó Sorgue deixou sempre claro que não aceitava comparações. Vigiara de muuuito perto o namoro de meus Pais e aterrou lá em casa uma semana depois do casamento para nunca mais sair. Perante a bonomia do genro, que lhe chamava a Rainha Mãe e se divertia com imagem vinícola no que a Avó e neto dizia respeito, chamava-nos o Casal Garcia, vinho verde crismava dois desesperados benfiquistas! Força da natureza é uma descrição anémica, a Avó Sorgue era telúrica sem nunca ter lido Torga, manipuladora sem conhecer Maquiavel. O seu amor absoluto ria-se de angústias éticas, mas não de receios pragmáticos, quando na Aguda eu recolhia à cama depois de mais uma noitada de poker, ela perguntava – “então?”. E eu sabia a resposta adequada, verdadeira ou não – “ganhei”. Para lhe escutar o suspiro, que já se enroscava – “ao menos! Se a tua Mãe sabe que te deixo jogar a dinheiro, mata-me”.

Morto estava o marido há muito tempo, nunca o conheci. Minha Mãe, que o teve apenas durante quatro anos, esquecia o ateísmo não militante e rezava-lhe, descobri-o na sua correspondência. Dele ouvi as histórias de trabalhador honesto que tivera morte fulminante a caminho de casa, desse dia fatídico, descrito  ao mais ínfimo pormenor pela Avó Sorgue, nasceu a minha sólida desconfiança do coração, celebrei os vinte e seis anos num misto de surpresa, alívio e culpa por sobreviver ao Avô Guilherme.

Que era amigo do segundo marido de minha Avó, guardião feroz da sua memória. Mas manso perante aquela mulher arrasadora, que lhe concedia o favor de alguns telefonemas para Lisboa. E no entanto, hoje, no Dia dos Avós, é para ele que coração e memória correm, escrevi-o mais de uma vez – o Paulitos foi uma figura parental inesquecível para mim. Ensinou-me palavras cruzadas, explicava como o esperanto uniria todos os povos, conseguia que uma meia de leite e uma torrada se transformassem numa celebração da cumplicidade entre Avô e neto. Nunca me deito sem um relance aquele homem magro e triste, segurando – inseguro… - ao colo um puto sisudo, as crianças desconhecem a tirania dos sorrisos de plástico para mundo ver. Aquele sou mesmo eu, o miúdo na foto ao lado, sorridente na farda de marinheiro, era já um farsante, vendido ao politicamente correcto. Ele nunca se vendeu e partiu à sua moda – discreto, sem incomodar ninguém. Felizmente alguém o amara nos últimos anos como minha Avó não fora capaz. Indiferente ao burocrático sangue, chorei-o com amargura e um profundo sentimento de abandono desamparado.

O esperanto, esse, foi outro sonho falhado…L.

Estado alimentar da Nação Murcónica!

Gente,
Recebi vários mails e as datas sugeridas não encaixam. Seria mais fácil se apontássemos para a última semana de Agosto no Porto?

segunda-feira, julho 23, 2012

Na mesma rua.

Maria,

Ou os tempos vão mais difíceis ou os neurónios saltaram para o eléctrico das articulações:(. Morreram amigos que o eram, outros que o não eram invadiram a boca de cena, podiam ter esperado que morresse eu; acreditando... Mais o gasganete talhado, a próstata a enfiar-me o credo na boca, esta vergonha pela falta dela nos outros que o Pai me ensinou. Conheces-me como ninguém - apesar da angústia crescente, imito a pedra. E de repente saio desarvorado, algo acontece. Lembras-te da tua descrição de Cantelães? - "é uma varanda disfarçada de casa". Pois segura-te - aluguei uma varanda no Porto, afinal não posso (ainda) viver lá em cima, protegido pela árvore dos meus queridos Velhos. Tu dirias "finalmente!". Eu sei, devia tê-lo feito há anos. Eu sei, tu sorririas, mudo-me para cem metros daqui. A minha resistência a mudanças e perdas, afinal por que te escrevo, longe como estás, em quilómetros e afectos? Mas mudo-me! Na varanda lobrigo o mar, acolho o sol; fecho os olhos para (me) ver. O resto da casa é bonito, sei que aprovarias. Sobretudo a sala!, aguentará música antiga e decibéis modernos. Mas tudo não passa de um apêndice, dama de honor daquela varanda - debruçada sobre o mar; o sol; a tua recordação; a minha melancolia. (Já não é mau contemplá-la de cima...).

Bruscamente no Verão actual:)

E quem alinha numa almoçarada na Mindinha na primeira semana de Agosto?

sexta-feira, julho 20, 2012

Confrangedor:(.

Ardem terra e alma das gentes. Este fogo não purifica; destrói. Resiste a boa consciência dos políticos, imune a diferenças de temperatura e políticas de prevenção:(.

quarta-feira, julho 18, 2012

Boa noite.

As mãos

Que tristeza tão inútil essas mãos
que nem sequer são flores
que se dêem:
abertas são apenas abandono,
fechadas são pálpebras imensas
carregadas de sono.

Eugénio de Andrade.

Esclarecimento.

Terão reparado que o vídeo familiar mais recente desapareceu. Vocês, como sempre, têm direito a uma explicação - atendendo à sua presença no Youtube, parti do princípio que a sua colocação aqui seria pacífica. Não o foi para uma das personagens, pelo que fiz o meu dever - expliquei o meu raciocínio, pedi desculpa e retirei o vídeo.
Adiante.

segunda-feira, julho 16, 2012

Humor divino.

Ele ajoelhou e repetiu fórmula de infância.
- Senhor, eu não sou digno que entreis na minha morada.
Deus, levemente nauseado,
- Já o inverso não é verdadeiro.
E chamou-o para junto de Si.

domingo, julho 15, 2012

Queriiiiiias!:).

E de repente o Gaspar,
- Avô Júlio, por que tens mais amigos no Facebook do que eu?
- Sou velhinho, queres trocar?
O riso dele. Não há negócio:).

quinta-feira, julho 12, 2012

Porque sim.

A minha casa é um caos, como posso perder tantas coisas num T2? Mesmo assim fui a determinada gaveta, empurrado por uma recordação nevoenta. E lá estavam - trabalhos do Mestrado em Sexologia da Universidade Lusófona, do qual fiz parte durante vários anos, leccionando Antropologia da Sexualidade. Guardei-os porque eram bons, outros apenas visavam o dez da praxe (não é pecado:)))))). Esta gente merece que lhes deixe uma palavra de solidariedade, estão tristes ao verem o furacão que varre a "casa" em que estudaram e receiam ser brindados com palavra alheia a um ensino sério, a qualquer nível do processo educativo - facilitismo.
Aqui lhes deixo o meu abraço.

quarta-feira, julho 11, 2012

Jesus!


Uma mãe japonesa deixou o filho, de 19 meses, morrer enquanto conversava num fórum na Internet. A polícia já prendeu a mulher e investiga o caso.

Yumiko Takahashi, 29 anos, deixou o filho, Neo de 19 meses, morrer enquanto conversava num fórum na Internet. A mulher esteve com o filho na tarde do dia 24 de junho quando este já se encontrava doente. Ainda assim, Yumiko ignorou os sinais de febre do bebé e deixou-o sozinho no quarto.

O autópsia realizada ao corpo da criança indica que morreu na madrugada do dia 26 de junho e que esteve quase um dia morto até a mãe se aperceber do sucedido. A polícia já fez saber que prendeu a mulher por suspeitas de negligência e que agora decorrem as "necessárias investigações".

Yumiko já tinha perdido dois filhos anteriormente: um pouco depois de nascer, por razões que não são conhecidas, e outro devido a uma queda da varanda do seu apartamento. "Procurava consolo na Internet há mais de três anos porque entrei em depressão depois de perder os meus dois filhos", justificou-se.

Este caso não é inédito. Em 2010, um casal sul-coreano também deixou o seu filho de três meses morrer porque estiveram mais de 12 horas seguidas a "cuidar" do filho virtual num jogo na internet.

segunda-feira, julho 09, 2012

O concurso.

Em Vieira do Minho os meus "pais adoptivos" exibem um sólido optimismo acerca das hipóteses de ganhar as Sete Maravilhas com o Ermal:). E eu dou comigo a fazer figas - e a votar! - na esperança de que tal aconteça, quem recebe como eles receberam um citadino inveterado e caridosos o decretam "filho da terra" merece a salvação eterna, por que não um concurso televisivo pelo caminho?:).

domingo, julho 08, 2012

Peregrinação a solo.

Meus pais, escondendo a custo a desilusão - "os rapazes e os petizes?". E eu, armado em vítima - "não puderam, vim eu". O sorriso, disfarçado de folhas dançando à brisa - "mas tu estás cá sempre, menino". É verdade, amiúde tenho a sensação de que sombra minha se passeia pelo mundo, mas o espírito já repousa aqui com eles.


P.S. A pedido de numerosas famílias aderi ao facebook. Mas desde já aviso que todo o processo me pareceu uma selva densa, densa, não prometo funcionamento decente! É triste - sessenta e dois anos de vida e ainda não tenho equivalência a tecnologia básica:(. 

sábado, julho 07, 2012

Playing with words.

Maria,

Luz apagada, Cohen, Live in London. You live in London. When will you leave London? Before the Autumn leaves? Cohen com um ponto de interrogação - Am I your man?

quarta-feira, julho 04, 2012

Boa noite.

Foi um dia longo, vou acabar o último Zafón - que me parece melhor do que o penúltimo... - e dormir. Não seria justo fazê-lo sem vos dizer uma coisa - o que aconteceu hoje no Murcon deixou-me estarrecido. E compensou largamente o silêncio de pessoas cujas sms - pelo menos... - dava por garantidas e de um clube que é a paixão mais antiga e constante da minha vida. Obrigado gente e fiquem bem.


Adenda.

No Comunicado aventei a hipótese da minha saída do Trio se ter ficado a dever a queda de audiências. Acabo de ler no Correio da Manhã a justificação dada pelo Director de Informação, Nuno Santos: "estes programas precisam de renovação".

Comunicado.

Porque há assuntos difíceis de abordar em minuto e meio de directo e o Murcon sempre foi o meu "Diário da República", passo a expor o seguinte:

1 - Ontem ao fim da tarde fui contactado telefonicamente pelo Director de Informação da RTP, Nuno Santos. Pediu-me desculpa por o fazer no dia do programa, mas julgava ainda ir o Trio para o ar na próxima semana.

2 - Disse-me que o programa iria ser reestruturado em Agosto e que nesse contexto eu abandonaria o painel. Já que lhe pertencera a ideia de para ele me convidar, considerava responsabilidade sua informar-me dessa decisão a tempo de me despedir dos espectadores. Gentil, acrescentou que pessoalmente apreciara bastante a minha prestação durante os dez meses transcorridos.

3 - Não me adiantou qualquer explicação para a decisão tomada, nem eu a solicitei. Por duas razões simples: não ser desejado chega e sobra para não querer integrar o Trio e, atendendo à opinião favorável de Nuno Santos, só resta uma explicação possível - a Instituição RTP estava a ser prejudicada, leia-se, o meu estilo de intervenção prejudicou as audiências. Faço televisão há 23 anos, contra (esse) facto não há argumentos. Qualquer outra hipótese resvalaria para a teoria da cabala e eu recuso-me a entrar nesses jogos de sombras.

4 - Agradeci, primeiro, aos benfiquistas. Porque ao longo destes meses me apoiaram ao vivo e através das diversas tecnologias, por vezes queixando-se do meu estilo soft:), mas jamais duvidando da minha paixão pelo clube. Encontrar-nos-emos em bancadas de estádios e cafés com TV, roendo as unhas pelo Glorioso.

5 - Mas também agradeci aos adeptos de outros clubes, que me abordaram quotidianamente, para dizerem que discordavam de uma afirmação ou apenas da minha opção clubística, mas apreciavam a minha tentativa de ser isento e aplicar ao Benfica os critérios aplicados aos adversários (e não inimigos). Fiquei-lhes especialmente grato, pois continuo a pensar que é impossível sermos lúcidos em relação aos outros se o não formos no que nos diz respeito. Nunca estive no programa para defender o Benfica sem critério, cegamente, arriscando o ridículo que, na minha opinião, mancharia a imagem de um clube - qualquer clube! - que se diz casa de gente livre. E o Benfica tem uma longa tradição de liberdade, mesmo em tempos difíceis... Procurei, simplesmente, ser um benfiquista que pensava o futebol inserido num contexto mais vasto, as "coutadas privadas" com regras próprias não me agradam.  

6 - Quero agradecer as palavras do Hugo Gilberto, do Miguel Guedes e do Rui Oliveira e Costa antes do programa, se o tempo o permitisse não tenho dúvidas que as repetiriam em directo. Desejo-lhes tudo de bom, bem assim como ao benfiquista que me substituir.

7 - A vocês, um enorme obrigado pelo privilégio de sempre terem aceite os diversos números do "Diário da República" como passíveis de conterem erros, mas não falsidades deliberadas.

domingo, julho 01, 2012

O teste.

Velhos,

Pois duvidais de mim? Neguei-vos três vezes, como esse Judas que julgámos tão apressadamente? Trinta moedas por alguém que amava? Quem acredita nessa história de carochinha longe da janela? E contudo, hoje senti-vos por trás de cada armadilha. A falta de ar que me assusta; a avaria na piscina que entristece os miúdos e me pôe louco; a partida de todos os outros, que me deixam saudades, a tribo vem  mirrando, quem lhe (me?) permanece fiel torna-se ainda mais precioso. Às 16.15 seria arrogante decretar a prova terminada, mas ainda cá estou, queridos. De pé, afagando os ramos da vossa árvore. A brisa é amável, o sol cálido, as flores brancas e amarelas, o riacho fiel. Estamos os três. Como um dia ficaremos, se os cães me sobreviverem como desejo, estou farto de vestir de negro o coração e branco sujo os dentes, a cada telefonema pergunto-me quem é agora. Velha dama risonha, por favor!, abraça quem te aprouver, mas os meus bichinhos não, se cada ano deles vale sete dos nossos por alguma razão deve ser, não achas? Exactamente. No seu olhar não há vislumbre de traição, novelas, sinais exteriores de riqueza ou quinze minutos de fama, apenas ternura incondicional. Ternura incondicional? Os meus colegas veterinários devem estar enganados, egoístas como nos tornámos sete para um é obsceno, se recorrerem ao Tribunal dos Direitos Humanos arriscamo-nos a pena de prisão perpétua! Num qualquer canil perto de si...