quinta-feira, agosto 21, 2008

Das brumas da memória:). Sem hino...

Confesso que não me lembro muito bem das Pontes de Madison County. Das brumas saem as ditas, que achei belíssimas, o meu querido Clint, último e fiel depositário de um certo cinema e tipo de actor, o desempenho intocável de Meryl e a sua mão crispada na porta de um automóvel. O fulcro da questão é o habitual... - deixar ou não um amor tranquilo por uma paixão avassaladora. Em trinta anos de profissão ouvi descrever as duas decisões e os trajectos subsequentes. Há quem fique por cobardia, pelos outros, por considerar que a paixão não resistirá ao quotidiano e um dia se assemelhará ao afecto deixado para trás. Há quem descubra não estar talhado(a) para a vida de casal, embora tenha pressionado o outro para o (a) seguir. Muitos dos julgamentos de valor a que assistimos partem do pressuposto que viver a paixão à custa de tudo o resto é quase uma "obrigação ética". Não concordo e a História também não. Acho perfeitamente legítimo resistir às consequências práticas de uma paixão e aos 58 já percebi que somos muito injustos para o amor tranquilo, chegamos a confundi-lo com monotonia e desistência! No caso do filme, gostaria apenas de acrescentar algo - compreendo o artifício narrativo de deixar o caso "em testamento" aos filhos. Na vida real parece-me um erro. Se tivesse escolhido ficar no quadro familiar, preservá-lo-ia post mortem, não vejo a vantagem de comprometer a fantasia harmónica da ninhada. Pelo contrário, teria muito medo que sentissem a revelação como a prova de que, admitindo-o ou não, eu teria sido infeliz durante anos, desistindo da "verdadeira felicidade por causa deles". Não, teria sido uma decisão minha, ponto final. E seria felicidade? Não serão as Pontes mais um exemplo da tradição ocidental de considerar perfeitos apenas os amores interrompidos por morte ou distância? Acho que ficam pontas - ou pontes?:) - suficientes para uma boa cavaqueira!

quinta-feira, agosto 14, 2008

Sessão nocturna.

O carteiro de Pablo Neruda pela enésima vez:). O privilégio concedido a - e merecido por! - Philippe Noiret: juntar esta obra-prima ao Cinema Paradiso. A tristeza que a morte prematura do extraordinário actor que deu vida ao homem simples "infectado" pelo vírus da poesia me provocou. O desconforto que o filme alimenta - há quem viva com demasiada ligeireza a influência que teve... na vida de outros! E esqueça cartas prometidas, pensamentos jurados, gratidão devida. Pode acontecer a todos, mas não é raro encontrar tal "doença" nos que falam muito do e para o povo, mas ligam pouco às pessoas de carne e osso.

quarta-feira, agosto 13, 2008

Balanço provisório, que as férias ainda não terminaram!

O balanço da Sardenha é muito positivo. E contudo o primeiro dia fez-me temer o pior, os aeroportos em Agosto batem-se ombro a ombro com a Santa Inquisição! As duas horas e meia de espera em Fiumicino transformaram-se em cinco e vocês conhecem os terminais de voos internos... - para além da multidão enlatada, a "banda sonora" de anúncios era enlouquecedora, resisti pondo o IPod no máximo e pedindo perdão a Mozart, Neil Young, Callas, REM e outros amigos íntimos:). Depois de aterrar em Olbia esperámos umas míseras duas horas para levantar o carro! Quando meti a chave na porta do quarto já ia à espera de beliches, velas de cabeceira, bolor no mini-bar, latrina ao ar livre e quatro irlandeses bebidos e estentóreos na varanda:(. As baixas expectativas trazem pela mão as boas surpresas, a partir daí tudo melhorou e o único momento stressante foi o passado numa farmácia a tentar convencer o "patrão da lancha" a dar-me um antibiótico para o Gaspar sem receita. Valeu-me o Octávio Cunha, que me ia dando dicas para a minha miserável e untuosa argumentação pelo telemóvel. Foi bom, mas chegar a Cantelães, hum... Crianças e cães correm pelo jardim e o tempo melhorou o suficiente para tornar a piscina tentadora. Mas cá dentro, clandestina e psicopata, uma parte de mim segreda-me que do óptimo passaria à perfeição se declarasse avariado o sinistro Disney Channel:).

terça-feira, agosto 05, 2008

Ponto da situação.

Até agora, a Sardenha bate a Grécia aos pontos - mais perto, areia em vez de pedregulhos na praia, menos confusão e um relvado quase até ao mar! A viagem foi atribulada, cinco horas de suplício em Roma, mais duas para levantar o carro, menos mal que a bagagem não seguiu para alguma ilha do Pacífico... A enseada não é poiso de celebridades ou papparazzi e há no hotel um aroma a empresa familiar muito agradável. Dos "habitués", os meus favoritos são dois inglesinhos apaixonados que, solenemente, emborcam uma garrafa antes de irem para a mesa e aí chegados..., pedem a carta de vinhos!:). Quanto a mim, decretei não entender uma palavra de italiano e só falo inglês. Resultado da maroteira - já fui cumprimentado no restaurante pelos meus progressos na língua de Petrarca e da sua Laura. Até depois, maralhal.