Gente,
Confesso que não me dou bem com alegrias, decisões ou rituais de passagem com data marcada:). Mas é sempre boa altura para vos desejar 365 dias de luz. Mesmo que literal ou alegoricamente vacilante, como a do meu Porto:). Um abraço grato a todos!
quarta-feira, dezembro 31, 2008
quinta-feira, dezembro 25, 2008
A Alucinada Família.
Maria,
O estalar da madeira no silêncio da casa, que me acolheu sem perguntas na ressaca de mais um Natal. A mesa que se espreguiça, para meu espanto. As cadeiras multiplicam-se nas margens dela. Apago a televisão, desligo o computador e espero, não acredito em caprichos da mobília sem objectivo ou lugares vazios para a eternidade. Não foi preciso esperar tanto...
Minha Mãe à cabeceira. Um sorriso doce na minha direcção, antes de sondar as frinchas da porta em busca de correntes de ar assassinas. O gesto de satisfeita aprovação. Um último relance em volta, o aquecedor já crepita, "Júlio, querido, podes vir sentar-te".
O meu Velho e a sua lendária elegância: casaco, gravata, colete, botões de punho, vinco das calças, a risca intransigente que lhe separa os belos cabelos brancos. "Obrigado, Maria". (Também a trata assim...). O afecto menos pacífico do que o de minha Mãe, somos amantes circunspectos, os dedos afloram-me o rosto quase a medo e correm para o refúgio do dela, que todo se ilumina. Assim, lado a lado, sem um gesto, transformam o mundo em redor num gigantesco armazém de adereços inúteis.
Ou talvez não... Minha Avó chega por sua vez. O genro saúda-a com graça carinhosa, "ah, a Rainha Mãe". Ela desafia-o com a arrogância divertida que a trouxe de uma viuvez próxima da miséria aos camarins dos teatros em que a filha cantava e ele as conheceu; a paixão foi a dois, mas o casamento a três. Observa-me cuidadosamente, se parecer magro ou triste ficarei em maus lençóis!, o menino dela ofende-a se não irradiar felicidade.
Os outros... O segundo marido de minha Avó, ensinou-me a fazer palavras cruzadas e a ver um homem que chora sem vergonha, mansamente; o Pierre, olha para o caos reinante e abana a cabeça, o melhor amigo é um caso perdido; o Zé Gabriel, a mão gulosa avança para o leitor de CDs e recua, a minha toma o seu lugar, sem música não ficará.
E os outros depois dos outros! Os meus Avós paternos, o Rui Alcobia, George Harrison, John Lennon, Zeca Afonso, Ballester..., a mesa, de tão longa, não permite que os reconheça sem viagem longa. Mais tarde. Agora ocupo a outra cabeceira e espero.
Meus Pais fazem um sinal, tão entrelaçado como os corpos de Fred Astaire e Ginger Rogers, e o Natal começa, Maria, a realidade é a velhice da imaginação! Repara no lugar vazio a meu lado, querida, espera por ti.
E eles também...:).
O estalar da madeira no silêncio da casa, que me acolheu sem perguntas na ressaca de mais um Natal. A mesa que se espreguiça, para meu espanto. As cadeiras multiplicam-se nas margens dela. Apago a televisão, desligo o computador e espero, não acredito em caprichos da mobília sem objectivo ou lugares vazios para a eternidade. Não foi preciso esperar tanto...
Minha Mãe à cabeceira. Um sorriso doce na minha direcção, antes de sondar as frinchas da porta em busca de correntes de ar assassinas. O gesto de satisfeita aprovação. Um último relance em volta, o aquecedor já crepita, "Júlio, querido, podes vir sentar-te".
O meu Velho e a sua lendária elegância: casaco, gravata, colete, botões de punho, vinco das calças, a risca intransigente que lhe separa os belos cabelos brancos. "Obrigado, Maria". (Também a trata assim...). O afecto menos pacífico do que o de minha Mãe, somos amantes circunspectos, os dedos afloram-me o rosto quase a medo e correm para o refúgio do dela, que todo se ilumina. Assim, lado a lado, sem um gesto, transformam o mundo em redor num gigantesco armazém de adereços inúteis.
Ou talvez não... Minha Avó chega por sua vez. O genro saúda-a com graça carinhosa, "ah, a Rainha Mãe". Ela desafia-o com a arrogância divertida que a trouxe de uma viuvez próxima da miséria aos camarins dos teatros em que a filha cantava e ele as conheceu; a paixão foi a dois, mas o casamento a três. Observa-me cuidadosamente, se parecer magro ou triste ficarei em maus lençóis!, o menino dela ofende-a se não irradiar felicidade.
Os outros... O segundo marido de minha Avó, ensinou-me a fazer palavras cruzadas e a ver um homem que chora sem vergonha, mansamente; o Pierre, olha para o caos reinante e abana a cabeça, o melhor amigo é um caso perdido; o Zé Gabriel, a mão gulosa avança para o leitor de CDs e recua, a minha toma o seu lugar, sem música não ficará.
E os outros depois dos outros! Os meus Avós paternos, o Rui Alcobia, George Harrison, John Lennon, Zeca Afonso, Ballester..., a mesa, de tão longa, não permite que os reconheça sem viagem longa. Mais tarde. Agora ocupo a outra cabeceira e espero.
Meus Pais fazem um sinal, tão entrelaçado como os corpos de Fred Astaire e Ginger Rogers, e o Natal começa, Maria, a realidade é a velhice da imaginação! Repara no lugar vazio a meu lado, querida, espera por ti.
E eles também...:).
sábado, dezembro 20, 2008
Domingo à noite.
Maria,
A severidade risonha que eu amava, por o ralhete já esconder o afago e o "nem penses" o "porque esperas?":).
Cheguei de Cantelães e saboreei uma vez mais Mystic River. Tudo o que me rodeia desagua em ti... O bar, os amigos, o comentário de alguém, "adorei As Pontes de Madison County". O meu vício pelos consensos fáceis e as frases feitas por outros - "É o último dos grandes". Aquele sorriso com que me fazias sentir um puto superficial, o meu amuo, o esquecimento. E um outro filme do velho Clint, a minha provocação, "mais um silêncio snob, querida?". E tu, manipulando a minha frase -´"É o único dos grandes que se tornou grande". Tinhas razão, claro, ambos o pressentíramos, extasiados, depois de ver o espantoso e inesperado Bird. O homem passou para trás da câmara e deixou de ser um ícone, "entreteve-se" a realizar obras-primas. Como Mystic River: uma história, a narração, os actores e o absurdo da vida, quem precisa de efeitos especiais?
A severidade risonha que eu amava. Este desejo apressado, a cumplicidade obediente do comando. O sobrolho franzido, "terás reparado que estava a ver o filme?". E a minha resposta, digna de uma daquelas vozes mecânicas que anunciam os pacotes da TVCabo: "Não há problema, estão sempre a repetir". O teu riso maroto, a voz já misturada com o meu pescoço, "és capaz de fazer o mesmo?".
O sim da minha paixão adolescente:).
A prece humilde do meu corpo envelhecido...
A severidade risonha que eu amava, por o ralhete já esconder o afago e o "nem penses" o "porque esperas?":).
Cheguei de Cantelães e saboreei uma vez mais Mystic River. Tudo o que me rodeia desagua em ti... O bar, os amigos, o comentário de alguém, "adorei As Pontes de Madison County". O meu vício pelos consensos fáceis e as frases feitas por outros - "É o último dos grandes". Aquele sorriso com que me fazias sentir um puto superficial, o meu amuo, o esquecimento. E um outro filme do velho Clint, a minha provocação, "mais um silêncio snob, querida?". E tu, manipulando a minha frase -´"É o único dos grandes que se tornou grande". Tinhas razão, claro, ambos o pressentíramos, extasiados, depois de ver o espantoso e inesperado Bird. O homem passou para trás da câmara e deixou de ser um ícone, "entreteve-se" a realizar obras-primas. Como Mystic River: uma história, a narração, os actores e o absurdo da vida, quem precisa de efeitos especiais?
A severidade risonha que eu amava. Este desejo apressado, a cumplicidade obediente do comando. O sobrolho franzido, "terás reparado que estava a ver o filme?". E a minha resposta, digna de uma daquelas vozes mecânicas que anunciam os pacotes da TVCabo: "Não há problema, estão sempre a repetir". O teu riso maroto, a voz já misturada com o meu pescoço, "és capaz de fazer o mesmo?".
O sim da minha paixão adolescente:).
A prece humilde do meu corpo envelhecido...
terça-feira, dezembro 16, 2008
A dois tempos.
Maria,
Quando escrevia a um cinzentão qualquer, teclado e mãos revoltaram-se e meia-resposta desarvorou. Conheces a minha assinalável ignorância tecnológica, não culpei azar ou praga divina, seguramente premi ao de leve teclas que deram o tiro de partida. A funda humilhação; o medo à flor da pele - que declínio cerebral acelerado espreita por entre dedos trôpegos?
Como sempre, o olhar na direcção da tua ausência, em busca de auxílio. (Pareço católico órfão, rezando a nicho de onde fugiu um dos burocratas nascidos da explosão demográfica de santidade, cujo epicentro se situa no Vaticano.) E a pintura canhestra de cenário mais doce para os factos, ambos sabemos como dependem do contexto.
Alucinei-te. Recebendo, no princípio de nós, mail meu. Titilante e desafiador, essa cabecinha ordenada em batalha clandestina com o coração, mais atento à sabedoria epidérmica e menos ao espartilho da geometria racional. Os dedos trémulos, aflorando teclado e desejo, seria injusto crucificá-los pelo deslize. Os minutos de reflexão; as mulheres conhecem os lapsos freudianos desde a eternidade, não precisaram da auto-análise do estóico senhor vienense, que não rejeitou a cigarrilha quando o cancro explodiu, sabia que o amor é um assassino em potência, e no entanto merecedor de grata amnistia.
A decisão. As palavras rápidas, de tão evidentes, a declaração, não de princípios, seguramente de interesses:). O último relance, medroso e aliviado, " que se dane, é verdade, espero que a mereça". Send... As luzes apagadas, o corpo desperto, o sono à espera de uma última interrogação, que ameaça invadir os sonhos - amanhã é mais um dia ou "o" dia?
A minha resposta. O fim do princípio, diria Churchill. A seguir vieram sangue, suor e lágrimas. Mas não só, Maria, não só:).
Quando escrevia a um cinzentão qualquer, teclado e mãos revoltaram-se e meia-resposta desarvorou. Conheces a minha assinalável ignorância tecnológica, não culpei azar ou praga divina, seguramente premi ao de leve teclas que deram o tiro de partida. A funda humilhação; o medo à flor da pele - que declínio cerebral acelerado espreita por entre dedos trôpegos?
Como sempre, o olhar na direcção da tua ausência, em busca de auxílio. (Pareço católico órfão, rezando a nicho de onde fugiu um dos burocratas nascidos da explosão demográfica de santidade, cujo epicentro se situa no Vaticano.) E a pintura canhestra de cenário mais doce para os factos, ambos sabemos como dependem do contexto.
Alucinei-te. Recebendo, no princípio de nós, mail meu. Titilante e desafiador, essa cabecinha ordenada em batalha clandestina com o coração, mais atento à sabedoria epidérmica e menos ao espartilho da geometria racional. Os dedos trémulos, aflorando teclado e desejo, seria injusto crucificá-los pelo deslize. Os minutos de reflexão; as mulheres conhecem os lapsos freudianos desde a eternidade, não precisaram da auto-análise do estóico senhor vienense, que não rejeitou a cigarrilha quando o cancro explodiu, sabia que o amor é um assassino em potência, e no entanto merecedor de grata amnistia.
A decisão. As palavras rápidas, de tão evidentes, a declaração, não de princípios, seguramente de interesses:). O último relance, medroso e aliviado, " que se dane, é verdade, espero que a mereça". Send... As luzes apagadas, o corpo desperto, o sono à espera de uma última interrogação, que ameaça invadir os sonhos - amanhã é mais um dia ou "o" dia?
A minha resposta. O fim do princípio, diria Churchill. A seguir vieram sangue, suor e lágrimas. Mas não só, Maria, não só:).
domingo, dezembro 14, 2008
Domingo.
Maria,
O baptizado correu bem. Um frio de rachar, tiveram de aquecer a água para o pimpolho:). A satisfação de reencontrar o Padre Baptista em forma. Leitura escolhida - o famoso "Deixai vir a mim as criancinhas". O vício da associação livre e as Confissões de Santo Agostinho pelas tortuosas veredas do meu espírito. A opinião pouco lisonjeira sobre os mesmos putos e a sua alegada inocência, não passariam de adultos em miniatura, com os defeitos inerentes. A triste interpretação da frase de Jesus... Lembras-te do que uma vez contei? Um padre amigo, mente brilhante, sorriso amarelado nos lábios - "Santo Agostinho fez-nos muito mal:(". E eu, que o li menos do que devia, arrisco dizer que a luta contra os seus demónios era titânica e infectou-lhe a visão de Deus, Paraíso e Mundo.
Pronto, já me calei. Imagino-te, severa, a corrigir-me, do alto da Fé que não partilho. Pronto, já me calei. Mas não, caramba!, ainda deixo uma pequena provocação - adoraria ter sido o teu pecado original:).
O baptizado correu bem. Um frio de rachar, tiveram de aquecer a água para o pimpolho:). A satisfação de reencontrar o Padre Baptista em forma. Leitura escolhida - o famoso "Deixai vir a mim as criancinhas". O vício da associação livre e as Confissões de Santo Agostinho pelas tortuosas veredas do meu espírito. A opinião pouco lisonjeira sobre os mesmos putos e a sua alegada inocência, não passariam de adultos em miniatura, com os defeitos inerentes. A triste interpretação da frase de Jesus... Lembras-te do que uma vez contei? Um padre amigo, mente brilhante, sorriso amarelado nos lábios - "Santo Agostinho fez-nos muito mal:(". E eu, que o li menos do que devia, arrisco dizer que a luta contra os seus demónios era titânica e infectou-lhe a visão de Deus, Paraíso e Mundo.
Pronto, já me calei. Imagino-te, severa, a corrigir-me, do alto da Fé que não partilho. Pronto, já me calei. Mas não, caramba!, ainda deixo uma pequena provocação - adoraria ter sido o teu pecado original:).
sexta-feira, dezembro 12, 2008
O beijo que vinha do frio.
Maria,
A Mãe sobreviveu a outra ida à Urgência. Análises normais, espírito no céu republicano em que o seu amor a espera há anos. É curioso como sempre te escondi o que vos unia. E não falo de traços de personalidade rebuscados ou construídos pelo meu Édipo, ansioso por não deixar vago de realidade o seu lugar. Falo de tiques, ademanes, gestos prosaicos que vos tornam gémeas, como se o papel vegetal da minha adolescência tivesse ressuscitado. O beijo de esquimó, por exemplo. Quando me presenteaste com esse equivalente antropológico - e gelado... - de um honesto, apaixonado e húmido "french kiss" (esta parolice nacional...), fiquei espantado, ela fazia o mesmo! E ria do meu incómodo, nunca lera Freud ou Lacan, e do Vaticano apreciava a Pietà e a fé dos homens. Nunca to disse, mas descia para os teus lábios com um vagar excitado e temeroso, imaginava-te as mãos cravadas no meu peito, o olhar escandalizado e a sua legenda - "como te atreves?". Daí o suspiro de alívio que calava quando a tua boca se abria à maroteira da minha e do seu arauto, esta língua que tantos com menos direito do que tu decretaram afiada e intrometida:). Tu não, limitavas-te (?) a acolhê-la e a despir-lhe a paixão do frenesim. Até me afastares o rosto para melhor o ver. E sorridente me desafiares para o degrau seguinte, "vem".
A Mãe sobreviveu a outra ida à Urgência. Análises normais, espírito no céu republicano em que o seu amor a espera há anos. É curioso como sempre te escondi o que vos unia. E não falo de traços de personalidade rebuscados ou construídos pelo meu Édipo, ansioso por não deixar vago de realidade o seu lugar. Falo de tiques, ademanes, gestos prosaicos que vos tornam gémeas, como se o papel vegetal da minha adolescência tivesse ressuscitado. O beijo de esquimó, por exemplo. Quando me presenteaste com esse equivalente antropológico - e gelado... - de um honesto, apaixonado e húmido "french kiss" (esta parolice nacional...), fiquei espantado, ela fazia o mesmo! E ria do meu incómodo, nunca lera Freud ou Lacan, e do Vaticano apreciava a Pietà e a fé dos homens. Nunca to disse, mas descia para os teus lábios com um vagar excitado e temeroso, imaginava-te as mãos cravadas no meu peito, o olhar escandalizado e a sua legenda - "como te atreves?". Daí o suspiro de alívio que calava quando a tua boca se abria à maroteira da minha e do seu arauto, esta língua que tantos com menos direito do que tu decretaram afiada e intrometida:). Tu não, limitavas-te (?) a acolhê-la e a despir-lhe a paixão do frenesim. Até me afastares o rosto para melhor o ver. E sorridente me desafiares para o degrau seguinte, "vem".
segunda-feira, dezembro 08, 2008
Baiona.
Maria,
Regressei a Baiona depois de longa ausência. Sou suspeito, quem resiste a confirmar profecias próprias?, mas quase rosnei ao espelho, "eu tinha avisado...". A sombra do Pierre por todo o lado: ancoradouro, Jaquevi, Mosquito, a marginal. Os olhos azuis risonhos, o branco ruborizado da face, o loiro cabelo nórdico, a barriga desafiante; o abraço de urso. As saudades que tenho dele... Egoísta, vejo-as desaguar nas de ti. O silêncio compreensivo; a mão pelos meus cabelos; o braço rodeando-me a cintura, e sem alarde ao leme, como te poderia recusar brisa e velas? Esse corpo à flor do meu, numa gentil mas firme avidez. O embaraço que te diverte. E o tropeço nas palavras que o agrava, "deixa-me, chata". O riso de quem despe a ordem e abraça o apelo - "Nem penses". Nem pensar... Fazer-te a vontade, Maria, e apenas sentir. Ainda e sempre as saudades do Pierre, mas sobre o pano de fundo do desejo de ti.
Regressei a Baiona depois de longa ausência. Sou suspeito, quem resiste a confirmar profecias próprias?, mas quase rosnei ao espelho, "eu tinha avisado...". A sombra do Pierre por todo o lado: ancoradouro, Jaquevi, Mosquito, a marginal. Os olhos azuis risonhos, o branco ruborizado da face, o loiro cabelo nórdico, a barriga desafiante; o abraço de urso. As saudades que tenho dele... Egoísta, vejo-as desaguar nas de ti. O silêncio compreensivo; a mão pelos meus cabelos; o braço rodeando-me a cintura, e sem alarde ao leme, como te poderia recusar brisa e velas? Esse corpo à flor do meu, numa gentil mas firme avidez. O embaraço que te diverte. E o tropeço nas palavras que o agrava, "deixa-me, chata". O riso de quem despe a ordem e abraça o apelo - "Nem penses". Nem pensar... Fazer-te a vontade, Maria, e apenas sentir. Ainda e sempre as saudades do Pierre, mas sobre o pano de fundo do desejo de ti.
terça-feira, dezembro 02, 2008
A neve.
Maria,
A Casa do Vale coberta de neve como nunca a vira. Ainda mal refeito do encantamento, já a grossa chuva branca recomeçava a tombar. E com ela ramos no caminho, a "viagem" até à estrada principal devolveu-me à atmosfera das aventuras dos Cinco:). Depois chegaram os miúdos, numa algazarra de feliz surpresa que contagiou a cadela, sempre mais sociável com eles, sabe-se lá os adultos que conheceu... Vê-los partir foi doloroso, a casa mergulhou num sossego diferente do que os acolhera; melancólico. Na manhã seguinte, o sol. Que derreteu a neve, excepto nos recantos a coberto das árvores mais agasalhadas. E num local de todo improvável, solitário no meio do terreno, sem creme ou sombra a protegê-lo do calor friorento do meio-dia - o tecto da casinha dos miúdos, à janela da qual o Tiago me vende hamburgers imaginados a preços de usurário empedernido. Imaginei-te o sorriso indulgente, perante a minha dúvida "científica" - pensar com o coração, dizias, pensar com o coração e sentir, para depois compreender. Pedi ajuda à tua fotografia, essa procuradora da ausência. Tinhas razão, querida, o erro era meu e do mundo a preto e branco que abrigo e me abriga. E tu colorias, quando... Deixa, voltemos à neve, que resistia à lógica, aristotélica ou outra. Porque nada tinha contra o sol, mas ainda guardava - e preferia! - a esperança de toda se derreter à carícia do extraordinário calor vital dos miúdos regressados:).
A Casa do Vale coberta de neve como nunca a vira. Ainda mal refeito do encantamento, já a grossa chuva branca recomeçava a tombar. E com ela ramos no caminho, a "viagem" até à estrada principal devolveu-me à atmosfera das aventuras dos Cinco:). Depois chegaram os miúdos, numa algazarra de feliz surpresa que contagiou a cadela, sempre mais sociável com eles, sabe-se lá os adultos que conheceu... Vê-los partir foi doloroso, a casa mergulhou num sossego diferente do que os acolhera; melancólico. Na manhã seguinte, o sol. Que derreteu a neve, excepto nos recantos a coberto das árvores mais agasalhadas. E num local de todo improvável, solitário no meio do terreno, sem creme ou sombra a protegê-lo do calor friorento do meio-dia - o tecto da casinha dos miúdos, à janela da qual o Tiago me vende hamburgers imaginados a preços de usurário empedernido. Imaginei-te o sorriso indulgente, perante a minha dúvida "científica" - pensar com o coração, dizias, pensar com o coração e sentir, para depois compreender. Pedi ajuda à tua fotografia, essa procuradora da ausência. Tinhas razão, querida, o erro era meu e do mundo a preto e branco que abrigo e me abriga. E tu colorias, quando... Deixa, voltemos à neve, que resistia à lógica, aristotélica ou outra. Porque nada tinha contra o sol, mas ainda guardava - e preferia! - a esperança de toda se derreter à carícia do extraordinário calor vital dos miúdos regressados:).
domingo, novembro 30, 2008
Bloqueado pela neve em Cantelães, chega uma velharia pel Net:).
Que há-de ser de nós
Júlio Machado Vaz, Novembro 1991
Como todos os que passaram pelo divã, recebo as coincidências com grunhidos de suspeita. Entendamo-nos: a Alda de Sousa (que me pediu a prosa) parece-me inocente, a culpa, existindo, só pode refugiar-se algures do meu pescoço para cima. Porque lá estranho é, um tipo senta-se para escrever um artigo sobre Sexualidade e repara que faz 41 anos e pôs no Compacto o "Que há-de ser de nós" do Sérgio Godinho. Cheira a esturro. Não se trata da sensação de envelhecimento, mas precisamente da sua ausência, a cada aniversário verifico ser mais radical o divórcio entre ácido úrico e colesterol por um lado e a cabeça por outro. Aqueles, paulatinos, sobem para valores respeitáveis, fronteiriços, de meia-idade; ela peca por arrogância e vive fora do tempo. À espera.
Existem razões para isso, o bilhete de identidade não traduz o percurso único de um ser homogéneo, como podem ser três da tarde na profissão e dez da manhã na Sexualidade?
Não falo de sexo, esse é um velho companheiro de sonhos apetitosos e camas desfeitas, espreitando por cima do ombro maroto do desejo. Estimo-o muito. Deus e/ou a testosterona permitam que não se canse das minhas birras e vá habitar alguém menos insuportável, mas os anos corroeram o triângulo. Eu, o Desejo e o Sexo, era tudo tão simples! Na cabeça, claro, só adultos esquecidos falam de adolescência cor de rosa, mas quando penso em mim há vinte e cinco anos lembro-me das boas livrarias—uma prateleira para cada tema. Assim era eu. Amor, Felicidade e Justiça, as grandes palavras que nos tornam infelizes, escrevia Joyce. O sexo, com letra pequena por força de uma educação conservadora tanto mais eficaz quanto sugerida e não imposta, o sexo, dizia eu, baloiçava entre amores verdadeiros, logo justificativos, e outros falsos, falsos, mas que passavam por idóneos, não fosse a ideia do prazer pelo prazer aflorar à superfície.
Procurar a intimidade
E depois um tipo cresce ou simplesmente envelhece. Um orgasmo é um orgasmo e já não chega, as fronteiras entre Paixão, Amor e Ternura vão-se esbatendo, a ligação erótica recusa as grades da cama ou dos bancos de trás dos automóveis e invade a sala, reclamando livros conversados ou discos velhos ouvidos por entre candeeiros mortos; a gente fica assim, cúmplice, espreitando as pessoas do prédio em frente, a vida em contraluz. Ganapos que se recusam a açoites merecidos, jantares aquecidos por atrasados, estiradores vazios de inspiração, um ou outro afago mais brejeiro, quem nos imagina aqui no escuro, à espreita? A armadilha es«á pronta, mas não para eles. Para nós.
Na realidade, de supetão ou laboriosamente ao longo dos anos, vão-se abrindo portas e olhos, deslizou-se da paixão pelo outro e pelo amor para a busca de algo bem mais megalómano – a intimidade. Também no sexo, como é evidente. O antes e o depois recusam a tirania do durante e as fantasias eróticas de um tacteiam as do outro, porque não existe pior vergonha que a de não explorar o amor com alguém de quem se gosta. Que não chega, resmunga o diabito que se nos enrosca nas entranhas. Pronto a admitir que a felicidade não existe, reivindica fascínios subtis que resistam ao quotidiano, a esses computadores, bichas e panelas que subtilmente vão empurrando o amor para o sábado à noite.
Recomeçar ao microfone
E contudo, nem sempre é fácil acreditar que a vida começa aos quarenta. Falta-nos a disponibilidade, tão preocupados estamos em sobreviver, espremidos entre uma geração que enfrenta a morte e outra morta por viver. Nessa agitação frenética, as pausas, nossas, parecem quase inacreditáveis, culpadas.
«O Sexo dos Anjos» tornou-se, para mim, num desses momentos em que, como diz Woody Allen, consigo por um breve instante focar a Vida.
Impossível, dir-me-ão, como se pode retomar o fôlego em associação livre com um público do outro lado do microfone? Parece estranho, eu sei. No início havia tensão no ar, a ideia tinha sido do Aurélio e preocupava-me a hipótese de o deixar ficar mal. Depois vieram as cartas e os telefonemas e eu comecei a fazer menos chavetas e a deixar-me ir. Às vezes arrependo-me quando ouço o programa, noto as repetições, os fios soltos, as oportunidades falhadas. Para falar com franqueza não me arrependo... arrepio-me! Mas o «Sexo dos Anjos» não pretende ser uma sucessão de aulas, mas de conversas sobre isto e aquilo, até Sexualidade. Hoje em dia entro no estúdio quase com alívio e arrisco-me a dizer que o Aurélio e o Zé Gabriel também, somos amigos. O público... quando se passa muitos anos na clínica quase se pensa que o nosso mundo ficou aprisionado entre quatro paredes, por isso o programa foi uma lufada de ar fresco. As pessoas sugerem, perguntam, criticam e um tipo sente-se vivo, em movimento. Em questão também. Por vezes dizem que me exponho demasiado e eu sorrio; a opinião dos outros interessa-me, mas não me assusta (vantagens da idade). É em mim que está o perigo.
Só a gravação dura uma hora, a cabeça está-se nas tintas para noticiários e compromissos comerciais, a associação livre tem o mau hábito de nos conduzir a temas presos, enrolados na garganta. Que há-de ser de nós? Os versos do Sérgio, estes sobretudo, fascinam-me. Ansiar corpos ausentes, o mais longo beijo, o fogo e a chuva na voz... quem dá aos poetas o direito de tratar por tu o amor? E assim, muitas vezes, abro a porta da Rádio Nova fechado para balanço, sentindo que o tempo foge enquanto falo do amor dos outros.
Ir à ribeira
Receio que não seja este o tom adequado para um jornal como o COMBATE, mas Ferré disse um dia que a revolução na cabeça deveria, obrigatoriamente, preceder a da rua. Sou um burguês típico - o meu (pequeno) ardor revolucionário não sobreviveu à Universidade. Na minha profissão, ao menor descuido, esquece-se a Sociedade e raramente se ultrapassa o nível do casal ou da família. Em Sexologia, não perguntando, quase nunca distingo um tipo de direita de um de esquerda, um religioso de um ateu. Ouço-os. E os lutos por fazer sucedem-se a ódios temporários, a falta de desejo disfarça-se de enxaqueca, choro e riso sacodem os mesmos ombros. Aqui e ali, por competência ou sorte (e que me importa?), as coisas correm bem e faz-se de novo luz em olhos baços. Porta fechada, o cliente seguinte atrasado, perco-me através da janela no cinzento do meu Porto. Que é também o do Sérgio. Estarei velho ou sábio? Ajudo os outros a viver ou sobrevivo através deles? Há quanto tempo não vou à Ribeira ao fim da tarde, não-sozinho, mas fascinado por um riso?
Coincidências. Muitas. O Compacto programado para repetir a mesma música até à (minha) exaustão, a zaragata dos miúdos ao telefone gritando feliz aniversário, o PARA SEMPRE do Vergílio brilhando negro entre os Kunderas vestidos de branco sujo, o silêncio que paira para lá da voz do Sérgio. Que há-de ser de nós?
Júlio Machado Vaz, Novembro 1991
Como todos os que passaram pelo divã, recebo as coincidências com grunhidos de suspeita. Entendamo-nos: a Alda de Sousa (que me pediu a prosa) parece-me inocente, a culpa, existindo, só pode refugiar-se algures do meu pescoço para cima. Porque lá estranho é, um tipo senta-se para escrever um artigo sobre Sexualidade e repara que faz 41 anos e pôs no Compacto o "Que há-de ser de nós" do Sérgio Godinho. Cheira a esturro. Não se trata da sensação de envelhecimento, mas precisamente da sua ausência, a cada aniversário verifico ser mais radical o divórcio entre ácido úrico e colesterol por um lado e a cabeça por outro. Aqueles, paulatinos, sobem para valores respeitáveis, fronteiriços, de meia-idade; ela peca por arrogância e vive fora do tempo. À espera.
Existem razões para isso, o bilhete de identidade não traduz o percurso único de um ser homogéneo, como podem ser três da tarde na profissão e dez da manhã na Sexualidade?
Não falo de sexo, esse é um velho companheiro de sonhos apetitosos e camas desfeitas, espreitando por cima do ombro maroto do desejo. Estimo-o muito. Deus e/ou a testosterona permitam que não se canse das minhas birras e vá habitar alguém menos insuportável, mas os anos corroeram o triângulo. Eu, o Desejo e o Sexo, era tudo tão simples! Na cabeça, claro, só adultos esquecidos falam de adolescência cor de rosa, mas quando penso em mim há vinte e cinco anos lembro-me das boas livrarias—uma prateleira para cada tema. Assim era eu. Amor, Felicidade e Justiça, as grandes palavras que nos tornam infelizes, escrevia Joyce. O sexo, com letra pequena por força de uma educação conservadora tanto mais eficaz quanto sugerida e não imposta, o sexo, dizia eu, baloiçava entre amores verdadeiros, logo justificativos, e outros falsos, falsos, mas que passavam por idóneos, não fosse a ideia do prazer pelo prazer aflorar à superfície.
Procurar a intimidade
E depois um tipo cresce ou simplesmente envelhece. Um orgasmo é um orgasmo e já não chega, as fronteiras entre Paixão, Amor e Ternura vão-se esbatendo, a ligação erótica recusa as grades da cama ou dos bancos de trás dos automóveis e invade a sala, reclamando livros conversados ou discos velhos ouvidos por entre candeeiros mortos; a gente fica assim, cúmplice, espreitando as pessoas do prédio em frente, a vida em contraluz. Ganapos que se recusam a açoites merecidos, jantares aquecidos por atrasados, estiradores vazios de inspiração, um ou outro afago mais brejeiro, quem nos imagina aqui no escuro, à espreita? A armadilha es«á pronta, mas não para eles. Para nós.
Na realidade, de supetão ou laboriosamente ao longo dos anos, vão-se abrindo portas e olhos, deslizou-se da paixão pelo outro e pelo amor para a busca de algo bem mais megalómano – a intimidade. Também no sexo, como é evidente. O antes e o depois recusam a tirania do durante e as fantasias eróticas de um tacteiam as do outro, porque não existe pior vergonha que a de não explorar o amor com alguém de quem se gosta. Que não chega, resmunga o diabito que se nos enrosca nas entranhas. Pronto a admitir que a felicidade não existe, reivindica fascínios subtis que resistam ao quotidiano, a esses computadores, bichas e panelas que subtilmente vão empurrando o amor para o sábado à noite.
Recomeçar ao microfone
E contudo, nem sempre é fácil acreditar que a vida começa aos quarenta. Falta-nos a disponibilidade, tão preocupados estamos em sobreviver, espremidos entre uma geração que enfrenta a morte e outra morta por viver. Nessa agitação frenética, as pausas, nossas, parecem quase inacreditáveis, culpadas.
«O Sexo dos Anjos» tornou-se, para mim, num desses momentos em que, como diz Woody Allen, consigo por um breve instante focar a Vida.
Impossível, dir-me-ão, como se pode retomar o fôlego em associação livre com um público do outro lado do microfone? Parece estranho, eu sei. No início havia tensão no ar, a ideia tinha sido do Aurélio e preocupava-me a hipótese de o deixar ficar mal. Depois vieram as cartas e os telefonemas e eu comecei a fazer menos chavetas e a deixar-me ir. Às vezes arrependo-me quando ouço o programa, noto as repetições, os fios soltos, as oportunidades falhadas. Para falar com franqueza não me arrependo... arrepio-me! Mas o «Sexo dos Anjos» não pretende ser uma sucessão de aulas, mas de conversas sobre isto e aquilo, até Sexualidade. Hoje em dia entro no estúdio quase com alívio e arrisco-me a dizer que o Aurélio e o Zé Gabriel também, somos amigos. O público... quando se passa muitos anos na clínica quase se pensa que o nosso mundo ficou aprisionado entre quatro paredes, por isso o programa foi uma lufada de ar fresco. As pessoas sugerem, perguntam, criticam e um tipo sente-se vivo, em movimento. Em questão também. Por vezes dizem que me exponho demasiado e eu sorrio; a opinião dos outros interessa-me, mas não me assusta (vantagens da idade). É em mim que está o perigo.
Só a gravação dura uma hora, a cabeça está-se nas tintas para noticiários e compromissos comerciais, a associação livre tem o mau hábito de nos conduzir a temas presos, enrolados na garganta. Que há-de ser de nós? Os versos do Sérgio, estes sobretudo, fascinam-me. Ansiar corpos ausentes, o mais longo beijo, o fogo e a chuva na voz... quem dá aos poetas o direito de tratar por tu o amor? E assim, muitas vezes, abro a porta da Rádio Nova fechado para balanço, sentindo que o tempo foge enquanto falo do amor dos outros.
Ir à ribeira
Receio que não seja este o tom adequado para um jornal como o COMBATE, mas Ferré disse um dia que a revolução na cabeça deveria, obrigatoriamente, preceder a da rua. Sou um burguês típico - o meu (pequeno) ardor revolucionário não sobreviveu à Universidade. Na minha profissão, ao menor descuido, esquece-se a Sociedade e raramente se ultrapassa o nível do casal ou da família. Em Sexologia, não perguntando, quase nunca distingo um tipo de direita de um de esquerda, um religioso de um ateu. Ouço-os. E os lutos por fazer sucedem-se a ódios temporários, a falta de desejo disfarça-se de enxaqueca, choro e riso sacodem os mesmos ombros. Aqui e ali, por competência ou sorte (e que me importa?), as coisas correm bem e faz-se de novo luz em olhos baços. Porta fechada, o cliente seguinte atrasado, perco-me através da janela no cinzento do meu Porto. Que é também o do Sérgio. Estarei velho ou sábio? Ajudo os outros a viver ou sobrevivo através deles? Há quanto tempo não vou à Ribeira ao fim da tarde, não-sozinho, mas fascinado por um riso?
Coincidências. Muitas. O Compacto programado para repetir a mesma música até à (minha) exaustão, a zaragata dos miúdos ao telefone gritando feliz aniversário, o PARA SEMPRE do Vergílio brilhando negro entre os Kunderas vestidos de branco sujo, o silêncio que paira para lá da voz do Sérgio. Que há-de ser de nós?
terça-feira, novembro 25, 2008
O tipo que os selvagens dos meus netos adoram:).
Ontem à noite os Machado Vaz partiram em romaria a dar um abraço ao Octávio Cunha, que apresentava o seu último livro na Árvore. Belo jantar no Uma Rosa nas Virtudes, o prazer de tropeçar numa sala... à cunha:). E sobretudo pela criançada, alegremente desprezando toques de recolher para dar beijos repenicados num grande amigo disfarçado de competentíssimo pediatra. O Octávio é um homem bom e cidadão exemplar. Por isso me dão tanto gozo as suas visitas a Cantelães, as palavras apaziguadas de dois homens para lá da curva da vida não ferem a magnífica e silenciosa moldura natural. Ambos já vivemos o suficiente para lhe dar o justo valor...
sexta-feira, novembro 21, 2008
O episódio mais recente da saga educativa.
A conferência de imprensa que se seguiu ao Conselho de Ministros não trouxe o inesperado. Como aqui todos previmos, o Governo recuou sem recuar; a Ministra avaliou a avaliação e não reagiu às pressões; o espírito de diálogo é absoluto, etc, etc... Nada tendo de pessoal contra a Senhora, foi desconfortável assistir à deglutição de alguns sapos, mas a verdade é que a sua completa inabilidade política tornou este degrau obrigatório (seria ingénuo empregar a palavra desfecho...). Porque além de defender - e impor... - as suas legítimas opiniões sobre metodologias de avaliação, um Ministro deve ser capaz de fazer política. Não me refiro a nenhum exercício de hipocrisia ou contorcionismo de coluna vertebral, é necessária a atenção ao Outro e a pacificação narcísica que permitem auscultar os diversos agentes, esgrimir argumentos, reanalisar os próprios à luz dos que não tinham sido contemplados e decidir com firmeza, mas sem rigidez dogmática. Penso que uma das dificuldades de todo este processo reside na evidente crispação relacional da Ministra, bem evidente nos diálogos (?) mantidos com os jornalistas que a confrontem com realidades diversas da que anuncia e embala.
Para mim, houve apenas um momento de verdadeiro interesse no episódio. Pedro Silva Pereira iniciou-o num registo compreensível - dado o tema, microfones, holofotes e perguntas destinavam-se à Ministra da Educação. E contudo... Mal a Política veio à baila, ei-lo que se lança na "tradução" da laboriosa - e entrecortada por vários papeizinhos! - intervenção da Ministra. Em três penadas, tudo foi explicitado, com enorme clareza e eficácia televisiva. Objectivamente quase cruel, o seu gesto era necessário. E confirmou a ideia que sempre me invade quando o escuto - Silva Pereira é a Eminência bem pouco parda deste Governo. A placidez da postura corporal e os decibéis recatados do discurso emolduram neurónios muito, muito rápidos. E peritos - imagine-se! -em redução de danos:).
Enfim, delírios de psi...
Para mim, houve apenas um momento de verdadeiro interesse no episódio. Pedro Silva Pereira iniciou-o num registo compreensível - dado o tema, microfones, holofotes e perguntas destinavam-se à Ministra da Educação. E contudo... Mal a Política veio à baila, ei-lo que se lança na "tradução" da laboriosa - e entrecortada por vários papeizinhos! - intervenção da Ministra. Em três penadas, tudo foi explicitado, com enorme clareza e eficácia televisiva. Objectivamente quase cruel, o seu gesto era necessário. E confirmou a ideia que sempre me invade quando o escuto - Silva Pereira é a Eminência bem pouco parda deste Governo. A placidez da postura corporal e os decibéis recatados do discurso emolduram neurónios muito, muito rápidos. E peritos - imagine-se! -em redução de danos:).
Enfim, delírios de psi...
terça-feira, novembro 18, 2008
Ya lo veremos.
Segui com atenção a entrevista de Elisa Ferreira ao Porto Canal. Nas últimas autárquicas votei Francisco Assis, mas não escondi que a preferia como candidata. Talvez o seja agora. Estou de acordo? Sim. Optimista? Não. Razões? Eis algumas: pelo andar da carruagem, a oportunidade punitiva - e lúdica... - para zurzir o Governo nas autárquicas será aproveitada pelo eleitorado até ao osso; a atitude exterior comatosa do PS portuense, aliada a entusiastas lutas intestinas, transformaram a honestidade do Dr. Rui Rio, a sua distanciação do futebol e desconfiança das elites culturais em trunfos mais do que suficientes para o tornarem favorito, se candidato (acredito que o será, embora algumas afirmações extraordinárias da Dra. Manuela Ferreira Leite pareçam destinadas a forçá-lo a antecipar os timings no que à liderança do partido diz respeito); segundo leio nos jornais, o PS, na prática, está mais ocupado em contemplar, horrorizado, o que pode ser um remake de Famalicão em Matosinhos do que em mobilizar-se para vencer no Porto; mesmo que eu esteja enganado, seria necessário que estabelecesse pontes com cidadãos, movimentos e partidos, sem reservas mentais ou exigências hegemónicas; deseja fazê-lo?; alberga protagonistas credíveis que num tal processo não deixem a candidata a falar sozinha e obrigada a equilíbrios precários e "provas de lealdade"?
Elisa Ferreira é uma boa candidata. Dar-lhe-ão hipótese de corporizar uma boa candidatura? Não sei. Mas duvido...
Elisa Ferreira é uma boa candidata. Dar-lhe-ão hipótese de corporizar uma boa candidatura? Não sei. Mas duvido...
segunda-feira, novembro 17, 2008
Gentileza do Luís!
"Nada deve ser mais importante nem mais desejável (…) do que preservar a boa disposição dos professores (…). É nisso que reside o maior segredo do bom funcionamento das escolas (…)."
"Com amargura de espírito, os professores não poderão prestar um bom serviço, nem responder convenientemente às [suas] obrigações."
Recomenda-se a todos os professores um dia de repouso semanal: "A solicitude por parte dos superiores anima muito os súbditos e reconforta-os no trabalho."
"Quando um professor desempenha o seu ministério com zelo e diligência, não seja esse o pretexto para o sobrecarregar ainda mais e o manter por mais tempo naquele encargo. De outro modo os professores começarão a desempenhar os seus deveres com mais indiferença e negligência, para que não lhes suceda o mesmo."
Incentivar e valorizar a sua produção literária: porque "a honra eleva as artes."
"Em meses alternados, pelo menos, o reitor deverá chamar os professores (…) e perguntar-lhes-á, com benevolência, se lhes falta alguma coisa, se algo os impede de avançar nos estudos e outras coisas do género. Isto se aplique não só com todos os professores em geral, nas reuniões habituais, mas também com cada um em particular, a fim de que o reitor possa dar-lhes mais livremente sinais da sua benevolência, e eles próprios possam confessar as suas necessidades, com maior liberdade e confiança. Todas estas coisas concorrem grandemente para o amor e a união dos mestres com o seu superior. Além disso, o superior tem assim possibilidade de fazer com maior proveito algum reparo aos professores, se disso houver necessidade."
"I. 22. Para as letras, preparem-se professores de excelência
Para conservar (…) um bom nível de conhecimento de letras e de humanidades, e para assegurar como que uma escola de mestres, o provincial deverá garantir a existência de pelo menos dois ou três indivíduos que se distingam notoriamente em matéria de letras e de eloquência. Para que assim seja, alguns dos que revelarem maior aptidão ou inclinação para estes estudos serão designados pelo provincial para se dedicarem imediatamente àquelas matérias – desde que já possuam, nas restantes disciplinas, uma formação que se considere adequada. Com o seu trabalho e dedicação, poder-se-á manter e perpetuar como que uma espécie de viveiro para uma estirpe de bons professores.
II. 20. Manter o entusiasmo dos professores
O reitor terá o cuidado de estimular o entusiasmo dos professores com diligência e com religiosa afeição. Evite que eles sejam demasiado sobrecarregados pelos trabalhos domésticos."
Ratio Studiorum da Companhia de Jesus (1599).
P.S. A tentativa de redução de danos já começou: simplex para a avaliação, legislação ao Domingo, muita, muita abertura, flexibilidade, recados de um PS dentro do PS que não desdenharia o papel de mediador... Receio que seja tarde - vai haver vencedores e vencidos, mesmo com a habitual oratória cosmética que se seguirá.
"Com amargura de espírito, os professores não poderão prestar um bom serviço, nem responder convenientemente às [suas] obrigações."
Recomenda-se a todos os professores um dia de repouso semanal: "A solicitude por parte dos superiores anima muito os súbditos e reconforta-os no trabalho."
"Quando um professor desempenha o seu ministério com zelo e diligência, não seja esse o pretexto para o sobrecarregar ainda mais e o manter por mais tempo naquele encargo. De outro modo os professores começarão a desempenhar os seus deveres com mais indiferença e negligência, para que não lhes suceda o mesmo."
Incentivar e valorizar a sua produção literária: porque "a honra eleva as artes."
"Em meses alternados, pelo menos, o reitor deverá chamar os professores (…) e perguntar-lhes-á, com benevolência, se lhes falta alguma coisa, se algo os impede de avançar nos estudos e outras coisas do género. Isto se aplique não só com todos os professores em geral, nas reuniões habituais, mas também com cada um em particular, a fim de que o reitor possa dar-lhes mais livremente sinais da sua benevolência, e eles próprios possam confessar as suas necessidades, com maior liberdade e confiança. Todas estas coisas concorrem grandemente para o amor e a união dos mestres com o seu superior. Além disso, o superior tem assim possibilidade de fazer com maior proveito algum reparo aos professores, se disso houver necessidade."
"I. 22. Para as letras, preparem-se professores de excelência
Para conservar (…) um bom nível de conhecimento de letras e de humanidades, e para assegurar como que uma escola de mestres, o provincial deverá garantir a existência de pelo menos dois ou três indivíduos que se distingam notoriamente em matéria de letras e de eloquência. Para que assim seja, alguns dos que revelarem maior aptidão ou inclinação para estes estudos serão designados pelo provincial para se dedicarem imediatamente àquelas matérias – desde que já possuam, nas restantes disciplinas, uma formação que se considere adequada. Com o seu trabalho e dedicação, poder-se-á manter e perpetuar como que uma espécie de viveiro para uma estirpe de bons professores.
II. 20. Manter o entusiasmo dos professores
O reitor terá o cuidado de estimular o entusiasmo dos professores com diligência e com religiosa afeição. Evite que eles sejam demasiado sobrecarregados pelos trabalhos domésticos."
Ratio Studiorum da Companhia de Jesus (1599).
P.S. A tentativa de redução de danos já começou: simplex para a avaliação, legislação ao Domingo, muita, muita abertura, flexibilidade, recados de um PS dentro do PS que não desdenharia o papel de mediador... Receio que seja tarde - vai haver vencedores e vencidos, mesmo com a habitual oratória cosmética que se seguirá.
quinta-feira, novembro 13, 2008
O amigo madeirense.
Fecho os olhos e deleito-me - Sócrates entra em casa, desfaz o nó da gravata, tira o casaco que ainda não é da marca Obama e vê o noticiário. Da pérola do Atlântico jorra o maná: avaliação instantânea e governamental dos professores e curso intensivo sobre como degradar a Democracia na Assembleia Regional. Quando o sempre vociferante e pletórico Jardim surge no ecrã, Sócrates não resiste e levanta o polegar na sua direcção, "porreiro, pá!". Mas a gratidão sentida é para ser mostrada! Ei-lo que pousa, enlevado, o Magalhães 1 no colo e surge o mail - "Meu caro Alberto...".
E não seria justo, digo eu? O homem permite que o meio-sorriso de Vitalino Canas emoldure a pergunta "cândida" - é este o modelo que o PSD...? Rumo ao grand final da maioria dos comentadores, "o silêncio de Manuela Ferreira Leite acerca da assembleia Regional da Madeira é atroador e mina a sua autoridade moral". Devo confessar que o não esperava, embalei a esperança de a ver quebrar a cumplicidade, longa e deprimente, com todos os caprichos e dislates do "ganhador insular", que salvará o PSD nacional quando lho solicitarem por unanimidade e aclamação.
Como devo confessar que, num registo diverso, também esperava mais de Cavaco Silva. Não duvido que assista, arrepiado, à última traquinice de quem o apelidou de Senhor Silva; não duvido que no recato dos gabinetes pressione; não duvido sequer da eficácia de tal pressão. Mas quando atropelos desta gravidade são cometidos, espero do Presidente palavras serenas e firmes, bastar-me-ia qualquer coisa como "a legalidade democrática deve ser restabelecida o mais depressa possível".
Eu sei, fui sábio por não ter enveredado pela política:). Institucionalizada!..., pois é política o que fazemos no Murcon.
E não seria justo, digo eu? O homem permite que o meio-sorriso de Vitalino Canas emoldure a pergunta "cândida" - é este o modelo que o PSD...? Rumo ao grand final da maioria dos comentadores, "o silêncio de Manuela Ferreira Leite acerca da assembleia Regional da Madeira é atroador e mina a sua autoridade moral". Devo confessar que o não esperava, embalei a esperança de a ver quebrar a cumplicidade, longa e deprimente, com todos os caprichos e dislates do "ganhador insular", que salvará o PSD nacional quando lho solicitarem por unanimidade e aclamação.
Como devo confessar que, num registo diverso, também esperava mais de Cavaco Silva. Não duvido que assista, arrepiado, à última traquinice de quem o apelidou de Senhor Silva; não duvido que no recato dos gabinetes pressione; não duvido sequer da eficácia de tal pressão. Mas quando atropelos desta gravidade são cometidos, espero do Presidente palavras serenas e firmes, bastar-me-ia qualquer coisa como "a legalidade democrática deve ser restabelecida o mais depressa possível".
Eu sei, fui sábio por não ter enveredado pela política:). Institucionalizada!..., pois é política o que fazemos no Murcon.
quarta-feira, novembro 12, 2008
As "desculpas".
Primeiro foi no carro - quase juro ter pressentido um sabor a triunfo na voz do locutor, "a Ministra pediu desculpa aos professores". Depois foi o rodapé, em marcha lenta para a minha esquerda, a jurar que o ramo de oliveira estivera presente na Assembleia da República, ao arrepio da reportagem. Da qual eu não precisava, assisti em directo. Quando alguém se "desculpa" pelo incómodo provocado aos docentes, acrescentando ser ele necessário em nome dos alunos, do País e da Escola, não estende a mão aberta e sim o indicador ex-cathedra. Os professores são definidos como quem apenas se preocupa com o seu bem-estar e ignora a rapaziada que devia justificar-lhes a existência profissional, a Instituição formativa que deles depende, a Mãe Pátria, no futuro liderada pelos mesmos que agora desleixam. Pedido de desculpas? Credo!, foi uma pífia tentativa de bofetada de luva encardida:).
Dou comigo soterrado por consciências tranquilas. Fátima Felgueiras, Victor Constâncio, Bruno Paixão, Manuel Pinho, Maria de Lurdes Rodrigues, John McCain - essa também! - e mais trinta e cinco mil personagens não encontram razões para vasculharem espelhos interiores. Seja. Mas em verdade vos digo - nem sequer exijo um pecador arrependido, já absolveria um que embalasse dúvidas, esses pormaiores que nos tornam humanos...
Dou comigo soterrado por consciências tranquilas. Fátima Felgueiras, Victor Constâncio, Bruno Paixão, Manuel Pinho, Maria de Lurdes Rodrigues, John McCain - essa também! - e mais trinta e cinco mil personagens não encontram razões para vasculharem espelhos interiores. Seja. Mas em verdade vos digo - nem sequer exijo um pecador arrependido, já absolveria um que embalasse dúvidas, esses pormaiores que nos tornam humanos...
segunda-feira, novembro 10, 2008
Perguntas soltas...
É possível que 120.000 pessoas se deixem manipular? Ou simplesmente desejem evitar qualquer forma de avaliação? Os professores que ouço no consultório mentem? A culpa é minha, incapaz de lhes diagnosticar os delírios? Manuela Ferreira Leite, cuja eleição aqui saudei pela credibilidade que assegurava, não diz uma palavra acerca do último Carnaval na Madeira e "mergulha" no autocarro número 701 da manifestação na véspera à noite? Um partido que se reclama socialista pode suportar uma lufa-lufa na Assembleia da República, alegadamente para modificar o sentido de voto de alguns dos seus deputados?
sexta-feira, novembro 07, 2008
E se ele for apenas Clark Kent?
As expectativas em face de Obama já ultrapassaram o registo da idealização, mergulhando numa hipnose messiânica. O despertar vai ser duro... Felizmente existirá alternativa para os desiludidos na próxima eleição: uma Sarah Palin que acreditava ser África um país e a África do Sul parte dele! Provavelmente no extremo norte...:).
quarta-feira, novembro 05, 2008
Vou dormir.
Pensamento (mórbido) de quem viu cair dois Kennedys e Luther King - Obama já ganhou, esperemos que se mantenha vivo...
sábado, outubro 25, 2008
Olhares.
Quase todos os professores com muita "estrada" vos dirão o mesmo - os críticos mais severos acoitam-se dentro de nós. Porque os anos ensinaram rotinas que maquilham a falta de inspiração e o consequente triste debitar da matéria, sem chama que desperte a curiosidade dos alunos. Mas aula acabada, espelhos íntimos não mentem - fomos medíocres e não medianos. E no entanto... Quinta-Feira, durante o Curso que ministro em Serralves, vi aparecer um dos meus filhos. E ao gosto da sua visita deu a mão um receio agudo de o desiludir. Bautista, como tantas vezes aqui lembrei, aponta a obscenidade de um filho morrer antes dos pais, mas além desse "drama absoluto" existem outros, comezinhos - sentem uma ponta de orgulho ao ouvir-nos?; desejariam voltar se constassem na pauta?; dirão um dia que "era bom aprender com o velho"? A lenda familiar responderá um dia a essas perguntas. Quando a minha presença e a gentileza deles já não influenciarem as respostas:).
domingo, outubro 19, 2008
Um homem que sempre fala de aceitação:).
"Para o Cardeal Carlo M. Martini, a Igreja deve trabalhar no desenvolvimento de uma nova cultura da sexualidade e da relação, pois esta encíclica (Humanae Vitae) é, em parte, responsável por muitos já não tomarem a sério a Igreja como interlocutora ou como mestra. Aos jovens dos países ocidentais, já quase não lhes passa pela cabeça recorrer a representantes da Igreja para os consultar sobre questões de planificação familiar ou de sexualidade. Muitas pessoas afastaram-se da Igreja e a Igreja afastou-se dos seres humanos. Ficou muito prejudicada com esta atitude.
Este Cardeal deseja uma nova encíclica, na qual o magistério diga algo de positivo sobre a sexualidade. Ele próprio faz sugestões e aponta um método de diálogo para que, nesse documento, não sejam dadas respostas a perguntas que não existem.
No Dia das Missões, é importante ter presente a advertência de Jesus: não adianta percorrer mar e terra só para fazer prosélitos. É preciso, antes de mais, fazer da Igreja um lugar habitável para mulheres e homens, jovens e adultos, sejam eles hetero ou homossexuais. Toda a realidade humana é ambígua. A sexualidade também é terra de evangelização."
Frei Bento Domingues, Público, 08/10/19.
Este Cardeal deseja uma nova encíclica, na qual o magistério diga algo de positivo sobre a sexualidade. Ele próprio faz sugestões e aponta um método de diálogo para que, nesse documento, não sejam dadas respostas a perguntas que não existem.
No Dia das Missões, é importante ter presente a advertência de Jesus: não adianta percorrer mar e terra só para fazer prosélitos. É preciso, antes de mais, fazer da Igreja um lugar habitável para mulheres e homens, jovens e adultos, sejam eles hetero ou homossexuais. Toda a realidade humana é ambígua. A sexualidade também é terra de evangelização."
Frei Bento Domingues, Público, 08/10/19.
segunda-feira, outubro 13, 2008
Um homem rigoroso.
Morreu assim - envelope na mão, sorriso nos lábios, recém-arrancados aos dela. Que não chamou ninguém. Ou sequer as lágrimas, há muito previstas... O som do papel rasgado, em pano de fundo o zumbido da tecnologia médica, alheia ao aparecimento da linha isoeléctrica nos visores. O cartão de visita, amarelecido e privilegiado, ele nunca os usara. Dizia que os clientes mais jovens levavam os seus contactos nos telemóveis e os da velha guarda em guardanapos dos tascos favoritos de Matosinhos. A data; sublinhada - trinta anos atrás... E o texto: "Minha querida, é chegado o momento para fazer e gabar - com rigor inatacável! - uma profecia arriscada: serei feliz contigo para sempre."
Ela sorriu. Não seria o tempo que lhe restava, opulento ou anémico, a impedi-la de o dizer, que se danasse o rigor (mortis) - "Eu também, amor". E regressou aos lábios dele.
Ela sorriu. Não seria o tempo que lhe restava, opulento ou anémico, a impedi-la de o dizer, que se danasse o rigor (mortis) - "Eu também, amor". E regressou aos lábios dele.
sexta-feira, outubro 10, 2008
A politicazinha...
SEM CUJO CONCURSO Fernanda Câncio
Nos últimos 26 anos, em Portugal, os homossexuais passaram de criminosos (até 1982) a deficientes e doentes mentais (até 1999), para verem em 2001 reconhecida a igualdade na união de facto e em 2004 especificamente interdita, na Constituição, a sua discriminação. Poucas lutas pela igualdade na lei foram tão rápidas nas suas conquistas. Falta a última batalha, a do casamento. E quem se indigna com o facto de até há muito pouco tempo um homossexual ter sido na lei portuguesa um criminoso e um doente não pode ignorar que a proibição do casamento é resquício disso.Hoje vai-se votar o casamento das pessoas do mesmo sexo no parlamento. É um dia histórico. Mas o partido da maioria vai votar contra, alegando que não está a votar contra o casamento das pessoas do mesmo sexo mas contra "o oportunismo do BE e de Os Verdes". Entendamo-nos: é claro que BE e Verdes querem entalar o PS. É também claro que o PS correu a entalar-se. Se crê na sua justificação, o PS só podia abster- -se, dizendo: "Não podemos votar a favor por não nos considerarmos mandatados eleitoralmente para tal, mas pela mesma razão não podemos votar contra." Vota contra, porém, alegando "juízo de oportunidade", enquanto o presidente da bancada, Alberto Martins, assegura ser não só a favor do casamento das pessoas do mesmo sexo como ver nele uma questão de "direitos fundamentais". Martins e companhia votam, portanto, contra a Constituição. E contra todos os cidadãos cujo direito à igualdade é prejudicado pelo não acesso ao casamento. E esta hecatombe de princípios para quê? Para ensinar o BE e os Verdes a respeitar o PS, "sem cujo concurso dificilmente uma alteração deste tipo jamais se fará". É uma justificação tão boa como as outras, as do costume: "O assunto não é prioritário"; "O País tem tantos problemas, o mundo está numa crise económica, o que é que isso interessa?"; "Já não se pode ouvir falar disso"; "Não houve ainda debate suficiente". Lógico, não? Não houve debate suficiente mas já não se pode ouvir falar disso. Durante uma crise económica não se pode falar de direitos das pessoas (falar de direitos das pessoas deve prejudicar a resolução das crises económicas). E, o mais lógico de tudo: se estamos a falar de homossexuais, como é que isto pode ser prioritário? Pois é. O nada prioritário tema do casamento das pessoas do mesmo sexo está em debate na sociedade portuguesa desde as legislativas de 2005, foi focado nas presidenciais de 2006 e é periodicamente tema de colunas de opinião. Causa discussão acesa no partido da maioria. Mas não mereceu até hoje um único grande debate no horário nobre das TV portuguesas. Nem o Prós e Contras, do canal público, lhe pegou. Se não é prioritário não dá debate, se não é debatido não se torna prioritário. Podia ser a lógica da batata, mas é mesmo a da fobia. Tão fóbica e pouco lógica que, mesmo "sem ampla discussão", 42% dos portugueses - segundo sondagem da Católica - já são a favor do casamento das pessoas do mesmo sexo. Não é ainda a maioria, não; é só grande parte do eleitorado do PS. Oooops.
Jornalista - fernanda.m.cancio@dn.pt
Nos últimos 26 anos, em Portugal, os homossexuais passaram de criminosos (até 1982) a deficientes e doentes mentais (até 1999), para verem em 2001 reconhecida a igualdade na união de facto e em 2004 especificamente interdita, na Constituição, a sua discriminação. Poucas lutas pela igualdade na lei foram tão rápidas nas suas conquistas. Falta a última batalha, a do casamento. E quem se indigna com o facto de até há muito pouco tempo um homossexual ter sido na lei portuguesa um criminoso e um doente não pode ignorar que a proibição do casamento é resquício disso.Hoje vai-se votar o casamento das pessoas do mesmo sexo no parlamento. É um dia histórico. Mas o partido da maioria vai votar contra, alegando que não está a votar contra o casamento das pessoas do mesmo sexo mas contra "o oportunismo do BE e de Os Verdes". Entendamo-nos: é claro que BE e Verdes querem entalar o PS. É também claro que o PS correu a entalar-se. Se crê na sua justificação, o PS só podia abster- -se, dizendo: "Não podemos votar a favor por não nos considerarmos mandatados eleitoralmente para tal, mas pela mesma razão não podemos votar contra." Vota contra, porém, alegando "juízo de oportunidade", enquanto o presidente da bancada, Alberto Martins, assegura ser não só a favor do casamento das pessoas do mesmo sexo como ver nele uma questão de "direitos fundamentais". Martins e companhia votam, portanto, contra a Constituição. E contra todos os cidadãos cujo direito à igualdade é prejudicado pelo não acesso ao casamento. E esta hecatombe de princípios para quê? Para ensinar o BE e os Verdes a respeitar o PS, "sem cujo concurso dificilmente uma alteração deste tipo jamais se fará". É uma justificação tão boa como as outras, as do costume: "O assunto não é prioritário"; "O País tem tantos problemas, o mundo está numa crise económica, o que é que isso interessa?"; "Já não se pode ouvir falar disso"; "Não houve ainda debate suficiente". Lógico, não? Não houve debate suficiente mas já não se pode ouvir falar disso. Durante uma crise económica não se pode falar de direitos das pessoas (falar de direitos das pessoas deve prejudicar a resolução das crises económicas). E, o mais lógico de tudo: se estamos a falar de homossexuais, como é que isto pode ser prioritário? Pois é. O nada prioritário tema do casamento das pessoas do mesmo sexo está em debate na sociedade portuguesa desde as legislativas de 2005, foi focado nas presidenciais de 2006 e é periodicamente tema de colunas de opinião. Causa discussão acesa no partido da maioria. Mas não mereceu até hoje um único grande debate no horário nobre das TV portuguesas. Nem o Prós e Contras, do canal público, lhe pegou. Se não é prioritário não dá debate, se não é debatido não se torna prioritário. Podia ser a lógica da batata, mas é mesmo a da fobia. Tão fóbica e pouco lógica que, mesmo "sem ampla discussão", 42% dos portugueses - segundo sondagem da Católica - já são a favor do casamento das pessoas do mesmo sexo. Não é ainda a maioria, não; é só grande parte do eleitorado do PS. Oooops.
Jornalista - fernanda.m.cancio@dn.pt
sexta-feira, outubro 03, 2008
Melancolia.
A ausência de liberdade de voto na bancada do PS, no que ao casamento de homossexuais diz respeito, não me surpreendeu, o que é triste e preocupante. Admitamos que ela existia, qual seria o resultado prático? Uns votariam contra por convicção; outros por considerarem necessário um debate social prévio - posição que respeito - e o tema não constar do programa do partido na campanha eleitoral; outros por saberem que "lá em cima" esperavam que o fizessem; outros refugiar-se-iam na abstenção; e outros votariam a favor. Alguém acredita que o projecto de lei passaria? Assim, nem sequer por razões da famosa real politik a decisão se justifica. Quanto a "não andar a reboque de ninguém" é um argumento inacreditável, pressupõe não apoiar as boas - ou más! - ideias dos outros pela simples razão de virem..., dos outros! Estranho conceito de democracia:(.
Para alguém da minha geração, foi especialmente doloroso ver Alberto Martins como rosto e voz do processo, pela sua importância no imaginário de tantos universitários. Das catacumbas da minha lúcida cobardia, consegui às vezes imaginar-me capaz de pedir com ele a palavra, para escândalo horrorizado e fugitivo de um Presidente da República filho da mais despudorada batota eleitoral; mas recuava perante a simples evocação das consequências, era do contra dentro dos limites do meu comodismo burguês. Ficou a admiração grata pelo seu acto, pois não se tratou de simples gesto.
Por isso busco refúgio pobre na convicção de que, passados quarenta anos, este episódio lhe deixa um sabor amargo em boca e memória. E reforço outra, que norteou ao longo de uma vida a minha intervenção política e cívica - nunca poderia ser um homem de partido. Considero obscena a disciplina de voto em matérias como esta, a lealdade não pode viver à custa do suicídio da consciência.
Para alguém da minha geração, foi especialmente doloroso ver Alberto Martins como rosto e voz do processo, pela sua importância no imaginário de tantos universitários. Das catacumbas da minha lúcida cobardia, consegui às vezes imaginar-me capaz de pedir com ele a palavra, para escândalo horrorizado e fugitivo de um Presidente da República filho da mais despudorada batota eleitoral; mas recuava perante a simples evocação das consequências, era do contra dentro dos limites do meu comodismo burguês. Ficou a admiração grata pelo seu acto, pois não se tratou de simples gesto.
Por isso busco refúgio pobre na convicção de que, passados quarenta anos, este episódio lhe deixa um sabor amargo em boca e memória. E reforço outra, que norteou ao longo de uma vida a minha intervenção política e cívica - nunca poderia ser um homem de partido. Considero obscena a disciplina de voto em matérias como esta, a lealdade não pode viver à custa do suicídio da consciência.
quinta-feira, setembro 25, 2008
Outono.
Dois dias, dois velórios. Em ambos a dor era adulta e o alívio criança. Porque as pessoas viram os seus amores em longo sofrimento, sobreviventes de naufrágios próprios. E perguntaram vezes sem conta quando acabaria o obsceno esmaecer das tintas fortes da vida que os obrigava a procurar o outro na memória e não no destroço à frente deles, incapaz até de ordem disfarçada de súplica - "vai, não quero que me vejas e lembres assim". Apetece contrariar o louco sedento de glória nas areias de Alcácer-Quibir, e rosnar um exorcismo disfarçado de prece - morrer sim mas depressa! Para que nenhuma caricatura sombria estilhace as recordações dos que tiveram a surpreendente gentileza de me acompanhar.
sábado, setembro 13, 2008
Num bá a Susana dar-me um arraial de purrada, caragu!
Comentário iluminado ou epílogo definitivo à saga paixão/amor? Credo, gente, vocês são piores do que os revoltosos da Bounty! Mas sempre vos digo uma coisa - a paixão é sobrevalorizada (apesar do carinho que dedico às memórias dela...). Mas toda aquela adrenalina, pelo menos no meu caso, tem algo de nevoento e frenético que impede a cadência paulatina do erotismo e as surpresas que o outro - e não a sua imagem... - nos reserva. Por isso vos digo, nada na manga - como Fiorentino Ariza em O Amor nos Tempos de Cólera e o mais anónimo personagem do autocarro das oito da manhã, mergulhei na paixão, mesmo quando a pressenti funesta:). Mas os melhores momentos passei-os nas mãos da ternura erotizada, que nos transforma os olhos em fendas suaves, acolhedoras para o ondular de alguém; o cérebro em vidente preguiçoso, que antecipa riso e espasmo com o mesmo prazer; o sexo em fogo puro e duro..., mas que compreende o gozo da espera e acolhe, sem amuo, o "mais logo" sussurrado em voz rouca.
quarta-feira, setembro 03, 2008
O admirável mundo novo.
A imprensa fazendo eco de outra descoberta "biologizante" - certos perfis genéticos tornariam os "seus" homens mais capazes de se manterem numa relação afectiva. Já conhecia os estudos sobre roedores que deram origem a esta linha de investigação. (E chamo a atenção da Sociedade Protectora dos Animais para a cruel transformação dum D. Juan felpudo em obsessivo monogâmico com uma injecção:)!). No fim do texto, lá vem o reconhecimento da especificidade dos humanos, bichos de cultura. Mas o artigo recordou-me a famosa desculpa do libertino em As Ligações Perigosas - não consigo impedir-me (ou coisa que o valha). Esta vertigem biológica, a não existir cautela, poderá justificar uma ainda maior patologização e medicalização dos comportamentos. E permitir respostas como "desculpa, querida, eu não queria meter o pé, mas estes meus diabólicos genes:(".
Hum, Júlio, não deixa de ser tentador...
P.S. Não foi esquecimento, não - das mulheres, nem palavra, os homens são mais sensíveis à vasopressina. Mas cheira-me que o genótipo delas vai sair com tendência para a monogamia:).
Hum, Júlio, não deixa de ser tentador...
P.S. Não foi esquecimento, não - das mulheres, nem palavra, os homens são mais sensíveis à vasopressina. Mas cheira-me que o genótipo delas vai sair com tendência para a monogamia:).
quinta-feira, agosto 21, 2008
Das brumas da memória:). Sem hino...
Confesso que não me lembro muito bem das Pontes de Madison County. Das brumas saem as ditas, que achei belíssimas, o meu querido Clint, último e fiel depositário de um certo cinema e tipo de actor, o desempenho intocável de Meryl e a sua mão crispada na porta de um automóvel. O fulcro da questão é o habitual... - deixar ou não um amor tranquilo por uma paixão avassaladora. Em trinta anos de profissão ouvi descrever as duas decisões e os trajectos subsequentes. Há quem fique por cobardia, pelos outros, por considerar que a paixão não resistirá ao quotidiano e um dia se assemelhará ao afecto deixado para trás. Há quem descubra não estar talhado(a) para a vida de casal, embora tenha pressionado o outro para o (a) seguir. Muitos dos julgamentos de valor a que assistimos partem do pressuposto que viver a paixão à custa de tudo o resto é quase uma "obrigação ética". Não concordo e a História também não. Acho perfeitamente legítimo resistir às consequências práticas de uma paixão e aos 58 já percebi que somos muito injustos para o amor tranquilo, chegamos a confundi-lo com monotonia e desistência! No caso do filme, gostaria apenas de acrescentar algo - compreendo o artifício narrativo de deixar o caso "em testamento" aos filhos. Na vida real parece-me um erro. Se tivesse escolhido ficar no quadro familiar, preservá-lo-ia post mortem, não vejo a vantagem de comprometer a fantasia harmónica da ninhada. Pelo contrário, teria muito medo que sentissem a revelação como a prova de que, admitindo-o ou não, eu teria sido infeliz durante anos, desistindo da "verdadeira felicidade por causa deles". Não, teria sido uma decisão minha, ponto final. E seria felicidade? Não serão as Pontes mais um exemplo da tradição ocidental de considerar perfeitos apenas os amores interrompidos por morte ou distância? Acho que ficam pontas - ou pontes?:) - suficientes para uma boa cavaqueira!
quinta-feira, agosto 14, 2008
Sessão nocturna.
O carteiro de Pablo Neruda pela enésima vez:). O privilégio concedido a - e merecido por! - Philippe Noiret: juntar esta obra-prima ao Cinema Paradiso. A tristeza que a morte prematura do extraordinário actor que deu vida ao homem simples "infectado" pelo vírus da poesia me provocou. O desconforto que o filme alimenta - há quem viva com demasiada ligeireza a influência que teve... na vida de outros! E esqueça cartas prometidas, pensamentos jurados, gratidão devida. Pode acontecer a todos, mas não é raro encontrar tal "doença" nos que falam muito do e para o povo, mas ligam pouco às pessoas de carne e osso.
quarta-feira, agosto 13, 2008
Balanço provisório, que as férias ainda não terminaram!
O balanço da Sardenha é muito positivo. E contudo o primeiro dia fez-me temer o pior, os aeroportos em Agosto batem-se ombro a ombro com a Santa Inquisição! As duas horas e meia de espera em Fiumicino transformaram-se em cinco e vocês conhecem os terminais de voos internos... - para além da multidão enlatada, a "banda sonora" de anúncios era enlouquecedora, resisti pondo o IPod no máximo e pedindo perdão a Mozart, Neil Young, Callas, REM e outros amigos íntimos:). Depois de aterrar em Olbia esperámos umas míseras duas horas para levantar o carro! Quando meti a chave na porta do quarto já ia à espera de beliches, velas de cabeceira, bolor no mini-bar, latrina ao ar livre e quatro irlandeses bebidos e estentóreos na varanda:(. As baixas expectativas trazem pela mão as boas surpresas, a partir daí tudo melhorou e o único momento stressante foi o passado numa farmácia a tentar convencer o "patrão da lancha" a dar-me um antibiótico para o Gaspar sem receita. Valeu-me o Octávio Cunha, que me ia dando dicas para a minha miserável e untuosa argumentação pelo telemóvel. Foi bom, mas chegar a Cantelães, hum... Crianças e cães correm pelo jardim e o tempo melhorou o suficiente para tornar a piscina tentadora. Mas cá dentro, clandestina e psicopata, uma parte de mim segreda-me que do óptimo passaria à perfeição se declarasse avariado o sinistro Disney Channel:).
terça-feira, agosto 05, 2008
Ponto da situação.
Até agora, a Sardenha bate a Grécia aos pontos - mais perto, areia em vez de pedregulhos na praia, menos confusão e um relvado quase até ao mar! A viagem foi atribulada, cinco horas de suplício em Roma, mais duas para levantar o carro, menos mal que a bagagem não seguiu para alguma ilha do Pacífico... A enseada não é poiso de celebridades ou papparazzi e há no hotel um aroma a empresa familiar muito agradável. Dos "habitués", os meus favoritos são dois inglesinhos apaixonados que, solenemente, emborcam uma garrafa antes de irem para a mesa e aí chegados..., pedem a carta de vinhos!:). Quanto a mim, decretei não entender uma palavra de italiano e só falo inglês. Resultado da maroteira - já fui cumprimentado no restaurante pelos meus progressos na língua de Petrarca e da sua Laura. Até depois, maralhal.
quinta-feira, julho 31, 2008
Ai as entrevistas pelo telefone...:).
Antes de ser trucidado, passo a corrigir um lapso freudiano de uma gentil jornalista do Portugal Diário: eu citei alguém que afirmou estar o principal órgão sexual entre as orelhas, não entre as pernas:))))).
quarta-feira, julho 30, 2008
E ainda não começaram!
Pequim 2008: China vai censurar Internet utilizada pelos media estrangeiros
30.07.2008 - 10h26 Lusa
A China vai censurar a Internet utilizada pelos media estrangeiros durante os Jogos Olímpicos de Pequim, indicou hoje um responsável do comité de organização, recuando numa promessa de garantir liberdade total aos media durante o evento."Durante os Jogos Olímpicos, vamos fornecer um acesso à Internet suficiente para os jornalistas", indicou Sun Weide, porta-voz do comité de organização dos Jogos Olímpicos. A mesma fonte confirmou que os jornalistas não terão acesso a páginas ou sites contendo informações sobre o movimento espiritual Falungong, que é proibido na China. De acordo com a mesma fonte, que não adiantou pormenores, haverá outros sites que não estarão acessíveis à imprensa. Os jornalistas que trabalham no principal centro reservado à imprensa durante os Jogos Olímpicos queixaram-se de não poder aceder aos sites da organização Amnistia Internacional, da BBC, da rádio alemã Deutsche Welle, bem como dos jornais de Hong-Kong "Apple Daily", e de Taiwan, "Liberty Times". "A nossa promessa era que os jornalistas pudessem dispor de Internet para o seu trabalho durante os Jogos Olímpicos. E nós concedemos acesso suficiente para isso", acrescentou Sun. No entanto, o comité de organização dos Jogos Olímpicos, sob pressão do Comité Olímpico Internacional (COI), prometeu um acesso completo à Internet para os milhares de jornalistas na China durante o evento, entre 8 e 24 de Agosto. Proibido desde 1999 por Pequim, o movimento Falungong reivindica 100 milhões de seguidores, 70 milhões dos quais na China.
P.S. Talvez faça pensar os que defendem que o Desporto nada tem a ver com Política. Só se for com a real politik...
30.07.2008 - 10h26 Lusa
A China vai censurar a Internet utilizada pelos media estrangeiros durante os Jogos Olímpicos de Pequim, indicou hoje um responsável do comité de organização, recuando numa promessa de garantir liberdade total aos media durante o evento."Durante os Jogos Olímpicos, vamos fornecer um acesso à Internet suficiente para os jornalistas", indicou Sun Weide, porta-voz do comité de organização dos Jogos Olímpicos. A mesma fonte confirmou que os jornalistas não terão acesso a páginas ou sites contendo informações sobre o movimento espiritual Falungong, que é proibido na China. De acordo com a mesma fonte, que não adiantou pormenores, haverá outros sites que não estarão acessíveis à imprensa. Os jornalistas que trabalham no principal centro reservado à imprensa durante os Jogos Olímpicos queixaram-se de não poder aceder aos sites da organização Amnistia Internacional, da BBC, da rádio alemã Deutsche Welle, bem como dos jornais de Hong-Kong "Apple Daily", e de Taiwan, "Liberty Times". "A nossa promessa era que os jornalistas pudessem dispor de Internet para o seu trabalho durante os Jogos Olímpicos. E nós concedemos acesso suficiente para isso", acrescentou Sun. No entanto, o comité de organização dos Jogos Olímpicos, sob pressão do Comité Olímpico Internacional (COI), prometeu um acesso completo à Internet para os milhares de jornalistas na China durante o evento, entre 8 e 24 de Agosto. Proibido desde 1999 por Pequim, o movimento Falungong reivindica 100 milhões de seguidores, 70 milhões dos quais na China.
P.S. Talvez faça pensar os que defendem que o Desporto nada tem a ver com Política. Só se for com a real politik...
sábado, julho 26, 2008
Generalada:).
jfr,
Tem razão, diversifiquei de tal modo a minha vida profissional que acho estar a coberto de "ressacas".
ni,
A escrita não arranca. Como sabe, não me considero um escritor, mas se pelo menos as palavras não dançam, prefiro sentar-me a ver as cadelas brincando no relvado de Cantelães ao som de Van Morrison.
Jorge,
Cada vez mais as minhas viagens são interiores. Nunca pior, ao preço que a vida está...
Manuel e Roc,
Tive de aceitar penalização...
Silent wings,
Era a brincar, não observei aumento sensível nos níveis habituais de preguiça.
Olhar,
Prefiro o meu tinto ao fds.
Thora,
Apesar de penalizado financeiramente, dou-lhe razão, tenho perfeita consciência de pertencer a uma elite favorecida, mas olhe que não só em comparação com os operários, meu velho, a classe média vai-se esboroando implacavelmente.
Filó,
Exactamente, e não falo dos alunos...
Aquiles,
Um mero jantarzito no Godinho...
Lobices,
O abraço solidário de sempre.
Ti,
Nada pode repetir o gozo de O Sexo dos Anjos.
Guilherme,
Esses recibos não têm a cor da esperança, mas da vergonha de uma sociedade.
Laura,
Sete meses não é assim tão pouco tempo...
Tiago,
Não se preocupe, a Constança Paul é uma óptima professora! Quanto a mim, a rotina era a seguinte: 200 alunos inscritos, 170 só querendo passar no exame e trinta com quem me dava um gozo do caraças "alucinar" nas aulas, embora Sociologia Médica devesse ser ensinada no último ano do Curso.
Anfitrite,
O professor Mário Andrea é uma delícia. Quanto à compra a que se refere, devo ser honesto: sempre distraído, nem soube de tal possibilidade quando existiu, pelo que não posso garantir que não tivesse aproveitado.
Tem razão, diversifiquei de tal modo a minha vida profissional que acho estar a coberto de "ressacas".
ni,
A escrita não arranca. Como sabe, não me considero um escritor, mas se pelo menos as palavras não dançam, prefiro sentar-me a ver as cadelas brincando no relvado de Cantelães ao som de Van Morrison.
Jorge,
Cada vez mais as minhas viagens são interiores. Nunca pior, ao preço que a vida está...
Manuel e Roc,
Tive de aceitar penalização...
Silent wings,
Era a brincar, não observei aumento sensível nos níveis habituais de preguiça.
Olhar,
Prefiro o meu tinto ao fds.
Thora,
Apesar de penalizado financeiramente, dou-lhe razão, tenho perfeita consciência de pertencer a uma elite favorecida, mas olhe que não só em comparação com os operários, meu velho, a classe média vai-se esboroando implacavelmente.
Filó,
Exactamente, e não falo dos alunos...
Aquiles,
Um mero jantarzito no Godinho...
Lobices,
O abraço solidário de sempre.
Ti,
Nada pode repetir o gozo de O Sexo dos Anjos.
Guilherme,
Esses recibos não têm a cor da esperança, mas da vergonha de uma sociedade.
Laura,
Sete meses não é assim tão pouco tempo...
Tiago,
Não se preocupe, a Constança Paul é uma óptima professora! Quanto a mim, a rotina era a seguinte: 200 alunos inscritos, 170 só querendo passar no exame e trinta com quem me dava um gozo do caraças "alucinar" nas aulas, embora Sociologia Médica devesse ser ensinada no último ano do Curso.
Anfitrite,
O professor Mário Andrea é uma delícia. Quanto à compra a que se refere, devo ser honesto: sempre distraído, nem soube de tal possibilidade quando existiu, pelo que não posso garantir que não tivesse aproveitado.
quinta-feira, julho 17, 2008
Comunicado.
Informo a nação murcónica da chegada de uma carta da CGA que confirma a minha passagem à reforma. De imediato senti uma quebra imensa de energia vital, pelo que solicito aos visitantes do blog a devida compreensão por eventuais erros, omissões e outros sinais de declínio pós-traumático. Snif:(.
domingo, julho 13, 2008
Long may he run!
Um concerto esplendoroso de Neil Young, coroado com uma versão alucinante de A Day in the Life dos Beatles!:). Este homem acompanha-me há quarenta anos e eu faltei a um encontro em Paredes de Coura. Paguei essa dívida e regresso ao Porto com outra maior - duas horas enternecidas por tanta energia eléctrica e doçura unplugged. E um velho verso irrompe nos meus neurónios, ainda a abarrotar de adrenalina - rock'n'roll will never die.
sexta-feira, julho 11, 2008
Sexta à noite.
Maria,
Comecei a preparar o Curso para Serralves em Outubro. E à medida que tirava notas, pressentia a ressurreição do teu sofá preferido. O sorriso irónico - "Mas meu querido, a reforma ainda não chegou e já assumes outros compromissos? Para onde fugiram o gozar a vida e a escrita preguiçosa?". Conheces tão bem a resposta, querida. Reformado ou não, sou um professor. E Serralves é uma oportunidade única... de aprender:). Sabes que cheguei à História através da Sexualidade, logo, as lacunas são enormes. Basta que um(a) profissional esteja na assistência e poderei preencher algumas, aos 58 já digo "não sei" com uma tranquilidade a meio-caminho entre a sageza e a psicopatia. E depois, é tão bom reler a Ilíada! E angustiante... Temos um novo IPhone e as pessoas fazem bicha para o adquirir, a santificada Ingrid confessa que no lugar do Zidane também teria cabeceado o defesa italiano, a Igreja Católica declara que a ordenação de mulheres para o bispado dificulta o diálogo com os Anglicanos, etc, etc... Perdemos ambição pelo caminho. Desconfio que se cá voltasse, Homero escreveria discursos para autarcas em campanha, salientando as vantagens de mais uma rotunda:(. A gargalhada - "Júlio, tu não existes." E não será em parte por tua culpa, querida?
Comecei a preparar o Curso para Serralves em Outubro. E à medida que tirava notas, pressentia a ressurreição do teu sofá preferido. O sorriso irónico - "Mas meu querido, a reforma ainda não chegou e já assumes outros compromissos? Para onde fugiram o gozar a vida e a escrita preguiçosa?". Conheces tão bem a resposta, querida. Reformado ou não, sou um professor. E Serralves é uma oportunidade única... de aprender:). Sabes que cheguei à História através da Sexualidade, logo, as lacunas são enormes. Basta que um(a) profissional esteja na assistência e poderei preencher algumas, aos 58 já digo "não sei" com uma tranquilidade a meio-caminho entre a sageza e a psicopatia. E depois, é tão bom reler a Ilíada! E angustiante... Temos um novo IPhone e as pessoas fazem bicha para o adquirir, a santificada Ingrid confessa que no lugar do Zidane também teria cabeceado o defesa italiano, a Igreja Católica declara que a ordenação de mulheres para o bispado dificulta o diálogo com os Anglicanos, etc, etc... Perdemos ambição pelo caminho. Desconfio que se cá voltasse, Homero escreveria discursos para autarcas em campanha, salientando as vantagens de mais uma rotunda:(. A gargalhada - "Júlio, tu não existes." E não será em parte por tua culpa, querida?
terça-feira, julho 08, 2008
Pronto, tudo explicado!:).
Amor de paixão acaba depois de um ano, diz estudo
Um estudo realizado na Universidade de Pavia, na Itália, aponta que o amor de paixão dura pouco mais que um ano. Os pesquisadores descobriram que uma substância cerebral chamada de neurotrofina é a responsável pelas mudanças no comportamento dos casais, segundo a BBC.
Com a realização de estudos sobre relacionamentos longos e curtos, constatou-se que os níveis da proteína, responsável pelas primeiras exaltações do sentimento, como a euforia e a dependência que surgem logo no início de uma relação, baixam depois de certo tempo. Foram analisados 58 homens e mulheres entre 18 e 31 anos, nos quais verificou-se as alterações dos níveis dessa substância cerebral.
Os cientistas observaram indivíduos que haviam recém-iniciado um namoro - nos quais os níveis da proteína estavam elevados. Um ano depois, nas 39 pessoas que ainda estavam juntas, a quantidade da substância do cérebro havia diminuído.
Para um dos autores do estudo, Pierluigi Politi, a descoberta não indica que as pessoas deixam de estar apaixonadas, mas que o sentimento se tornou um tanto "estável". "O amor romântico parece ter acabado após algum tempo", declarou afirmando que novos estudos sobre o tema ainda serão realizados.
Um estudo realizado na Universidade de Pavia, na Itália, aponta que o amor de paixão dura pouco mais que um ano. Os pesquisadores descobriram que uma substância cerebral chamada de neurotrofina é a responsável pelas mudanças no comportamento dos casais, segundo a BBC.
Com a realização de estudos sobre relacionamentos longos e curtos, constatou-se que os níveis da proteína, responsável pelas primeiras exaltações do sentimento, como a euforia e a dependência que surgem logo no início de uma relação, baixam depois de certo tempo. Foram analisados 58 homens e mulheres entre 18 e 31 anos, nos quais verificou-se as alterações dos níveis dessa substância cerebral.
Os cientistas observaram indivíduos que haviam recém-iniciado um namoro - nos quais os níveis da proteína estavam elevados. Um ano depois, nas 39 pessoas que ainda estavam juntas, a quantidade da substância do cérebro havia diminuído.
Para um dos autores do estudo, Pierluigi Politi, a descoberta não indica que as pessoas deixam de estar apaixonadas, mas que o sentimento se tornou um tanto "estável". "O amor romântico parece ter acabado após algum tempo", declarou afirmando que novos estudos sobre o tema ainda serão realizados.
sexta-feira, julho 04, 2008
Bom fds!
A Andorinha citava a opinião de MFL sobre o casamento. Estou a salvo de acusação de tiro ao alvo, defendi neste espaço a sua eleição para credibilizar a política portuguesa - sendo zurzido por alguns:) - e gostosamente revelei que nos ligam laços quase familiares. A visão procriativa do casamento finou-se com a "invenção" e generalização do casamento por amor. Claro que a ganapada continua a ter direito de cidade, mas apenas se desejada, a instituição passou a abrigar um projecto de vida e felicidade em comum que pode não a contemplar de início ou dela desistir. Na minha opinião, a tendência é irreversível, pois aos fundamentos do casamento juntaram-se variadas razões que contribuem para a baixa de natalidade. A opinião é, por isso, legítima, e contudo já perdeu contacto com a realidade sociológica. O casamento gay, no quadro actual de privilégio da dimensão afectiva, será apenas combatido por razões morais, travestidas ou não. Conscientemente ou não...
sábado, junho 28, 2008
O costume...
Ontem fui recebido como amigo e conterrâneo na E/B de Vieira do Minho. Tão importante como a conversa mantida com a assistência foi ouvir a descrição das inicitiativas levadas a cabo por técnicos, professores, pais e alunos. Admiráveis, mas - como de costume... - dependentes do suor, carolice e solidariedade das pessoas. Não pode ser:(. O Estado continua a refugiar-se em directivas vagas e declarações redondas. É preciso apoiar, estruturar, enquadrar. De modo a que eu não ouça frase angustiada - "até 2009 está assegurado, depois...". Porque alguém se vai embora, as condições objectivas deixam de existir, o cansaço derruba quem trabalha fora de horas, etc... E pensar que a lei de Educação Sexual é de 1984!
quinta-feira, junho 26, 2008
Muito adequado ao mundo em que vivemos.
"Os que sobrevivem neste ofício são os que têm prioridades e não princípios."
Carlos Ruiz Zafón - O Jogo do Anjo.
Carlos Ruiz Zafón - O Jogo do Anjo.
domingo, junho 22, 2008
Entre buzinadelas e morteiros.
Barcelona em festa! Merecida, Espanha jogou bastante melhor do que uma calculista Itália. E eu partilho da alegria, sempre me senti em casa neste país. Mas valha a verdade que em particular na Galiza e na Catalunha, mas hoje não é noite para dar largas à minha costela autonómica:).
quarta-feira, junho 18, 2008
Em território "daliniano".
Não é raro os meus alunos sublinharem a frequência de slides de Dalí nas aulas. É verdade. E no entanto nunca "atravesso" as obras, o personagem por trás delas é-me antipático, na sua obsessão com a mais longa obra a que se dedicou - a própria imagem. Cadaquès, Port Lligat, Creus, o pano de fundo de muitos quadros está ali, na costa retalhada com fúria, que se abre para um mar plácido. Não é o caso dos meus favoritos - A Tentação de Santo António e A Persistência da Memória. No primeiro, imagina-se mal como fé e cruz poderão proteger a virtude de um simples homem contra elefantes aracnídeos que se preparam para o soterrar por baixo de prazeres de carne e espírito; no segundo, os relógios, a quem entregámos o privilégio de substituir Estações, Sol e Lua na marcação da cadência do tempo, "escorrem", flácidos, para o chão. A memória não é do reino deles...
sábado, junho 14, 2008
Sénanque.
A Abadia ainda não estava rodeada por aquela espantosa mancha azul de lavanda:(. Mas na missa do meio-dia respirava-se uma paz ecuménica, que me trouxe a atmosfera do velho colégio João de Deus. No fim, os monges correram a igreja cumprimentando as pessoas com um sorriso afectuoso na mão e nada mais, perguntar é muitas vezes o primeiro passo para dividir. Eu, que nunca o faço, respondi ao apelo do livro de mensagens e escrevi o óbvio - obrigado pela serenidade. Vim-me embora a pensar que a vertigem do poder temporal foi uma armadilha terrível para certa Igreja, que nunca se libertou da sua nostalgia. Erro crasso, as palavras e vidas destes homens lembram-nos bem melhor que o sonho de Cristo era possível.
segunda-feira, junho 09, 2008
À sombra dos Alpilles.
Mesmo carrancudo, o céu da Provença continua a derramar uma luz inigualável. Pego no jornal e leio que o Presidente da Câmara de Paris, Bertrand Delanoë, preconiza um aumento dos impostos à Total, cujos dirigentes se enchem de dinheiro enquanto a crise se agrava. Sugere uma fiscalidade "mais agressiva" para as grandes companhias. Parece impossível, ninguém lhe explicou as quase inexistentes margens de lucro delas?:(. Esta mania de fazer os ricos participarem nos custos da crise... Ainda me lembro de um slogan arrepiante!: eles que a pagassem. Há gente capaz das ideias mais absurdas, postas na prática assassinariam a ordem social como a conhecemos - lógica: bancos e grandes empresas necessitam de sossego para produzirem riqueza, posteriormente distribuída com justiça por todos nós. Quem duvida disto é um cínico sem esperança ou perdão!
quinta-feira, junho 05, 2008
Entre o hemiciclo e a rua.
Em Abril, Fora-de-Lei escreveu que a eleição de Manuela Ferreira Leite convinha ao PM, porque seria quase uma "garantia" da concentração do voto útil de esquerda no PS. O argumento era válido e recordei-o hoje, enquanto assistia ao debate sobre a moção de censura apresentada pelo CDS/PP. Curiosamente, com a sensação de que a cabeça do Engenheiro Sócrates se debruçava mais sobre as 200.000 pessoas que desaguaram nas ruas de Lisboa. Não basta dizer que os números não são preocupantes, apenas as ideias, ou catalogar de "conservadoras" outras esquerdas. Penso que os portugueses, na sua esmagadora maioria, já estão para lá do voto útil. Se este Governo for incapaz de - ao menos... - diluir a imagem de cumplicidade com o evidente agravamento do fosso entre classes à custa da média, o voto de protesto será inevitável. De protesto e pressão quanto a coligações ou simples entendimentos pontuais!, um bloco central em 2009 só engrossaria as manifestações...
terça-feira, junho 03, 2008
Montalegre.
No fim-de-semana fui ao Congresso de Clínica Geral em Montalegre. Mesa deliciosamente assassina, braços abertos, colegas de curso, jovens do secundário com risos francos. Não me arrependi por chegar a Cantelães com 24 horas de atraso. A Clínica Geral é a fiel depositária de uma longa tradição de Medicina de cabeceira, holística, artesanal, quase fraterna. E reconhece a extraordinária importância das super-especialidades sem cair na esparrela que trazem à arreata, fazer de nós simples técnicos de saúde, eruditos no que a determinados órgãos diz respeito, tantas vezes a anos-luz de distância da humanidade para lá deles - palpáveis, científicos, a preto e branco. Mortíferos mas ingénuos...
quinta-feira, maio 29, 2008
A decisão.
Maria,
Outra enxaqueca. Sabes como as estranho, durante a vida coleccionei maleitas sem uma dor de cabeça. O hipocondríaco franze o sobrolho, o psi aponta a coincidência - decidi hoje voltar a escrever. Em Julho; em Cantelães. O pensamento já chegaria para me angustiar, achei sinceramente que não o voltaria a fazer. Acontece que me sinto tentado a escrever-nos o avesso - um amor à prova de bala, distância e morte. E portanto insinuar, através da ficção, que não amámos bem no real. Será que a cabeça me dói para poupar o coração?
Outra enxaqueca. Sabes como as estranho, durante a vida coleccionei maleitas sem uma dor de cabeça. O hipocondríaco franze o sobrolho, o psi aponta a coincidência - decidi hoje voltar a escrever. Em Julho; em Cantelães. O pensamento já chegaria para me angustiar, achei sinceramente que não o voltaria a fazer. Acontece que me sinto tentado a escrever-nos o avesso - um amor à prova de bala, distância e morte. E portanto insinuar, através da ficção, que não amámos bem no real. Será que a cabeça me dói para poupar o coração?
domingo, maio 25, 2008
Domingo à noite.
Fim-de-semana "cosy" no refúgio dos Sobrinho Simões em Âncora. A longa amizade cúmplice. As saudades das proles respectivas afogadas em recordações sorridentes, quarenta anos depois falamos dos filhos deles, de netos! Expedição punitiva às tapas da Casa da Abuela na outra margem do rio, com os inevitáveis protestos da colite. Aceitei fazer no Outono um Curso sobre Sexualidade e Civilização Ocidental em Serralves. Lá se vai o descanso da reforma... E contudo, é para mim uma estratégia imperativa de sobrevivência - preciso de meditar o sexo como produto cultural através de espaço e tempo, para não enjoar o exibicionismo acéfalo que hoje nos enfiam goela abaixo.
quarta-feira, maio 21, 2008
domingo, maio 18, 2008
A aculturação da anatomia:).
Olhar para peito de homem não é crime, diz Justiça britânica
Tribunal disse que peito de homem não constiui 'parte privada'
Olhar para o peito de um homem é perfeitamente legal, mas não para o de uma mulher, segundo uma decisão do Tribunal de Apelação britânico nesta semana sobre o que constitui voyeurismo.
Segundo o julgamento, apenas os seios de uma mulher podem ser considerados "partes privadas".
O tribunal fez a distinção ao reverter a condenação por voyeurismo de um homem que filmou secretamente um outro homem enquanto ele tomava banho, de calção, em uma piscina.
Kevin Bassett, de 44 anos, havia sido condenado a ficar 18 meses sob supervisão, mas apelou da decisão dizendo que o suposto crime não poderia se enquadrar em nenhuma categoria prevista pelo 2003 Sexual Offences Act.
A legislação diz que partes privadas, como peitos ("breasts", em inglês), devem ser expostas durante um ato de voyeurismo.
Na decisão desta quinta-feira, o Tribunal de Apelação disse que a intenção dos legisladores britânicos, ao aprovar a lei, era que a expressão se referisse apenas aos seios de uma mulher e não ao peito de um homem.
Tribunal disse que peito de homem não constiui 'parte privada'
Olhar para o peito de um homem é perfeitamente legal, mas não para o de uma mulher, segundo uma decisão do Tribunal de Apelação britânico nesta semana sobre o que constitui voyeurismo.
Segundo o julgamento, apenas os seios de uma mulher podem ser considerados "partes privadas".
O tribunal fez a distinção ao reverter a condenação por voyeurismo de um homem que filmou secretamente um outro homem enquanto ele tomava banho, de calção, em uma piscina.
Kevin Bassett, de 44 anos, havia sido condenado a ficar 18 meses sob supervisão, mas apelou da decisão dizendo que o suposto crime não poderia se enquadrar em nenhuma categoria prevista pelo 2003 Sexual Offences Act.
A legislação diz que partes privadas, como peitos ("breasts", em inglês), devem ser expostas durante um ato de voyeurismo.
Na decisão desta quinta-feira, o Tribunal de Apelação disse que a intenção dos legisladores britânicos, ao aprovar a lei, era que a expressão se referisse apenas aos seios de uma mulher e não ao peito de um homem.
quarta-feira, maio 14, 2008
Também eu!
Violência Doméstica
APAV ‘perplexa’ com declarações do bastonário dos Advogados
A presidente da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) disse hoje ter ficado «perplexa» com as declarações do bastonário da Ordem dos Advogados, que terça-feira defendeu que a violência doméstica não devia ser crime público
O bastonário Marinho e Pinto disse terça-feira no parlamento que a violência doméstica não deveria ser crime público, porque inviabiliza a desistência do processo, caso a vítima o deseje, notícia hoje a imprensa.
«Lamento que Marinho e Pinto, enquanto bastonário da Ordem dos Advogados, manifeste esta opinião» , disse hoje a presidente da APAV, Joana Marques Vidal, adiantando ter ficado «perplexa» com as declarações.
A presidente da APAV referiu que o fenómeno da violência doméstica é «extremamente grave e que o número de casos tem aumentado», acrescentando que a categorização destes actos como crime público está «sedimentado na sociedade» e que «quase de não vale a pena voltar a discutir o assunto».
«O crime público (para os casos de violência doméstica) está interiorizado na comunidade e é sem dúvida um instrumento muito importante para que haja uma noção clara na comunidade de como aqueles comportamentos, atitudes e agressões são inadmissíveis» , frisou.
Para a presidente da APAV «é fundamental que (o crime nos casos de violência doméstica) continue e que seja público».
Joana Marques Vidal esclareceu também que o novo Código do Processo Penal - em vigor desde Setembro último - permite a suspensão provisória do processo a pedido da vítima.
«No caso de as vítimas se arrependerem há mecanismos (na lei) que permitem alguma margem de manobra» para que o processo não chegue a julgamento, explicou.
A responsável pela APAV afirmou, sem conseguir quantificar, existirem vários casos de vítimas de agressões que evitam fazer queixa às autoridades e outras que, em determinado momento, as querem retirar.
Lusa / SOL
P.S. Tristemente "deliciosas" são as expressões encontradas pelo Senhor Bastonário para descrever as leis que, como é óbvio, se aplicam aos dois sexos (e a percentagem de queixas por parte de homens já não é negligenciável): "há nelas uma espécie de feminismo impenitente...; a vítima não quer justiça - quer vingança".
Quase apetece falar de machismo impenitente:).
APAV ‘perplexa’ com declarações do bastonário dos Advogados
A presidente da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) disse hoje ter ficado «perplexa» com as declarações do bastonário da Ordem dos Advogados, que terça-feira defendeu que a violência doméstica não devia ser crime público
O bastonário Marinho e Pinto disse terça-feira no parlamento que a violência doméstica não deveria ser crime público, porque inviabiliza a desistência do processo, caso a vítima o deseje, notícia hoje a imprensa.
«Lamento que Marinho e Pinto, enquanto bastonário da Ordem dos Advogados, manifeste esta opinião» , disse hoje a presidente da APAV, Joana Marques Vidal, adiantando ter ficado «perplexa» com as declarações.
A presidente da APAV referiu que o fenómeno da violência doméstica é «extremamente grave e que o número de casos tem aumentado», acrescentando que a categorização destes actos como crime público está «sedimentado na sociedade» e que «quase de não vale a pena voltar a discutir o assunto».
«O crime público (para os casos de violência doméstica) está interiorizado na comunidade e é sem dúvida um instrumento muito importante para que haja uma noção clara na comunidade de como aqueles comportamentos, atitudes e agressões são inadmissíveis» , frisou.
Para a presidente da APAV «é fundamental que (o crime nos casos de violência doméstica) continue e que seja público».
Joana Marques Vidal esclareceu também que o novo Código do Processo Penal - em vigor desde Setembro último - permite a suspensão provisória do processo a pedido da vítima.
«No caso de as vítimas se arrependerem há mecanismos (na lei) que permitem alguma margem de manobra» para que o processo não chegue a julgamento, explicou.
A responsável pela APAV afirmou, sem conseguir quantificar, existirem vários casos de vítimas de agressões que evitam fazer queixa às autoridades e outras que, em determinado momento, as querem retirar.
Lusa / SOL
P.S. Tristemente "deliciosas" são as expressões encontradas pelo Senhor Bastonário para descrever as leis que, como é óbvio, se aplicam aos dois sexos (e a percentagem de queixas por parte de homens já não é negligenciável): "há nelas uma espécie de feminismo impenitente...; a vítima não quer justiça - quer vingança".
Quase apetece falar de machismo impenitente:).
sexta-feira, maio 09, 2008
Um país de analfabetos malévolos!
Leio, ouço e pasmo - um país inteiro afirmando que o Primeiro-Ministro cometeu uma gaffe no debate parlamentar de ontem. De acordo com essa versão - ingénua, ignorante ou malévola... -, o Engenheiro Sócrates teria afirmado existirem razões para censurar o Governo, mas não as apontadas pelo PCP, assim traindo e revelando a verdade, aferrolhada nos seus neurónios e escondida do povo português. Lamentável interpretação:(. Os factos são outros, e admiráveis! Fontes geralmente bem informadas asseguraram-me que o Primeiro-Ministro já entregou ao Dr.Alberto Martins a lista das razões que justificam uma moção de censura adulta, eficaz, DE-FI-NI-TI-VA. O grupo parlamentar do PS apresentará a sua própria moção de censura, que será aprovada, se necessário, apenas com os votos do PS, atendendo à falta de honestidade intelectual de toda a Oposição, capaz de votar contra por mero despeito perante tal prova de desapego ao poder. O Presidente da República tentará demover o Primeiro-Ministro, com o tacto que tão bons resultados obteve no recente diálogo com o Dr. Alberto João Jardim, mas falhará. Serão convocadas eleições e o povo português, sábio e apreciador da auto-crítica, dará ao PS um resultado inovador: uma super-maioria absoluta! Existe até a possibilidade de a Assembleia da República ser constituída apenas por deputados do PS e pelo Dr.Francisco Louçã, este por intercessão do próprio Primeiro-Ministro.
terça-feira, maio 06, 2008
Chefiar ou liderar?
Alguém me criticava hoje por chefiar de forma demasiado "protectora". Por mero acaso, liderei a minha primeira equipa muito cedo, com 33/34. E nunca consegui mudar de estilo - bato-me até à exaustão por quem junta a lealdade à competência. Valeu a pena, as desilusões jamais chegaram aos calcanhares de experiências de solidariedade reconfortantes. Há mais de vinte anos, um velho amigo interrogava, maroto, um dos meus estagiários - "e está satisfeito por trabalhar com ele?". "Estou", respondeu o recém-dr, "nunca nos exige mais do que a si próprio". Foi o melhor elogio que já recebi, mesmo que se tratasse de piedosa ou investidora mentira destinada aos meus ouvidos:).
domingo, maio 04, 2008
Dia da Mãe.
Enquanto ela teve uma vida, todos os dias eram seus - porque minha Mãe era a coluna vertebral da família, o seu farol e timoneiro.
P.S. Eu sei que o Benfica não merece ficar nos três primeiros e ponto final. Mas ofereço alvíssaras a quem me explicar por que razão é Di Maria suplente de Nuno Gomes; Maxi Rodriguez joga noventa minutos e Nuno Assis dez; Makukula passou à clandestinidade; o treinador adianta como justificação, para além do clássico "a bola não quis entrar", o facto de "o adversário estar mais tranquilo por ter assegurado a manutenção". Nem no mês de Maria teremos direito ao milagre de um pingo de lógica?:).
P.S. Eu sei que o Benfica não merece ficar nos três primeiros e ponto final. Mas ofereço alvíssaras a quem me explicar por que razão é Di Maria suplente de Nuno Gomes; Maxi Rodriguez joga noventa minutos e Nuno Assis dez; Makukula passou à clandestinidade; o treinador adianta como justificação, para além do clássico "a bola não quis entrar", o facto de "o adversário estar mais tranquilo por ter assegurado a manutenção". Nem no mês de Maria teremos direito ao milagre de um pingo de lógica?:).
quarta-feira, abril 30, 2008
Cantelães, here I come!
Toledo teve o efeito habitual sobre mim - desfez as pernas e arejou a alma. Quanto aos moinhos do Quijote, abrigavam os festejos de comunhões. Já a Casa de Dulcineia, em Toboso, perdia-se no meio de romaria a abarrotar de azeitonas, "embutidos" e machos latinos rondando as belezas da terra. Acima de tudo, que Deus abençoe o polícia que me mandou em paz, apesar do excesso de velocidade:).
Nada na manga: a manter-se o actual estilo de alguns comentários, voltarei a activar a moderação dos mesmos. Como adoram anunciar certos deputados - disse:).
Nada na manga: a manter-se o actual estilo de alguns comentários, voltarei a activar a moderação dos mesmos. Como adoram anunciar certos deputados - disse:).
sexta-feira, abril 25, 2008
25 de Abril sempre:).
O menino guerreiro está de volta, depois do período de nojo mais curto da história:). Alberto Joao Jardim, se conseguir que todos desistam a seu favor, suponho que exigirá que o Presidente da República seja coerente com os elogios que lhe prodigalizou e assuma a responsabilidade de primeiro proponente do seu nome.
Quanto ao código de trabalho, mesmo no estrangeiro e mal informado, concordo com as reservas de Carvalho da Silva às medidas contra o trabalho precário, parecem-me torná-lo legal a troco de uns cobres.
Quanto ao código de trabalho, mesmo no estrangeiro e mal informado, concordo com as reservas de Carvalho da Silva às medidas contra o trabalho precário, parecem-me torná-lo legal a troco de uns cobres.
terça-feira, abril 22, 2008
A afilhada.
Meu Pai era padrinho de Manuela Ferreira Leite, filha de um seu querido amigo. Já dei umas boas gargalhadas com o irmão, advogado e sportinguista apaixonado da nossa praça:). Curiosamente, nunca aconteceu conhecê-la "ao vivo e a cores". Mas uma coisa posso afiançar: no período de tempo em que chefiei o CAT de Cedofeita, ela não fez favores à Instituição, mas regeu-se por um código ético e de justiça laboral irrepreensível, que permitiu o suspiro de alívio há muito merecido por grande parte dos meus técnicos. Não lhe invejo a decisão de avançar, embora compreenda as razões. Desejo que ganhe e ponha fim ao descrédito do maior partido da oposição, suspenso do "até breve" que acabo de escutar ao Dr.Pedro Santana Lopes. Para bem do PSD, do Governo e do País.
P.S. O Gaspar faz amanhã sete anos:).
P.S. O Gaspar faz amanhã sete anos:).
sexta-feira, abril 18, 2008
Boletim meteorológico.
Agravamento das condições atmosféricas em todo o continente. Possível vaga de fundo anti-elitista no PSD, que levará o Dr. Luís Filipe Menezes a reconsiderar o seu auto-proclamado afastamento da liderança.
quarta-feira, abril 16, 2008
No Dragão há mais!
As defesas do Sporting e do Benfica disputaram o privilégio de serem trucidadas pelo ataque do F.C.P. Há no entanto uma diferença: com menos 48 horas de descanso, o Sporting positivamente atropelou um Benfica que na segunda parte seguiu a famosa táctica do "quanto tempo falta?". Resultado? O melhor plantel dos últimos dez anos sofreu cinco golos em vinte minutos:). Explicação do bom homem que o treina? - o Sporting meteu os avançados todos e é futebol. Fiquei elucidado! O mais deprimente é que nunca cheguei a pensar que ganharíamos...
terça-feira, abril 15, 2008
A tribo.
O Tiago afirmou solenemente adorar o Yellow Submarine! É uma boa notícia, afinal adormeci-lhe pai e tio ao som do velho refrão - "in the town were I was born...; we all live...". Não por acaso, depois das minhas pindéricas histórias, quando ele e o Gaspar se entregam pouco a pouco ao João Pestana, arrisco a lenga-lenga que atravessou gerações da família - "nã, na, ni, nu, nã, o menino é da Mamã...". Nem só as cartas de amor são ridículas; ternurentas; indispensáveis ao contínuo tecer da lenda familiar:).
domingo, abril 13, 2008
A náusea. Sartre que me perdoe o roubo do título:).
A FERNANDA CÂNCIO É PRÉ-SOCRÁTICA Ferreira Fernandesjornalistaferreira.fernandes@dn.pt
Foi na sede do PSD a conferência de imprensa. E foi o vice-presidente Rui Gomes da Silva a falar. Ontem, ele disse que a RTP não devia contratar a jornalista Fernanda Câncio porque esta tem "um relacionamento com o primeiro-ministro". E concluiu: "Em política o que parece é." Aquela conferência de imprensa pareceu-me tola. E, como mais política não podia ser (na sede do PSD e com o vice-presidente), parecendo tola, foi. E tendo sido tola porque sendo política o parecia, foi tola também porque os argumentos de Rui Gomes da Silva foram tolos. Pequenez sobre a qual eu era capaz de generosamente deitar um manto, não fosse ela também uma pulhice. Quando dei por Fernanda Câncio, lendo-a, eu não saberia dizer quem eram, politicamente, três dos actuais líderes dos cinco partidos nacionais: José Sócrates, Luís Filipe Menezes e Jerónimo de Sousa. Quem?!!... Só de raspão teria ouvido falar deles. Conhecidos, só Paulo Portas (e como jornalista) e Francisco Louçã, com quem eu tinha andado num mesmo pequeno partido. Já Fernanda Câncio, jornalista, eu conhecia pelo seu trabalho - reparem na palavra, vou voltar a ela - no Expresso e Grande Reportagem.A RTP contratou Fernanda Câncio para ela fazer aquilo que faz há anos com mérito: reportagens sobre questões sociais. A Câncio é repórter, já trabalhou em televisão (na SIC) e as questões sociais são a sua área de especialização. A RTP não a contratou para um cargo, mas para um trabalho. Por chicana política, por julgar que ganha pontos sobre o partido do Governo, um partido da oposição não se importou de insultar uma trabalhadora, enquanto trabalhadora. Rui Gomes da Silva insultou-a dizendo que a RTP a foi buscar "única e exclusivamente por razões que são de todos conhecidas". E que essas razões são "um relacionamento com o primeiro-ministro". Pois a mim mais natural me parece que se contrate Fernanda Câncio como repórter do que Rui Gomes da Silva para dizer coisas em nome de um partido. Leio o que ainda esta semana Fernanda Câncio escreveu no DN, leio a conferência de imprensa de Rui Gomes da Silva, e se há que suspeitar de alguém por andar às cavalitas de alguma cunha, não é na jornalista que penso.Fernanda Câncio tem "um relacionamento com o primeiro-ministro". Tem? Pois aí está outro mérito: conhecem fotos dela com o primeiro-ministro? Há-as, mas só tiradas à socapa. Conheço mais fotos de Rui Gomes da Silva com ex-primeiros-ministros. Num país de apêndices militantes, gente que se baba por frequentar os poderosos - e faz gala de o mostrar -, haja alguém como a Câncio que, se anda com o primeiro-ministro, não aparece. Essa é que era a frase, Rui Gomes da Silva: se não aparece, é. A Fernanda Câncio é.
Nota - Não conheço Fernanda Câncio pessoalmente, apenas os seus trabalhos. De há muito. Como seria inevitável, apreciei alguns, brindei outros com reservas, não me revi num par deles. Todos me pareceram intelectualmente honestos e capazes. Por isso considero que esta Direcção do PSD conseguiu atingir o grau zero de um discurso que - como é óbvio! - não chamarei de político. E, por elementar dever de justiça, desejo acrescentar o seguinte: por mero acaso, desempenhei funções dirigentes na área da Toxicodependência sempre sob a égide de Governos PSD, o que implicou muita "pedra partida" com figuras destacadas do Partido; em duas campanhas referendárias sobre o aborto colaborei em iniciativas da JSD que proporcionaram debates enriquecedores; como todos vocês, tenho amigos militantes do PSD e outros que se limitam a dar-lhe o seu voto nas eleições. Lembrando faces e palavras de todas essas pessoas, não acredito que alguma se reveja nesta baixeza latrinária.
P.S. Alguns de vocês referem algum desconforto da minha parte no programa do Malato. É verdade. Mas não gostaria de permitir alguma dúvida quanto às razões - fui tratado como um príncipe por duas pessoas com quem tenho boas relações de amizade, O Malato e a Helena, e com fidalguia pelo Professor Mário Andrea. Acontece que a homenagem a minha Mãe me deixou de rastos. Se o programa fosse gravado, pediria uns minutos para me recompor. Assim, tive de sobreviver:). Um pedido de desculpas a quem possa ter desiludido.
Foi na sede do PSD a conferência de imprensa. E foi o vice-presidente Rui Gomes da Silva a falar. Ontem, ele disse que a RTP não devia contratar a jornalista Fernanda Câncio porque esta tem "um relacionamento com o primeiro-ministro". E concluiu: "Em política o que parece é." Aquela conferência de imprensa pareceu-me tola. E, como mais política não podia ser (na sede do PSD e com o vice-presidente), parecendo tola, foi. E tendo sido tola porque sendo política o parecia, foi tola também porque os argumentos de Rui Gomes da Silva foram tolos. Pequenez sobre a qual eu era capaz de generosamente deitar um manto, não fosse ela também uma pulhice. Quando dei por Fernanda Câncio, lendo-a, eu não saberia dizer quem eram, politicamente, três dos actuais líderes dos cinco partidos nacionais: José Sócrates, Luís Filipe Menezes e Jerónimo de Sousa. Quem?!!... Só de raspão teria ouvido falar deles. Conhecidos, só Paulo Portas (e como jornalista) e Francisco Louçã, com quem eu tinha andado num mesmo pequeno partido. Já Fernanda Câncio, jornalista, eu conhecia pelo seu trabalho - reparem na palavra, vou voltar a ela - no Expresso e Grande Reportagem.A RTP contratou Fernanda Câncio para ela fazer aquilo que faz há anos com mérito: reportagens sobre questões sociais. A Câncio é repórter, já trabalhou em televisão (na SIC) e as questões sociais são a sua área de especialização. A RTP não a contratou para um cargo, mas para um trabalho. Por chicana política, por julgar que ganha pontos sobre o partido do Governo, um partido da oposição não se importou de insultar uma trabalhadora, enquanto trabalhadora. Rui Gomes da Silva insultou-a dizendo que a RTP a foi buscar "única e exclusivamente por razões que são de todos conhecidas". E que essas razões são "um relacionamento com o primeiro-ministro". Pois a mim mais natural me parece que se contrate Fernanda Câncio como repórter do que Rui Gomes da Silva para dizer coisas em nome de um partido. Leio o que ainda esta semana Fernanda Câncio escreveu no DN, leio a conferência de imprensa de Rui Gomes da Silva, e se há que suspeitar de alguém por andar às cavalitas de alguma cunha, não é na jornalista que penso.Fernanda Câncio tem "um relacionamento com o primeiro-ministro". Tem? Pois aí está outro mérito: conhecem fotos dela com o primeiro-ministro? Há-as, mas só tiradas à socapa. Conheço mais fotos de Rui Gomes da Silva com ex-primeiros-ministros. Num país de apêndices militantes, gente que se baba por frequentar os poderosos - e faz gala de o mostrar -, haja alguém como a Câncio que, se anda com o primeiro-ministro, não aparece. Essa é que era a frase, Rui Gomes da Silva: se não aparece, é. A Fernanda Câncio é.
Nota - Não conheço Fernanda Câncio pessoalmente, apenas os seus trabalhos. De há muito. Como seria inevitável, apreciei alguns, brindei outros com reservas, não me revi num par deles. Todos me pareceram intelectualmente honestos e capazes. Por isso considero que esta Direcção do PSD conseguiu atingir o grau zero de um discurso que - como é óbvio! - não chamarei de político. E, por elementar dever de justiça, desejo acrescentar o seguinte: por mero acaso, desempenhei funções dirigentes na área da Toxicodependência sempre sob a égide de Governos PSD, o que implicou muita "pedra partida" com figuras destacadas do Partido; em duas campanhas referendárias sobre o aborto colaborei em iniciativas da JSD que proporcionaram debates enriquecedores; como todos vocês, tenho amigos militantes do PSD e outros que se limitam a dar-lhe o seu voto nas eleições. Lembrando faces e palavras de todas essas pessoas, não acredito que alguma se reveja nesta baixeza latrinária.
P.S. Alguns de vocês referem algum desconforto da minha parte no programa do Malato. É verdade. Mas não gostaria de permitir alguma dúvida quanto às razões - fui tratado como um príncipe por duas pessoas com quem tenho boas relações de amizade, O Malato e a Helena, e com fidalguia pelo Professor Mário Andrea. Acontece que a homenagem a minha Mãe me deixou de rastos. Se o programa fosse gravado, pediria uns minutos para me recompor. Assim, tive de sobreviver:). Um pedido de desculpas a quem possa ter desiludido.
quarta-feira, abril 09, 2008
Pé no estribo.
Pela primeira vez, o Gaspar lendo, perante os nossos olhos embevecidos. Laborioso, claro, mas de uma correcção surpreendente para a sua idade. A memória do pai a fazer o mesmo, anos-luz atrás. O João descrevendo uma aula, olhos brilhantes de prazer, o engenheiro competente descobre o gozo da psicologia. Chris de Burgh no carro, há quanto tempo o não ouvia? Amanhã, de novo a estrada, de novo um Congresso, de novo o ancião receio - conseguirei interessá-los? Sexta o Malato. Em directo, o que odeio, temo sempre uma palavra, um gesto, uma gargalhada que não se encaixe no puzzle feito de adrenalina. Mas quem diz não ao bom do Malato? Noites de hotel, o silêncio que costumava achar confortável antes de conhecer o de Cantelães. Que espero reencontrar para a semana, amuado por quinze dias de ausência. Terei de me fazer perdoar, enroscado em amigos, à volta da lareira depois de longo almoço à longa mesa. A Casa do Vale nunca resiste a esse tipo de sedução:).
domingo, abril 06, 2008
Bessa a partir do sofá.
Com a paz de espírito de quem aqui zurziu várias vezes os jogadores do Benfica, digo hoje que cumpriram o seu dever - esfarraparam-se e jogaram bem. Se o tivessem feito no tempo de Camacho, o segundo lugar estaria assegurado há muito. O que levanta questões curiosas, não acredito que esta clara melhoria se deva apenas à mudança do sistema de jogo. Parabéns ao Boavista, que se bateu com bravura, e sobretudo ao miúdo que lhe guarda as redes. Quanto ao árbitro, e como acabo de dizer a um órgão de comunicação social, o adjectivo mais caridoso que me ocorre é "desinspirado", afinal não viu uma grande penalidade contra o Benfica - embora precedida de fora-de-jogo - e duas contra o Boavista. Fora uns livres... Mas depois de pousar o telefone, ocorreu-me uma hipótese verosímil - o homem é um dos milhares de portugueses que esperam - e desesperam! - por uma consulta de oftalmologia:).
sexta-feira, abril 04, 2008
Em tournée.
Évora. Uma visita guiada deliciosa à Universidade. Reencontro com velhos alunos e amigos. A surpresa - ser reconhecido por três taxistas no mesmo dia! Um espasmo muscular nas costas que me inferniza qualquer movimento brusco. Conferência longa por me sentir no comprimento de onda do público. E o desaguar no Luar de Janeiro, para um porco preto divinal e um tinto da herdade de Henrique Granadeiro que despertou o meu decantado talento poético - era porreiro! Amanhã vou mancar devagarinho por esta brancura na terra pousada:).
segunda-feira, março 31, 2008
Tac-tac-tac...
Em Cantelães os pássaros bicam os vidros da casa. Narcisos alados ou namoradeiros enganados:)?
sexta-feira, março 28, 2008
Em resposta ao Nuno:).
O telefone toca, é o jornalista da Lusa. Desesperado no engarrafamento... Pede um depoimento sobre os dez anos do Viagra, eu respondo que apenas posso falar como psi e ele diz ser isso que pretende. Eu debito um par de banalidades e - como de costume! - divago. Saliento que sou contra a utilização desse tipo de medicamentos como placebos, têm indicações médicas precisas. Que não desejo menosprezar, claro! E lanço-me numa dissertação sobre a melhoria da qualidade de vida para homens e casais que antes não podíamos ajudar. Não li as declarações publicadas, mas daí a frase - coloquial, risonha, mas - sublinho! - não off record. Eu e a minha big mouth:). Uma vez o Independente citava a seguinte pérola: "Só Deus sabe como é difícil uma relação sexual a dois, quanto mais a três" (ou algo de muito semelhante...). Autor? O desbocado JMV! "Só Deus sabe..." Os meus neurónios, distraídos e de formatação católica, não resistem a divertir-se à minha custa:).
P.S. Acho que lembrei, era menos "libertária" - qualquer coisa do género, "Sabe Deus como é difícil a intimidade física, quanto mais a psicológica".
P.S. Acho que lembrei, era menos "libertária" - qualquer coisa do género, "Sabe Deus como é difícil a intimidade física, quanto mais a psicológica".
quarta-feira, março 26, 2008
Jantar.
A tribo reunida no Franganito. Devoro aquele bife há quase quarenta anos. Entretanto o senhor Manuel reformou-se e o Sebastião, seu filho, abriu outro restaurante. O bife definhou, mas eu não gosto de trair rituais, continuo a ir. E de repente o Sebastião apareceu e o je agarrou-se a ele como ao Redentor - "Sebastião, salve o bife do antigamente!". Ele sorriu. Foi à cozinha e regressou com o sorriso cúmplice que sempre me deliciou - "peço desculpa, mais dez minutos". Esperei, descarregando a fome de cão nos "moletes" e no Montevelho. E de repente - ó milagre! - bifes gémeos dos avós:). A algazarra, a ternura, os abraços de despedida que o não são, esta certeza que me conforta, empurra, mantém vivo - as amizades verdadeiras sobrevivem ao ritmo alucinante das nossas vidas, a telemóveis silenciosos, a promessas de encontros não cumpridas. Porque não albergam a dúvida que enferruja...
Edith.
Por mero acaso, tropecei no filme sobre Piaf quando me ia deitar. Fiz meia-volta, a sua voz é chave de baú atafulhado de recordações. "Je ne regrette rien" como cena final. Muitos o dizem, poucos o sentem. Mas não duvido que Edith se imolou pelo amor e nunca se arrependeu.
domingo, março 23, 2008
Páscoa.
Madalena, com surpresa envergonhada,
- Venceste a morte, Senhor, voltaste para junto de nós.
E Ele, sorrindo com doçura,
- Madalena, o Filho de Deus morreu na cruz por todos. Espero que tenha valido a pena, embora duvide, o futuro o dirá. É justo que o Filho do Homem viva o presente, até agora não lhe sobrou tempo para isso - voltei para junto de ti.
Nunca mais foram vistos, mas reza a lenda que não sentiram saudades da vida pública.
- Venceste a morte, Senhor, voltaste para junto de nós.
E Ele, sorrindo com doçura,
- Madalena, o Filho de Deus morreu na cruz por todos. Espero que tenha valido a pena, embora duvide, o futuro o dirá. É justo que o Filho do Homem viva o presente, até agora não lhe sobrou tempo para isso - voltei para junto de ti.
Nunca mais foram vistos, mas reza a lenda que não sentiram saudades da vida pública.
terça-feira, março 18, 2008
Ámen:(.
Um amigo chega e pede uma opinião, já tendo escolhido o que deseja ouvir. Um tipo sabe que não pode trair a amizade, mas fala com o entusiasmo de quem caminha para o cadafalso. As lágrimas em olhos que reflectem e acusam os nossos. E a oração cá dentro prostra-se frente a vários altares: "Deus, vida vivida, as outras escutadas, livros devorados, intuição errática, sorte caprichosa, fazei com que me tenha enganado e não sofra!".
quinta-feira, março 13, 2008
Cinema.
Vi o filme dos irmãos Cohen. Devo dizer que tendo ganho o óscar para melhor filme de 2007 faz-me pensar que a colheita não foi das melhores. O que não significa desilusão. Pela obra perpassa uma surpresa amedrontada e nostálgica em face do presente, corporizada num discurso idealizado sobre os "bons velhos tempos", em que os xerifes não usavam armas. (O que não deixa de ser divertido, se pensarmos no velho Oeste.) Tommy Lee Jones tem dois momentos magníficos, "à custa" do argumento: a extraordinária descrição de assassinos que matavam velhos casais para lhes receber as reformas, não sem os torturarem primeiro, "talvez a televisão estivesse avariada...", adianta ele, à laia de explicação:); e o sonho final, quando já reformado conta que viu o Pai, carregando uma luz e à sua espera. Diria que preferi de longe a interpretação dele à rigidez facial permanente do psicopata. Jones exibe uma perplexidade comovente, que desagua numa reforma que pressentimos já angustiada e que justifica a nostalgia da figura parental. (Coincidência curiosa - assinei hoje os papéis para a reforma, espero não me ficar pelo seu dilema: ando a cavalo ou arrumo a casa?:)).
terça-feira, março 11, 2008
Durmam bem.
O PSD parece empenhado em roubar aos portugueses uma alternativa credível ao PS, o que em Democracia é trágico. Esta caça às bruxas pífia, com Rui Rio e António Capucho na berlinda, desafia a imaginação. Em geral, o Governo perde as eleições e a oposição limita-se a colher os frutos, Menezes arrisca-se a inverter a tendência. Quanto ao PS, já ouvi a palavra "flexibilidade de posições" pronunciada por um responsável do Ministério da Educação. Sei o que tal eufemismo significa:))))))).
domingo, março 09, 2008
Breves.
Muito satisfeito com a vitória do PSOE. Vi os dois debates entre os líderes e achei que Rajoy destilava ressentimento e intolerância. Mas não foi apenas ele a perder, a Igreja Católica - desnecessariamente... - acompanha-o, de tal forma investiu no "mundo temporal".
Camacho fez o que devia. Quando um treinador diz após um jogo que não sabe o que se passa com a equipa e se declara incapaz de motivar os jogadores, fica-lhe bem assumir tal impotência. Alguns de vocês dirão que deixa o clube numa posição periclitante nas várias frentes. É verdade. Mas não creio que pudesse acrescentar algo aos desempenhos lamentáveis a que vimos assistindo.
A ideia do PS de reunir as hostes no Porto é infeliz, cheira a ridículo desagravo. O artigo de António Barreto no Público coloca bem a questão: não se trata de decretar que nada do que o Ministério fez tem valor, mas de salientar os erros e - diria eu... - sobretudo um estilo. A "febre explicativa" de que vem sofrendo a Ministra nos últimos dias não escamoteia um passado próximo de evidente arrogância.
Camacho fez o que devia. Quando um treinador diz após um jogo que não sabe o que se passa com a equipa e se declara incapaz de motivar os jogadores, fica-lhe bem assumir tal impotência. Alguns de vocês dirão que deixa o clube numa posição periclitante nas várias frentes. É verdade. Mas não creio que pudesse acrescentar algo aos desempenhos lamentáveis a que vimos assistindo.
A ideia do PS de reunir as hostes no Porto é infeliz, cheira a ridículo desagravo. O artigo de António Barreto no Público coloca bem a questão: não se trata de decretar que nada do que o Ministério fez tem valor, mas de salientar os erros e - diria eu... - sobretudo um estilo. A "febre explicativa" de que vem sofrendo a Ministra nos últimos dias não escamoteia um passado próximo de evidente arrogância.
quarta-feira, março 05, 2008
Breves.
No Algarve, para falar a colegas de Clínica Geral. Com enorme prazer:). Nesta época de super-especialização desenfreada, eles tornam-se cada vez mais a base da Medicina que acolhe de braços abertos cada nova descoberta tecnológica, mas para a aplicar à relação médico-doente, às narrativas de vida, à visão holística da pessoa que sofre, e não à Doença que habita - por capricho:) - aquela pessoa azarada.
É obsceno que se mantenham os preços das portagens da A1 com quilómetros e quilómetros em obras.
Gosto de Camacho, embora discordemos amiúde a respeito de tácticas e substituições. Também sei o que é pensar de manhã se o nosso Pai sobreviverá mais um dia. Não deve ter sido fácil estar no banco em Alvalade. Daqui lhe mando um abraço.
É obsceno que se mantenham os preços das portagens da A1 com quilómetros e quilómetros em obras.
Gosto de Camacho, embora discordemos amiúde a respeito de tácticas e substituições. Também sei o que é pensar de manhã se o nosso Pai sobreviverá mais um dia. Não deve ter sido fácil estar no banco em Alvalade. Daqui lhe mando um abraço.
God forbid!
Tudo indica que Obama será o candidato dos Democratas em Novembro. E o psi balança entre a saliva e a preocupação: como resistirá este pregador brilhante da mudança aos corredores do poder, se for eleito? E se a chama se acinzentar, como reagirão os americanos que abraçaram um movimento de fé, mais do que um projecto político? Com toda a franqueza, achei Hillary mais sólida nos debates e creio que o género e as "dinastias" contaram mais do que a cor de pele. Mas como se resiste a um sonho de regeneração, desenhado sobre o pano de fundo de Kennedy e Luther King? Afinal, assisti a uma entrevista de uma senadora que apoiava Obama e não conseguia apontar uma só medida significativa lançada por ele! Ná, isto foi mais do que experiência vs. mudança; foi uma catarse colectiva, a nostalgia de um recomeço do sonho americano à revelia dos "jogos políticos", do Pentágono, dos lobbies. Que, todos o sabemos, irão sobreviver a esta eleição... Como lidará Obama com tal espartilho? Espero bem que não abane a cabeça, descoroçoado, e suspire - "That's life!". Palavra que o acuso de plágio:).
sábado, março 01, 2008
A propósito.
O PS depara-se com dois erros básicos a evitar: o primeiro, a tentação de se crispar, arrogante, muralhas adentro, decretando prenhas de segundas intenções críticas e queixas. Seria injusto e afastaria Partido e Governo do povo que servem. Erros de substância e forma aconteceram, é preciso admiti-los, corrigi-los e seguir adiante, sem manobras de esquiva para salvar a face, nada a enobrece tanto como olhar os outros de frente. O segundo, ceder a uma qualquer deriva eleitoralista, que tornaria inúteis os sacrifícios e mereceria aplausos momentâneos, mas nunca o respeito duradouro. Acontece que só o respeito dos eleitores, mesmo eivado de algum amuo, poderá levar o PS a uma vitória nas próximas eleições que não se baseie, melancólica - eu diria envergonhada! -, na falta de qualidade da alternativa. Paradoxalmente, bicéfala, e no entanto incapaz de nos brindar com ao menos uma ideia sólida de e para Portugal.
Na minha intervenção sobre a lei da paridade nas Novas Fronteiras, senti-me na obrigação de deixar este recado ao PS. No que à Educação diz respeito, com toda a franqueza, acho que é demasiado tarde para corrigir o primeiro erro. Esta Ministra, na sua timidez agressiva, foi longe de mais no autismo. Mesmo as propostas mais justificadas e a recente disponibilidade para o diálogo - forçado... - serão, creio, incapazes de pacificar a situação. Partir seria o melhor serviço que poderia prestar ao País.
Na minha intervenção sobre a lei da paridade nas Novas Fronteiras, senti-me na obrigação de deixar este recado ao PS. No que à Educação diz respeito, com toda a franqueza, acho que é demasiado tarde para corrigir o primeiro erro. Esta Ministra, na sua timidez agressiva, foi longe de mais no autismo. Mesmo as propostas mais justificadas e a recente disponibilidade para o diálogo - forçado... - serão, creio, incapazes de pacificar a situação. Partir seria o melhor serviço que poderia prestar ao País.
quarta-feira, fevereiro 27, 2008
Trinta e seis anos depois...
Iniciei o processo burocrático para a minha reforma antecipada. Mantive-me atento a variáveis fisiológicas e estados de alma e nem um sobressalto. Tinha razão - é tempo; preciso dele.
domingo, fevereiro 24, 2008
E porque não a polícia de choque?
Lojas inglesas instalam repelente para crianças e adolescentes
Dispositivo emite som de alta freqüência que afugenta só menores de 20 anos de idade. Entidades de defesa dos direitos humanos se unem para banir o aparelho do mercado.
Da Associated Press
Um grupo de defesa dos direitos das crianças e outro de defesa dos direitos humanos se uniram na Inglaterra em uma campanha para banir um aparelho de alta freqüência projetado para afastar crianças e adolescentes com mau comportamento de lojas, shoppping e outros estabelecimentos comerciais. O "repelente de crianças" chamado Mosquito emite um som desagradável em alta freqüência que normalmente só é escutado por ouvidos jovens, com menos de 20 anos. "Esse aparelho é uma medida provisória e não ataca a verdadeira causa do problema", disse Al Aynsley-Green, do English Children Commissioner. Em entrevista à rádio BBC, ele disse que as crianças não têm um lugar onde possam se reunir, a não ser as ruas.
"Acho que isso é um sintoma poderoso do que eu chamo de verdadeiro mal no coração de nossa sociedade", disse ele. "Estou muito preocupado. Vejo um imenso buraco entre os jovens e os velhos, o medo, a intolerância, até mesmo o ódio da geração mais velha pelos jovens." Shami Chakrabarti, diretor do grupo de direitos humanos Liberty, apóia a campanha. "Imagine a indignação que seria provocada se fosse introduzido algo que causasse desconforto a pessoas de uma determinada raça ou gênero, em vez de ser algo com as nossas crianças", disse. "O Mosquito não tem espaço em um país que valoriza suas crianças e procura ensinar a elas dignidade e respeito." O inventor do Mosquito, Howard Stapleton, foi chamado para dar informações sobre como usar o aparelho. "Informamos aos proprietários das lojas para usar o aparelho quando tiverem algum problema. Eu ficaria mais que feliz de estabelecer um contrato que estipulasse como ele pode ser usado", disse ele ao jornal "Western Mail".
Dispositivo emite som de alta freqüência que afugenta só menores de 20 anos de idade. Entidades de defesa dos direitos humanos se unem para banir o aparelho do mercado.
Da Associated Press
Um grupo de defesa dos direitos das crianças e outro de defesa dos direitos humanos se uniram na Inglaterra em uma campanha para banir um aparelho de alta freqüência projetado para afastar crianças e adolescentes com mau comportamento de lojas, shoppping e outros estabelecimentos comerciais. O "repelente de crianças" chamado Mosquito emite um som desagradável em alta freqüência que normalmente só é escutado por ouvidos jovens, com menos de 20 anos. "Esse aparelho é uma medida provisória e não ataca a verdadeira causa do problema", disse Al Aynsley-Green, do English Children Commissioner. Em entrevista à rádio BBC, ele disse que as crianças não têm um lugar onde possam se reunir, a não ser as ruas.
"Acho que isso é um sintoma poderoso do que eu chamo de verdadeiro mal no coração de nossa sociedade", disse ele. "Estou muito preocupado. Vejo um imenso buraco entre os jovens e os velhos, o medo, a intolerância, até mesmo o ódio da geração mais velha pelos jovens." Shami Chakrabarti, diretor do grupo de direitos humanos Liberty, apóia a campanha. "Imagine a indignação que seria provocada se fosse introduzido algo que causasse desconforto a pessoas de uma determinada raça ou gênero, em vez de ser algo com as nossas crianças", disse. "O Mosquito não tem espaço em um país que valoriza suas crianças e procura ensinar a elas dignidade e respeito." O inventor do Mosquito, Howard Stapleton, foi chamado para dar informações sobre como usar o aparelho. "Informamos aos proprietários das lojas para usar o aparelho quando tiverem algum problema. Eu ficaria mais que feliz de estabelecer um contrato que estipulasse como ele pode ser usado", disse ele ao jornal "Western Mail".
terça-feira, fevereiro 19, 2008
O horizonte a vinte metros.
Maria,
Domingo, quando me preparava para deixar Cantelães depois do jogo, o céu a caminho de Vieira parecia benfiquista, de tão vermelho. Mas o fogo ao longe tem algo de televisivo e plastificado. Só quando cheguei ao pomar me apercebi das chamas à direita, por trás da casa; vizinhas. Fiquei especado, repetindo um "não" supersticioso. (Como as crianças, que fecham os olhos perante evidências desagradáveis e esperam já não as ver ao abri-los.) A encosta ardia, alguns ramos do lado de cá do caminho iam-se juntando à procissão. Falei à D.Irene, que chegou num ápice, o marido a reboque. E foi ele a espancar as chamas mais atrevidas, eu fiquei bloqueado, mangueira na mão, à espreita do primeiro assalto ao muro. A GNR irrompeu antes dos bombeiros e cumpriu o seu dever - registou a ocorrência antes dela se dar, "é o proprietário? Onde mora? Rua João de Barros...". E o fogo rondava. Esotérica cena... Susto engolido, a D.Irene resumiu tudo numa frase - "estivesse o vento contra e não havia safa!". Já pensaste, Maria? Imagina que tinha partido mais cedo, ver a bola no Porto, como em geral faço. Ninguém teria reparado naquele foco do incêndio, os outros foram em zonas povoadas. Até hoje, o medo era teórico, agora tornou-se um aperto que não mais me deixará. Estou preparado para a minha precariedade. Para a daquela casa, não:(.
Domingo, quando me preparava para deixar Cantelães depois do jogo, o céu a caminho de Vieira parecia benfiquista, de tão vermelho. Mas o fogo ao longe tem algo de televisivo e plastificado. Só quando cheguei ao pomar me apercebi das chamas à direita, por trás da casa; vizinhas. Fiquei especado, repetindo um "não" supersticioso. (Como as crianças, que fecham os olhos perante evidências desagradáveis e esperam já não as ver ao abri-los.) A encosta ardia, alguns ramos do lado de cá do caminho iam-se juntando à procissão. Falei à D.Irene, que chegou num ápice, o marido a reboque. E foi ele a espancar as chamas mais atrevidas, eu fiquei bloqueado, mangueira na mão, à espreita do primeiro assalto ao muro. A GNR irrompeu antes dos bombeiros e cumpriu o seu dever - registou a ocorrência antes dela se dar, "é o proprietário? Onde mora? Rua João de Barros...". E o fogo rondava. Esotérica cena... Susto engolido, a D.Irene resumiu tudo numa frase - "estivesse o vento contra e não havia safa!". Já pensaste, Maria? Imagina que tinha partido mais cedo, ver a bola no Porto, como em geral faço. Ninguém teria reparado naquele foco do incêndio, os outros foram em zonas povoadas. Até hoje, o medo era teórico, agora tornou-se um aperto que não mais me deixará. Estou preparado para a minha precariedade. Para a daquela casa, não:(.
Literalmente na merda...
Funcionária gostou de praxe com "estrume na cara"
joão girão
Alunos julgados em Santarém por praxe violenta
Helena Silva"Sempre achei as praxes divertidas e pedi para ser praxada. Eles fizeram-me a vontade e diverti-me muito". O depoimento de Maria Arlete Miranda encerrou a sessão de ontem do julgamento de sete alunos da Escola Superior Agrária de Santarém (ESAS), acusados de praxe violenta a uma aluna, em 2002. Funcionária daquela escola há 22 anos, a mulher contou que os alunos mais velhos a praxaram com "estrume na cara", o que não achou "nada de extraordinário". "Desde que estou na escola que ouço dizer que 'quem não mexe na bosta não se pode considerar um bom engenheiro'", afirmou perante o tribunal, assegurando nunca ter assistido, por parte dos alunos, a qualquer tipo de excesso nas praxes. Foi também isso que alegaram, ao tribunal, outros seis alunos daquela escola. As brincadeiras com bosta de vaca eram, na opinião de todos, uma prática vulgar nas praxes, decorrendo há décadas e que ainda se mantêm. Desta forma, disseram, "os caloiros são confrontados com o seu futuro porque, no fim do curso, é nesse ambiente que vão trabalhar". Sónia Silva, actualmente já formada, contou que a sua praxe foi "ter que empurrar bolas de bosta com o nariz". Uma situação que, de início, a chocou. "Mas estava numa escola agrícola e a tradição era essa por isso, entrei na brincadeira", explicou. A ex-aluna afirmou ainda estar convicta de que qualquer caloiro que se recusasse a cumprir tal tradição não viria a ser penalizado por isso. O mesmo afirmaram os restantes alunos. Sobre a aluna que, em 2002, foi praxada com bosta de vaca - e que veio a apresentar queixa - duas das testemunhas alegaram tê-la ouvido dizer que pretendia declarar-se anti-praxe por vontade da sua mãe. Respondendo às sucessivas perguntas dos advogados e do Procurador do Ministério Público, os jovens foram contando que "ninguém obrigava os caloiros a fazer o que não fosse da sua vontade", que "os veteranos tratavam cordialmente" os recém-chegados à escola (mesmo que o código da praxe dissesse o contrário) e que "os caloiros não tinham autoridade para praxar outros caloiros". O julgamento prossegue no dia 13 de Março.
joão girão
Alunos julgados em Santarém por praxe violenta
Helena Silva"Sempre achei as praxes divertidas e pedi para ser praxada. Eles fizeram-me a vontade e diverti-me muito". O depoimento de Maria Arlete Miranda encerrou a sessão de ontem do julgamento de sete alunos da Escola Superior Agrária de Santarém (ESAS), acusados de praxe violenta a uma aluna, em 2002. Funcionária daquela escola há 22 anos, a mulher contou que os alunos mais velhos a praxaram com "estrume na cara", o que não achou "nada de extraordinário". "Desde que estou na escola que ouço dizer que 'quem não mexe na bosta não se pode considerar um bom engenheiro'", afirmou perante o tribunal, assegurando nunca ter assistido, por parte dos alunos, a qualquer tipo de excesso nas praxes. Foi também isso que alegaram, ao tribunal, outros seis alunos daquela escola. As brincadeiras com bosta de vaca eram, na opinião de todos, uma prática vulgar nas praxes, decorrendo há décadas e que ainda se mantêm. Desta forma, disseram, "os caloiros são confrontados com o seu futuro porque, no fim do curso, é nesse ambiente que vão trabalhar". Sónia Silva, actualmente já formada, contou que a sua praxe foi "ter que empurrar bolas de bosta com o nariz". Uma situação que, de início, a chocou. "Mas estava numa escola agrícola e a tradição era essa por isso, entrei na brincadeira", explicou. A ex-aluna afirmou ainda estar convicta de que qualquer caloiro que se recusasse a cumprir tal tradição não viria a ser penalizado por isso. O mesmo afirmaram os restantes alunos. Sobre a aluna que, em 2002, foi praxada com bosta de vaca - e que veio a apresentar queixa - duas das testemunhas alegaram tê-la ouvido dizer que pretendia declarar-se anti-praxe por vontade da sua mãe. Respondendo às sucessivas perguntas dos advogados e do Procurador do Ministério Público, os jovens foram contando que "ninguém obrigava os caloiros a fazer o que não fosse da sua vontade", que "os veteranos tratavam cordialmente" os recém-chegados à escola (mesmo que o código da praxe dissesse o contrário) e que "os caloiros não tinham autoridade para praxar outros caloiros". O julgamento prossegue no dia 13 de Março.
domingo, fevereiro 17, 2008
:). Sem dúvida!
Profs....a culpa é deles!(Texto de Ricardo Araújo Pereira)
Neste momento, é óbvio para todos que a culpa do estado a que chegou oensino é (sem querer apontar dedos) dos professores. Só pode serdeles, aliás. Os alunos estão lá acontragosto, por isso não contam. O ministério muda quase todos osanos, por isso conta ainda menos. Os únicos que se mantêm temposuficiente no sistema são os professores. Pelo menos os que vãoconseguindo escapar com vida.É evidente que a culpa é deles.E, ao contrário do que costuma acontecer nesta coluna, esta não é umaacusação gratuita. Há razões objectivas para que os culpados sejam osprofessores.Reparem: quando falamos de professores, estamos a falar de pessoas queescolheram uma profissão em que ganham mal, não sabem onde vão sercolocados no ano seguinte e todos os dias arriscam levar um banano deum aluno ou de qualquer um dos seus familiares.O que é que esta gente pode ensinar às nossas crianças? Se elespossuíssem algum tipo de sabedoria, tê-Ia-iam usado em proveitopróprio.. É sensato entregar a educação dos nossos filhos a pessoas comesta capacidade de discernimento? Parece-me claro que não.A menos que não se trate de falta de juízo mas sim de amor ao sofrimento.O que não posso dizer que me deixe mais tranquilo. Esta gente opta porpassar a vida a andar de terra em terra, a fazer contas ao dinheiro ea ensinar o Teorema de Pitágoras a delinquentes que lhes querem bater.Sem nenhum desprimor para com as depravações sexuais -até porque sofrode quase todas -, não sei se o Ministério da Educação devia incentivareste contacto entre crianças e adultos masoquistas.Ser professor, hoje, não é uma vocação; é uma perversão.Antigamente, havia as escolas C+S; hoje, caminhamos para o modelo deescola S/M. Havia os professores sádicos, que espancavam alunos; agorao há os professores masoquistas, que são espancados por eles. Tomandosempre novas qualidades, este mundo.Eu digo-vos que grupo de pessoas produzia excelentes professores: o povocigano.Já estão habituados ao nomadismo e têm fama de se desenvencilhar bemdas escaramuças. Queria ver quantos papás fanfarrões dos subúrbios iampedir explicações a estes professores. Um cigano em cada escola, é aminha proposta.Já em relação a estes professores que têm sido agredidos, tenho menosesperança.Gente que ensina selvagens filhos de selvagens e, depois de seragredida, não sabe guiar a polícia até à árvore em que os agressoresvivem, claramente, não está preparada para o mundo.Ricardo Araújo Pereira in Opinião, Boca do Inferno, Revista Visão
Neste momento, é óbvio para todos que a culpa do estado a que chegou oensino é (sem querer apontar dedos) dos professores. Só pode serdeles, aliás. Os alunos estão lá acontragosto, por isso não contam. O ministério muda quase todos osanos, por isso conta ainda menos. Os únicos que se mantêm temposuficiente no sistema são os professores. Pelo menos os que vãoconseguindo escapar com vida.É evidente que a culpa é deles.E, ao contrário do que costuma acontecer nesta coluna, esta não é umaacusação gratuita. Há razões objectivas para que os culpados sejam osprofessores.Reparem: quando falamos de professores, estamos a falar de pessoas queescolheram uma profissão em que ganham mal, não sabem onde vão sercolocados no ano seguinte e todos os dias arriscam levar um banano deum aluno ou de qualquer um dos seus familiares.O que é que esta gente pode ensinar às nossas crianças? Se elespossuíssem algum tipo de sabedoria, tê-Ia-iam usado em proveitopróprio.. É sensato entregar a educação dos nossos filhos a pessoas comesta capacidade de discernimento? Parece-me claro que não.A menos que não se trate de falta de juízo mas sim de amor ao sofrimento.O que não posso dizer que me deixe mais tranquilo. Esta gente opta porpassar a vida a andar de terra em terra, a fazer contas ao dinheiro ea ensinar o Teorema de Pitágoras a delinquentes que lhes querem bater.Sem nenhum desprimor para com as depravações sexuais -até porque sofrode quase todas -, não sei se o Ministério da Educação devia incentivareste contacto entre crianças e adultos masoquistas.Ser professor, hoje, não é uma vocação; é uma perversão.Antigamente, havia as escolas C+S; hoje, caminhamos para o modelo deescola S/M. Havia os professores sádicos, que espancavam alunos; agorao há os professores masoquistas, que são espancados por eles. Tomandosempre novas qualidades, este mundo.Eu digo-vos que grupo de pessoas produzia excelentes professores: o povocigano.Já estão habituados ao nomadismo e têm fama de se desenvencilhar bemdas escaramuças. Queria ver quantos papás fanfarrões dos subúrbios iampedir explicações a estes professores. Um cigano em cada escola, é aminha proposta.Já em relação a estes professores que têm sido agredidos, tenho menosesperança.Gente que ensina selvagens filhos de selvagens e, depois de seragredida, não sabe guiar a polícia até à árvore em que os agressoresvivem, claramente, não está preparada para o mundo.Ricardo Araújo Pereira in Opinião, Boca do Inferno, Revista Visão
quinta-feira, fevereiro 14, 2008
Cegueira, mecanismo de defesa, resposta politicamente correcta?:).
O amor é realmente cego, comprovam cientistas dos Estados Unidos
Apaixonados tendem a não reparar em outras pessoas atraentes ao seu redor.É como se o sentimento servisse de tapa-olho, diz pesquisadora.
Da Reuters
O amor é realmente cego, ao menos quando uma pessoa apaixonada olha para outro alguém que não o objeto de seu amor, afirmaram pesquisadores dos EUA.
Estudantes de faculdade que afirmam estar apaixonados possuem chances menores de notar a presença de outros homens ou mulheres atraentes, descobriu uma equipe de cientistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e do site de encontros amorosos eHarmony.
"Sentir amor por seu parceiro parece tornar todas as outras pessoas menos atraentes, e esse sentimento parece trabalhar de forma bastante específica, permitindo que essa pessoa elimine de sua mente os pensamentos a respeito do outro alguém atraente", afirmou Gian Gonzaga, do eHarmony, cujo estudo foi publicado na revista Evolution and Human Behavior.
"É quase como se o amor colocasse um tapa-olho nas pessoas", acrescentou Martie Haselton, professora associada da UCLA nas áreas de psicologia e estudos da comunicação.
Gonzaga e Haselton pediram que 120 universitários heterossexuais e compromissados avaliassem fotos de membros atraentes do sexo oposto tirados do site eHarmony.
Os voluntários eram instados então a escolher as fotos mais atraentes, e escrever um texto sobre ou o atual parceiro deles ou sobre um assunto qualquer.
Enquanto escreviam, os pesquisadores pediam que os estudantes esquecessem os "bonitões" e as "gatinhas" do site e que, no entanto, colocassem uma marca às margens do texto caso acontecesse de pensarem nas fotos com as pessoas atraentes.
Os voluntários que escreveram sobre seus parceiros apresentaram chances seis vezes menores de admitir que pensavam nas fotos do que os voluntários que escreveram sobre um assunto qualquer.
Mais tarde, quando instados a lembrar das pessoas bonitas presentes nas fotos, os universitários que escreveram sobre seus parceiros citaram um número menor de detalhes físicos daquelas pessoas.
"Essas pessoas conseguiam lembrar-se da cor da camiseta ou se a foto tinha sido tirada em Nova York, mas não se lembravam de quase nada de atraente a respeito da pessoa", afirmou Gonzaga.
"Ou seja, não é toda a memória que fica prejudicada. É como se esses estudantes tivessem pré-selecionado as coisas que os fariam pensar sobre o quão atraente aquela outra pessoa era."
Apaixonados tendem a não reparar em outras pessoas atraentes ao seu redor.É como se o sentimento servisse de tapa-olho, diz pesquisadora.
Da Reuters
O amor é realmente cego, ao menos quando uma pessoa apaixonada olha para outro alguém que não o objeto de seu amor, afirmaram pesquisadores dos EUA.
Estudantes de faculdade que afirmam estar apaixonados possuem chances menores de notar a presença de outros homens ou mulheres atraentes, descobriu uma equipe de cientistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e do site de encontros amorosos eHarmony.
"Sentir amor por seu parceiro parece tornar todas as outras pessoas menos atraentes, e esse sentimento parece trabalhar de forma bastante específica, permitindo que essa pessoa elimine de sua mente os pensamentos a respeito do outro alguém atraente", afirmou Gian Gonzaga, do eHarmony, cujo estudo foi publicado na revista Evolution and Human Behavior.
"É quase como se o amor colocasse um tapa-olho nas pessoas", acrescentou Martie Haselton, professora associada da UCLA nas áreas de psicologia e estudos da comunicação.
Gonzaga e Haselton pediram que 120 universitários heterossexuais e compromissados avaliassem fotos de membros atraentes do sexo oposto tirados do site eHarmony.
Os voluntários eram instados então a escolher as fotos mais atraentes, e escrever um texto sobre ou o atual parceiro deles ou sobre um assunto qualquer.
Enquanto escreviam, os pesquisadores pediam que os estudantes esquecessem os "bonitões" e as "gatinhas" do site e que, no entanto, colocassem uma marca às margens do texto caso acontecesse de pensarem nas fotos com as pessoas atraentes.
Os voluntários que escreveram sobre seus parceiros apresentaram chances seis vezes menores de admitir que pensavam nas fotos do que os voluntários que escreveram sobre um assunto qualquer.
Mais tarde, quando instados a lembrar das pessoas bonitas presentes nas fotos, os universitários que escreveram sobre seus parceiros citaram um número menor de detalhes físicos daquelas pessoas.
"Essas pessoas conseguiam lembrar-se da cor da camiseta ou se a foto tinha sido tirada em Nova York, mas não se lembravam de quase nada de atraente a respeito da pessoa", afirmou Gonzaga.
"Ou seja, não é toda a memória que fica prejudicada. É como se esses estudantes tivessem pré-selecionado as coisas que os fariam pensar sobre o quão atraente aquela outra pessoa era."
quarta-feira, fevereiro 13, 2008
Isto é que é protecção!
Romeno reclama de gemido de boneca inflável e sex shop é multado
Boneca havia parado de 'gemer' e esvaziava muito rápido.A loja foi multada em 600 libras e o homem recebeu um novo produto.
Autoridades de proteção ao consumidor da Romênia receberam uma reclamação inusitada: um consumidor estava indignado pois sua boneca inflável havia 'perdido o gemido', noticiou o site Ananova nesta semana.
Confirmado o defeito na boneca, o sex shop de Brasov, na Transilvãnia, foi multado em 600 libras (cerca de R$ 2 mil) e obrigado a dar uma nova boneca ao comprador. O homem, que segundo o site tinha por volta de 40 anos, também reclamou que o produto esvaziava muito rápido. Iulian Mara, chefe do centro de proteção ao consumidor, disse que "não importa o quanto a reclamação pareça estranha, nós fomos ao sex shop onde o homem comprou o objeto e vimos que ele estava certo." Segundo Mara, "a boneca estava perdendo ar rapidamente e devido a falhas no sistema elétrico não fazia os sons específicos esperados."
Boneca havia parado de 'gemer' e esvaziava muito rápido.A loja foi multada em 600 libras e o homem recebeu um novo produto.
Autoridades de proteção ao consumidor da Romênia receberam uma reclamação inusitada: um consumidor estava indignado pois sua boneca inflável havia 'perdido o gemido', noticiou o site Ananova nesta semana.
Confirmado o defeito na boneca, o sex shop de Brasov, na Transilvãnia, foi multado em 600 libras (cerca de R$ 2 mil) e obrigado a dar uma nova boneca ao comprador. O homem, que segundo o site tinha por volta de 40 anos, também reclamou que o produto esvaziava muito rápido. Iulian Mara, chefe do centro de proteção ao consumidor, disse que "não importa o quanto a reclamação pareça estranha, nós fomos ao sex shop onde o homem comprou o objeto e vimos que ele estava certo." Segundo Mara, "a boneca estava perdendo ar rapidamente e devido a falhas no sistema elétrico não fazia os sons específicos esperados."
quinta-feira, fevereiro 07, 2008
Porto.
Maria,
Céu aberto a um azul tão longo que se misturava com o de águas já curvas e as gaivotas em terra. Como estátuas, Pena Ventosa acima - que tormenta as perseguia? E porque se encarniçavam naquela invocação feroz do meu olhar? Maria, montavam guarda. Não viradas para fora da cidade, mas para dentro; não receosas da ira da Natureza, mas compungidas pelo desleixo dos homens. Cada uma velava, acusadora, um telhado desfeito do meu Porto. E são tantos...:(. Clandestinos; escarranchados sobre águas-furtadas que apenas adivinhávamos quando íamos pelas ruelas ao Domingo de manhã; margens feridas do céu que espreitava para lá da roupa a secar; cascos esventrados fugidos para os mastros de navio macambúzio em doca seca; cicatrizes que já nem recordam o sangue esvaído. Subi a um terraço da Rua das Flores, Maria, e vi cascata em ruínas jorrar de uma Sé lívida de asco, vergonha e espera inúteis. E as lágrimas que me turvaram os olhos serviram de tiro de partida ao voo das gaivotas. Que não as confundiram com promessa de chuva, mas tomaram como testemunhas de que eu percebera - a tempestade em terra não abrandará com uma simples mudança de vento...
Céu aberto a um azul tão longo que se misturava com o de águas já curvas e as gaivotas em terra. Como estátuas, Pena Ventosa acima - que tormenta as perseguia? E porque se encarniçavam naquela invocação feroz do meu olhar? Maria, montavam guarda. Não viradas para fora da cidade, mas para dentro; não receosas da ira da Natureza, mas compungidas pelo desleixo dos homens. Cada uma velava, acusadora, um telhado desfeito do meu Porto. E são tantos...:(. Clandestinos; escarranchados sobre águas-furtadas que apenas adivinhávamos quando íamos pelas ruelas ao Domingo de manhã; margens feridas do céu que espreitava para lá da roupa a secar; cascos esventrados fugidos para os mastros de navio macambúzio em doca seca; cicatrizes que já nem recordam o sangue esvaído. Subi a um terraço da Rua das Flores, Maria, e vi cascata em ruínas jorrar de uma Sé lívida de asco, vergonha e espera inúteis. E as lágrimas que me turvaram os olhos serviram de tiro de partida ao voo das gaivotas. Que não as confundiram com promessa de chuva, mas tomaram como testemunhas de que eu percebera - a tempestade em terra não abrandará com uma simples mudança de vento...
terça-feira, fevereiro 05, 2008
Terça-Feira de Carnaval.
Velório, enterro, abraço aos amigos, um frio na alma que se ri das boas-vindas no termómetro de parede. A minha geração cumpre os rituais de morte com rostos cada vez mais fechados. Por solidariedade firme e triste e crescente aversão ao cinzento de lápides, jazigos e impermeáveis. Mas não só. Uns exorcizam-no, outros calam-no, todos o sentem - há um vento gélido e caprichoso que faz uma gincana, obscena por divertida, enquanto o cortejo arrasta os pés. E zune, ameaçador. Como se cantarolasse a ladainha de infância: "pim-pam-pum, cada bola mata um, prá galinha e pró peru, quem se lixa és tu". Por isso nos abraçamos com angústia, prometemos jantar próximo, actualizamos números de telemóvel. E outra voz longínqua se faz ouvir, à medida que os automóveis arrancam: "mais uma voltinha, mais uma corrida!". Quem entrará na box a seguir?
quinta-feira, janeiro 31, 2008
A pedido:).
O silêncio dele não a pareceu surpreender. A cadeira voltou a um equilíbrio precário mas não quieto, disfarçou-se de prima de baloiço. Ela cruzou as mãos na nuca, gesto que permitiu a fuga da blusa ao cinto e pôs em realce a firmeza do busto - pequeno mas desafiador, os gostos variam, se lhe perguntassem a ele diria que...
(Ninguém lhe perguntou nada, foi uma ordem seca a surgir).
- Faça o quatro.
Fazer o quatro? Mas até onde podia chegar o amadorismo e falta de equipamento das forças de segurança portuguesa? E a seguir? - mandá-lo-ia caminhar em linha recta? É claro que o registo artesanal da investigação podia favorecê-lo, já não ansiava pelo balão, números são números e indiscutíveis, o mesmo não se pode dizer do equilíbrio em uma só perna, por definição instável, mesmo em abstémios furiosos.
(O que não era o seu caso...).
Fez um quatro hesitante. Não entre o cinco e o três, mas entre o chão à esquerda e à direita, sentia-se como um flamingo da Camargue que tivesse emborcado uma garrafa de Châteauneuf du Pape.
Ela abanou a cabeça, mas por vontade própria.
- Não o aconselho a guiar nesse estado.
Para o breu atrás de si,
- Lena, chama um táxi para o cavalheiro, se tem tanta massa para subornos é porque não está habituado a transportes públicos, muito menos de madrugada. Entretanto eu vou organizando os meninos para a toma da metadona.
E saiu.
Das curtas profundezas da carrinha surgiu uma rapariga frágil, saia travada negra, blusa branca, rosto menineiro emoldurado por cabelo de um loiro escorrido de tão fino.
- Sim, doutora.
Diligente, empunhou o telemóvel.
Doutora? Metadona? A pergunta a medo,
- Mas então ela não é polícia?
A garota, aparelho ensanduichado entre madeixa e face,
- Polícia?
Com evidente escândalo,
- Médica das melhores! E não lhe caem os parentes na lama por trabalhar numa equipa de rua.
Equipa de rua... Metadona... Os "meninos" à volta da fogueira, perdão!, da carrinha... Mas evidentemente - os mafiosos não passavam de toxicodependentes à espera de droga oferecida pelo Estado.
(Enquanto a praça de táxis não despertava, a miúda metera a segunda.)
- Bem lhe pode agradecer. No estado em que você estava, sem a injecção que lhe deu só acordava amanhã. Ou hoje na Urgência...
Uma raiva crescendo dentro.
- Perfeitamente, fui salvo pela Madre Teresa da medicina. Estou-lhe gratíssimo. E suponho que também a si, senhora enfermeira, presumo que me tenha desinfectado o rabo, o braço ou o raio do sítio em que me picou.
Ela disse o nome de uma rua e agradeceu. Depois baixou a voz até um sussurro doce e mortífero,
- O seu táxi é o 24. Não lhe desinfectei nada, só a vim buscar; não sou enfermeira, sou puta.
E também saiu.
(Ninguém lhe perguntou nada, foi uma ordem seca a surgir).
- Faça o quatro.
Fazer o quatro? Mas até onde podia chegar o amadorismo e falta de equipamento das forças de segurança portuguesa? E a seguir? - mandá-lo-ia caminhar em linha recta? É claro que o registo artesanal da investigação podia favorecê-lo, já não ansiava pelo balão, números são números e indiscutíveis, o mesmo não se pode dizer do equilíbrio em uma só perna, por definição instável, mesmo em abstémios furiosos.
(O que não era o seu caso...).
Fez um quatro hesitante. Não entre o cinco e o três, mas entre o chão à esquerda e à direita, sentia-se como um flamingo da Camargue que tivesse emborcado uma garrafa de Châteauneuf du Pape.
Ela abanou a cabeça, mas por vontade própria.
- Não o aconselho a guiar nesse estado.
Para o breu atrás de si,
- Lena, chama um táxi para o cavalheiro, se tem tanta massa para subornos é porque não está habituado a transportes públicos, muito menos de madrugada. Entretanto eu vou organizando os meninos para a toma da metadona.
E saiu.
Das curtas profundezas da carrinha surgiu uma rapariga frágil, saia travada negra, blusa branca, rosto menineiro emoldurado por cabelo de um loiro escorrido de tão fino.
- Sim, doutora.
Diligente, empunhou o telemóvel.
Doutora? Metadona? A pergunta a medo,
- Mas então ela não é polícia?
A garota, aparelho ensanduichado entre madeixa e face,
- Polícia?
Com evidente escândalo,
- Médica das melhores! E não lhe caem os parentes na lama por trabalhar numa equipa de rua.
Equipa de rua... Metadona... Os "meninos" à volta da fogueira, perdão!, da carrinha... Mas evidentemente - os mafiosos não passavam de toxicodependentes à espera de droga oferecida pelo Estado.
(Enquanto a praça de táxis não despertava, a miúda metera a segunda.)
- Bem lhe pode agradecer. No estado em que você estava, sem a injecção que lhe deu só acordava amanhã. Ou hoje na Urgência...
Uma raiva crescendo dentro.
- Perfeitamente, fui salvo pela Madre Teresa da medicina. Estou-lhe gratíssimo. E suponho que também a si, senhora enfermeira, presumo que me tenha desinfectado o rabo, o braço ou o raio do sítio em que me picou.
Ela disse o nome de uma rua e agradeceu. Depois baixou a voz até um sussurro doce e mortífero,
- O seu táxi é o 24. Não lhe desinfectei nada, só a vim buscar; não sou enfermeira, sou puta.
E também saiu.
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