segunda-feira, dezembro 23, 2013

Magistral:).

quarta-feira, dezembro 18, 2013

Back home.

Quando um filho parte fechamos um quarto - grande! - do coração. E um dia ele aterra, bolsos cheios de histórias e projectos cumpridos e sonhados, nós escutamos, a rebentar de alívio e nostalgia. Como foi possível resistir à ausência? Por que escreveu o que deixámos no tinteiro da nostalgia? Pouco importa, a inveja não resiste ao orgulho. E de novo as janelas abertas de par em par, o faqueiro bom à mesa, sorrisos que baixam a tensão arterial, um novo alento da rega no jardim, ternura no olhar da velha ama, master John is back:).

terça-feira, dezembro 17, 2013

O alívio.

Como os de minha Mãe. Abraçada a meu Pai sobre a lareira. Ambos me sorriem, ela tem flores na mão. Chegou de viagem e os seus homens esperavam-na. Por cima está o quadro favorito dele, um dos netos falou-me e disse - "estou na igreja do quadro do Avô". Outra vez fê-lo da sociedade recreativa lisboeta em que ela começou a cantar. Os meus netos conhecem-lhe as melodias e o horror dele a toda a música que não tivesse a sua impressão digital. As memórias estão vivas e são contadas. Dou um passo atrás e miro a lenda familiar - está pronta. Logo, eu também.

Eram extraordinários...

segunda-feira, dezembro 16, 2013

Boa noite, gente.

O vento em fúria dilacera todas as velas. Depois, tem de escolher - cosê-las de novo ou amainar, melancólico, rumo à aposentação.

domingo, dezembro 15, 2013

Vila Praia de Âncora.

Maria,

Tão bom, regressar à mesa dos Simões! Para ser perfeito faltavam os outros Machado Vaz... Que surgiram aqui e ali na conversa, o abraço entre os dois clãs é tão estreito que torna impossível recordação ou sorriso que não nos inclua a todos. De coisas sérias, falámos brevemente quando o Manel me trouxe ao carro. Não foi surpresa que as preocupações de ambos se mirassem ao espelho, triste é admitir que não falávamos de nós e sim de gente amada. Sob muitos aspectos, envelhecer é temer pelos outros, sabes? Não é provável. Ou talvez saibas; com a razão. Um dia saberás pelo sentir. E perceberás porque às vezes, quando me perguntavas se estava triste, eu respondia - "estou, mas não por nós". (Quisera hoje dizer o mesmo...).

sábado, dezembro 14, 2013

Capítulo final.

Ela disse,
- O luto não será fácil, de qualquer modo.
Ele ficou estarrecido. Difícil embora, para ela tratava-se de uma questão de tempo. Dos relógios. Concordou de peito aberto, se pensava assim, já não era a pessoa que conhecera.  Viver sozinho não o assustava, apenas entristecia.
- Está bem.
E guardou-lhe a memória, por egoísmo e fidelidade.

sexta-feira, dezembro 13, 2013

Boa noite, gente.

Ao Miguel, no seu 4º Aniversário, e contra o nuclear, naturalmente

Eugênio de Andrade
Vais crescendo, meu filho, com a difícil luz do mundo. Não foi um paraíso, que não é medida humana, o que para ti sonhei. Só quis que a terra fosse limpa, nela pudesses respirar desperto e aprender que todo homem, todo, tem direito a sê-lo inteiramente até ao fim. Terra de sol maduro, redonda terra de cavalos e maçãs, terra generosa, agora atormentada no próprio coração; terra onde teu pai e tua mãe amaram para que fosses o pulsar da vida, tornada inferno vivo onde nos vão encurralando o medo, a ambição, a estupidez, se não for demência apenas a razão; terra inocente, terra atraiçoada, em que nem sequer é já possível pousar num rio os olhos de alegria, e partilhar o pão, ou a palavra; terra onde o ódio a tanta e tão vil besta fardada é tudo o que nos resta; abutres e chacais que do saber fizeram comércio tão contrário à natureza que só crimes e crimes e crimes pariam. Que faremos nós, filho, para que a vida seja mais que a cegueira e cobardia?

quarta-feira, dezembro 11, 2013

O legado.

Maria,
Lembras-te do que o meu Pai dizia? - um professor que não deixa discípulos, falhou. Porque ensinar não é apenas (?) despertar a curiosidade de um anfiteatro, fazê-los desejar aprofundar as nossas palavras, exceder as referências bibliográficas; pensar. Jantei com alguém que penso preencher os requisitos, tu eras melhor do que eu a valorizar a intuição, terias gostado de lhe palpar o pulso, imagino-te a smsar-me, "acho que tens razão". Eu também:). Envelhecer é isto - preparar o futuro sem nós e sem drama. Adivinhando-o - sem traições ao passado! - no entusiasmo de um olhar juvenil.
Dorme bem.

domingo, dezembro 08, 2013

Lennon pintando um retrato onírico da Mãe. Para nosso deleite...

8 de Dezembro.

Não gosto de dias de..., tresandam a dias sem... Não é o caso de hoje, que se espraia por toda a minha vida. O Dia da Mãe - com todo o respeito pelo de Maio - e de Nossa Senhora da Conceição. Que era o nome dela. Obviamente, não se tratava de uma coincidência,  se nascera a 5 de Outubro, natural seria que a Igreja Católica se juntasse à República para a homenagear! Mas a saudade, essa, vivo-a sem qualquer apoio institucional...

quinta-feira, dezembro 05, 2013

quarta-feira, dezembro 04, 2013

O outro silêncio.

Maria,
Deste silêncio tenho medo - não abraça; devora. Não é como o que te sorria quando entravas, chave recusada na mão, em cujos dedos tive de a fechar, escondendo a intimidade por trás do biombo de ajuda fraternal, “só para vires regar as plantas”. Que cresceram, e eu com elas. A princípio o sobressalto – “empregada doméstica que esqueceu o guarda-chuva? ladrão avesso a pé-de-cabra e primo do tio do sobrinho do habilidoso que me arranjou a fechadura e despiu o bolso, “com recibo...?”; alma penada sem auto-confiança para atravessar paredes?”. Eras tu. “Preferia tocar.” E eu menti algumas vezes, até responder sem levantar os olhos do livro, mas encolhendo os ombros, “qual é a diferença?, nos hotéis pedimos duas chaves”. A diferença é abissal. Amo o silêncio da casa, espera-me com a ternura da Michelle, que se limitava a ensaiar um solo de bateria com a cauda e não abandonava o sofá, esperando afago e colo noite dentro; até ser transportada como um bebé para o fundo da cama, onde se enroscava a tiracolo de um suspiro feliz. Não andámos longe disso, tu literalmente, eu nos braços do teu olhar.Mas tu ficavas na outra margem da cama, noite após noite um de nós partia à abordagem e o outro oferecia resistência com tanto de falsa como risonha, “és insaciável”, a frase ia e vinha como bola de ping-pong, eu também dentro de ti. Mas nos intervalos de amor e desejo o silêncio guardava tempo e estatuto e era amigável, sabia que nos unira tanto como os rituais desajeitados de sedução.
Este é diferente, não torna as palavras inúteis, rouba-lhes o significado e, não vá o Amor tecê-las..., estrangula-as. É paulatino, mas irreversível. Depois das palavras seremos nós. Por momentos restará um eco longínquo do que fomos, a sombra de Brel sem o cão, o lado escuro da Lua dos Floyd sem amplificadores, uma caricatura obscena do que vivemos. Não importa quantos os degraus, levam-nos pelos pés às areias movediças deste silêncio que me invade as entranhas. De tão profundo e arcaico, resta-me a esperança de que não conheça as regras aduaneiras da (des)União Europeia. Se assim for, estás a salvo – recusar-lhe-ei passaporte,  ficarás livre dele. E de mim. Capaz de viver a plenos pulmões.        

Silêncio

SilêncioAssim como do fundo da música 
brota uma nota 
que enquanto vibra cresce e se adelgaça 
até que noutra música emudece, 
brota do fundo do silêncio 
outro silêncio, aguda torre, espada, 
e sobe e cresce e nos suspende 
e enquanto sobe caem 
recordações, esperanças, 
as pequenas mentiras e as grandes, 
e queremos gritar e na garganta 
o grito se desvanece: 
desembocamos no silêncio 
onde os silêncios emudecem. 

Octavio Paz, in "Liberdade sob Palavra" 
Tradução de Luis Pignatelli

segunda-feira, dezembro 02, 2013

Um homem que sempre leio com prazer. E alívio... Uma boa semana, gente.




As perguntas do Papa Francisco. 2
por ANSELMO BORGES30 novembro 2013http://www.dn.pt/Common/Images/img_opiniao/icn_comentario.gif146 comentários
Embora sensível ao raciocínio de Vasco Pulido Valente, que, reflectindo, no "Público", sobre os caminhos que ficam para o Papa Francisco, concluía: "Apesar da sua imensa popularidade, e mesmo por causa dela, Francisco acabou numa velha armadilha, em que esbraceja em vão. O inquérito não o ajudará.", não creio que, desde que superemos a análise sociopolítica e nos coloquemos na perspectiva cristã, que é a sua, Francisco tenha caído numa armadilha.
Então, qual é o maior problema de Francisco? Ele é um cristão convicto. O que o move é o Evangelho enquanto notícia felicitante da parte de Deus para todos. Assim, o seu problema é que todos se convertam realmente ao Evangelho, começando pelos cardeais, continuando nos bispos e nos padres e acabando nos católicos, que devem converter-se a cristãos.
Neste sentido, não se trata de mudar o essencial da doutrina, mas de ir ao decisivo do Evangelho. Ora, o núcleo do Evangelho são as pessoas, dignas de respeito e atenção. É, pois, preciso continuar a anunciar o ideal do matrimónio cristão, mas, depois, atender às pessoas, às suas necessidades e feridas. Para isso, Francisco conta com a mediação da sensibilidade pastoral dos bispos e dos padres e dos cristãos em geral, que asseguram no concreto a aplicação do ideal.
Por outro lado, não se deve esquecer que Francisco tem uma dupla origem. Ele é ao mesmo tempo "franciscano", e, assim, humilde e próximo das pessoas, e jesuíta, portanto, com toda uma formação de procura da eficácia. Ele crê na "Igreja Povo de Deus", que é também a "santa Igreja hierárquica". Por isso, sabe consultar, no quadro de uma adelfocracia (governo de irmãos), mas também sabe que, em última instância, é a ele que compete decidir, com os outros bispos e em Igreja. Neste quadro, deixei aqui na semana passada o que me parece expectável como resultado deste inquérito, passando agora a algumas perspectivas de teor mais pessoal.
É claro que a família é uma instituição essencial, indispensável, enquanto espaço de comunhão, partilha de afectos, valorização e realização pessoal e educação das crianças. A família é a célula de base da sociedade. Mas também é claro que a pastoral familiar não pode continuar a centrar-se num catálogo de proibições e pecados, na proibição dos anticonceptivos e das relações sexuais pré-matrimoniais. O próprio Francisco já preveniu que não se pode viver obcecado com o rigorismo e o legalismo; de outro modo, "mesmo o edifício moral da Igreja corre o risco de cair como um castelo de cartas". É evidente que não vale tudo, mas a Igreja tem de reconhecer que tem tido enorme dificuldade em falar pela positiva das questões ligadas à família e ao sexo. O seu discurso nestas matérias tem de centrar-se na dignidade, liberdade, respeito e responsabilidade. Isto também significa que a valorização que se faz da família cristã não tem de ser acompanhada de ataques a outros tipos de realização e vivência de família.
Se o Papa reconhece que há também a tendência homossexual, pergunta-se se não se deve caminhar no sentido do reconhecimento do direito de actividade sexual no mesmo quadro de exigências dos heterossexuais. A adopção é diferente, pois o debate continua, mesmo entre especialistas. Embora Francisco, quando arcebispo de Buenos Aires, tenha aprovado que um casal gay adoptasse uma criança, o que significa, mais uma vez, a dialéctica entre os princípios e as pessoas na sua situação concreta.
Quanto à paternidade e maternidade responsáveis, é urgente perceber que a moral é autónoma, pertencendo, portanto, as decisões neste domínio às pessoas e aos casais, dentro da liberdade na responsabilidade.
No caso dos divorciados que voltam a casar, é claro que se exige celeridade nos processos de declaração de nulidade no casamento. Mas pergunta-se se não será necessário ir mais longe e, atendendo à fragilidade humana, invocar, como a Igreja cristã ortodoxa, o princípio da misericórdia, dando a possibilidade de outra oportunidade. Seja como for, não se pode pedir aos divorciados recasados que continuem no seu empenhamento na Igreja, mas impedindo-os da comunhão.


DN.

domingo, dezembro 01, 2013