Se Me EsqueceresQuero que saibas
uma coisa.
Sabes como é:
se olho
a lua de cristal, o ramo vermelho
do lento outono à minha janela,
se toco
junto do lume
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva para ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fosse pequenos barcos que navegam
até às tuas ilhas que me esperam.
Mas agora,
se pouco a pouco me deixas de amar
deixarei de te amar pouco a pouco.
Se de súbito
me esqueceres
não me procures,
porque já te terei esquecido.
Se julgas que é vasto e louco
o vento de bandeiras
que passa pela minha vida
e te resolves
a deixar-me na margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
a essa hora
levantarei os braços
e as minhas raízes sairão
em busca de outra terra.
Porém
se todos os dias,
a toda a hora,
te sentes destinada a mim
com doçura implacável,
se todos os dias uma flor
uma flor te sobe aos lábios à minha procura,
ai meu amor, ai minha amada,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor alimenta-se do teu amor,
e enquanto viveres estará nos teus braços
sem sair dos meus.
Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda"
terça-feira, julho 30, 2013
quinta-feira, julho 25, 2013
quinta-feira, julho 18, 2013
Uma rua que começa...
Povoamento
No teu amor por mim há
uma rua que começa
Nem árvores nem casas existiam
antes que tu tivesses palavras
e todo eu fosse um coração para elas
Invento-te e o céu azula-se sobre esta
triste condição de ter de receber
dos choupos onde cantam
os impossíveis pássaros
a nova primavera
Tocam sinos e levantam voo
todos os cuidados
Ó meu amor nem minha mãe
tinha assim um regaço
como este dia tem
E eu chego e sento-me ao lado
da primavera
Ruy Belo, in "Aquele Grande Rio Eufrates"
Nem árvores nem casas existiam
antes que tu tivesses palavras
e todo eu fosse um coração para elas
Invento-te e o céu azula-se sobre esta
triste condição de ter de receber
dos choupos onde cantam
os impossíveis pássaros
a nova primavera
Tocam sinos e levantam voo
todos os cuidados
Ó meu amor nem minha mãe
tinha assim um regaço
como este dia tem
E eu chego e sento-me ao lado
da primavera
Ruy Belo, in "Aquele Grande Rio Eufrates"
quarta-feira, julho 17, 2013
segunda-feira, julho 15, 2013
E tudo o vento trouxe:).
Maria,
A fotografia de minha Mãe à
esquerda, a velha placa do laboratório de meu Pai à direita, no meio não
suspira virtude mas saudade. Que me diriam, na varanda debruçada sobre céu
tripeiro? Talvez nada, adeptos que éramos do silêncio cúmplice; aconchegado.
Ver-te chegar, melhor!, adivinhar-te no sorriso dela, cabeça reclinada na mão,
como tu fazes. E em psiquiatra tal semelhança é ainda mais suspeita,
apaixonei-me por ti ou pela brisa que vos une desde o primeiro olhar? Para não
falar do meu, refugiado atrás de café, livro, distância e espelhos do meu
querido Majestic, “olho ou não, será tão fascinante como o reflexo?”. O cabelo chovia sobre mesa e
ascético chá, o dedo em meditada circunavegação do pires envergonhou a pressa,
ruborizada mas sem pudor, com que me afastei do longo cruzar das tuas pernas.
Não fui a tempo. O desejo, de tão intenso, levou-te a buscar-lhe a fonte, por
segundos receei que a decretasses suja e a mim não potável. Por segundos.
Depois mergulhei na interrogação tranquila dos teus olhos e apoiaste a face na
mão. Como ela… A quem contei o sucedido com excitação mais adequada a tórrido
encontro de amor. (Foste tu a explicar-me, muito depois, que precisamente disso
se tratara.) Ela escutou e sorriu – “não te precipites, deixa-vos acontecer”.
Não percebi a sageza da frase, utilizei-a como álibi para a timidez que se me
apoderara de língua e pernas, nos dias seguintes nem do espelho passei! Até ao
que me pareceu de festa, inventado por Senhor e Acaso em minha ajuda que não
honra, alguém abriu a porta ao vento e ele decidiu brincar com os teus papéis
pelo chão, eu mergulhei, egoísta, para
me salvar. A avidez foi tanta que tos devolvi amarfanhados, em miserável desordem,
talvez inúteis, e contudo eu abrigava a megalómana esperança de um “obrigado”.
Apenas para ficar siderado por
sorriso largo de alívio maroto – “caramba, até que enfim, foi preciso um
ciclone!”. Não sei, Maria, a meteorologia navega no imenso oceano da minha
ignorância. Mas atendendo ao que irrompeu pela tua mão na minha vida, aceito qualquer
descrição – de terramoto a fogo de Estio. E ninguém me ouviu pedir ajuda,
deixei-nos acontecer…
segunda-feira, julho 08, 2013
domingo, julho 07, 2013
sexta-feira, julho 05, 2013
segunda-feira, julho 01, 2013
Clandestino a prazo.
Maria,
Falar-te ao ouvido, quando ja adormecida. Baixinho, para nao acordares; com a paixao necessaria para te invadir os sonhos. E deixar a duvida para a manha seguinte - "sonhei ou por uma vez o disse?". Beber o sumo de laranja como se nada tivesse acontecido. Alem de acordar a teu lado...
O que nao e privilegio menor.
Esperar a noite seguinte e repetir a artimanha. Na esperanca de ser apanhado - "Quem, eu?".
Esse riso gaiato:).
Falar-te ao ouvido, quando ja adormecida. Baixinho, para nao acordares; com a paixao necessaria para te invadir os sonhos. E deixar a duvida para a manha seguinte - "sonhei ou por uma vez o disse?". Beber o sumo de laranja como se nada tivesse acontecido. Alem de acordar a teu lado...
O que nao e privilegio menor.
Esperar a noite seguinte e repetir a artimanha. Na esperanca de ser apanhado - "Quem, eu?".
Esse riso gaiato:).
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