quarta-feira, maio 11, 2005

A poesia di-lo melhor:)

Retrato de mulher


Sobre o seu rosto não fora só o tempo que passara, também as cabras ali pisaram fundo. Era difícil, era impossível distingui-la da própria terra: velha, seca, esboroando-se à passagem do vento. Portuguesa, de tão pobre.

Eugénio de Andrade, Memória doutro rio.

57 comentários:

Anónimo disse...

Ter-me-á cabido a mim a honra de ser a primeira?... Confesso que a honra me encabulou e agora fico um pouco perdida no que tinha para dizer...
Retenho a última frase "... velha, seca, esboroando-se à passagem do vento. Portuguesa, de tão pobre" - Afinal quando é que o panorama deixará de ser este? Interpreto aqui variadíssimas questões, mas chamo aqui apenas uma. Quando é que o povo Português deixa de ser conotado com esta imagem, porque, acreditem, é esta a imagem que ainda impera lá por fora, e muito!

A questão de fundo não era esta, eu sei! Mas não custa nada reordar...

Obrigada pelas palavras!

Elsa disse...

Fica aqui, se mo permitem, as palavras de um outro poeta. :)


Disse Fêmea

Disse fêmea
Mulher feita
Disse fêmea
Disse cresce
Disse muda
Perde a estúpida inocência
Dia após dia
Para aonde ia
Disse fêmea
Mulher feita

Mal eu sabia
Que a vida rouba os sonhos
Mal eu sabia
Que o mundo nos desmama
De paixões surdas,
Cava na cara
Sulcos secos,
Sulcos secos

Disse fêmea
Mulher feita
Faz-te fêmea
Ama-te a ti mesma
O mundo espera
Cheio de tudo
Come-o, feliz, sã, gloriosa, cheia
Diz-te fêmea
Mulher feita


Eu não sabia
Que nascemos sombras
Eu não sabia
Que todos têm medo
De falhar, de perder
Não há braços de fêmea
Para embalar
O mundo


Disse fêmea
Mulher feita
Acabou-se o que era doce
Acabaram-se os amantes
O preço da mão estendida é
A pagar, a pagar,
Mais cedo ou mais tarde
Não repitas os meus erros
Menina feita mulher


Disse fêmea
Mulher feita
Disse fêmea
Disse cresce
Disse muda, muda, muda
Perde essa estúpida inocência
Dia após dia,
Após dia,
Para aonde ia
Disse fêmea
Menina feita mulher
Menina feita mulher
Menina feita mulher.

Jorge Palma

frosado disse...

O Professor merece parabéns, pelas sábias palavras, pelas escolhas poéticas, pelo número de visitas!

Agora, pergunto com algum cinismo: A maior parte destas visitas são doentes suas?
Desculpe, não quero ofender ninguém, só queria saber se me poderia arranjar uma vagazita para consulta...tou a brincar, só a primeira parte é que é a sério!

lobices disse...

...como comentar Eugénio?
...abraço

PortoCroft disse...

Ó Prof.,

Sinceramente... Isso é concorrência desleal ao meu tasco. ;)

Felizmente, ainda há poetas com a grandeza de Eugénio de Andrade para descrever a vida duma forma nua, crúa e, no entanto terna e bela.

Apenas lamento que, os prémios, muito justamente, vão para o poeta e se continue esquecendo as musas de tal talento.

Anónimo disse...

"A poesia di-lo melhor:)"

Já é a segunda vez que aqui venho dizer-lhe que não Mestre.

É tão rico ouvi-lo que continuo à espera de o poder ler também.

Não Abrupte. MachadoVAZE!

Dá-nos luz, LAMPIÃO!

Anónimo disse...

que peso e intensidade a das cabras ali pisando fundo
o ser impossível distingui-la da terra e o estar a esboroar-se
que tela verdadeira para qualquer pele pobre ou rica que atinge mais do que o seu tempo.

Anónimo disse...

Age can finally say aloud what it really feels and thinks No one blinks.
If they do, no matter.
Age is proof you got from there to here.

Anónimo disse...

Age can finally say aloud what it really feels and thinks No one blinks.
If they do, no matter.
Age is proof you got from there to here.

Anónimo disse...

Age can finally say aloud what it really feels and thinks No one blinks.
If they do, no matter.
Age is proof you got from there to here.

Tão só, um Pai disse...

... por trás da bela e pitoresca paisagem, existem gentes de abandonos ocultos, animais bravios à espera da morte, sem temor ou maldizendo a sorte, de quem morre pobre e em solidão.

Anónimo disse...

Não foi de propósito....
Estas tecnologias por vezes falham....
será da idade?:)))))))

Anónimo disse...

Pablo Neruda

Cuerpo de mujer...

Cuerpo de mujer, blancas colinas, muslos blancos,
te pareces al mundo en tu actitud de entrega.
Mi cuerpo de labriego salvaje te socava
y hace saltar el hijo del fondo de la tierra.

Fui solo como un túnel. De mí huían los pájaros
y en mí la noche entraba su invasión poderosa.
Para sobrevivirme te forjé como un arma,
como una flecha en mi arco, como una piedra en mi honda.

Pero cae la hora de la venganza, y te amo.
Cuerpo de piel, de musgo, de leche ávida y firme.
¡Ah los vasos del pecho! ¡Ah los ojos de ausencia!
¡Ah las rosas del pubis! ¡Ah tu voz lenta y triste!

Cuerpo de mujer mía, persistiré en tu gracia.
Mi sed, mi ansia si límite, mi camino indeciso!
Oscuros cauces donde la sed eterna sigue,
y la fatiga sigue, y el dolor infinito



Ah.....como eu gosto de poesia
Sem dúvida, "a poesia di-lo melhor"...
Um muito Obrigada Prof.

Anónimo disse...

E para Tão Só, Um Pai


por este dia tão especial para si

cito:
"Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!"

Fernando Pessoa

Anónimo disse...

To Tão Só Um Pai

Desculpe, enganei-me na data...
Foi ontem...
Desejo sinceramente que um dia venha a ser muito e muito mais feliz...

Anónimo disse...

A poesia di-lo de outra forma. Menos técnica
mais calada
sentida assim ...
nas entranhas da mãe vida.

"Amamentou e criou o General. Depois passaram-se 75 anos." a)

Mantenhas

Anónimo disse...

Tempo de poesia

E TUDO ERA POSSÍVEL

Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer

Ruy Belo - «Homem de Palavra[s]»

Anónimo disse...

«O Eusébio marca livres de trinta metros, o Artur Jorge chuta em moinho, o Dinis faz fintas à bandeirola de canto, mas eu fui o maior craque da Rua Guerra Junqueiro e está para nascer um sucessor digno desse título.»


Fernando Assis Pacheco

Anónimo disse...

Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais.
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei.
Eu nada sei.
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs.
É preciso amor para poder pulsar
É preciso paz para poder sorrir
É preciso chuva para florir...
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha, ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada
Eu vou, estrada eu sou...
Todo mundo ama um dia, todo mundo chora
Um dia a gente chega, no outro vai embora.
Cada um de nós compõe a sua história.
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz de ser feliz.

Maria Bethânia

Anónimo disse...

Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais.
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei.
Eu nada sei.
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs.
É preciso amor para poder pulsar
É preciso paz para poder sorrir
É preciso chuva para florir...
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha, ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada
Eu vou, estrada eu sou...
Todo mundo ama um dia, todo mundo chora
Um dia a gente chega, no outro vai embora.
Cada um de nós compõe a sua história.
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz de ser feliz.

Maria Bethânia

Anónimo disse...

Júlio Machado Vaz,
Não contava comentar no seu blogue uma segunda vez. Mas porque fui um pouco brutal da primeira, vim aqui espreitar. O poema que deixou é pura beleza. Quase que me reconciliou com o Eugénio de Andrade. Os grandes poetas são assim: de vez em quando uma centelha.

Anónimo disse...

Na primeira noite
Eles aproximam-se
E colhem uma flor
Do nosso jardim
E não dizemos nada.

Na segunda noite,
Já não se escondem:
Pisam as flores
Matam o nosso cão,
E não dizemos nada.

Até que um dia
O mais frágil deles
Entra sozinho em nossa casa,
Rouba-nos a lua e,
Conhecendo nosso medo,
Arranca-nos a voz da garganta
E porque não dissemos nada,
Já não podemos dizer nada.

Maiakovski

Anónimo disse...

Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece

Mário Henrique Leiria

Anónimo disse...

«Vem por aqui» - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: «vem por aqui!»
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre da minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Porque me repetis: «vem por aqui!»?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: «vem por aqui!»
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio

Anónimo disse...

Escrevi um livro.
Quantos anos a sonhá-lo,
A rascunhá-lo nas mesas dos cafés,
A escrevê-lo nos intervalos do emprego,
A vivê-lo,
A sofrê-lo,
Na província, nas cidades...!

Criei um filho.
Tanta alegria no meu coração!

Só ainda não plantei uma árvore.
O frágil caule como protegê-lo?
Como não deixar que os bichos
Maculem as pequeninas folhas?
E como dialogar com uma árvore-menina?
Agora vai sendo tempo.
Os anos já me pesam.
Amanhã vou plantar uma árvore.

Saul Dias

Anónimo disse...

Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,

(...)

Ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!

(...)

Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...

Alexandre O’Neill

Anónimo disse...

A palavra por dentro da guitarra
a guitarra por dentro da palavra.
Ou talvez esta mão que se desgarra
(com garra com garra)
esta mão que nos busca e nos agarra
e nos rasga e nos lavra
com seu fio de mágoa e cimitarra.

Asa e navalha. E campo de batalha.
E nau charrua e praça e rua.
(E também lua e também lua).
Pode ser fogo pode ser vento
(ou só lamento ou só lamento).

Esta mão de meseta
voltada para o mar
esta garra por dentro da tristeza.
Ei-la a voar ei-la a subir
ei-la a voltar de Alcácer Quibir.

Ó mão cigarra
mão cigana
guitarra guitarra
lusitana.

Manuel Alegre

Anónimo disse...

«A poesia é das raras actividades humanas que, no tempo actual, tentam salvar uma certa espiritualidade. A poesia não é uma espécie de religião, mas não há poeta, crente ou descrente, que não escreva para a salvação da sua alma – quer a essa alma se chame amor, liberdade, dignidade ou beleza.»

(Sophia de Mello Mello Breyner)

Anónimo disse...

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia

Anónimo disse...

E então se fosse dito por si, Professor!

Anónimo disse...

E então se fosse dito por si, Professor!

Anónimo disse...

Ó VÉSPERA DO PRODÍGIO IV

Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é étero num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro. Ámen.


NATÁLIA CORREIA, Sonetos Românticos (1990)

PortoCroft disse...

O que seria dos bordeis nos corações, se não houvera a poesia? ;)

Delírio

Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
– Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.

No seu ventre pousei a minha boca,
– Mais abaixo, meu bem! – disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci...

(Olavo Bilac)

andorinha disse...

Júlio,
O poema é belíssimo, mas também eu não gosto de comentar poesia, gosto de a sentir.
Concordo, em certa medida com o comentário de Zero. " A poesia di-lo melhor:)". Não sei se será assim. Não se menospreze.:)
Gostamos( acho que posso usar aqui o plural) de sorver as suas palavras. Não se refugie sempre na poesia para dizer o que lhe vai na alma.

andorinha disse...

Portocroft,
A concorrência é sempre vantajosa, não sabes isso?:)

De todos os poemas que por aqui passaram marcaram-me sobretudo dois: o da Maria Bethânia e o de Sophia.
Obrigada, anónimos.:)

Unknown disse...

Assim à pressa é que a poesia é sentida verdadeiramente.

Eu sou uma entre tantas.
Eu sou uma mulher.
Eu sou mulher.
Eu sou aquela mulher...
... Feliz.
PORQUE VOU DE FÉRIAS!!!
IUPIIII!!!

Yulunga

Cuidem-se maralhal

Anónimo disse...

"Eu não sou da Política. Sou da Universidade e do Desporto" - Cavaco

Desporto? Talvez Bilhar de Bolso!

Quitéria Barbuda

www.riapa.pt.to

K. disse...

Muy bien, Professor Murcôn!

:)

Katraponga

Anónimo disse...

Portocroft
foi você que pediu um ciclone? ;-))

Tão só, um Pai disse...

Woelfin,

Obrigado.

Anónimo disse...

A mineirinha recebeu o cliente de «shorts» brancos e de botas vermelhas com tacão de metal doirado. E tem por debaixo dos calções uma cuequinhas de fio dental, vermelhas-dragão, com rendinhas do Ceará. Nas pernas vestia umas meias pretas todas rendadas que lhe colocavam as pernas em cima de um altar, tão bem feitas elas eram na Graça do Senhor enquanto os fiéis comungam. Ela fixa o cliente nos olhos que não se desviam do seu peito de romã, crescido e belo, como poemas de Shelley e Keats, aos 20 anos de idade. A mineirinha que, agora, anda a aprender inglês e já sabe dizer «tesão» em inglês: «horny».

«Agora, eu vou chupar-te os mamilos, mordendo-os à minha maneira como uma serrilha e, depois, vou bater-te uma punheta, primeiramente, com a boca, mais a língua de través, o que te causa um tesão descomunal e, a seguir, eu masturbo-te com a velocidade de um TGV, até tu rebentares o teu sémen para dentro da camisinha e eu dizer : «Que delícia!» «Depois, lavo-te no bidé com água quente e desinfectante, ajudo-te a vestir, aperto as tuas calças e o cinto, para que não te esqueças de nada».
«... Nem do leitinho que não era meu e pertencia à tua conjuge...e passou a ser meu. Qualquer dia engulo-o eu todinho...E o tesão passa a ser meu, só de ver o teu cuzinho que um dia vai ser só meu, com um caralho grande que guardo só para ti e to enterro com glicerina. Vai-te custar um bocadinho, mas, a seguir, vais gostar, após a entrada da cabecinha que é grandona e até te sentar em cima de mim enquanto eu te fodo de olhos vidrados e hipnotizados pela tua esperma que sai como um furacão dentro de um «rink»...» «...Espero que gostes muito, porque eu estou toda molhadinha...É só meteres o dedo na minha vagina para notares como eu estou húmida vibrando por ti...»

Maite disse...

Orgulho-me de ser mulher e Portuguesa

Nada mais pobre que considerar-nos pobres...aliás é meio caminho andado para a pobreza. Assim como pôr em questão certos valores que são humanamente aceitáveis e trocá-los por outros menos perenes, ainda nos relativiza mais e nos faz mais pequenos.

lobices disse...

"Eu te amo, homem, hoje como
Toda a vida quis e não sabia,
Eu que já amava de extremoso amor
O peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos
De bordado, onde tem
O desenho cómico de um peixe – os
Lábios carnudos como os de uma negra.
Divago quando o que quero é só dizer
Te amo. Teço as curvas, as mistas
E as quebradas, industriosa como uma abelha,
Alegrinha como florinha amarela, desejando
As finuras, violoncelo, violino, menestrel
E fazendo o que sei, o ouvido no teu peito
Para escutar o que bate. Eu te amo, homem, amo
O teu coração, o que é, a carne de que é feito,
Amo sua matéria, fauna e flora,
Seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas
Perdidas nas casas que habitamos, os fios
De tua barba. Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo
Pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto:
“Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentas
o teu gado, onde repousas ao meio-dia, para que eu não
ande vagueando atrás dos rebanhos de teus companheiros”.
Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama
Fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.
Te alinho junto das coisas que falam
Uma coisa só: Deus é amor. Você me espicaça como
O desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece,
Tira de mim o ar desnudo, me faz bonita
De olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega,
Me dá um filho, comida, enche minhas mãos.
Eu te amo, homem, exatamente como amo o que
Acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando
Os panos, se alargando aquecido, dando
A volta do mundo, estalando os dedos pra pessoa e bicho.
Amo até a barata, quando descubro que assim te amo,
O que não queria dizer amo também, o piolho. Assim,
Te amo do modo mais natural, vero-romântico,
Homem meu, particular homem universal.
Tudo o que não é mulher está em ti, maravilha.
Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos,
A luz na cabeceira, o abajur de prata;
Como criada ama, vou te amar, o delicioso amor:
Com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso,
Me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles
Eu beijo."

...from:
ADÉLIA PRADO. Poema “Para o Zé” in Poesia Reunida, São Paulo: Siciliano, 1991

Tão só, um Pai disse...

Existem muitas pobrezas, nomeadamente em solidariedade, essa, a da indiferença. Pobreza do espírito. Pobreza da dignidade. Indignação, sem acção. O que nos torna mais pobres.

PortoCroft disse...

Anonymous das 7:46 PM,

O que eu queria mesmo era um Anti-ciclone. ;)

joaninha disse...

Caro Prof.

Tem bom gosto! Não há dúvida que este trecho poético de Eugénio de Andrade retrata a camponesa de Portugal e não só, pois retrata também as camponesas que por esse mundo fora sempre existiram e existem, crestadas pelo sol e cor da terra e com sulcos de sofrimentos múltiplos, que só a terra sabe compreender.
Como estas mulheres são um manancial de cultura, em todas as vertentes…
Aquele abraço!

noiseformind disse...

Mas atenção Éme, já andam aí uns políticos iluminados a aprovar em velocidade de cruzeiro corte de sobreiros bi-centenários e outra vegetação daninha para nos deslumbrar-mos com a fímbria betónica do progresso :) Ou não me chame Peter Espírito Santo!

Aliás, nós não somos pobres, nós somos dos países mais ricos do mundo! Espanha tem 5 vezes a nossa população, 3 vezes o nosso PIB per capita e só tem mais 20% de stands Ferrari!!! Ou então em piscinas? Temos só menos 50% de piscinas particulares que a Alemanha!!! Não são sinais claríssimos de um progresso insanemente inabalável? Não rejubilas? Não rejubilamos todos?

CLARO QUE SIM!!!!

Anónimo disse...

Este poema reportou-me a um outro, da minha infância, também lindo,
de Guerra Junqueiro

A moleirinha

... Pela estrada plana, toque, toque, toque,
Guia o jumentinho uma velhinha errante.
Como vão ligeiros, ambos a reboque,
Antes que anoiteça, toque, toque, toque,
A velhinha atrás, o jumentito adiante!...


Toque, toque, a velha vai para o moinho,
Tem oitenta anos, bem bonito rol!...
E contudo alegre como um passarinho,
Toque, toque, e fresca como o branco linho,
De manhã nas relvas a corar ao sol.


Vai sem cabeçada, em liberdade franca,
O jerico ruço duma linda cor;
Nunca foi ferrado, nunca usou retranca,
Tange-o, toque, toque, a moleirinha branca
Com o galho verde duma giesta em flor.


Vendo esta velhita, encarquilhada e benta,
Toque, toque, toque, que recordação!
Minha avó ceguinha se me representa...
Tinha eu seis anos, tinha ela oitenta,
Quem me fez o berço fez-lhe o seu caixão!...

Boa noite Professor e obrigada.

amok_she disse...

"Albertina" ou "O inseto-insulto" ou
"O quotidiano recebido como mosca"

O poeta está só, completamente só.
Do nariz vai tirando alguns minutos
De abstração, alguns minutos
Do nariz para o chão
Ou colados sob o tampo da mesa
Onde o poeta é todo cotovelos
E espera um minuto de beleza.
Mas o poeta é aos novelos;
Mas o poeta já não tem a certeza
De segurar a musa, aquela
que tantas vezes, arrastou pelos cabelos...

A mosca Albertina, que ele domesticava,
Vem agora ao papel, como um inseto-insulto,
Mas fingindo que o poeta a esperava ...

Quase mulher e muito mosca,
Albertina quer o poeta para si,
Quer sem versos o poeta.
Por isso fica, mosca-mulher, por ali...

— Albertina!, deixa-me em paz, consente
Que eu falhe neste papel tão branco e insolente
Onde belo e ausente um verso eu sei que está!

— Albertina! eu quero um verso que não há!...

Conjugal, provocante, moreno e azulado,
O inseto levanta, revoluteia, desce
E, em lugar do verso que não aparece,
No papel se demora como um insulto alado.

E o poeta sai de chôfre, por uns tempos desalmado ...

Alexandre O'Neill

:->

amok_she disse...

Cão

Cão passageiro, cão estrito,
Cão rasteiro cor de luva amarela,
Apara-lápis, fraldiqueiro,
Cão liquefeito, cão estafado,
Cão de gravata pendente,
Cão de orelhas engomadas,
De remexido rabo ausente,
Cão ululante, cão coruscante,
Cão magro, cão tétrico, maldito,
A desfazer-se num ganido,
A refazer-se num latido,
Cão disparado: cão aqui,
Cão além, e sempre cão.
Cão amarrado, preso a um fio de cheiro,
Cão a esburgar o osso
Essencial do dia a dia,
Cão estouvado de alegria,
Cão formal de poesia,
Cão-sonêto de ão-ão bem martelado,
Cão moldo de pancada
E condoído do dono,
Cão: esfera do sono,
Cão de pura invenção, cão pré-fabricado,
Cão-espelho, cão-cinzeiro, cão-botija,
Cão de olhos que afligem,
Cão-problema...

Sai depressa, ó cão, deste poema!

Alexandre O'Neill

:->

Anónimo disse...

Quando era miuda jogava muitas vezes..
à cabra cega.
E era o espanto da descoberta
(quando agarrava alguém)
que me enchia de prazer e de alegria...
Nunca deixei de jogar à cabra cega.
E de cada vez que o meu braço, a voz, as palavras,ou o olhar
tocam em alguém
que não se espera
o ciclo da vida recomeça,
mais vida, mais pura, mais bela.
Se calhar não é por isto
que pareço calma, ou triste
ou me angustio
ou fico feliz
ou esfuziante.
Se calhar não é por isto
que me espanto todos os dias
com a vida.
Possívelmente o que aqui digo
não é verdade e não é merecido.
Mas se não fosse a cabra cega,
amigo..
não te tinha conhecido!

Guadalupe

Maite disse...

Jessie
Parabéns por esta escolha magnífica.

Anónimo disse...

"Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão,
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação."

Nuno Júdice

Helena disse...

guadalupe, obrigada*

vou guardá-lo :)

Anónimo disse...

amok_she

Devidamente esclarecida pelo seu mail, agradeço ter desfeito algum equívoco.

Para que não restem neste espaço (muitas) dúvidas, aprecio bastante a ideia de citar O'Neill e quejandos.

1:25 05.05.13

Anónimo disse...

E por falar em Poesia...

Conhece este poema escrito pela Alberto Caeiro do séc. XXI, Encandescente de seu heterónimo, e que refere o Murcon?!?

Prescrição para males de amor

Ah Camões
Se vivesses hoje em dia
Tomavas uns anti-piréticos
Uns quantos analgésicos
E Xanax ou Prozac para a depressão
Compravas um computador
Consultavas a página do Murcon
E descobririas
Que essas dores que sentias
Esses calores que te abrasavam
Essas mudanças de humor repentinas
Esses desatinos sem nexo
Não eram feridas de amor
Mas somente falta de sexo.

Vale a pena ler esta, e todas as outras, aqui: http://eroticidades.blogspot.com/

Roberto Iza Valdés disse...
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