sábado, março 04, 2006

O "como" e não de que se morre em discussão imperiosa.

Doentes preferem morrer em casa



Os portugueses morrem cada vez mais no hospital. A situação é igual em quase todo o mundo ocidental, mas contradiz, segundo vários estudos, a vontade expressa da maior parte dos doentes, que preferem a companhia dos familiares nos últimos dias de vida. Uma investigação, publicada ontem no British Medical Journal - e que contou com a participação da portuguesa Bárbara Gomes - identifica os factores mais importantes que favorecem a morte de doentes em estado terminal em casa: cuidados domiciliários intensivos e rede de suporte familiar.

O envelhecimento da população traz o aumento da prevalência de doenças crónicas. E com estas vêm os internamentos prolongados em instituições hospitalares e mais custos para os sistemas nacionais de saúde. A sustentabilidade dos serviços hospitalares depende também de uma rede de cuidados continuados que possa continuar a apoiar o doente em casa. Os cuidados paliativos a nível domiciliário são um desafio, que se assume cada vez mais, explica Bárbara Gomes, investigadora do King's College London, como "um imperativo em termos de política de saúde para a sustentabilidade do sistema".

A investigação desenvolvida consistiu numa revisão sistemática da literatura e é a primeira que, em termos quantitativos, aborda o tema da morte em casa. E surgiu, explica a investigadora portuguesa, porque apesar de várias medidas implementadas em alguns países - como o Reino Unidos, Canadá, Estados Unidos e Austrália - as pessoas continuam a morrer cada vez mais no hospital. Por exemplo, em Portugal essa percentagem cresceu de 64% para 67% em apenas quatro anos. Ou seja, diz Bárbara Gomes, "as políticas não têm o efeito desejado".

O trabalho analisou um universo de mais de 1,5 milhões de doentes, envolvidos em 58 estudos e 13 países. Os resultados apontam que 17 factores são essenciais para que cada vez mais os doentes em estado terminal possam morrer em casa. Segundo explica Bárbara Gomes, o suporte familiar é essencial: quem tem uma rede em casa, tem sete vezes mais hipóteses de vir a morrer junto da família. Se forem assegurados cuidados domiciliários continuados de qualidade, com carácter frequente e intensivo, a probabilidade de alguém morrer em casa é até oito vezes superior. As minorias étnicas e as pessoas de estrato sócio- -económico baixo têm, por outro lado, maior probabilidade de virem a morrer nos hospitais.



Diário de Notícias.

32 comentários:

lobices disse...

Ele envelheceu um pouco nestes últimos tempos; nota-o quando olha o espelho ao desfazer a barba; interessante é notar também os pêlos brancos do peito; também não é para admirar. Mas a vida é assim, a vida prega partidas com as quais não se conta. A vida poupou-o durante muitos anos mas nestes últimos dez não foi fácil.
Começou pela falência da sua empresa e os problemas inerentes e subsequentes deram chatices e as pressões provocaram danos; mais tarde, foram problemas do foro afectivo e a seguir problemas de saúde. Passou alguns maus bocados. Quando tudo parecia estar “resolvido” um novo factor destabilizante surgiu para lhe provocar novas dores de cabeça. Há já mais de um ano que ele vive só na companhia de duas velhinhas de 90 anos, sua mãe e uma sua tia; esta já se encontrava acamada mas tudo se ia resolvendo de forma consertada entre ele e sua mãe; porém, eis senão quando, sua mãe também cai doente mas sem doença, “cai” de cansaço, de velhice, de tempos demasiados de pesada vida ao longo de muitos e muitos anos.
Ele é filho único e não tem mais ninguém a quem recorrer; tem os filhos mas estes estão um pouco longe e têm as suas vidas; sempre que podem e tal se torne necessário, eles o ajudam em casos específicos. No entanto, para o dia a dia, ali presente, ele está só.
E sente-se só.
Face aos acontecimentos, teve de criar uma rotina, pois os tratamentos, as medicações e outros factores a isso obrigam; assim, levanta-se por volta das sete e trinta; abre as janelas para que a luz ilumine o ambiente; liga o fogão; prepara a tia para a higiene matinal; depois prepara o pequeno-almoço para ela e termina com o refazer da cama e da limpeza do quarto.
Segue-se idêntico tratamento para sua mãe ainda que não esteja incluída a higiene na medida em que ela ainda a consegue proceder de moto próprio.
Depois delas “arrumadas” ele vai “tratar” de si mesmo.
Por volta das dez da manhã sai e vai fazer as compras que entende necessárias e toma o café da manhã (vício de longos e longos anos).
Regressa a casa e vai ao computador ver o que se passou durante a noite; lê os mails e escreve alguma coisa, pouca é certo pois é necessário ir fazer o almoço.
Tem de fazer as “coisas” como faz no pequeno-almoço: primeiro trata da alimentação da tia e depois almoça ele mais a mãe; findo o almoço segue-se o arrumar da mesa e dos demais acessórios e o lavar da loiça. Por volta das catorze e trinta está “livre” e vai sentar o corpo para descansar a sesta.
A rotina regressa por volta das dezoito horas e segue os mesmos termos até às nove.
É nesta altura que ele se senta em frente do seu portátil e tenta distrair os seus nervos; nervos que se vão deteriorando não por um cansaço físico mas por um sentimento de impotência perante aquilo que a vida lhe deu; sente-se cansado por “dentro”. Então, fala dos “seus” pardais, do gato e do cão, do seu quintal e do sol que se põe sempre a oeste; fala das suas rosas, das nuvens e do vento leste; fala de tudo, menos dele e do “lobo” que há dentro dele… Fala de amor, do amor, de como amar sem posse nem destino; fala de amor incondicional e não o entendem; fala de voos palermas e escreve alguma poesia… Gosta de escrever contos, pequenos textos e alguns pensamentos; gosta muito de fotografia e gosta de as legendar. Fala sobre palavras… ama-as e ama as pessoas…
A resolução do problema passa pelo provável internamento da tia, mas tudo leva o seu tempo neste burocrático país de papéis e petições. Entretanto tem de ser assim.
Às vezes nota-se nele um desânimo e uma tristeza latente. Mas sente-se que a tenta ultrapassar; vê-se muitas vezes um sorriso aberto nos lábios e os passeios pedestres que ele faz ao meio da tarde servem para desanuviar a tensão acumulada durante o dia.
Diariamente lhe perguntam como é que vão as doentes; invariavelmente e a sorrir, responde sempre da mesma forma: “Obrigado, as minhas velhinhas estão bem!”

...
...esta era a minha situação em meados de 2004... após a morte da minha tia, pouca coisa ficou diferente com excepção de que agora sou apenas eu com minha mãe
...que fazer?...
...ir-me embora? Virar as costas? Não somos de uma minoria étnica mas somos pessoas de um estrato social de baixa economia e não vejo nisso maior probabilidade de minha mãe vir a morrer num hospital pelo simples facto que, no seu pleno estado de são espírito deseja morrer em casa; e isso, esse cumprir da sua última vontade "mata-me" aos poucos...
...

noiseformind disse...

Oh Boss,
Tivesse eu sorte assim com o EuroMilhões. Ouvi a notícia na TSF e disse logo a quem estava ao meu lado: "hoje temos posta sobre isto lá no Murcon" ; ))))))

Mas os velhos incomodam, estragam a "harmonia do lar", depois têm de tomar aqueles medicamentos a horas próprias, e se se sai de casa fica-se sempre com a sensação de que ficam por tratar. Boss, explica-me isto. Se os mandam para os hospitais e lares para viver os últimos anos de vida que diferença faz vir na semana terminal a casa? Uma casa que não é sua, incomodar com as rotinas dos viventes. Nã homem, é deixá-los estar lá, estão bem, com "pessoal médico especializado", apesar de em muitos casos as pessoas terem dinheiro para terem esses cuidados em casa. Mas para quê? que chatice, uma pessoa não pode entrar e sair sem aquele incómodo, o velho ou a velha, oh. Uma desgraça.
Não comento mais, a minha família nisto tem uma tradição inabalável desde que me conheço (e desde que a minha mãe se conhece): na pobreza ou na riqueza cuidámos dos nossos nas nossas casas. Não é uma escolha, não é uma conveniência, é assim e não sei (nem os meus irmãos ou os meus primos) viver de outra forma. Não há lar que alguma vez vá colectar a família Maia, e isto não por sermos melhores ou piores. É assim e está dito.

E como pedra de toque para mudar de assunto, que má conduta tivemos nós, Oh Altíssimo, para não merecermos de vós orientação em relação à nova revista. Já sei, como tinha a Martha Crawford na capa e és Deus de escrúpulo largo se calhar confundiste com alguma revista erótica ; ))))))

Confundiste não, achaste por bem confundir, pois tu és sapientíssimo e recto ; ))))))))

Anónimo disse...

Muito honestamente, preferia que Bárbara Gomes se tivesse preocupado em explicar porque é que os hospitais de Londres não aceitam doentes em estado (mais ou menos) terminal. É que, por cada paciente que morre nos hospitais públicos de Inglaterra, estes são penalizados com base numa perversa pontuação que foi "inventada" pelo Ministério da Saúde local para graduar o índice de qualidade (?) dos hospitais ingleses.

Desta forma, talvez Bárbara Gomes tivesse prestado um melhor serviço à sociedade. Assim, e apesar das suas (aparentes) boas intenções, parece-me que Bárbara Gomes está - com este estudo - a fazer um frete a alguém.

Ou sou eu que já não acredito em (quase) ninguém ?! Definitivamente, continuo a preferir a Bárbara Guimarães... ;-))

Anónimo disse...

"Se forem assegurados cuidados domiciliários continuados de qualidade, com carácter frequente e intensivo, a probabilidade de alguém morrer em casa é até oito vezes superior. As minorias étnicas e as pessoas de estrato sócio- -económico baixo têm, por outro lado, maior probabilidade de virem a morrer nos hospitais."

Espanta-me de facto a falta de visão de tanta gente (desculpem a arrogância da cegueta: eu) mas feito o diagnóstico, encontrado os problemas onde está a resposta? Sim porque se continuam a fazer empresas e a abrir cursos para colocar no mercado formados inúteis para este tempo, para a nossa gente. Faltam infantários, faltam lares de dia e? E? E? Já sei: vamos esperar que um país da Europa o faça e depois copia-se com defeitos para encaixar à martelada e com bons lucros na nossa sociedade.

(O "noise" subiu uns pontinhos largos na minha consideração)

Ia para gracejar com o Alzeimer (anda há muito tempopara fazê-lo) mas mais uma vez me vou conter pk sei que é um assunto penoso para o professor)


Contudo há a dizer, que há idosos e idosos! E há doenças e doenças.
A minha avó morreu em casa, vitima de cancro, velhinha mas completamente lúcida. Mas mais importante que morrer em cas era termos legalizado o direito à morte medicamente assistida. Isso sim, preocupa-me imenso.

abraços

Anónimo disse...

Prof.
Perdoe utilizar este seu canto como caixa de recados, mas irei fazê-lo.
lobices, gostei da naturalidade e sinceridade com que falou de si, tratar dos "nossos velhinhos" é um problema que diz respeito a todos. Obrigada pela sua frontalidade.

A

Anónimo disse...

Há muitos dados a aquecer o tema, quer no post, quer nos 3 primeiros comentários que li; quem conhece (de perto) a necessidade do recurso a hospitais, clínicas e lares pelo seu custo (menor) e/ou por incapacidade de acompanhamento profissional, em casa, de pessoas com doenças 'difíceis', não encontrará qualquer facilidade em falar (sem sofrimento) neste tema.
Por mim, se ocorresse ficar numa fase terminal como as descritas, preferiria passá-la num hospital, clínica, lar, a fazê-lo em casa à vista 'desarmada' de familiares de todas as idades e sensibilidades.
Jamais!

Su disse...

até na morte as diferenças são grandes...enfim...
mas é horrivel sair de casa só para morrer...com desconhecidos, longe de tudo e de todos os que foram amados
jocas maradas

Anónimo disse...

creio que o abandono hospitalar seja um factor importante na contradição entre o aumento da estatística e aquilo que é a vontade expressa pelos pacientes :/

andorinha disse...

Boa noite.
É para mim complicado dizer alguma coisa em relação a este tema porque lido muito mal com a ideia de doenças terminais, morte...tudo isso.
Penso, de qualquer modo, que havendo condições é, de facto, preferível que os nossos doentes venham a morrer em casa junto dos seus do que abandonados numa cama de hospital como tantas vezes acontece.

Lobices(1.33)
Testemunho comovente, o teu.
És um grande homem, Quim!
Poucos seriam capazes de ter essa atitude.

Noise(4.00)
Gostei também de te ler.
Vês, também gosto de te ler quando falas a sério.

Quanto a mim, espero vir a estar à altura se a situação se vier a colocar em relação aos meus "velhotes".

Maria disse...

"As minorias étnicas e as pessoas de estrato sócio-económico baixo têm, por outro lado, maior probabilidade de virem a morrer nos hospitais."???????
Está a gozar comigo a Sotora, com toda a certeza!!!!!!
Depois de ler isto fiquei com uma neura k nem mais nada digo.
Resto de bom fim de semana

Anónimo disse...

Sobre este post, sobre o anterior e sobre outros queria reiterar uma coisa: as nossas opiniões não reflectem o todo nacional. Reflectem só a daquela parte que pode ter internet. E isso faz uma grande diferença.

Vera_Effigies disse...

Quem lida de perto com a velhice sabe que expressam verbalmente a vontade de irem para um lar, mas no fundo é apenas porque vêem o sacrifício de quem os rodeia, ou porque sempre foram autónomos e se vêem dependentes.
Não é uma vontade interior, essa é a de estar com os seus no aconchego do lar.
Mas infelizmente as condições de alguns não são as melhores. Quem presta esse tipo de assistência deixa de viver e ainda que se esforce não pode dar muito além do mínimo. O trabalho mantém-se fora e em casa, muitas vezes sem ajuda de qualquer espécie, os outros filhos omitem-se das responsabilidades nem apoio moral tem o que se anula.
Não me espanta a última medida tomada pelo governo sobre as faltas para assistência a familiares, se os próprios familiares se omitem. Ter alguém a cargo é muito complicado. Mas quem vive de um salário e tem alguém a seu cargo com problemas de saúde é mais complicado ainda. SE falta ao serviço para assisti-lo, perde um dia de trabalho precioso para poder dar-lhe o melhor. É a frieza e a falta de visão de futuro próximo para si, que faz dos governantes insensíveis já que pensam manter o vigor da juventude eternamente.
Enfim! Desenrasque-se quem puder.
Um abraço.
MJ

Gabriela disse...

Claro que, a saber que vamos morrer, "preferimos" que seja em casa na companhia de familiares que nos amam, seja ela qual for a morte que nos deixem ter!
Mas será que, como familiares, fomos ou estamos preparados como deveríamos para isso, desde a infância? Porque não ensinamos e não somos ensinados a lidar naturalmente com a morte.

Não me parece que alguma política de saúde mova mais que algum familiar que a isso já esteja predisposto, a:
Deixar completamente de trabalhar durante meses? dias? ;
Tirar o pijama, tomar um banho rápido, vestir uma roupa confortável, muitas vezes outro pijama, durante meses? dias?;
Não ter horários para rigorosamente nada a não ser, quando o cansaço deixa cair a bigorna, dormir 15 min? acordar, 20 min? acordar...;
Pedir podes ficar com o(a)... durante aí umas duas horas para ver se eu durmo um bocadinho, senão não aguento. claro que fico! se pedir água... está aqui, se quizer... fazes assim... se... se... se..., chamou-te, desculpa! diz amor... tá eu já vou buscar. podes ir embora que já não vou poder dormir mais.;
Mudar fraldas e manter dignidades;
Ver o dia-a-dia processar-se lento e os meses a passarem;
Ver ir sobrevivendo e assistir a esse desmoronamento;
Viver tantas incertezas a saturar o ar;
Observar todos os suspiros todos os gemidos;
Ensaiar em frente ao espelho a mais bela das expressões para o momento seguinte;
Sorrir sabendo que o dia seguinte é sempre pior que o anterior;
Engolir os nós-de-garganta;
Ignorar as pernas de borracha;
Viver os grandes silêncios;
Não descurar nenhum sinal;
Viver junto do doente, porque não basta passar por ele;
Encontrar maneira de viver conjuntamente meses? dias? com o verdadeiro tamanho de um isolamento;
Aceitar que já lá não está nem para ele nem para si.

E não estou a falar dos velhos, que aí a verdade do dia-a-dia é bem lenta e fria.
Já nem sei se foi isto que nos propôs comentar, mas enfim.

Não temos políticas de saúde desinteressadas de outros petróleos que nos façam sentir confiantes quando estamos doentes, não venham tentar fazer-me acreditar que vão assegurar alguma assistência domiciliária digna, quando estamos moribundos, porque "preferimos" morrer em casa!

maloud disse...

E há condições para morrer em casa, mesmo dentro da classe média? Quanto custa ter várias enfermeiras? Quanto custa a visita do médico? Que tamanho têm a maioria dos apartamentos, cuja hipoteca se paga ao longo da vida?
Morre-se em casa quando se tem um AVC ou um ataque cardíaco fulminantes.
Entretanto Cêtê colocou o problema da "morte doce" e eu nunca percebi, porque é que os médicos, não estou a falar dos tarados que são objectores de consciência para tudo, fogem sempre que se aborda esta questão.

Maria disse...

Sical... eu estou a referir-me a "este post"... é importante, mas é tratado de uma maneira que para mim é muito complicada de entender...

Anónimo disse...

Ao ouvir esta tarde, na TSF, a agradável voz de Bárbara Gomes, achei que podia estar a ser muito injusto ao dizer que continuava a preferir a Bárbara Guimarães. Por isso - e para me redimir - resolvi vistar o site do King's College of London, onde tive oportunidade de ver a foto da investigadora e de ler o seguinte:

"Barbara Gomes completed her first degree in Psychology and Health at the University of Porto, Portugal and is now undertaking an MSc in Palliative Care at King's College London. Having gained experience in research (in topics such as healthcare staff training, the integration of vocational guidance in the school curriculum and family influence on adolescent life expectations) she spent one year as a psychologist in a Portuguese palliative care unit.

In January 2004, Barbara joined the department as a Research Associate to work on a project aimed at looking at terminally ill patients' preferences for place of death, trying to understand the gap between their wishes and reality. Barbara is especially interested in the enhancement of patients' empowerment in decision-making at the end of life as well as the integration of psychological, social and cultural aspects in palliative care."


Nessa mesma emissão da TSF, ouvi também um trecho de uma entrevista com a Dra. Isabel Galriço Neto. Conversa puxa conversa, e lá veio à baila o argumento de que morrer em casa tinha, entre muitas outras "vantagens", a particularidade de causar menos custos ao Estado. Ora cá está o que eu desconfiava. Por trás de uma argumentação científico-falaciosa, lá estão as famigeradas razões economicistas.

Assim, como é que eu hei-de deixar de ser um gajo desconfiado ?!

PS 1: se o governo decidir fechar os hospitais, a malta passa - por certo - a morrer toda em casa...

PS 2: e, já agora, fechem também as escolas todas. Vão ver que se acaba logo o insucesso escolar...

PS 3: embora de aflitos, o Glorioso lá se safou na Amadora. E agora que venha o Liverpool...

Anónimo disse...

Dr.zinho:
Escusa de começar outra vez com ideias negras. Está coisa da morte agora parece que está a emprenhar as mentes mais nobres da nossa geração. Eu sei nem precisa dizer. Mas já fica a saber que como, se Deus quiser, há-de ir à minha frente espero que pelo menos não perca os vícios mas sim a inteligência. Sim que isto de eu perder sempre... só mesmo para subalterno! E que não lhe dê para se despir mas se for que seja de Verão! Pois se assim for vamos para o Meco e a coisa há-de passar despercebida.
Um abraço amigo!

P.S.D- A Gertudes agora deu-lhe para ressonar! Como não posso dormir...tomei um comprimido dela a pensar que era daqueles que ela toma quando vamos em viagem e só agora reparei que era a pílula que ela (uma vez mais) se esqueceu de tomar. Só espero... bem.

Por falar em P.S.... então que será feito do Sr. Dr. Márito? Olha que fiquei hoje a saber (só hoje) que a Sr. Dr. Maria limpava na Xvermelha 600 continhos por mês!!!! E eu a pensar que aquilo era por compaixão! Veja lá sr. dr. que andam os garotos pela cidade a pedir moedinhas para a lata... É preciso ter LATA!
Bem. Águas passadas.
O vermelho de facto só atrái coisa ruim! Pronto, o sr. Dr. é uma excepção (as x).

Anónimo disse...

JMV
Às 6:37 coloquei os meus dados no forno. Permita que lhe pergunte, como profissional de uma área que prescruta as sensibilidades humanas, quais são os seus dados para aquecer este tema?
Ajudar-me-ia bastante ouvi-lo.

Anónimo disse...

A propósito da "morte doce".
Ainda azedo quando me lembro da dificuldade que foi garantir a morfina para a minha avó (a quem eu amei mais do que amo a minha mãe) sabendo eu como paciente que era o quanto sofreria em cada gemido ou impaciência. PORQUÊ?
Contudo e apesar da dificuldade de lhe aliviar o sofrimento físico tivemos a sorte de ter um excelente médico a acompanhar-nos ("acompanhar-nos"? Sim: Porque a família sofre e MUITO) E isto apesar de termos médicos na família foi ele que de lágrimas nos olhos nos disse que se a amávamos não lhe pedissem para lhe dar soro e a deixassemos morrer em paz! E assim foi.

b' disse...

uma pequena história:
meados dos anos 80 do séc. XX
família de classe média-baixa, ambos empregados de escritório, a residir em casa de três assoalhadas, alugada, na Damaia, 2 filhos de 11 e 12 anos.
a mulher trabalha e estuda com o objectivo de tirar um curso superior, chegou à cidade com 18 anos e a 4ª classe, aos 40 e poucos já alcançou o bacharelato
a mãe do homem adoece, vem da terra para casa do filho
fica a dormir no quarto dos netos
às vezes, durante a noite, acorda para vomitar
a avó vai para o hospital e lá fica, zanga-se com os filhos para a tirarem de lá, eles não podem...
à noite, nos sonhos, chama pelo nome dos netos
em dois meses de hospital a minha avó morreu
espero que se, um dia ,os meus pais me pedirem, eu os possa levar para casa


bom domingo a todos

LR disse...

Digo muitas vezes que a nossa Constituição há-de acabar por consagrar o “direito à morte”, ao lado dos outros históricos direitos fundamentais como o direito ao nome, à integridade física, e, claro, o direito à vida.
Porque esse texto “perfeito” que tratamos como 1 flor de estufa, e que de 4 em 4 anos volta à incubadora para aprimorar a sua forma (falo das revisões constitucionais…), podia mesmo dar o exemplo ao mundo nesta matéria.
Absurdo? Não me parece nada!
Contraditório? Também, não. Sinal dos tempos…
Porque entre
- a invasão encarniçada da medicina na duração de vida (por vezes prolongando até ao absurdo a existência dos nossos “maiores”, à custa de sofrimento e dinheiros públicos)
- os contornos cada vez mais ténues entre a eutanásia pura e dura e aquela coisa diferente que é o simples bom senso (des)assistencial (e falamos de eutanásia muitas vezes a propósito de actos que não
a configuram!)
- e coisas tão “pequenas” como saber o quando dar a escolher o sítio em que, o tal "como" se morre…não acho mesmo nada que fosse absurdo se um tal direito viesse a ser consagrado! Sobretudo, se pensarmos na tal história da pirâmide etária: porque os problemas dos velhos serão quantitativamente esmagadores, a breve trecho.
(Há 2 semanas ou três tive uma complicação de saúde repentina (e mais assustadora do que dolorosa). E fui pela 3ª vez na vida ao banco de urgências como paciente. Não querendo chatear ninguém próximo às 2 da manhã, meti-me no carro e lá fui eu, pensando que depois alguém conhecido havia de por lá estar no painel de turno. (isto, se o formato Manchester não tivesse acabado com essa coisa dos turnos, nunca se sabe…). Não demorei grande tempo. Fui atendida em 2 serviços diferentes e fiquei “aviada” rapidamente (leia-se menos de 2 horas). Como as deambulações internas me fizessem começar pela oftalmologia (em santa paz e magna eficiência) e daí passar à neurologia (em magna eficiência mas diabólica agitação) assisti, malgré moi, e malgré a curta espera, ao espectáculo do teatro das operações. E fiquei impressionada com o que vi: da fileira de 10 camas que tinha à minha frente (descontando as dos lados e as de trás) não havia uma única pessoa abaixo dos 60 anos. Pareciam aliás ter muito, muito mais. Velhotes ou já velhinhos, uns calmos e outros não…sabe-se lá o que tinham?! Para o caso não interessa mesmo. Só me lembrei, na altura, de 2 coisas: - como os velhos estão próximos dos bebés, e convocam o nosso instinto protector e a nossa ternura; - e como a sobrecarga da população dos inactivos e pensionistas saiu dos quadros estatísticos e já chegou aos hospitais.
No entrementes…a minha pequena patologia (que eu jurava exclusivamente física) foi atacada na hora, mas lá aprendi que era tudo obra do stress, e afinal coisa da mente. Para meu espanto absoluto, pois nunca pensei que a “régie” que temos nas cabeças se desdobrasse em semelhantes requintes de malvadez (esta história da somatização das chatices da vida é 1 coisa impressionante!) Isto também será mais um sinal dos tempos? De uma lado, a 3ª e 4ª idade, em superabundância. E do outro, os activos a engrossar as fileiras dos males disfuncionais? )
Enfim: “direito à morte”, precisa-se. E dele “desceriam”, leis fora, uma série de outras regulamentações: onde caberia este assunto premente da dignidade e da humanização da morte. Da escolha do sítio onde “se exala”. Do como.

E lembro-me daquele fado do Luís Goes, com um poema dele que não tenho à mão, em que ele diz:
…«...p’ra morrer na mesma cama onde a minha Mãe morreu....»

Julio Machado Vaz disse...

Meu caro Lobices,
Faço uma pequeníssima!!!!!! ideia do que fala. Quando meu Pai teve o segundo enfarte, e porque sou também filho único, minha Mãe ficou em minha casa durante uma semana. Éramos três: eu, ela e o seu Alzheimer, acirrado pelo pavor de perder o marido. Digo-lhe isto com a maior das franquezas: se não tivesse possibilidades económicas para assegurar aos dois acompanhamento permanente, que depois da morte dele se manteve para ela, não sei o que teria acontecido. Mas posso imaginar, como psi: eu não teria aguentado. Um abraço, meu bom amigo. Júlio.

Unknown disse...

Boa tarde maralhal.
Outra vez a morte? :-(
Ela faz parte da nossa vida, não é?
Inevitável falar dela de vez em quando bem sei, mas NÃO GOSTO!!!
Acho que preciso de me maturar mais.
Fico a ler.

P.S Fora da lei, my brother in arms ;-)

Unknown disse...

Dr. Murcon sobre este tema só me ocorre dizer-lhe:
- Ganda nóia chefe! :-)

Anónimo disse...

A "morte doce".
Tem sempre várias abordagens. Outros tantos ângulos de entender. Mas o grande problema, na minha visão, não é lidar com a morte, mas sim com a vida. É sobre a perspectiva do que é a vida que convergem todas as conjugações. E não tenho respostas.

Anónimo disse...

Aquela coisa de ter tomado a pílula contraceptiva por engano da Gerturdes estava a deixar-me inquieto. Felizmente lembrei-me (já pelas 5 da matina) que a empregada do talho engravidou porque andava a tomar antibiótico.
Bem já podem adivinhar... Pois claro agora estou cheio de cólicas por causa do antibiótico.

A Menina da Lua disse...

Devo dizer que este é de facto um tema "forte" no que respeita a tocar emoções; a morte ou a eminência dela junto daqueles que nos são queridos mas que infelizmente estão tão vulneráveis que até nós que supostamente os amamos não sabemos como resolver...

Eu sou filha entre uma família de 10 irmãos e infelizmente a minha mãe morreu numa Casa de Saude de terceira idade após a doença prolongada de Alzeimer. Depois de várias tentativas de a manter em casa com empregadas de dia e de noite , passando a variantes de estar em casa de cada um acompanhada de empregada, mesmo assim não foi possível ela morrer junto de nós...claro que a constatação de crueldade por parte de uma empregada foi a gota de água para a colocarmos na casa de saúde, onde havia todas as garantias de isso não acontecer.
Mas ainda hoje não consigo esquecer a mágoa que sinto perante mim própria de ela não ter podido morrer junto de mim...mesmo sabendo que ela estava inconsciente e ser quase impossível ter sido diferente...

Tratar dum ente querido à beira da morte não só pode ser caro financeiramente mas é principalmente dum desgaste psicológico muito dificil de aguentar; por um lado está a imensa solicitação que nos é exigida nessas circunstâncias mas tambem a nossa propria negação de aceitação da morte perante aquilo que constatamos em termos de degeneração do dia a dia...

Passado o tempo fica-nos este imenso dilema que é por um lado sentirmos que fizémos o que nos fazia sentido fazer mas tambem mistura-se a culpa quando nos lembramos que é nesses momentos derradeiros e verdadeiramente solitários que afinal nem os nossos filhos nos acompanham...

Rita Sousa disse...

ola,bom fim de semana... tenho 22 anos e desde pequena que posso dizer: 'tive que levar consigo estes anos todos' - salvo seja... A minha mae adora vê-lo e ouvi-lo... Muitos parabéns.

Manolo Heredia disse...

A profissão de "paliativista" está aí a "rebentar". Julgo até que já existe uma boa centena de pessoas com formação específica. Só falta o Decreto. E a cativação de verbas para os pagar ...
Ou será que esta coisa de obrigar os descendentes ao "dever de ajudar os ascendentes" significa que são eles a pagar a factura dos "paliativistas"?

Anónimo disse...

“Quando a velhice lhe batesse à porta, queria passar a senhoria e possuir, além disso, meios para poder morrer em casa em vez de estoirar no Hôtel-Dieu, como acontecera ao marido. A morte desse indivíduo não a aquecera nem arrefecera. Contudo, esta agonia pública, partilhada com centenas de desconhecidos, horrorizava-a. Tencionava permitir-se uma morte privada...
...e no ano de 1797 (ia então nos noventa anos), perdera na totalidade os bens que tinha acumulado, penosamente, durante quase um século e alojou-se num quartinho mobilado na Rua des Coquilles. E só então, com dez anos, com vinte anos de atraso é que a morte chegou; chegou sob a forma de uma prolongada doença cancerosa na garganta que lhe roubou o apetite e, em seguida, a voz, o que a impediu de pronunciar uma única palavra de protesto, quando a levaram para o Hôtel-Dieu; ali, colocaram-na numa divisão a abarrotar de centenas de doentes incuráveis onde o seu marido morrera, enfiaram-na numa cama juntamente com cinco outras velhas que desconhecia por completo e todas deitadas e encostadas umas às outras. E ali a deixaram morrer em público, ao longo de três semanas.
...Corria o ano de 1799. Madame Gaillard não tinha, graças a Deus, a menor suspeita do destino que a aguardava, quando nesse dia de 1747 regressou a sua casa, deixando atrás de si e criança Grenouille e a nossa hitória. Caso contrário, poderia ter perdido a sua fé na justiça, e, em simultâneo, o único sentido que encontrava na vida.”

Patrick Suskind
O Perfume

Anónimo disse...

até na morte há previlégios, morre-se estúpido, morre-se coroado, outros quase são proibidos de morrer, depois de mortos somos objectos de tudo até de negócio e estudos, aliás depois de mortos, afinal até não era mau diabo, era tão boa pessoa.

bagomes disse...

Só hoje descobri a vossa discussão sobre como e onde se morre. A minha voz vem, por isso, com um certo atraso. Aprendi muito ao ouvir o que em Portugal as pessoas têm a dizer sobre o assunto, com mais ou menos conhecimento de causa, de variadas perspectivas: filhos de quem morre ou morreu, maridos, esposas, amigos, profissionais desgastados, profissionais com amor à camisola, outros profissionais, pessoas “comuns” que têm medo de pensar no assunto, pessoas “comuns” que não deixam de pensar sobre o assunto. Acho que valeu a pena divulgar o estudo em Portugal.

Gostava de responder a todos os que se pronunciaram, mas nisto prefiro a posição de observadora, acho que geralmente as discussões ganham mais com a espontaneidade e cruzamento de opiniões. Escolho só três questões que penso pedirem especial esclarecimento.

Quanto ao trabalho que faço, não me restam quaisquer dúvidas, nem mesmo aparentes. Estou nos cuidados paliativos por gosto, no tema de como se morre em casa por escolha pessoal. Determinada a estudá-lo e avaliar a qualidade dos cuidados paliativos prestados em casa dos doentes o melhor possível e para benefício de todos aqueles que se deparam com situações de morte e que escolhem esta via (casa).

Compreendo a preocupação com o facto de porventura por detrás de um interesse científico estarem razões económicas. É bom que as pessoas se questionem sobre o que está por detrás dos factos que lhes são apresentados. Revela espírito crítico. Cumpre-me esclarecer que as razões económicas não estão por detrás mas sim na base do interesse por este tema. Mas não da forma como foi sugerido. Os hospitais em Londres estão estrangulados com défices tremendos. Não só os hospitais em Londres. São sistemas de saúde inteiros que enfrentam uma procura cada vez maior. Uma vez que lidam com recursos limitados, têm de estabelecer prioridades, quem precisa de cuidados em hospitais e quem pode ser cuidado noutros ambientes. Vale a pena relembrar que somos de sociedades em que os cuidados de saúde são “tendencialmente” gratuitos, democracias em que todos devem ter direitos iguais de acesso a cuidados de saúde. É bom lembrar também que sem pilares económicos este princípio democrático de direitos de saúde dificilmente se sustenta. No caso dos paliativos, a escolha por ambientes domiciliários e também unidades de internamento especializadas em cuidados paliativos, para além de sustentável é adequada às necessidades destes doentes. Portanto, uma área em que razões económicas se coadunam com razões éticas e humanas. Vejo isto como algo que reforça ainda mais a importância de prosseguir este caminho - de casa.

O objectivo não é fechar hospitais e deixar as pessoas morrer em casa desamparadas. É exactamente de não deixar que isso aconteça. É criar alternativas e condições para que as pessoas possam ficar em casa se assim o desejarem, com segurança, de forma digna e com acesso a cuidados de saúde de qualidade. Voltando a Londres, há algumas alternativas criadas: 17 unidades de internamento especializados em cuidados paliativos com 394 camas, 39 serviços paliativos domiciliários. Mesmo assim, estas opções não chegam a todos. Daí a preocupação com minorias étnicas e pessoas de nível socio-económico baixo, grupos que sabemos terem menos acesso a serviços de saúde (falta de informação, descriminação?). Porque não interessa morrer em casa por si só. Interessa que isso aconteça por escolha própria, e que, a acontecer, aconteça da melhor forma possível para todos.

Obrigada pelo espaço dedicado a este assunto e pelos vossos comentários. De facto, na TSF a minha voz soou agradável, admito que não tanto como a da Bárbara Guimarães!

Bárbara Gomes