sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Cantelães.

A casa sorriu-me, compreensiva. Dois graus centígrados à chegada, agora menos. Estou tão cansado que acolhi o empate do Benfica com uma bonomia embrutecida. Mas não é só cansaço. Ontem fui recebido com ternura pela JSD de Gaia. Não me surpreendeu ou desgostou estar em solitária minoria a discutir o referendo, ao longo de trinta anos fui raramente "maioritário". E no entanto, ouvir alguém descrever a discussão do aborto clandestino como démodée no nosso estádio civilizacional pôs-me os cabelos em pé. A ser verdade, também estou démodé. Aceito que se vote Não com a mesma naturalidade com que voto Sim, mas démodé discutir as formas de minorar o sofrimento... Que sociedade é esta? O que estará então na moda? Uma das soluções (?) apresentadas foi multar as mulheres em vez de as mandar para a prisão. O que virá a seguir? Reguadas? Para o quarto sem sobremesa? Fim-de-semana sem telemóvel? Se defendesse alguns dos (legítimos) argumentos que ouvi e o Não ganhasse, eu estaria Segunda-Feira na rua a recolher assinaturas para modificar a actual lei. Com pena das mulheres violadas e oferecendo-lhes todo o apoio, mas criminalizando-lhes o comportamento. Argumentando que não existe vida de primeira e de segunda para retirar a alínea referente às malformações. E aceitando - que remédio... - a necessidade de em certos casos escolher entre a vida presente da mulher e o futuro do embrião. Mas apregoar a inviolabilidade da vida humana e punir o crime de a interromper - até aos nove meses... - com multas provocar-me-ia um curto-circuito cerebral se não soubesse tratar-se de mera cedência a estratégia eleitoral - "tudo menos a prisão". Como de costume já estive mais acompanhado. Os defensores do Não, embora amáveis na sua esmagadora maioria, não concordam comigo. Et pour cause! Mas há gente do Sim que me reprova a obsessão pela indispensável regulamentação pós eventual vitória. Não importa; a casa acena, aprovadora. Tudo tem um preço, incluindo adormecer de consciência tranquila no dia 11. E depois há a ternura dos amigos - o Pedro, o Tiago e o Viktor afadigam-se para pôr no Tube uma intervenção minha. Não faço ideia como irão votar, nem me interessa. Alguns de vocês até se deram ao trabalho de me avisar por mail que vão votar Não. O Murcon fará anos em breve e valeu a pena:). Fiquem bem. A casa manda-vos um abraço e eu aprovo.

24 comentários:

AQUILES disse...

Eu tinha-me passado. E ficado com vontade de dar um par de estalos num dos fedelhos. Só a vontade porque sou pacifico. Já não há pachorra para aturar imbecilidades. Eu já não tenho paciência para aturar betinhos com a mania que são inteligentes e maduros, e não é por causa da idade, é mesmo de formação.
E continuo a temer que o pós 11 seja um desastre, seja quel for o resultado. Não estou confiante nas boas práticas que por aí se anunciam de ambos os lados.
Apoio o video no YOUTUBE. Esclarecer é sempre nobre. Elucidar é fundamental.
Eu continuo anti-aborto e totalmente pela despenalização. Também compreendo quem o não seja, desde que o faça com argumentos não tolos.
E das condições sócio-económicas das pessoas, a causa ds causas, não há noticias. O pós 11 FEV vai ser dramático e pleno de desilusão. Cá estaremos para o debate que se seguirá.

Klatuu o embuçado disse...

Não está só, meu caro! E espero que ganhemos! Não só a bem do País, mas, fundamentalmente, para pormos fim a um continuado crime contra as mulheres e a essa decrépita apropriação masculina do útero!

Esses senhores do NÃO - das senhoras nem falo... grandes católicas que vão fazer abortos ao estrangeiro à chucha-calada! - quantos abortos ajudaram a fazer? Primeiro na cama... e depois com o livro de cheques???
Nunca esqueçamos que por detrás de uma mulher que faz um aborto... está, na grande maioria dos casos, um homem que não assume a sua paternidade... e até já deu às vilas diogo! Penso que qualquer mulher grávida que seja apoiada por quem a engravidou... só em casos muito extremos optará pelo aborto!

Eu até sou contra o Referendo... deveria ter sido a despenalização decretada!! Mas se há Referendo... que só votassem as mulheres! E olhe que eu não sou de me demitir - ou permitir que me demitam - em nada... mas, neste caso, era a punição merecida para o macho portuga!... emérito coçador de colhões em público!!!

E é claro que se o SIM vencer - como espero - tudo o que há por fazer começa aí!
Voto SIM porque quero que o número de abortos diminua neste País!
E quero que cessem as óbitos de mulheres causados por abortos na clandestinidade!
E quero que acabe o comércio nojento de aborteiros e aborteiras!
E quero mais: quero essas fortunas investigadas! Expropriadas pelo Estado... para um Fundo de subsídios atribuídos a mulheres que queiram abortar por razões económicas!
E quero uma equipa de especialistas nos Hospitais Públicos a receber as mulheres que desejem abortar e que incluam um psicólogo e um assistente social!
E quero que a sexualidade dos Portugueses e das Portuguesas venha à luz do dia, límpida e saudável!!
E o fim da hipocrisia atávica que entende as mulheres como lixo dispensável! E como parideiras sem direitos! E como objectos de foda!!!

Abraço.

Klatuu o embuçado disse...

Errata: «os» óbitos.

eugénia disse...

Boa noite. Leitora recente mas assídua do murcon e menos recente mas grande admiradora do Prof., tenho hesitado em participar, até porque é o único blog que visito... A minha estreia não foi uma decisão fácil e só mais tarde saberei se foi acertada. Se ao fazê-lo encontrar alguma paz de espírito.. mas eu penso (quase) sempre que têm efeitos tão negativos algumas palavras ditas como muitas que nunca tivemos coragem de dizer.
Com este assunto tão na ordem do dia, confesso que os únicos debates a que tenho assistido são os do murcon, porque não se pode tratar um assunto tão íntimo e pessoal em manifestações e tempos de antena. E para mim é muito íntimo e pessoal porque já passei por isso. E se por um lado desejo todos os dias que assim não tivesse sido, pelo outro tenho a consciência que aquele bébé, naquela altura, naquelas circunstâncias teria sido mais do que eu conseguia aguentar.
Tive sorte, porque uma tia de um namorado conhecia alguém de muita confiança... e pelos vistos era-o. Saí grávida de casa dos meus pais e voltei a entrar depois de um aborto sem ninguém dar por nada. Chorei de vergonha, de solidão e não sei se de medo... Voltei no dia seguinte para... nem sei bem para quê: acabar, verificar, sei lá. Mas tive sorte.
Foi a altura da minha vida em que me senti mais sozinha e mais culpada. Por isso o único cartaz do "não" que para mim faz sentido é aquele que argumenta "abortar a pedido e passar a vida a desejar que nunca tivesse acontecido".
Mas temos que pensar também no contrário: quantas pessoas têm filhos que nunca desejaram e são as crianças que carregam o peso de vidas desgraçadas.. Confesso que adoro ser mãe, adoro crianças, sempre desejei ser mãe, mesmo na altura em que não tive aquele bébé... E das coisas que mais me revolta são exactamente as pessoas que têm filhos por ter, porque é bonito ou porque aconteceu e não têm as mínimas condições para os ter (e não falo de condições económicas, embora também pesem e muito, mas para mim o mais grave é a falta de condições humanas, de carinho, de educação, de valores, de atençâo). Porque a vida é de facto sagrada, mas não deveria também ser sempre digna e diria mesmo feliz??
Que o aborto não é solução? Não, diria mesmo que é a pior solução. Mas sendo ilegal e crime é também incofessável. É uma (má) experiência que não se partilha e como tal que não serve a ninguém. Se fôr visto com outros olhos talvez não seja assim. Pode ser que algo de bom resulte de algo tão mau, e falo, como vêem, por experiência própria.
Bom fim de semana

LR disse...

Brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr... 2 graus, Professor?!
Espero que alguém lhe tenha acendido a lareira antes! E que se tenha recomposto com um chocolate quente (do verdadeiro, "da bayer"), sem churros, por causa da linha... Ou então com um bom chá hipotensor, capaz de combater as visões que o assaltaram de 1 país esvaziado de éticas incómodas, -mesmo que plurais e diferentes, é uma chatice, são éticas! -, reduzido a uma ordem social de tipo "parque de estacionamento"...
- Multas?
Onde chega o nonsense...
Acho que todas as "facções" se fartam de dar tiros nos pés,tenho de concluir (ou venho concluindo há muito).

Retive uma coisa no seu texto:

"a obsessão pela indispensável regulamentação pós eventual vitória"

De si, menos não era de esperar.
E estou 100% de acordo: aconteça o que acontecer, vai valer o que a sociedade (e não o estado) fizer.
Para quem estiver mesmo seriamente interessado no assunto e o não reduza à dimensão de um voto: - "sim ou não, adeuzinho, passem muito bem..."
Infelizmente acho que isso fica além da nossa capacidade cívica (maioritária).
Mas vamos ver!



*** Declaração (desnecessária) de transparência:

Sou pelo |x| NÃO

andorinha disse...

Boa noite.

Nem sei que diga...essa das multas não lembraria nem ao diabo:)
Uma das muitas incoerências dos defensores do Não. É crime, logo tem que haver alguma sanção; prisão não, multas serão uma boa solução (até rimei)

Há gente do Sim que lhe reprova a obsessão pela regulamentação pós eventual vitória?
Também não entendo...
Não há tanta coisa a regulamentar?
Vota-se Sim e fica-se de consciência tranquila? Não se faz mais nada?
Como já afirmei, sentir-me-ia, eu e muita gente, triste e defraudada nas minhas expectativas se assim fosse.

"O Murcon fará anos em breve e valeu a pena:)"
Assino por baixo...e não consigo dizer mais nada:)

Fique bem, agora já mais quentinho, espero eu:)

andorinha disse...

Klatuu,
Quem fala assim não é gago:)
Falando a sério, já tenho apreciado outros comentários teus, mas este tocou-me fundo, pela frontalidade e pelo facto de corresponder quase "ipsis verbis" ao que eu penso.

Só discordo de uma coisa: que fossem só as mulheres a votar.
Que radicalismo!!!:)

Moon disse...

Bom dia!

Professor, também tenho estado em minoria quanto a este tema. E é com pena que vejo que a discussão não tem sido nada pacífica, quer nos meios de comunicação, quer na rua ou em qualquer dos outros lados.
Na argumentação vale tudo e a única coisa esquecida no meio disto tudo parece ser mesmo o direito à dignidade.
Aborrecida, mesmo muito aborrecida, fiquei quando o meu filho mais novo (de 12 anos), na quinta feira chegou a casa e me disse que tinham andado a distribuir na escola um inquérito em que a pergunta era: "Concordas com o aborto?" e depois havia que assinalar um dos quadrados: sim ou não(!)...
Depois de conversarmos, percebi que o papel tinha sido feito por alunos de uma turma que andaram o dia todo nos intervalos das aulas a fazer "inquérito de rua".
Com que fim? Não sei nem tão pouco percebo mas traduz bem o ponto a que as coisas chegaram e, para ser sincera, deixa-me um pouco "assustada".
Quando perguntei ao Miguel o que ele tinha respondido e me disse que tinha assinalado o "sim", fi-lo explicar-me o porquê dessa decisão. Claro que os argumentos do Miguel vão muito de encontro aos meus e também ele compreendeu que a pergunta estava mal feita mas na falta de melhor opção, assinalou aquela que lhe parecia a que estava mais de acordo com o que ele pensa.
Com paciência, disse-lhe que eu assinalaria o 'não' nesse tal inquérito porque a pergunta não é correcta. Estou convicta que a maioria das pessoas que no referendo irão dizer "Sim", não concordam com o aborto, concordam sim que ele seja despenalizado e que seja concedido o direito à mulher de optar livremente, recorrendo, se necessário e possível,às melhores condições para o fazer.
Como diz um amigo meu: "Temos pena..." E eu acrescento: temos muita pena mesmo!!

Um abraço, professor!

Marx disse...

Eugénia,
Gostei do seu comentário aqui. Por várias razões. Porque imaginava que fosse assim. Física, social, psicologicamente. E, depois, por uma outra razão, que julgo perceber em muitos dos debates actuais. A (falta de) genuidade. Vou ficando já sem pachorra para ouvir políticos a falar disto. Não porque não o possam fazer, mas pela "técnica", cada vez menos sub-reptícia, da linguagem e argumentário que utilizam. Para mim, já, linguajar insuportável de marketeers. Ora, o seu testemunho diz-me muito mais do que carradas destes argumentos, de ambos os lados, sobre o tema. E sobre a necessidade de o olhar de frente. Única forma civilizada que conheço de o enfrentar.
Por último, espero que consiga obter a paz de espírito que procura. Creio que isso também se consegue pela noção de, num dado momento, se ter optado em consciência. Cumprimentos.

Clarissa disse...

Caro professor... sempre me pareceu que ser personalidade pública com «personalidade» devia ser tarefa árdua neste país,mais habituado ao jet-set das revistas cor-de-rosa e aos reality shows... e depois, pelo meio, há este faz- de-conta que vamos brincar às democracias e vamos todos fazer um referendo, como disse o Klatuu, pura e simplesmente por falta de coragem política. Estou enganada ou esta questão até fazia parte do programa deste governo aquando da campanha ?!
O que a mim me choca é o ânimo leve com que a maior parte da população vai votar, numa espécie de Maria-vai-com-as-outras porque fica bem ser contra o aborto, porque se é mais respeitável pai ou mãe de família. A questão não é se eu faria ou já fiz um aborto,isso é do meu foro íntimo, mas sim se devo condenar uma mulher que decide, a maior parte das vezes sem ter realmente opção, fazê-lo.
Recorda-se, seguramente, do quadro «Sereiazinha» da Paula Rego, bem como da série sobre o aborto... é o olhar dessas mulheres que nos deve acompanhar. Olham-nos de frente, não estão orgulhosas, nem felizes, simplesmente fizeram o que tinham que fazer, e não baixam o olhar por isso. A Sereiazinha... em que um corpo dá à costa, como um náufrago, o corpo, o receptáculo de parideira foi destruído e jaz entre bocados de peixe e outros objectos que o mar trouxe.
Eu não quero que a mulher portuguesa continue a ser a sereiazinha, ou a correr para as «tecedeiras de anjo» por causa dos Amaros deste país... e eles são tantos...
A história das mulheres está por contar na pintura, como diz Paula Rego, infelizmente, acrescento eu, até as mulheres pouco sabem desta sua história.

Um abraço

Vera_Effigies disse...

Boa tarde!
A maior confusão deste referendo é não separarem águas. Uma coisa é dizer SIM ou NÃO à IVG, outra, é dizer SIM ou Não à despenalização. O referendo visa a despenalização. A IVG é algo demasiado pessoal para ser referendado. Com ou sem referendo e com ou sem despenalização, a IVG é e será sempre o meio usado por muitas e variadas razões
de foro intimido de cada mulher depois de muitas noites de insónia, incertezas e medos(as razões mais comuns foram aqui denunciadas pelo "Klatuu o embuçado").
Recebi um e-mail com um pensamento interessante que partilho:
"- Nunca um coxo treinou atletas para a maratona, nem um mudo deu aulas de dicção.

- Só os padres é que não prescindem de dar conselhos sobre a reprodução e a sexualidade!

- Há coisas fantásticas, não há?
- Dá que pensar!"
Se deixasse de haver tanto "entendido na matéria" (já que, usam saias mas não têm útero, são homens e não podem perfilhar criancinhas) deixaria de haver tanto orfanato e tanta mulher atirada para a IVG ou para a "vergonha" de criar um filho de pai incógnito (nisto a lei já fez progressos, mas ainda não abrange os padres).
Temos relatos de escritores que denunciaram estas realidades. Eça de Queiroz foi um deles.


Um bom fim-de-semana, Professor, nesse cantinho sadio e acolhedor

Vegana da Serra disse...

Eu vou votar sim.

Gabo a sua civilidade ao não agredir gente que pensa dessa maneira! Não sou violenta por natureza, mas confesso que muitos dos defensores do não me enervam profundamente!

Julio Machado Vaz disse...

Aquiles,
Peço edsculpa, não fui claro:(. Quem deu essa opinião foi uma deputada do PSD, mas não da JSD.

Julio Machado Vaz disse...

Aquiles,
Peço edsculpa, não fui claro:(. Quem deu essa opinião foi uma deputada do PSD, mas não da JSD.

lobices disse...

...aguardemos o Profe no Youtube
:))
abraço

Migmaia disse...

Boa tarde,

Parabéns ao Murcon, pelo seu aniversário, mas sobretudo pela sua importante contribuição para o esclarecimento. É fantástico o espírito que aqui encontro. Testemunhos como o da Eugénia, como disse o Marx, “diz-me muito mais do que carradas destes argumentos, de ambos os lados, sobre o tema.”

Não concordo com a pergunta nem com a forma (politicamente incorrecta, na minha modesta perspectiva) como este referendo nos foi apresentado.
Sou a favor da despenalização da mulher, mas contra a IVG. Penso que como a maior parte das pessoas. Exceptuando os extremistas de ambos os lados, minoritários mas bastante ruidosos e que, normalmente pensam que as pessoas são todas iguais. Isto é, os do Não pensam todos da mesma maneira, e os do Sim pensam precisamente o contrário. O grande problema a meu ver, é o facto de não haver perspectivas das consequências implicadas em caso de vitória de cada uma das facções. Concordo que a actual situação não é aceitável e o Sim representa a alteração do quadro legal. Mas receio que o Sim também possa ser um cheque em branco para que o poder politico se abstenha das suas obrigações. Não quero que esta questão seja tratada como tantas outras, nomeadamente na área da saúde, de uma forma economicista. O Estado não se pode demitir da sua missão educativa, e receio que o Sim possa representar o conformismo perante uma situação que antes de mais deveria ser prevenida.
Compreendo e partilho "a obsessão pela indispensável regulamentação pós eventual vitória". Acho até que, já deveríamos estar mais esclarecidos quanto às intenções. Por isso vou reflectindo, e dizendo entretanto que nim…

Saudações

CêTê disse...

"Mas há gente do Sim que me reprova a obsessão pela indispensável regulamentação pós eventual vitória."

É a existência dessa "gente" no lado do Sim que me inquieta. E não saber até que ponto há dessa "gente" entre os elegíveis.

CêTê disse...

Pensando alto...
Porque será que a srªDrªOdete Santos não tem protagonizado o movimento pelo "Sim" (Mediaticamente falando)

A Menina da Lua disse...

Bugénia

Fiquei muito sensibilizada com o seu comentário; pela frontalidade mas tambem com a sinceridade com que falou dum assunto que pelos vistos lhe é muito "dificil"...

Como já deve ter reparado aqui nos comentários do Murcon, este tema está longe de poder ser analisado linearmente; cada um tem sempre um aspecto particular a referir ou um ponto a acrescentar...e isto só vem comprovar aquilo que me é evidente: - é importante o SIM para que seja dada a liberdade de decisão mesmo e ao contrário do que pensa, que alguem possa querer ter o filho apenas porque o "destino" o quis.

E já agora seja bem vinda à nossa companhia :))

D. Xebastião, o Desjejuado disse...

Caro Prof. Maçado Bás:

Profexor, muito lhe agradexo as xuas boas intenxões para com a minha pexoa, no fim do ´Amor É´ de ontem, xexta-feira.
Mas xabe Profexor… felizmente não habia nexexidade… desde que pus aquele anunxio em Neuxatel, é à bixa…nunca mais fiquei em jejum, graxas ao Xenhor (o Outro!) e à Birgem Maria.

Olhe o que lhe dejejo é um bom fim de xemana e muita rijeja. Xe tiber aí nebe, tanto melhor, aprobeite para umas escorregadelas!
E quando lhe apetexer paxe cá pela Alcáchuva... mas num dia de xol é melhor.
Pode beijar-me o anel.

D.Xebastião da Xilba, o Desjejuado.

Su disse...

gostei de ler...........coerente consigo mesmo e com os outros

...um abraço a essa casa--------

jocas maradas..sempre

3ap disse...

Constou-me que algures pelos algarves imensos católicos e evangelicos se reuniram numa fraterna passeata pela *vida*. Parece que resgataram da rua uns 60 e tal sem abrigo (mesmo daqueles a quem nós desviamos o olhar com vergonha de dizer: peço desculpa mas eu acho mesmo que o Ipod q vou comprar no fim do mes vale + do que vc), mas principalmente crianças (é, daquelas a quem apetece sempre dar um tabefe se jogam á bola perto do nosso carro), também foram aos lares e adoptaram um avô (daqueles q "perderam" a familia, que se babam um bocadinho e precisam que lhes dêm comida á boca e lhes mudem a fralda), foram aos hospitais psiquiatricos e adoptaram também um irmão (mesmo daqueles a quem se previa q fossem abandonados por lá a vida inteira). Pelo caminho ainda promoveram abaixo assinados e manifestaram em protesto á porta das embaixadas dos paises que continuam a praticar a pena de morte. E houveram até algumas pessoas que se candidataram pra ajudar em missões em áfrica..

E de repente eu fiquei assim a modos que muito feliz porque constatei que de facto os "pro vida" até fazem mesmo qualquer coisa pelos vivos. E eu que achava que era apenas motivado pla condenação da conduta sexual da mulher que aborta, puro moralismo falocratico. Convenhamos que é meio estranho ser-se *pela vida* e entender que no caso de violações seja o facto de ela não desejar o acto de ela não ter *culpa* que determina a legalidade ou não de um aborto, e não a vida do feto em si; bem como pareça estranho aceitarem um aborto dum feto com deficiencias e não pensarem também logo em aniquilar tudo o que é humano que entretanto adquiriu deficiencias (os quais, provavelmente, até agradeceriam mais atenção, e falo de ajudas concretas do genero: acessos para pessoas com mobilidade reduzida, melhores oportunidades de emprego pra quem quer e pode, e não de beatice piegas, espalhafatosa e inutil).
Mas não, afinal são mesmo pela vida. E eu fiquei contente e hoje vou dormir melhor.


"Todo conservador moderno está empenhado num dos mais antigos exercicios da filosofia: o de procurar uma justificacao moral para o egoismo."
John Kenneth Galbraith

(off topic:
machismo num homem até consigo entender + ou - a origem, dentro do contexto patriarcal e moralista em que ainda vivemos. agora numa mulher.. dói.)

Ao anfitrião simpatico e seus convidados simpaticos desejo uma mui boa noite.

Maroska disse...

cetê, a Drª Odete Santos aparece todos os dias no tempo de antena...apesar de já estar enjoada desta campanha política (sim, política) sou obrigada a ver pois infelizmente ainda não sou cliente da tv por cabo. Eugénia, a dor acompanha sempre, julgo eu, mas a consciência de não se poder dar o que um filho merece é uma coisa muito importante. Quando podemos optar, "adiar um filho" porque se tem essa consciência parece-me um acto de amor. Para quem, como eu, que acredita noutros vôos da alma, esse filho que adiámos acaba por vir ter connosco noutra altura da nossa vida. É um consolo, talvez, mas uma mãe que perde um filho, seja lá de maneira for, merece sempre consolo.

Maroska disse...

Perdoe-me Dr. JMV, fugi sem lhe dar os parabéns. Sou sua fã já há mto tempo. Há poucas pessoas tão coerentes como o dr., ou se calhar sou eu que conheço poucas. De qualquer maneira, parabéns pela honestidade e coerência com que se expõe.