terça-feira, dezembro 02, 2008

A neve.

Maria,

A Casa do Vale coberta de neve como nunca a vira. Ainda mal refeito do encantamento, já a grossa chuva branca recomeçava a tombar. E com ela ramos no caminho, a "viagem" até à estrada principal devolveu-me à atmosfera das aventuras dos Cinco:). Depois chegaram os miúdos, numa algazarra de feliz surpresa que contagiou a cadela, sempre mais sociável com eles, sabe-se lá os adultos que conheceu... Vê-los partir foi doloroso, a casa mergulhou num sossego diferente do que os acolhera; melancólico. Na manhã seguinte, o sol. Que derreteu a neve, excepto nos recantos a coberto das árvores mais agasalhadas. E num local de todo improvável, solitário no meio do terreno, sem creme ou sombra a protegê-lo do calor friorento do meio-dia - o tecto da casinha dos miúdos, à janela da qual o Tiago me vende hamburgers imaginados a preços de usurário empedernido. Imaginei-te o sorriso indulgente, perante a minha dúvida "científica" - pensar com o coração, dizias, pensar com o coração e sentir, para depois compreender. Pedi ajuda à tua fotografia, essa procuradora da ausência. Tinhas razão, querida, o erro era meu e do mundo a preto e branco que abrigo e me abriga. E tu colorias, quando... Deixa, voltemos à neve, que resistia à lógica, aristotélica ou outra. Porque nada tinha contra o sol, mas ainda guardava - e preferia! - a esperança de toda se derreter à carícia do extraordinário calor vital dos miúdos regressados:).

32 comentários:

CrisTina disse...

A beleza gelada da neve convive com o aconchego quente dos afectos! O carinho e o amor pintam o mundo com tons coloridos tornando-o quente e confortável. O frio da neve ajuda-nos a aquecer...
Gostei muito deste post Professor!

Maresia disse...

A importância de ter quem nos pinte os nossos pretos e brancos... Tocou.

andorinha disse...

Ainda bem que existe a Maria que o 'obriga' a escrever estas delícias.

:)

Anónimo disse...

"Pensar com o coração". :)

EVISTA disse...

Ainda bem que caiu neve em Cantelães e conseguiu provocar esta delícia de texto!
Imagino a alegria dos pequenos..estava uma paisagem tão bonita e para eles deve ter sido a primeira vez que gozaram da neve em casa do avô. Não me lembro de um nevão tão grande durante a noite e de ver cair neve durante o dia, como desta vez.
Um abraço Professor

Nuno Guimas disse...

Belíssimo texto.

CêTê disse...

Os cinco! ;))) (Não "Os sete")
Entre a Clara e a Zé...;) E o esteriótipo do cientista maluco... O que eu invejava a liberdade dos 4! E do Tim. Era assim que se chamava, não era?

"Vê-los partir foi doloroso, a casa mergulhou num sossego diferente do que os acolhera; melancólico. "- saudade mil formas de a pintar.

Vai ver há um arco-íris a emoldurá-lo e nem o vê. Por vezes a cor só se revela de outro ângulo. Lindo o texto, bonitos os sentimentos.

Boa noite para todos.

cabecinhapensadora disse...

Vê tu, Maria, que me apetece o teu sorriso de menina na carteira da escola onde nunca te vi. Imagino-o sobre o inox frio e laminado do ar, a derreter teorias acerca do que "acontece sempre" ou "quase sempre". Sorriso aberto a essa neve única, que persiste contra toda a esperança. Aguarda passos, mãos, vozes. Cabe à leveza da infância apôr-lhe o sentido que a estética deixa inacabado. Talvez Aristóteles tenha razão, cada coisa tende para o seu lugar natural e essa seja a sua perfeição. O tufo de neve encontrou a sua natureza.

Helena Soares disse...

Estimado Júlio:

Sou jornalista da revista Chick Intimate Cult, e estou a contactá-lo por este meio para solicitar uma entrevista com o professor. Aguardo uma resposta através do email: helena@chick-pt.com

Cumprimentos,

Julio Machado Vaz disse...

Helena,
O meu mail é o drjmv@netcabo.pt

Cê Tê,

Eu sou um conservador, tinha um fraco pela Ana:). E pelos scones da Tia Clara!

Laura disse...

pelos scones... e pelos "mantimentos" preparados para as incursões secretas (aquela palavra ainda me dá um vago arrepio de excitação:)
... pelos encontros nos "caramanchões"...
tudo coisas 'estranhas'e deliciosas.
Quantos "clubes" não se organizaram entre os amigos por essas gerações fora, inspirados na Enid Blyton?!
Com uma sede a sério, uma missão, senha obrigatória, etc, etc?!
Claro, eram pálidas imitações da realidade livresca, mas davam-nos cá um gozo...

CêTê disse...

Professor, esse fraco pelos scones é comum a todos os homens a partir de certa idade. ;)))))))


Laura. eu tive um- Chamava-se "Águias negras"- LOOOOL até cartão de clube tinhámos! Agora o nome parece-me horrível, tenebroso mesmo. Há dezenas de anos (bolas, estou velha) que esta memória estava enterrada!!! Um dos nossos objectivos(vá de retro, leia-se antes: missão) era mapear a vila a partir das nossas missões secretas exploratórias sempre festejadas com piqueniques que partilhavámos com bonecos. A minha preferida era uma Samanta de looooongas pernas que ficaram cheias de marcas de óleo da corrente da bicicleta. (Tenho de a ir resgatar a casa dos meus pais- tenho de comprovar que não envelheceu, como eu)

bom fim de tarde para todos

LR disse...

CêTê

Eu tive vários, estávamos sempre em aperfeiçoamento:):) sobretudo quando os pais de uns ou outros descobriam as sedes...
Lá se ia a nossa "secreta"!
Do que mais me lembro era da hierarquia que de imediato se organizava, sem apelo nem agravo! Os júniores mais velhos tinham quase poder de vida ou de morte sobre os mais novos (em que eu me incluía:) Não, aquilo não era propriamente uma democracia, excepto quando atacavam a organização de fora:)
Nós íamos moendo uma raiva surda e às vezes vingavamo-nos... (a esperteza também podia vencer os privilégios da idade:)
O "clube" tinha uma bilbioteca e tudo, e requisitavamos os livros mais apetecíveis a troco de muita exploração (ir comprar cigarrros, ir buscar os lanches, ir sondar o estado de alheamento dos adultos...:)
Chegámos a construir uma casa de tijolos imponente, com electricidade e tudo (roubada a umas obras...).
Quando agora penso nos sarilhos que aquilo podia ter dado...:):):):):):):)

Teófilo M. disse...

As fotografias têm quase sempre o condão de nos fazer regressar a um passado que não soubemos apreciar devidamente.

A neve fá-lo também, mas há sempre a hipótese de encontrarmos mais neve, diferente é certo, mas se quisermos é uma questão de procura, quanto às fotos, essas, nunca mais.

CêTê disse...

Laura, tranquiliza-me: diz-me que não és do Governo nem filha de nehuma ministra LOOOOOL

(Estou na brinca, claro!)

Eu dou muitas vezes a pensar onde desenvolvi certas competências relacionais e foi na RUA! (esta frase poderá ser alvo de outras interpretações claro, mas que se lixe ;P) E agora os miúdos não brincam! Nem na rua nem interagem como antes- serão autistas sociais um dia?

abraços

Só um acrescento- nós também tinhamos biblioteca mas era de BD! E claro havia dinheiro mas gerido com muita transparência. As duas sedes que tivemos eram fantásticas águas furtadas de casa de arrumos. Bemmmmmmm saudades.

Olhar disse...

" L'essentiel est invisible pour les yeux. ... il faut chercher avec le coeur." :)
Antoine de Saint-Exupéry

andorinha disse...

Cêtê,

"diz-me que não és do Governo nem filha de nehuma ministra..."

Looooooooooooooooooooooooooooooool

Tás mesmo paranóica, cachopa:)))))

Mas concordo com o que dizes em relação aos miúdos. Passam o dia inteiro fechados em salas de aula pouco tempo tendo de puro e saudável convívio.
Daí resulta até alguma irrequietude em excesso e alguma agressividade sobretudo em níveis etários mais baixos. Os miúdos precisam de correr, de brincar, de gritar, de rir, sei lá...e não das malditas AS que não servem para nada.

Jinhos.

P.S. Porta-te bem:)

LR disse...

CêTê:
Liiiiiiivra!!!
Ao menos dessa "mácula" estou isenta:):)
...Não, na minha família é tudo boa gente:):) nada de sinecuras à sombra do estado:):)
Percebo bem essa coisa da sabedoria de "rua". na cidade brincava-se à vontade, os grupos eram enormes...
Havia matas; terrenos barrentos que nos denunciavam no tapete à chegada a casa; mimosas selvagens a florir em Março entre 2 prédios; ladeiras onde se podia andar de carrinho de rolamentos; pais solidários entre si com a casa aberta a todos... avós semi-cúmplices...limites férreos ao "consumo-porque-também-me-apetece-ter" ... mulher do peixe da Figueira da Foz...gente sem recursos "afiliada" sem paternalismos pelos que tinham mais...padeiro...guarda-nocturno... leite do dia:):):):)
Agora há imensas coisas melhores, mas a falta de crianças é gritante e aflige.

A Menina da Lua disse...

CÊ TÊ, Laura e Professor:)

Isso é que é saudosismo puro e duro!:)

Enfim! sejam quais forem, as nossas lembranças da infância são sempre envolvidas numa névoa muito especial e quando temos a sorte de ela ter sido positiva então tudo pode facilmente transformar em magia.:)

Por vezes ponho-me tambem a fazer comparações entre as vivências da minha infância e de alguns meninos actualmente e as conclusões não me parecem muito vantajosos para os de hoje...mas logo de seguida penso que essa comparação não faz sentido; aquilo que as crianças querem hoje está longe de ser aquilo que nos agradava antigamente. Talvez hoje "percam" sim um pouco daquela ingenuidade que era viver-se num mundo onde muito pouco se sabia e onde o ter tinha bem mais a ver com o ser...
De resto é tudo igual é bom ser criança em todo o lado menos ao lado da violência e da crueldade mas nisso tambem continua a ser exactamente como dantes...


Estes postes do Professor são mesmo assim!... lindos de morrer e como a L'Excessive diz só podem ser escritos a "pensar com o coração".:)

thorazine disse...

Offtopic: Lembram-se daquela avózinha que foi condenada a trabalho comunitário por cozinhar cannabis? Aqui vai um documentário onde a senhora explica a sua auto-medicação: http://video.google.com/googleplayer.swf?docid=-1525840262709944892&hl=en&fs=true

:))

Bom fim-de-semana!

Fora-de-Lei disse...

A Menina da Lua 5:20 PM

"Isso é que é saudosismo puro e duro!"

Não seja cruel, Menina da Lua. Sabe muito bem que as pessoas, quando chegam a uma certa idade, têm tendência a fixar o seu imaginário nos tempos em que o trabalho não dava prazer e o prazer não dava trabalho... ;-)

CêTê disse...

Laura, bem me parecia que havia maresia inspiradora. Figueira da Foz! Bem se tivesse que mudar de terra Buarcos era uma terra a considerar tão à beira do Jurássico! E os gelados da Emanha!!! Bem qualquer coisa imperdível.;))) fico aliviada quanto ao resto. ;))))

Andorinha: ;P (Quanto custam 24 ovos podres de avestruz?) ;)))

Menina da Lua- à medida que percorro a vida mais tentação tenho de olhar pelo retrovisor. ;)

FDL- "Ganda" máxima- subscreve-a também? ;)))

Um abraço para todos

A Menina da Lua disse...

FDL

Você!:)

Há quem nunca deixe de praticar essa sua máxima...mas convenhamos que crueldade crueldade é não ter alegria no trabalho:) e temperá-lo sempre com muito prazer...:)

Cê Tê

O passado deixa marcas sim pelo que foi e pelo que não foi mas como sabemos, passado é passado e o que verdadeiramente interessa é o futuro, essa grande caixinha de surpresas que afinal está tambem na nossa mão abrir e realizar...

Fora-de-Lei disse...

CêTê 10:56 PM

FDL- "Ganda" máxima- subscreve-a também? ;)))

Claro que subscrevo. É uma chatice quando chegamos à conclusão que o trabalho nos dá prazer e o prazer nos dá trabalho... ;-)

ana disse...

FDL - há já algum tempo que não espicaçava esta comunidade de comentaristas com o seu sarcasmo. ja fazia falta...

PILAR disse...

Como é bom "sofrer" com os laços criados...
Essas melancolias são doces!

Anfitrite disse...

FDL

A mim, ensinaram-me que o trabalho tinha de ter três características:
-ser útil;
-ser rentável;
-ser penoso.

Se assim não for, é apenas um passatempo!


Se considera que o seu prazer lhe dá trabalho, talvez seja falta de engenho.

CêTê disse...

Anfitre,

O FDL não se estava a referir a um "emprego" estava a referir-se ao "trabalho" aquele que se leva com paixão, aquele que se escolhe e que se obtém por mérito. Esse não é na maioria das vezes rentável.

Útil sim mas não no sentido de servir mas sim de construir.

Penoso só quando alguns que não entendem o que é ter prazer no trabalho o tornam assim...

Depois escolhem outro mais rentável (tanto quanto penoso) mas teoricamente útil (a alguém alé do próprio).

Mas como diz uma grande e inspirada amiga- "Viva a diversidade das espécies.";P

Fiquem bem

andorinha disse...

Cêtê,

Que tal vai o teu passatempo, cachopa?
O meu vai bem, embora com muito trabalho:))))))))))))

Por vezes não te endendo, moça.
A perderes tempo que é precioso para o teu passatempo com coisas que não acrescentam qualquer prazer...

Jinhos

Anfitrite disse...

Cê Tê
Que desilusão a minha! Eu que estava à espera duma resposta, daquelas que só o FDL sabe dar, porque tenho a certeza, que ele percebeu o meu sentido de humor agridoce. Ele nunca precisou de alguém que viesse em sua defesa.
Aí está um bom passatempo. Ser uma boa samaritana!
Implodir um prédio, embora pareça destruição, pode vir a dar lugar a uma coisa maravilhosa. E não deixa de ser penoso(em vários aspectos). E tem de ser feito com muita responsabilidade(o que não vejo na maioria dos casos).
Felizmente que ainda há diversidade de espécies, porque eu ainda escrevo a quatro patas. E de certeza qye não pertencemos à mesma escola.
E agradeça ao criador ter grandes e inspiradas amigas. Parece-me que você não é muito sentimentalista. Fiquei com essa impressão desde que disse que detestava a sua professora de francês e que detestava música francesa, que eu acho tão doce!
Felizes os que podem escolher e obter um trabalho, para exercer com devoção! Quanto ao mérito há quem não queira que seja avaliado.
Fique bem, porque eu estou óptima.

CêTê disse...

Anfitriste,
"Felizmente que ainda há diversidade de espécies, porque eu ainda escrevo a quatro patas. E de certeza qye não pertencemos à mesma escola."- palavras suas e esclarecida.

Para que não haja necessidade de voltar à filtragem neste cafezinho... diálogo finito- da minha parte, pelo menos claro está.

Susana Lage disse...

Desculpe estar a enviar uma mensagem por aqui para gostaria de lhe colocar umas questões para um artigo sobre vicio em sexo que estou a realizar para a revista Focus. Pode enviar-me o seu email?
Cumprimentos
Susana
slage@focus-online.net