quarta-feira, dezembro 16, 2009

Boa noite.

Escrever-te sem te escrever, eis o segredo! Porque a simples fantasia da entrega do correio me inibe o pensamento, as palavras, os sinais de fumo, os innuendos. Aproveitar o facto de sempre me habitares coração terno e entranhas exasperadas e falar "para dentro", sem barreiras, como o amor no filme com música do Bernstein, "Maria, I just met a girl...". E alucinar, querida. A tua severa doçura refugiada num sorriso maroto e à boleia atrevendo-se a responder às pequenas loucuras que segredo aterrorizado, "e se lhe magoo a timidez?". O murmúrio tão desejado que dele duvido, "eu também". A custo meu, uns centímetros em brasa entre nós. Esses olhos nublados pelo desejo, todas as outras razões são possíveis, todas me empurram para longe. O meu silêncio indeciso, as tuas mãos, escandalizadas e risonhas, sorvendo-me para o teu colo, "eu também, ou duvidas?". É óbvio que duvido, mas tenho a certeza que não o direi. Se aqueles pouco centímetros me doeram, como arriscaria a demora de um ralhete? Mergulho em ti, ainda e sempre na esperança de ir tão fundo que seja impossível regressar à tona e com a verdade te engano - "claro que não".
E rezo para que tão descarada mentira prove, sem margem para dúvidas, quão genuíno é o apelo para que não afrouxes o teu abraço.

18 comentários:

árvore disse...

Porquê duvidar, se a doçura é severa e o sorriso maroto?

AQUILES disse...

Sem margem para dúvidas? Isso é a certeza absoluta, que julgo que não existe. Por isso mesmo a dúvida é algo que persiste. A dois, na paixão e, ou, com amor a dúvida é algo que está para lá do olhar. A margem que se lhe permite é que determina a insistência duma paixão ou a persistência dum amor. E eu cada vez sei menos.

Bartolomeu disse...

Amar-te sem te amar
Existir na tua ausência
Sonhar-te, porque o sonhar
Faz-me sentir-te a presença

Desejar-te mas ficar
Murmurando impaciência
Por te ter, por não te amar
Por ceder ao teu corpo, insistência

Por tremer ao teu toque sublime
Por sucumbir à extrema excitação
Por ceder à distância que reprime
Resistindo e fugindo à paixão

andorinha disse...

Boa tarde.

O post é delicioso.
Leio...releio...e saboreio...

E mais não digo:)

Unknown disse...

As palavras são para quem as lê e as sente, sendo estas tão profundas e belas...quem hesitaria a dar-lhe um abraço!

Cê_Tê ;) disse...

Apetecia-me "abandalhar" um cadito ;))) até porque 99,9(9)% das vezes bebo porcarias gaseficadas patrocinadas pelo Pai Natal;P... mas qualquer flavenóide em cima de carne ruborizada em carne viva (o post) não tem a menor graça. Dá um nó de correr...

Quem poderá corromper o carteiro (técnico informático) e levar o conteúdo a uma editora? (SEM censura)

;*
cêtê

Caidê disse...

Ih!........ Está tudo tão calado!...... Eu assumo que também digo asneiras, vou quebrar, pois, o silêncio.

Cartas de amor…quem as não tem? Mas…as que escreveu e não enviou? Mas…as que recebeu e não retribuiu? Mas…as que foram censuradas quando iam de emissor a receptor? O poeta não foi explícito, até porque as escreveu e as recebeu.

Eu nada sei sobre o amor, entenda-se. Excepto, que amei. Tenho carne, osso e ALMA, quer dizer aprendi também a vincular. Que sorte tive! Então, nada aí temos de mais.
Por amor persisti. Por amor desisti. Por amor sofri. Por amor esqueci. Por amor fui feliz. Nunca quis amar sozinha, chamava a isso fixação. Elaborava, então. “Severa doçura”.

Mas…sobre o amor pouco sei. Amei e não encontrei razão.( Para o desamor quase sempre soube porquê.) Amei e soube a razão, como no dia em que soube estarem extintas as razões para continuar a amar. Amei por ter idealizado, depois compreendia.

Amei cor-de-rosa, azul, turquesa, verde, amarelo. Só amava se conseguia pôr no céu um arco-íris. Nunca soube decidir face à conveniência ou inconveniência no amor, mas “querida” era uma palavra que doía (se fora de contexto!).

Quando se ama não existem dúvidas sobre se se ama. – sabe-se logo, desde que amor seja amor, sem falta de ingredientes. Na ausência de amor, inventam-se amores – dos quais há dúvidas. Na dúvida sobre o amor, ama-se para saber se se ama. Se há química, logo se verá. Há amores que não passam de faíscas. Há amores que podiam converter-se em fogueiras (na presença de combustível e comburente).

Se existe tudo no começo, então é frequente que se vejam estrelas no céu, que se saia para passear na praia e não se sinta frio, ou que o frio doa menos do que poderia. Se, no meio, ainda é amor o que existe, então o quotidiano não o mata. Mas se o quotidiano mata a pessoa que existe na pessoa que amamos, podemos continuar a amar a pessoa que foi na pessoa que já não existe – escolhe-se, quer-se ou não se quer.

Por vezes, o que julgamos ser amor é tão só idealização – é preciso pôr à prova. É preciso entender pelas palavras, pelos pensamentos, se sendo amor resiste ao tempo e ao quotidiano. Por vezes, é melhor deixar ficar como está – é levar razão à emoção. Que pragmatismo! Pois é, eu sei muito pouco sobre o amor.
Por vezes, queremos tão só viver ali, depois se verá. Que o amor é por vezes descomplicado.

Desculpem, mas sobre as coisas que não li nos livros, ou sobre as que os livros não esclareceram totalmente, creio que ainda me arrisco mais a errar. E no amor, por mais que digam, continua a existir sempre muito fascínio e mistério.

Eu avisei que ia sair asneira.

Nuno Guimas disse...

Olá!

Só para desejar um excelente Natal.

:)

Anfitrite disse...

Isto também é Amor!
Oiçam até ao fim este brinde japonês:

http://www.youtube.com/watch?v=0gBWiHAbcdc&feature=video_response

para quem quiser ver um pouco de "Mar Adentro" com a música em fundo também é tempo ganho.

http://www.youtube.com/watch?v=O69DuZZ6vuY

E como estamos na época natalícia aqui vai o "Silent Night" com os votos de Dias Felizes(de 24 horas) para todos.

http://www.youtube.com/watch?v=wousAXtPE48&NR=1

e + 1 bfs

Anfitrite disse...

Esqueci-me de adaptar a imagem ao postal

http://www.youtube.com/watch?v=VpdB6CN7jww&feature=related

Unknown disse...

Sou eu que não estou a perceber (como maior parte das vezes)ou este post deixou sem palavras a malta toda! Sendo o amor, e apenas ele que importa para viver, gostava de poder ler-vos, ensinem o amor como só vocês sabem, de forma subtil, doce e inteligente.

Anfitrite e Andorinha, esperava mais...isto é um desafio!

Beijinhos

AQUILES disse...

FLOR

Ensinar o Amor? Hum...
Isto é um problema didáctico.
Mas eu diria que o amor é dar. Se a tónica está na expectativa de receber, normalmente não vai longe.
Mas isto digo eu, que nada sei.

Bartolomeu disse...

Oh pá...
Isso cheira-me a dôr-de-calcanhar...
;)))

Caidê disse...

Puxa vida! Todos temos mais a dizer sobre a falta de amor do que sobre o amor. Não está mal.

Aquiles
Ninguém dá nada a ninguém:dizem as más línguas!

Cê_Tê ;) disse...

... professor deve ser por outro acaso qualquer... mas a música do seu blogue é para "matar" alguém de vez? ;)))

bom resto de noite :P

Anfitrite disse...

Flor,
Eu pelos menos desejei-lhe "Dias Felizes".
Sabe, eu tenho de me conter por que há quem se diverta à minha custa(e os meus sentires são demasiado sérios para que alguém os possa deturpar) porque eu me exponho completamente quando escrevo, enquanto alguns escrevem apenas para se distrair, ou para mostrar os seus dotes de retórica, que eu não tenho. Este postal do Murcon introduz tantos verbos, no mesmo texto, que eu não consigo conjugar ao mesmo tempo. O "Amor Sem(ou com) Barreiras" apesar de difícil sentia-se na pele.

Bartolo,
Apesar do Aquiles ser meu sobrinho, eu nunca tive dor de calcanhar e muito menos de cotovelo. Nunca precisei, porque "Alguém" me deu o suficiente para eu não ter inveja de ninguém. Também não sei se o comentário era para mim, mas prefiro pecar por excesso.
(estou a referir-me ao Aquiles da mitologia)

Caidê,
Não é verdade. Eu já tenho dado muita coisa, quanto mais não seja para me sentir bem comigo. Eu sei, estou a ser egoísta, mas numa cajadada mato dois coelhos.
A menina é que deixou de me dar resposta. Está com medo de ficar mal vista por se dar com a ralé? Já sabe que eu não escrevo para agradar ninguém.
Sobre o Amor nada tenho a dizer. Apenas sei que ele está sempre ligado à morte, assistida ou não, por falta, excesso ou mesmo ausência dele, ou ainda pela intromissão dos outros.
Aqui está um tema sobre o qual o professor podia ruminar para que nós pudéssemos dar todos a nossa dentada.

AQUILES disse...

CAIDÊ

Permita-me discordar. Há quem dê sem esperar nada em troca. No amor isto já é mais complicado. Mas se a postura não for de disponibilidade franca para o outro será, quase de certeza, um amor com muitos problemas. Amar é muito complicado. É mais fácil ser amado.
Digo eu, um ignorante destas coisas

Unknown disse...

Aquiles,

"Mas isto digo eu que nada sei"

"Digo eu, um ignorante destas coisas"

Hum...
Isso é um problema socrático.
Estou a brincar contigo, não me leves a mal.
O amor aprende-se até no mais pequeno gesto ou sorriso de um desconhecido.
O amor é um processo de aprendizagem de bem querer.


Anfitrite,

Os que se riem, nunca vão perceber o verdadeiro sentido das palavras de Fernando Pessoa: "Para ser grande, sê inteiro...Põe quanto és. No minimo que fazes."

Beijinhos