terça-feira, junho 08, 2010

Boa noite.

Maria,

O corredor fica mais longo e escuro sem o teu passo ondeado, o olhar risonho de través, num desafio sem dúvidas quanto à resposta, para onde fugia o meu cansaço? Miúdo, assobiava em desespero na casa da Rua do Bolhão, resistindo à tentação do interruptor; num exorcismo desafinado que calava os fantasmas e amiúde trazia minha Mãe, sempre atenta como por acaso, nunca precisei de luz quando lhe sentia os dedos em viagem pelo meu cabelo. Mas agora? O medo - pelo menos o infantil... - desapareceu e a tristeza não se fez rogada - ocupou-lhe o vazio. Não penses que teria vergonha de assobiar! Mas para quê? Eu digo-te - para sentir a falta dela também:(. E assim vestir o corredor (?) de luto mais pesado...

35 comentários:

Unknown disse...

Assobie!
Quase sempre, nada é como imaginamos.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cê_Tê ;) disse...

O medo e a auto-piedade são criminosos refinados...
;)

;*

Cê_Tê ;) disse...

(Esqueci-me das aspas ;P- A citação é de um notável bloger da nossa praça- ;)))


No seu caso era um corredor no meu uma escada para um sotão não forrado enoooorme. ;P

A Menina da Lua disse...

Oh Professor que bonito texto:) quase igual à sua expressão de ternura quando via as imagens de sua mãe no programa do Malato e que o Gonçalo aqui nos deixou.:)

Compreendo e eu própria tambem tenho desses momentos saudosos da ausência sentida da nossa mãe.

Mas quanto à tristeza, ela é mesmo assim: aparece e desaparece quando menos esperamos! porem o que vale é que a alegria tambem:)

E depois, o futuro traz!...traz sempre:)

thorazine disse...

A educação católica tem destas coisas, deixa para sempre lá uma semente..e ela germina, mesmo sem água (leia-se escuro!).

Liberte-se, homem! :) Assobie! Dê um chuto nessa tristeza e passe já para o 5º do Kluber-Ross..

thorazine disse...

E caso de necessidade conheço uma Psychatric Hot Line porreira: http://www.youtube.com/watch?v=pxkM3YTWu9s

Princesa Isabel disse...

Que Maria tão sortuda! Tanto Amor e Carinho nessas palavras.
Que um dia a minha querida filha se inspire assim... tudo leva a crer que esta será uma forte possibilidade.
Um grande abraço de quem ama a escrita e a leitura.
Isabel

Princesa Isabel disse...

Que Maria tão sortuda! Tanto Amor e Carinho nessas palavras.
Que um dia a minha querida filha se inspire assim... tudo leva a crer que esta será uma forte possibilidade.
Um grande abraço de quem ama a escrita e a leitura.
Isabel

Princesa Isabel disse...
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andorinha disse...

A vida é isso que estás a ver:
Hoje sorris,
Amanhã não sorris,
E segunda-feira ninguém sabe o que será.

Carlos Drummond de Andrade.

Um beijinho...e fique bem:)

GS disse...

... este seu lado de sensibilidade doce 'me gostou' sempre pressentir, quando o ouvia na Reitoria! Só pelo prazer da partilha! Não como aluna, mas como mera contempladora das coisas poéticas! As suas...

A tristeza quando se instala não há assobio que a minimize...

Cordial abraço,

Anónimo disse...

assim não vale! já me chegam as demais 'paraprosápias':)

por vezes, assobiamos, para sentirmos a falta do que não sentimos, certo?

uma espécie de "xamanismo" nostálgico à mistura do prazer de
ver dançar os fantasmas. no escuro!
(esta, aprendi com o meu namorado ;))

as pausas e os "entretantos", são inspiradores.
"sempre atenta, como por acaso" (lol)
ou ficar à escuta dos grilos para
que o sono não se instale porque,
viver em "união de facto" com um hacker e um cachorro sarnento e pulgoso no capacho da entrada, onde, além das fedes, esquece-se dos fósforos queimados e folhas mortas, ressequidas... convenhamos! ninguém merece

preciso lá de fazer viagens que não valem o esforço?

agora, tenho uma tese no forno e muita gente com fome, de bocarra muito aberta, à espera que saia. uma espécie de chacais, mas sem dentes

apareça! o off, faz-me confusão no neurónio

murrinhos :)
.
.

Anónimo disse...

andorinha:)

o querido Drummond escreveu isso num fim-de-semana
loooooool

bj

linhaboémia disse...

tristeza..pequenas gotículas que caiem no charco para o ondular um pouco, deixar umas ondas suaves pintar a superficie da água.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fora-de-Lei disse...

"Não penses que teria vergonha de assobiar!"

Professor: em vez disso, ligue o interruptor...!

fiury disse...

Eles que olham por nós,(lá onde estão),preocupam-se quando não estamos felizes e já é muita gente infeliz:(
Os lutos são para se fazer, não vale assobiar para o lado.

fiury disse...

Chorar ajuda.

andorinha disse...

Laous,

Isso não interessa nada...
Fim de semana é sempre que um homem ou uma mulher quiserem:)))

isabel disse...

lá no meu mural do FB, coloquei duas versões de " Wind of Change " dos Scorpions,

e na parte do assobio até me arrepio :)

não ceda à tentação da luz, assobie, e arrisque-se a provocar alguns arrepios :))

Caidê disse...

O Doutor Daniel Serrão diz que já fez o luto da sua morte. Ele tem razão. Curiosamente, sinto que também já fiz o meu. E até creio que é o único caminho para se perder o medo. Há outro caminho paralelo que provavelmente se faz primeiro e que é o de viver segundo verdades. O caminho da construção da própria identidade esse só termina no dia da própria morte, ou até ao dia em que haja experiência em lucidez mental, dependendo da passagem que cada um fizer da Vida à Morte.

Anónimo disse...

AHAHAHAHAHAH

quem solta então os fantasmas? eheheh
nem me dou ao trabalho de assobiar conheço o caminho de cor :)))

ai ai ai...

o mitómano, está sempre só, no corredor das SUAS inverdades...de bilros


______________:)


psssiu...

(um dia falaremos. para que o resultado seja ajustado de uma forma bilateral)

pelo meu lado, vou deixar as provocações. sério! ainda dá um "treco" à criatura :) basta accionar o botão e; UUUiiiii soam as trombetas! medo não! pânico.

qto aos :15 m. engano seu abriu-se definitivamente uma página na história das cabecinhas mirradas.
cidade e arredores de holofotes voltados.chovem cartas. é uns à porta outros ao ferrolho!
chiça! "não há pachorra para tanta choldra" como dizia o O'Neill.

.

ps: uns dias de fome e passa-lhe tudo e nem sou cisne nem nada, só um pouquito mais Alta :)
nem eu própria sabia o meu valor!!!
.
em nome do Pai do Filho e do Professor Julinho, Ámen! :)
Obrigada

.

em jeito de nota de rodapé, avessa ao álcool e às drogas, vou mudar-me para o campo, por causa do fumo, detesto o fumo das cidades! o tecto de estrelas do meu sótão não é o suficiente. assim, o meu vizinho já pode ficar com a casa com o mar ao fundo. realmente; viver numa pocilga ninguém merece. como não mereço os insectos e cheiros nauseabundos que de lá saem e me entram pela porta Adentro!!! não, ninguém merece!
a culpa é minha. que dou abrigo a cães sarnentos e perniciosos de veias finas...

mais umas dicas para as conclusões,
que eu sei, nunca serão efectuadas com base em mitologias ;)

Canseiroso disse...

Que bom seria o medo infantil permanecer e haver assim quem tomasse sempre conta de nós...mesmo que recalcados os nossos suspiros eróticos, viessemos um dia, mais velhos, a não entender as mulheres.
Mas felizmente que gostam de nós.

bea disse...

Senhor Professor
A memória, se dura, é luz vária. E todos os corredores não são, mas têm sombras. Vamos colorindo-nos o corredor onde todas as cores valem e são belas por serem aquelas e não outras. O ténue de uma mão a ajeitar-nos os pensamentos é mais leve se formos agora sujeito.
Cumprimentos cordiais

Anónimo disse...
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Anónimo disse...
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Anónimo disse...
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Anónimo disse...
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Anónimo disse...

A gargalhada do Julio é o melhor que tem na rádio pode dizer oque quizer, se não tiver gargalhada não tem piada. Abraços, Pedro.

Caidê disse...

E depois dessa coisa terrível que é o luto, podemos dar espaço às coisas encantatórias da vida, que nos erguem depois de cada nova morte.

Vieste na estação das flores
Na calmaria turbulenta dos meus amores.
Eras graça
Eras encanto tão maduro.
Eras ternura
E tanta doçura.
E no toque das tuas mãos
Gemia a minha pele.

Entre nós ficavam promessas.
Entre nós pedíamos mais um tempo.
Só para depois.
Para nós era sempre e ainda tão cedo.

Eu crescia
Entre o trigo e o joio
E esperando sem fim
Via-te nesse meu jardim.
A ti, ao longe, só a ti.

Contra toda a mentira do quotidiano
Contra os logros de cada dia
A urgência entre nós
Exigia tanta perfeição.
Errar é que não.



E eu, entretanto, crescia.
Cabeça moça
Cabeça viva
Cabeça ao vento.
E fazia um castelo
Depois doutro castelo
Desmanchado
Pelas vagas
Que acariciavam
A areia da nossa praia.

Foi crescer de furacão
Negação de solidão.
Nós permanecíamos
E éramos nós que povoávamos
A vida no deserto.

Avassaladora
A vida moça
Esperando por ti.
E por mim.
Vendo passar as bodas dos outros.
Fomos a prata,
Fomos o ouro,
E em diamantes
Fizemos nosso tesouro.



Sem te querer no instante
Crescendo em ti tão resoluta
Mas negando este querer
Que te queria
Mas não admitia.

Vinhas para sentir
Acabavas por partir
Eu por adiar.
E um dia voltarias
E eu dir-te-ia
Que era então.

Amor combatente.
Amor no tempo resistente.
Amor presente.
Amor ainda quente
Apesar do frio de tanta noite
De ausência
Um do outro.

Branca disse...

Releio este texto que já li ontem e fico sem jeito para dizer da ternura e comoção que me despertou.
É tão difícil falar da beleza dos sentimentos (sim, porque mesmo na tristeza são belos!),quando percorrem corredores vazios ou associações várias na nossa vida.
A pessoa mais próxima que perdi foi minha avó, a quem tinha uma ligação de muita cumplicidade e passados 25 anos ainda existem tantas associações comoventes. Às vezes ando tantos dias longe e de repente há um click que acende a sua luz dentro de mim, umas vezes para sorrir..., outras para me comover.
Este texto tão sentido e escrito ainda tão perto de perdas tão importantes, marcou-me pela imagem metafórica da saudade, que nos deixou aqui registada nas pequenas-grandes coisas do dia a dia que ficam na nossa memória.
Não vou dizer a quem sabe mais que eu que o tempo ajuda muito e a saudade será doce e suave porque de uma relação doce e suave se tratou, tenho a certeza.
Às vezes e olhando à distância sorrimos de ternura e sentimos a sua presença e temos a certeza de que realmente o amor é eterno...

Um grande abraço, meu amigo, sem pretensões de hoje ser eu a terapeuta, :)). Não disse nada que não saiba, possívelmente nem disse nada de jeito, mas disse-o com ternura e amizade.

Beijos
Branca

Ponto de Interrogação disse...

Acho este seu texto, Professor, maravilhoso!

A saudade consegue, por vezes, ser cruel. Sobretudo quando nos parece vitalícia numa vida repleta de longos e escuros corredores. Por vezes, resta-nos a centelha das memórias em k a carícia e a compreensão eram suficientes para fazer esquecer o medo. Acredito, no entanto, que tal como as marés, há um vai e vem de tudo e de nada que sentinela a nossa existência e nos faz, por vezes, querer desistir ou, no mínimo, adormecer. A mim, resta-me o consolo de acreditar que eles estão comigo e eu com eles. Tenho a certeza que a sua Maria continua a iluminá-lo e a tornar mais pequenos os corredores da sua existência.

Obrigada pelo belíssimo texto!

Abraço imenso para si e para a sua mãe!

Anónimo disse...

andorinha (lol)

também sou democrata
mas, infelizmente no meu caso, ela não quis atravessar o corredor. por muito que eu assobiasse pois a luz esteve sempre verde.
como o nosso amor :)))

jinhos

Anónimo disse...

.

devias aceitar os meus convites.

A "Anop", que sempre gostou de apanhar, um dia destes f..de-se!