SilêncioAssim como do fundo da música
brota uma nota
que enquanto vibra cresce e se adelgaça
até que noutra música emudece,
brota do fundo do silêncio
outro silêncio, aguda torre, espada,
e sobe e cresce e nos suspende
e enquanto sobe caem
recordações, esperanças,
as pequenas mentiras e as grandes,
e queremos gritar e na garganta
o grito se desvanece:
desembocamos no silêncio
onde os silêncios emudecem.
Octavio Paz, in "Liberdade sob Palavra"
Tradução de Luis Pignatelli
12 comentários:
Tão belo, Júlio.
Não conhecia. Obrigada pela partilha.
Ficava aqui consigo no silêncio, mas não posso:)
Até loguinho...
Há silêncios de ouro, abrigos da alma e do coração.
Há silêncios mágicos, feitos de gestos cúmplices, de partilha.
E há os silêncios feitos de areia fina.
Ah, e ainda há os silêncios que, muito prosaicamente, resultam de afonia:)
E um sonho dentro dum sonho dentro dum sonho?
https://www.youtube.com/watch?v=cIk-Kxw_7Kc
Abraços a tutti
Até ao próximo oásis
Há bastantes silêncios no nosso País. David Mourão Ferreira, entre outros escreveu sobre o silêncio
“Já o silêncio não é de oiro: é de cristal;
redoma de cristal este silêncio imposto.
Que lívido museu! Velado, sepulcral.
Ai de quem se atrever a mostrar bem o rosto!
…………………” (David Mourão Ferreira)
Não gosto muito de silêncios, diria mais que alguns silêncios me preocupam; lembram-me a morte e os cemitérios. E discordo de frases elegantes como por exemplo “E do silêncio tem vindo o que mais é precioso que tudo: o próprio silêncio”. Esta e outras frases equivalentes, por muito eruditas que o sejam, causam-me calafrios. Em oposição ao silêncio existe a cacofonia, o falar por falar, até à exaustão: - é igualmente arrepiante!
Talvez o saudável seja um bom mix de cacofonia e silêncios, com uma cereja no topo, para o batido ficar suculento. Bebido com palhinha, é do melhor, enfim, dirão alguns, é a vida….!
E por aqui fico em matéria de silêncios e cacofonia
E saravá para todos
IMPIO
Oh, desculpem interromper o vosso silêncio:) Boa noite a todos.
Ímpio
mas há silêncios tão bonitos! Que é isso? Os silêncios rancorosos, os amuados, os vazios, os difíceis porque se quer falar mas não adiantam as palavras, os que cavamos por sabermos que as palavras podem magoar mais e mais fundo; e há siLêncios confusos e honestos. E muitos mais de que me não lembro.
O silêncio do poema é agudo de triste. Não descansa ninguém. Mas é só um entre muitos.
Estão bonzinhos? se me ausento fico até com medo que chegue aqui e vocês não hajam. Bom, está cá tudo. Vá lá:)
Há silêncios mágicos e silêncios dolorosos. Gosto de silêncio. Faz-me falta no meio deste mundo aos gritos.
Rainbow,
A ouvir...não o silêncio, mas o concerto:)
"...se me ausento fico até com medo que chegue aqui e vocês não hajam. Bom, está cá tudo. Vá lá:)"
Pois, não te ausentes:)
Está tudo cá????
Falta tanta gente...
Impio,
Deixo-te um beijo já que não posso deixar um batido com palhinha:)))
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder, Sobre um Poema
Andorinha
tu não me leias com esses olhos de ver tudo, tá bem? tens que fazer um bocadinho de vista grossa aos exageros a que sou atreita.
"estão cá todos" é uma forma de dizer; significa que há por aqui gente. Tu bem sabes que todos, todos, é muito impossível de estarem.
BEA
O tema do silêncio é, quanto a mim, um tema multifacetado. Se o que penso estiver certo, se calhar, analisá-lo ou dissertar sobre ele à luz de um poema é, provavelmente , falar de uma das faces do silêncio, esquecendo as outras. Assim, se tentarmos a poesia como forma de abordagem do tema silêncio, provavelmente precisaríamos de uma boa panóplia de poemas sobre o tema silêncio. E talvez aqui distinga duas abordagens possíveis:- uma que olhando para o nosso “eu” discursa sobre o silêncio do “eu” e outra que olhando para fora do “eu” analisa o silêncio do “colectivo” ou se quiseres, “dos outros”. E embora esteja de acordo que possam existir “silêncios muito bonitos” conforme referes, e decerto os haverá, a mim preocupam-me os silêncios “que não são bonitos nem feios mas sim preocupantes”, aquele silêncio que resulta da desistência, do desânimo.
Tenho conhecido, ultimamente, muitos destes “silêncios” e posso garantir-te que de bonito, têm muito pouco.
Abraço
IMPIO
eu acho que tens razão ímpio;
durmam bem
Bea,
Eu sei, "todos" seria impossível. Mas dos mais próximos falta gente. E sinto-lhes a falta, acredita.
Impio,
O silêncio da desistência, da desilusão é medonho, concordo contigo.
Abraço
Fiquem bem:)
Tão bonito esse poema de Herberto Helder sobre a génese da arte poética, andorinha. Obrigada e um bom dia pati:)
Também achei bonito, Bea.
Bom dia pati também:)
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