Pessoalmente, compreendo-a. Respeitando quem pensa de modo diverso. É obrigatório discutir temas desta importância com a serenidade que toda a situação-limite do Ser Humano exige.
Uma boa semana, gente.
Cancro
Brittany Maynard concretiza o seu 'desejo' no dia previsto
A jovem norte-americana, a quem, em abril deste ano, deram apenas seis meses de vida devido a um grave tumor no cérebro, pôs termo à sua vida no dia em que queria: 1 de novembro. A informação foi confirmada pela família na noite deste domingo. Brittany Maynard morreu em casa depois de tomar a medicação letal prescrita por um clínico. Antes de partir, deixou uma última mensagem aos amigos e familiares.
MUNDO Brittany Maynard concretiza o seu 'desejo' no dia previsto
06:59 - 03 de Novembro de 2014 | Por Notícias Ao Minuto
MUNDO Brittany Maynard concretiza o seu 'desejo' no dia previsto
06:59 - 03 de Novembro de 2014 | Por Notícias Ao Minuto
Depois de lhe ser detetado um grave tumor cerebral e de lhe serem dados apenas seis meses de vida, Brittany Maynard, de 29 anos, relançou a discussão sobre a eutanásia, após afirmar que queria “morrer com dignidade”. A jovem norte-americana agendou, aliás, uma data: 1 de novembro.
E, na noite deste domingo, dia 2 de novembro, contam vários órgãos de comunicação norte-americanos, a família deu a notícia. Tal como desejava, Brittany pôs termo à vida, em casa, depois de tomar medicação letal prescrita por um médico.
Brittany Maynard, que se mudou para Oregon, um dos quatros Estados norte-americanos onde é permtido o suícidio assistido, quando lhe foi diagnosticado o tumor, para que pudesse concretizar o seu ‘desejo’. Morreu na noite de sábado, no primeiro dia de novembro. Antes, escreveu uma última mensagem na rede social Facebook.
“Adeus a todos os meus queridos amigos e família, que eu amo. Hoje é o dia que escolhi para passar com dignidade esta fase da minha doença terminal, este terrível tumor no cérebro que tirou tanto de mim”, escreveu. “O mundo é um lugar bonito, viajar tem sido o meu maior professor, os meus amigos mais próximos os meus maiores doadores. Enquanto escrevo esta mensagem tenho um círculo de apoio à volta da minha cama... Adeus mundo. Espalhem boas energias”, conclui.
Confirmando a notícia da morte, a irmã de Brittany, Erica Holmes-Kremitzki, escreveu numa rede social: “Ela vai viver nos nossos corações. Voa com os anjos, Brittany. Sei que vais cuidar de todos nós”.
A informação sobre a morte da norte-americana surge depois de na semana passada, num vídeo que postou no YouTube, ter admitido a possibilidade de adiar a sua morte. “Continuo a sentir-me bem. Continuo a ter energia suficiente. Continuo a rir e a sorrir o suficiente com a minha família e amigos, por isso não parece que agora seja a altura certa. Mas essa altura vai chegar porque sinto-me a ficar doente. Acontece todas as semanas”, dizia.
16 comentários:
O suicídio assistido ou não é algo que sempre me deixou um turbilhão de pensamentos. Lembro-me de um irmão de uma amiga minha, estabelecido em África e com família cuja actividade profissional o obrigava a viajar longos quilómetros por picadas adentro em cima de uma mota. Por razões de saúde teve de começar a fazer hemodiálise e cada vez com mais frequência. A medicação que tomava arrasava-o e ele sofria fisicamente muito com toda a situação. Trabalhar era-lhe cada vez mais difícil e em África, naqueles tempos, ou se trabalhava, ou sobreviver era difícil. Concluindo, suicidou-se. A família revoltou-se, mas depois inevitavelmente resignou-se. Uma das filhas foi estudar para a África do Sul, a outra emigrou para a Suíça e o miúdo mais novo ficou com a mãe, que casou novamente e seguiu vida. A vida é mortal, dizia o Woody, mas segue o seu caminho direi eu.
Saravá
IMPIO
Também a compreendo e admiro a sua enorme coragem.
Vi-a ao almoço numa curta notícia na TV e espantou-me a serenidade com que falava.
Notava-se que ia partir em paz rodeada pela família e amigos que iriam "partilhar" com ela esses momentos de despedida.
Bela a mensagem que deixou no Facebook. Comoveu-me...
Impio,
Penso que "suicídio assistido" e "suicídio" são realidades distintas.
O primeiro é uma decisão consciente e ponderada.
O segundo poderá não ser. Podem existir muitos factores na sua génese e não estou a pensar só em depressões, sei lá...poderá ser também um estado momentâneo de tão grande desespero que o indivíduo não veja outra saída.
E agora a anedota do dia:
Cavaco defende que país "muito beneficiou" com Barroso na Comissão Europeia.
looooool Poderia lolelar até ao infinito:)))
Abraço
"Bela a mensagem que deixou no Facebook.Comoveu-me"
Pego na tua frase, Andorinha, para dizer, que tal como o Ímpio, este tema também me deixa num turbilhão de pensamentos, mas não me comove nem deixa de comover a sua mensagem no Facebook.
Não tanto pelo conteúdo, que esse sem dúvida me comove, mas por ser uma mensagem numa rede social, que não me espanta, pois vivemos numa época onde a vida e neste caso ( e outros) a morte é notícia e partilha.
Sem fazer quaisquer juízos de valor, até porque no caso desta jovem ou até num semelhante, eu talvez tomasse a mesma decisão.
"Bela a mensagem que deixou no Facebook.Comoveu-me"
Mundo tão lindo esse , comoções facebookianas. Selfies comoventes , tweet da partida de partir os corações. Looools e likes desta gente tão cool, libertária e certamente contribuintes para os trend pics da net. E mais notável ainda é a consideração " notava-se que ia partir em paz " Mundo doido este em que estamos , alguém parte em paz por estar rodeado de família e amigos ????Desde quando??? Quem disse e baseado em que estado de avaliação podemos afirmar o que sente alguém numa situação limite destas????? Nem os mestres Bambos e caramba as pitonisas mais poderosas das runas podem ler esta paz. Tudo leva um rótulo hoje . Tão serena é a morte dos outros.
Tanta idéia pré concebida.
Bom dia:)
Andorinha
Hoje aqui a me confessar culpada por omissão, porque também me incluo no mundo das redes sociais, por ter uma página no facebook, embora poste lá muito raramente.
E dizer-te que também a compreendo e te compreendo.
Afinal de contas, o que é mais relevante, não é tanto a despedida feita numa rede social, embora isso levante questões que o Rafeiro mencionou, mas sim a discussão da eutanásia, que requer de facto serenidade.
Beijinhos:)
Andorinha
O tema do suicídio deixa-me sempre sem palavras. O primeiro caso que me passou foi o da minha mãe quando ela se tentou suicidar quando soube que tinha um neuroblastoma no nariz. Fiquei sem palavras na altura e consegui reagir com calma e prudência dando-lhe o máximo de apoio, e nunca a critiquei pela tentativa. A questão do suicídio ficou de lado, fez a operação ao nariz, a radioterapia, conseguiu viver contente mais dois anos, sem problemas,mas depois o cancro reapareceu e ela sofreu bastante até morrer. No final descobriu-se que não era um neuroblastoma mas sim uma metástase de um melanoma que já estava bem espalhado pelo corpo; no final deu-se aquilo que na gíria, os médicos denominam de "largada de balões" nos pulmões e de facto assim parece quando se olha para o TAC dos pulmões.
Quanto ao irmão da minha amiga admito que não tenha tomado a decisão de um momento para o outro mas que a mesma se tenha vindo a acumular na sua cabeça. Várias foram as complicações que lhe sobrevieram pelo tratamento, inclusive contrair hepatite C, por falta de condições de higiene no hospital onde se tratava (Beira/Moçambique). Estava mesmo em sofrimento bastante prolongado e um dia decidiu não aguentar mais.
Um primo meu, também se suicidou por estar deprimido e no desemprego sem ver hipóteses de voltar a conseguir empregar-se. Foi um choque para todos pois nada nos fazia antever esta situação, dado ele "esconder" bem a sua depressão. Diria até que às vezes parecia alegre e bem disposto.
Por tudo isto, este é um assunto que me deixa sem saber muito bem o que dizer. São situações pessoais as quais não me sinto à vontade para criticar ou aplaudir; acontecem e cada caso é um caso!
Uma coisa parece-me ser óbvia:-cada um tem todo o direito de decidir sobre a sua vida e qual o rumo que lhe quer dar. Cada um tem todo o direito de decidir até que ponto tem capacidade para aguentar o sofrimento. A questão que se coloca é se essa decisão é lúcida. Essa é um questão difícil e sobre a mesma muito já se reflectiu e nada tenho de válido a acrescentar.
Abração
IMPIO
Ìmpio
só você e o rafeiro me merecem resposta. Hoje tudo se discute nada se sofre. Como pode alguém em sofrimento decidir lucidamente pelo suicídio? Eu tenho os meios todos, só me falta a coragem. E quem manda aqui balelas é porque nunca passou por certas situações. Agora não gosto de crónicas de mortes anunciadas, nem de espectáculos televisivos, só para distrair o pessoal que não gosta de pensar. Tenho a certeza que a família recebeu uma boa quantia por tanto uso da imagem. O resto é tudo muito triste, triste mesmo. E às vezes não se pode fazer mesmo nada senão aguentar enquanto tiver pressão para os pneus rolarem até pararem de vez.
Anfitrite
(Não uso o IE, porque está avariado)
P.S. Devo dizer que a morte me assusta muito, não é por pena, é por medo. Não gosto de pontos finais. Até com uma cadela eu gastei uma fortuna a dar-lhe morfina para ela não sofrer, porque estava lúcida. E só o veterinário é que tomou a decisão. Passei muitas noites mal dormidas, porque ela passou a dormir aqui ao meu lado, porque não era capaz de urinar deitada e ladrava para eu a levantar e pô-la a fazer as necessidades. E ainda há quem mate outros por causa de uma herança, ou se zangue com um familiar porque não gostou de uma resposta.
Unknwon
O sofrimento dos outros, sobretudo quando próximos, ensina-nos bastante; direi, talha-nos, o eu, o caracter, a forma de pensar e sentir!
Pela morte de um dos meus cunhados, “herdei” um gato, era o gato dele, que me fez prometer que cuidava dele até à morte do bichano. Cumpri a palavra, mas para além disso, afeiçoei-me ao bichano. Já era velho, mesmo muito velho e caiu na situação em que muitos gatos idosos caem- insuficiência renal!. A partir daqui ou hemodiálise ou eutanásia. A médica veterinária fez o prognóstico e foi clara, a hemodiálise é possível , ele vai sofrer bastante e com a idade que tem ele vai sofrer bastante até morrer. A conclusão racional seria eutanásia. Assim foi, mas ainda hoje eu recordo os olhos dele nessa altura. Queria o colo do dono, o meu que o adoptara e foi aí que ele morreu. Doeu-me bastante, mas teve de ser assim….!
Com a minha mãe a coisa não foi tão simples quanto contei. Um dia ela pede-me que arranje comprimidos para se suicidar; já não aguentava as dores. Fiquei num reboliço. Falei a médicos amigos que se prontificaram a darmos se eu não revelasse a fonte. Todos me advertiram que eu iria ter problemas caso optássemos por ir por aí. A minha mãe todos os dias perguntava quando eu já tinha os tais comprimidos e no dia em que eu lhe disse que os já os tinha, precisamente no dia seguinte, quando chego a casa, pede-me que a ajude a ir á casa de banho e morre nos meus braços. Senti o sopro da morte e ainda hoje tenho aquele som cavo gravado na minha memória. Um som cavo que vem da entranhas, como a vida se esvaísse nesse sopro.
A partir daqui que mais posso eu dizer ou opinar sobre morte ou suicídio. Apenas dizer que quem está fora da situação lhe será sempre fácil opinar.
Saravá
IMPIO
Ímpio,
A esse som cavo chama-se estertor. Eu já sofri tanto que já não sou capaz de enfrentar a morte. Agora despeço-me em vida. Em relação à minha mãe ainda me lembro do beijo que lhe dei na testa fina, sem rugas, mas febril. Depois mandei fechar logo o caixão. E assim estive na capela sozinha até à meia-noite. Senti-me muito calma ali, porque ela sempre foi a minha força. E se não me ajudaram em vida não precisava de companhia na morte.
Também tive um pastor alemão paralítico durante seis meses, mas que levantava o pescoço, para olhar quando o carro entrava quando eu chegava do emprego. O meu quintal parece um cemitério, mas isso era quando a minha mãe podia fazer esse trabalho. Agora despeço-me no veterinário. Comigo tem sido tudo complicado. Uma pessoa não pode ter sensibilidade. Até já me responderam torto por eu querer ajudar.
E o que me tem acontecido neste último mês ninguém consegue imaginar.
Basta de lamurias.
Um grande abraço
ANfitrite
.
Rainbow,
Foi o conteúdo da mensagem que me comoveu. Porra! Às vezes expresso-me mesmo mal!:(
Não por ter sido no Facebook.
Embora no caso dela, sendo a despedida final, não vejo de que outra forma ela poderia abranger "toda" a gente.
O que é patetice é leiloar a virgindade, leiloar a mãe and so on and so forth...:)))))
Beijinho:)
Impio,
Vou ver o Benfica para espairecer. Depois respondo-te. Tem que ser com calma, não pode ser a correr...
Até logo:)
Andorinha
Muito sofreste com o SLB, mas ganhaste por 1-0. Parabéns
IMPIO
Impio,
Sofri. Valha-me o Santo Talisca:)
Li com atenção tudo o que escreveste. "Senti" o teu sofrimento. Mesmo. Sou uma sortuda porque não passei por nada disso em relação a familiares ou amigos.
O que eu penso e digo é em termos teóricos, na prática não sei como reagiria.
Se fosse eu, um familiar próximo ou um amigo...
Como dizes, as coisas tomam outra perspectiva quando nos tocam directamente.
Ainda em relação a tudo o que relatas só te posso dizer que te admiro. Para além de seres um bom Blasfemo:), tens um coração grande. Nada que já não soubesse, apenas confirmei:)
Tive um cãozinho rafeiro, o Tico, que recolhi quando tinha seis anos. Tinha sido atropelado e tinha uma pata partida. Tratei dele e ele passou a viver em casa dos meus pais. Era complicado tê-lo aqui no apartamento.
O Tico gostava imenso dos meus pais e da minha irmã, mas eu era a preferida, de longe. Sabia que fui eu que o salvei.
Quando tinha perto de dezasseis anos começou a ficar doente, sem apetite e muito parado ele que era cheio de energia.
Levei-o à veterinária e depois de vários exames e análises que não detectaram nada, a não ser os achaques próprios da idade, a médica mandou fazer um RX ao tórax. Aí descobriu um tumor no pulmão em estado avançadíssimo. Não havia nada a fazer, apenas cuidados paliativos.
Todos os dias antes de ir para as aulas passava por casa dos meus pais para lhe dar a medicação (mais ninguém o conseguia fazer). No regresso das aulas a mesma coisa. Isto durante quinze dias. Na última semana vi-o piorar imenso e, como sempre tinha pensado, achei que tinha chegado a hora de o levar à vet.
Andei dois ou três dias totalmente desnorteada, ia para as aulas não sei como...
Ah...e quando chegava a casa e o via, chorava, chorava, chorava...
Um dia, não aguentando mais ver o sofrimento dele, decidi que seria o dia. Quando chegasse das aulas...
Quando cheguei o meu pai disse-me que ele tinha morrido há dez minutos.
Chorei sem parar...fazia-lhe festas na cabeça e só lhe "pedia desculpa" por não ter feito o que sempre lhe tinha "prometido". Não o deixar sofrer e estar com ele quando partisse. Iria ser para mim uma dor quase insuportável ir com ele e saber que não o traria de volta...
Isto foi com um cão...
Já lá vão cinco anos e esses momentos estão tão presentes como se se tivessem passado ontem.
Ainda dou por mim uma vez ou outra a "pedir-lhe desculpa". E sei que não estou maluca...
Falaste do gatinho, da tua mãe...não consigo imaginar, Impio.
São assuntos complicados, sim.
"Uma coisa parece-me ser óbvia:-cada um tem todo o direito de decidir sobre a sua vida e qual o rumo que lhe quer dar. Cada um tem todo o direito de decidir até que ponto tem capacidade para aguentar o sofrimento."
Sem dúvida, amigo. Com todo o respeito por opiniões diversas, esta é também a minha.
Abração
Concordo com quem diz que a morte não é para publicitar e dar vida a parangonas de jornais. Mas, quem sabe, seja assim uma forma de chamar a atenção para o tema: O estado de grande sofrimento provocado por algumas doenças é desumano.
Maria Bethania - Meu coração ateu
https://www.youtube.com/watch?v=_56V0F5ebZE
Fiquem bem.
Respeito, sobretudo, a coragem e a lucidez da jovem e reconheço-lhe o direito de escolha do momento da sua morte, face à trágica e sofrida morte anunciada.
Que descanse em paz, onde quer que esteja.
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