segunda-feira, abril 18, 2005

Nada na manga

Sábado fiquei surpreendido com a notícia no Público sobre a iniciativa do João Teixeira Lopes a propósito do abortado O Amor é... no dia seguinte à morte do Papa. No que me diz respeito, aconteceu o seguinte:
1) Uma ouvinte enviou-me a resposta da Antena 1 a um mail seu, em que protestava por o programa não ter ido para o ar.
2) Como ela própria referia, da resposta era legítimo inferir que eu tinha dado o meu acordo ao facto. Além disso fazia-se referência ao estilo alegre do programa (gravado na quarta anterior) e à hipótese de ferir algumas susceptibilidades.
3) Entrei em contacto com a Antena 1 por duas razões: para esclarecer que ninguém me tinha informado das alterações na grelha (o programa da Dra. Ana Sousa Dias também foi afectado) e, mais importante, para dizer que alguma da terminologia utilizada no mail me magoara.
4) Fiquei a saber que o meu interlocutor estivera fora de Lisboa e tomara uma decisão de madrugada, na convicção de que eu seria informado de manhã.
5) Quanto ao "estilo utilizado para apreciar o meu estilo", a apresentação de desculpas foi imediata e, na minha opinião, sentida, pois sempre mantive com a pessoa em causa uma relação de extrema cordialidade.
6) De qualquer forma, pus à sua consideração a possibilidade de terminar O Amor é... já e não em Julho como previsto, para nos precavermos contra algum atrito posterior. Foi-me dito que pessoal e institucionalmente eu era desejado até ao fim da série, sem qualquer "pedra no sapato".
7) Porque penso ter-se apenas tratado, como aqui referi, de uma avaliação errada - e ultrapassada... - da sensibilidade de parte da audiência de O Amor é... também eu decidi que poderia prosseguir até Julho sem azedumes.
8) Já fui indirectamente censurado na RTP, quando o Sexualidades passou para um horário de filme pornográfico, apesar dos pedidos insistentes de escolas e outras organizações para que passasse a horas aceitáveis. Alguém me chegou a sugerir que mostrasse mais mulheres nuas e falasse menos da tradição judaico-cristã...
9) Também me aconteceu na rádio, quando eu, a Inês Pedrosa, o Mega Ferreira e outros fomos tirados do ar depois de nos termos referido de modo jocoso ao pouco tempo de que o Professor Cavaco Silva dispunha para ler jornais. Aliás, guardo desse episódio uma boa recordação. A pessoa que transmitiu as directivas da Direcção de Programas disse que eu poderia continuar em antena se me limitasse a fazer "aquelas deliciosas crónicas" sobre afectos:)). Perante um "não" escandalizado, disparou: "Ainda bem, ter-me-ia desiludido se aceitasse!". Tipo fixe:).
10) O João tem todo o direito de pedir esclarecimentos, mas para mim é assunto encerrado. Se, por hipótese, houvesse uma "recaída", vinha-me embora. Sem ressentimentos, mas também sem apelo, a inexistência de má intenção não justifica menor cuidado no tratamento dado às pessoas.
11) O António Macedo não piou sobre a matéria porque lhe pedi expressamente para o não fazer. Desejava ter espaço para dizer o que me apetecesse na introdução ao programa sem o envolver num eventual conflito provocado pelas minhas palavras.
12) That´s all, folks:).

23 comentários:

cris disse...

Há ocasiões em que as ajudas externas atrapalham mais do q ajudam. Espero que não seja este o caso, Júlio, até porque as desculpas foram apresentadas e aceites. Ainda assim, compreendo a indignação de quem vê (ouve!) essa atitude numa estação pública de um Estado laico...

E continuo a precisar do seu e-mail oficial (ou seja, um que consulte com regularidade!) para lhe mandar um convite oficial também! E com uma urgência desmedida. Se não se importa, deixe-mo na caixinha do Gengibre (gengibrelilas@gmail.com). Obrigada e boa semana!

Anónimo disse...

O vosso sábio, sofrido e lúcido programa que, num simpático estilo coloquial, confronta as crenças, os saberes e os humores de residentes e convidados, só peca por não ser um pouco mais explícito - ou menos hermético - e ainda mais vigoroso na felicidade espelhada pelos seus autores.

Vivam e continuem

Esoen

Anónimo disse...

Ora bem. Afinal tudo se percebe e tem uma justificação, quiçá n a que quizeram logo atribuir ... né berdad? o juízo de valores é tão fácil e aliviatório ...(esta porra na existe de certeza).

Mangas de mantenhas

andorinha disse...

Retive sobretudo uma frase - "A inexistência de má intenção não justifica menor cuidado no tratamento dado às pessoas."

Cláudia B disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Cláudia B disse...

A ignorancia é a mãe de todas as injustiças!

A proposito de Paredes de Coura :D A minha familia é toda de lá.... mas espeficamente da aldeia de Insalde, cerca de 3 Km da Vila :D Como eu adoro a terrinha... sempre que posso vou lá (Viana do Castelo nao é assim tao longe!)! Como conheco a nostalgia de vir embora no fim do fds!!!!!
A sua familia é mesmo da Vila!?

Anónimo disse...

"Amo! amo! Não o escondo. Não o nego.
Nem que por isso arranquem todos os sinais do meu rosto"

Este outro:

"Já se ouve o galo maldito e o seu triste canto de despedida
O meu amante vai-se embora como um pássaro ferido"

e ainda:
"Se procuras o calor dos meus braços, tens de arricar a vida
Mas se queres apenas divertir-te, beija a poeira em vez do amor"

extraído de:
“A voz secreta das mulheres afegãs - o suicídio e o canto”

Este é o título de uma pequena obra fabulosa que reúne uma série de poemas populares de 2 versos apenas, chamados “landays” (que significa “o breve”), da autoria das mulheres afegãs da comunidade pashtun.

As recolhas foram feitas por um grande poeta, filósofo, historiador, professor e intelectual afegão, Sayd Bahodine Majrouh, assassinado em 1988, por fundamentalistas islâmicos, no Paquistão, onde estava exilado. A obra foi inicialmente publicada em França, depois traduzida para castelhano e agora finalmente, para português.

PARA MIM FOI UMA DESCOBERTA BONITA...

Anónimo disse...

Prof,com todo o respeito,sabe o que acho de tudo isto (e de muito mais coisas a que estão subjacentes as mentalidadezinhas deste País)?
Um vómito!!
Boa noite

Anónimo disse...

Meu caro!
Quase lamento a sua candura face à efectiva censura de que fomos todos alvo!

Anónimo disse...

Também eu, como muitos, oiço o "Amor é..." com gosto e atenção (excepto quando o futebol domina a conversa) e fiquei desapontada ao perceber que, nesse domingo, não iam emitir o programa. As razões que levaram ao seu cancelamento são, no meu entender, muito graves.

O que li aqui hoje trouxe-me, antecipadamente, um sentimento de perda por saber que o programa vai terminar em Julho!
Uma pergunta egoísta:
Nao regressa em Setembro?!

Catarina

Calvin disse...

Surpreso pela censura e surpreso pela defesa. Com tantas surpresas não te podes queixar de ser um homem sem sorte, Júlio. ;oD

the girl in the other room disse...

Se passar em http://wwwbanalidades.blogspot.com tem uma referência ao professor.~

Se lhe apetecer, comentários aceitam-se;)

Marta Couto

PortoCroft disse...

Bom...Pela explicação dada, que vai de encontro ao que eu já tinha pensado sobre o assunto, parece-me ser mais um caso de displicência que outra coisa.

Também não me parecia que o Prof. fosse alguém para continuar, caso as satisfações dadas não lhe caíssem no goto. E assim sendo, o requerimento do deputado, deixa de ter razão de ser.

Mas, os critérios de programação... Enfim!...

Haja paz e bom senso.

Anónimo disse...

Só uma coisinha, Portocroft, tu que até escreves muito bem e com graça: não é "de encontro ao" mas sim "ao encontro de". Não queremos andar aqui aos encontrões, pois não? :)
O Prontuário

PortoCroft disse...

Tem toda a razão, Prontuário.

Obrigado pela correcção do lapso.

PortoCroft disse...

Circe,

Fiquei esclarecido e muito mais tranquilo. Embora não lhe possa perdoar a interrupção do meu sonho. Nem é por nada. É que acabei por deixar o Borba a respirar. E isso, é imperdoável.;)

Resto de boa noite para todos.

Anónimo disse...

Ora bom dia gente boa. Pois de facto já tinha ouvido falar de uma tal censura, mas não estou minimamente a par do que se passa. Mas continuo na minha; este é o seu verdadeiro programa. E com tantas estações de rádio e televisão não há-de faltar quem o solicite para um programa em horário mais adequado e com tudo a nu. Vou acompanhando a leitura na medida do possivel

lobices disse...

...não aceito qualquer tipo de censura... a verdade é que, por motivo da morte do Papa, o programa não foi para o ar... a razão aventada seria, no mínimo, por motivo de programação mas seria uma "desculpa" a apresentar; como não foi apresentada, foi uma censura sem justificação...
...Marcelo`s gate
...Júlio`s gate
...quantos mais não existirão por aí sem deles nos apercebermos?
...abraço

Anónimo disse...

"IGNORÂNCIA
Se não se sabe qual a informação que nos falta, como sabemos se há censura?"

Anónimo disse...

Segundo a minha norma de "respeitar e ser respeitado" até poderia aceitar a justificação deles (se tal tivesse existido!)

Apenas dou comigo a imaginar a hipocrisia das pessoas que assim o decidiram (na sua razão) e que - eventualmente - a irem para casa, seguem no seu automóvel lançando insultos a qualquer pobre desgraçado que se atravesse no seu caminho e os faça perder alguns segundos...

Anónimo disse...

Anónimo ouvi falar que o programa foi censurado e quase toas as pessoas falaram nisso, assim muito pela rama, aqui. O motivo ao certo ou toda a história não sei concretamente. Serei ignorante, pois.

Anónimo disse...

Não queria voltar mais ao assunto da “censura”, mas acho que devo.
Os factos conhecidos foram já suficientemente esclarecidos pelo Professor. Quero só acrescentar que, pela minha parte, fico contente por tanta gente ter protestado e até por o “caso” ter chegado à AR (embora o resultado prático dos Requerimentos deixe muito a desejar, facto que conheço a partir da breve passagem que fiz pela Assembleia, em 89). Pela minha parte telefonei na hora para a RDP, mas foi-me dito que não estava ninguém para atender a minha reclamação, por ser domingo. Como tal escrevi, por via electrónica, ao Prof e à sua equipa e protestei junto do Director de Programas, salvo erro. Tive resposta, a primeira das quais muito insatisfatória, tendo em conta a realidade dos factos. Escrevi nova carta voadora e tive nova resposta, desta vez aceitável. Qualquer um pode errar e deixar-se levar por pressões que às vezes nem são de fora, estão muito interiorizadas. O importante é que, com o protesto de muitos essa atitude possa mudar e se erre cada vez menos. Protestem, manifestem-se, não deixem passar os pequeninos detalhes que fazem a diferença entre democracia e o simulacro dela.

Anónimo disse...

Sorte teve o Prof. em o programa ter sido censurado antes da oficialização da nova inquisição.

Agora com um ex-membro da juventude hitleriana como líder espiritual de 1000 (?!) milhões de católicos, não tardarão novos e inadmissíveis actos de censura em estados laicos.