Dia da Criação
Vinicius de Moraes
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há um tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há um tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.
Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia,
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia,
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.
19 comentários:
E Os Dias Serão Sempre Iguais
Ben Howard Every Kingdom (Full Album)
https://www.youtube.com/watch?v=xQqDI-aOkhQ
Cuidado Com O Bloco Que A Rede Pode Ficar Presa
"http://www.esquerda.net/"
É UM LIVRO MUITO PESADO PARA VOCÊS
"Erich Maria Remarque"
Tempo Para Amar
Tempo Para Morrer
"Mumford and Sons- Sigh No More full album"
https://www.youtube.com/watch?v=ST59IaiCUdA
Where Is The Revolution
My Son?
My Mother
Let´s go.
It´s your time...
"Passenger - All The Little Lights"
https://www.youtube.com/watch?v=-HJVndAk_24
João Pedro,
Eu li esse e todos os de guerra desse tempo, como o "Mila 18" de Leon Uris, e tantos tantos outros. Não sei se sabes que o nome do meu pseudo blogue "O Céu Não Tem Favoritos" também foi tirado dum livro dele. Não tem por base a guerra mas a desesperança, a tuberculose, na altura, e quem arrisca a vida porque nada tem a perder.
E porque hoje é Sábado há um aumento de Sífilis, agora será mais SIDA, porque as pessoas continuam inconscientes sem saber o que fazem e depois querem que a população aumente sã e sadia, ou então os outros que tratem deles, os que precisam de todos os cuidados porque houve quem não tivesse cuidado. Fomos marinheiros, intrépidos, talvez porque cadastrados, e hoje continuamos a não pensar nas consequências. E andamos todos aqui a falar duma fantochada e a desejar boas festas a todos, quando todos nós não passamos de uns condenados das galeras.
Felizmente o Senhor não descansou...:)
O poema é deslumbrante!
Vinicius, como só ele sabia...
Os dias nunca são iguais, JP.
Impecável. Grande vinícius! Porém, O que seria sem o domingo...mesmo que o mundo fosse tal como diz, não havia pensamento sobre ele nem palavras a dizê-lo. Seria como se não existisse.
Poemas destes levam-nos ao lugar do que somos
https://www.youtube.com/watch?v=3rn2N0ZbLEQ
Ana Carolina e Seu Jorge - É isso aí
Linda! Linda! Linda!
Como a vida, se nós quisermos...:)
Anphy
ainda está em sexta feira santa e já chegámos a sábado de aleluia. Por favor, não seja tão pessimista. que diria eu que estou aqui com os pés e as pernas feitas num oito e até parece que andei nas galeras e tudo. Pronto, ta bem, tenho vocação de condenada.
Andorinha
nascemos do ócio divino:) é agradável pensar isto.
Gosto da voz da Ana Carolina. Obrigada. E boa noite pati
Os Amigos Nunca São para as Ocasiões
Os amigos nunca são para as ocasiões. São para sempre. A ideia utilitária da amizade, como entreajuda, pronto-socorro mútuo, troca de favores, depósito de confiança, sociedade de desabafos, mete nojo. A amizade é puro prazer. Não se pode contaminar com favores e ajudas, leia-se dívidas. Pede-se, dá-se, recebe-se, esquece-se e não se fala mais nisso.
A decadência da amizade entre nós deve-se à instrumentalização que tem vindo a sofrer. Transformou-se numa espécie de maçonaria, uma central de cunhas, palavrinhas, cumplicidades e compadrios. É por isso que as amizades se fazem e desfazem como se fossem laços políticos ou comerciais. Se alguém «falta» ou «não corresponde», se não cumpre as obrigações contratuais, é logo condenado como «mau» amigo e sumariamente proscrito. Está tudo doido. Só uma miséria destas obriga a dizer o óbvio: os amigos são as pessoas de que nós gostamos e com quem estamos de vez em quando. Podemos nem sequer darmo-nos muito, ou bem, com elas. Ou gostar mais delas do que elas de nós. Não interessa. A amizade é um gosto egoísta, ou inevitabilidade, o caminho de um coração em roda-livre.
Os amigos têm de ser inúteis. Isto é, bastarem só por existir e, maravilhosamente, sobrarem-nos na alma só por quem e como são. O porquê, o onde e o quando não interessam. A amizade não tem ponto de partida, nem percurso, nem objectivo. É impossível lembrarmo-nos de como é que nos tornámos amigos de alguém ou pensarmos no futuro que vamos ter.
A glória da amizade é ser apenas presente. É por isso que dura para sempre; porque não contém expectativas nem planos nem ansiedade.
Miguel Esteves Cardoso, in 'Explicações de Português'
Li...gostei...concordo com quase tudo...:)))))
Os Amigos são para sempre, quando são Amigos. Por isso são raros...
Bea,
patitambém :)
Também concordo com a maior parte. Miguel Esteves Cardoso tem o cuidado de nunca ter sempre razão.
Os amigos são para as ocasiões sim, não porque cobremos, mas porque estão lá - por serem nossos amigos. A amizade é puro prazer, sim. Mas também faz favores e gosta de ser útil, serve para alguns desabafos e etc. O que não existe na verdade é a ideia de dívida. Não passa pela cabeça de um amigo - a não ser que a dúvida se tenha instalado.
Cunhas e compadrios ofendem a amizade verdadeira, não entendo porque fala o Miguel nisso.
Não consigo ser amiga de alguém com quem me dou mal, ou com quem não me dou. O que não significa que conseguisse viver com as minhas amigas, ainda bem que os amigos não são de coabitar.
Em geral, sei quando me torno amiga de alguém e por vezes antecipo e sei que hei-de tornar-me.
As pessoas não são todas iguais na amizade
Também concordo contigo em quase tudo, Bea:)
"Os amigos têm de ser inúteis. Isto é, bastarem só por existir e, maravilhosamente, sobrarem-nos na alma só por quem e como são."
Inúteis neste sentido concordo em absoluto. E acho linda e verdadeira esta afirmação. É o que sinto em relação aos meus amigos.
"Podemos nem sequer darmo-nos muito, ou bem, com elas."
Aqui é o meu grande desacordo com o Miguel. Tal como tu, não consigo ser amiga de quem não goste ou de alguém com quem me dê mal. Não faz sentido.
A amizade pressupõe que se goste...
Beijinho, miga:)
A amizade é um sentir, um estar pronto, um desejo de poder dizer sim, um eco de risos respondidos, um ouvido grande, um colo ainda maior se ocorre, um caminho até alguém, um continuar da conversa de ontem ainda que tivesse sido interrompida há que anos.
Caidê linda,
Merece que eu lhe deseje uma bom domingo.
Aos amigos a gente tem de aceitar como eles são. Mas os amigos sentem-se não se fabricam. E é por isso que eu digo que não tenho amigos, porque nunca estiveram presentes, porque não quiseram, quando eu precisei deles. Os que tive apenas se serviram de mim, por isso hoje já nem quero saber para não me preocupar. Até dos meus familiares já nem sei os que estão vivos. Tenho uma vaga e saudosa ideia de amigos de escola. Hoje se os visse nem os conheceria. Ainda tenho uns meio-amigos, meio-colegas de trabalho, mas já nem sei deles. Posso dizer que hoje sinto mais afinidade virtual com certas pessoas. E o MEC também não tem grandes amizades. Apenas sabe escrever bem, e em tempos teve uns gajos que andaram com ele na rambóia. Hoje desejo-lhe que a Maria João consiga fazer-lhe companhia por muito tempo, porque se não, quase diria que é um caso perdido.
Um grande abraço para si, que foi mais amiga e ÚTIL dos que conheço pessoalmente.
Oh! Anphy! só hoje a li... pronto, pronto, a gente gosta de si, sabe bem disso e se duvidar é porque é palerma - desculpe, mas, duvidando, é mesmo. Eu gosto muito de si, já disse mil vezes. Mesmo não a conhecendo senão do que escreve e se me cruze consigo não sei quem é, mas pronto, gosto à mesma.
Sim, sim, também desejo ao Miguel EC e à mulher que se mantenham os dois porque bateu nele fortemente. E vai sobreviver muito mal se ela lhe desaparece. Os amores assim são tão bonitos e bons como perigosos. E como não são de distribuição gratuita, é aproveitar a quem calhem. E agradecer. O amor, como a amizade, são sempre de agradecer, qualquer coisa que bate fundo na nossa humildade de sermos gostados e importar a alguém. Pensá-lo é uma nascente de alegria aos borbotões (estilo jacuzi).
E fiquem bem que tenho mais que fazer, ora esta. Estou para aqui a tagarelar e o mundo a acenar-me, psst, psst...tenho que ir
beijinhos
Depois passo. Para vos ler! O que começa bem. Só faltava o Eondoic?
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