segunda-feira, dezembro 29, 2014

Ai o traidor:)))))).

Os Homens não Sabem o que é o Amor

De forma geral, os homens não sabem o que é amor, é um sentimento que lhes é totalmente estranho. Conhecem o desejo, o desejo sexual em estado bruto e a competição entre machos; e depois, muito mais tarde, já casados, chegam, chegavam antigamente, a sentir um certo reconhecimento pela companheira quando ela lhes tinha dado filhos, tinha mantido bem a casa e era boa cozinheira e boa amante - então chegavam a ter prazer por dormirem na mesma cama. Não era talvez o que as mulheres desejavam, talvez houvesse aí um mal-entendido, mas era um sentimento que podia ser muito forte - e mesmo quando eles sentiam uma excitação, aliás cada vez mais fraca, por esta ou aquela mulher, já não conseguiam literalmente viver sem a mulher e, se acontecia ela morrer, eles desatavam a beber e acabavam rapidamente, em geral uns meses bastavam. Os filhos, esses, representavam a transmissão de uma condição, de regras e de um património. Era evidentemente o que acontecia nas classes feudais, mas igualmente com os comerciantes, camponeses, artesãos, de forma geral com todos os grupos da sociedade. Hoje, nada disso existe. 
As pessoas são assalariadas, locatárias, não têm nada para deixar aos filhos. Não têm nada para lhes ensinar, nem sequer sabem o que eles poderão vir a fazer; as regras que conheceram não serão de todo aplicáveis a eles, porque eles viverão num mundo completamente diferente. Aceitar a ideologia da mudança permanente significa aceitar que a vida de um homem está reduzida estritamente à sua existência individual e que as gerações passadas e futuras não têm, aos seus olhos, nenhuma importância. 
É assim que nós vivemos, e ter um filho, hoje, para um homem, já não faz qualquer sentido. O caso das mulheres é diferente, porque elas continuam a sentir a necessidade de terem um ser que amem – o que não é, nem nunca foi, o caso dos homens. É um disparate acreditar que os homens também têm necessidade de acarinhar e de brincar com os filhos, de lhes fazer festinhas. Por mais que no-lo digam, é um disparate. Depois de nos termos divorciado e de o quadro familiar se ter desfeito, as relações com os filhos perdem o sentido. Um filho é uma armadilha que se fechou, é o inimigo que temos de continuar a manter e que vai acabar por nos enterrar. 

Michel Houellebecq, in 'As Partículas Elementares'

6 comentários:

andorinha disse...



Polémico até dizer chega...:)
Eu não devia ler livros de traidores, mas vou fazê-lo.
Uma parte de mim fecha os olhos enquanto a outra lê:)))))))

Mais um autor que vou passar a conhecer por sua causa, Júlio. Obrigada:)

andorinha disse...



"O caso das mulheres é diferente, porque elas continuam a sentir a necessidade de terem um ser que amem – o que não é, nem nunca foi, o caso dos homens."

Só por isto já não deveria ler:))), mas como estamos em época natalícia estou muito tolerante e por isso vou cumprir o que me prometi.


https://www.youtube.com/watch?v=0JVUaHJcZp4


Fiquem bem:)

andorinha disse...




Bom Ano, Júlio e maltinha:)

Cá nos encontraremos!

Cê_Tê ;) disse...

Estava a escrever no Face mas ficava enooorme... Vendo-a aqui e não resitindo à provocação apesar de não me ser dirigida ;))))....

Os filhos levam consigo SEMPRE uma herança FORTE dos seus pais- em todas as suas células quer queiram quer não ;)- seja qual for a forma como foram gerados ;))) E, curiosamente… de forma falsamente equitativa de pai e mãe tendo destas mais do que a conta ;) (uma pequena e herege ironia! ;)))). Essa é a única herança democrática física que TODOS levam consigo deles (Que não deixa de se uma verdadeira caixa de Pandora!).
Monetariamente podem levar nada nos bolsos, podem até… de futuro, levar dívidas (nos tempos que correm ;(…).
Seja como for, dos pais os filhos recebem muito- a matriz!
Quanto ao resto,… levam ainda tanto!!! Bom e mau- fruto de convívios e/ ou ausências- do que dizemos, do que não dizemos, do que fazemos ou não fazemos…. Não somos filhos, nesse contexto, só quem nos gerou e/ou criou mas do MUNDO e nos nosso próprio Mundo! A epigenética acerta as contas com a tal OUTRA herança. ;). E isso é bom porque ganhamos plasticidade!!!
Agora
…. pobres dos pais- pai, mãe ou ambos- que esperam dos seus filhos um clone melhorado de si próprios!!!! Que fracasso seriam, pois vivemos num mundo que já nos ultrapassou há muito.
… pobres dos filhos que não aprendem a interpretar o presente e a perspectivar o futuro valorizando contextos passados que podem ter sido vivenciados pelos seis pais e justificar as suas personalidades.

[Ter um filho por vaidade ou para justificar fertilidade é que é me parece um grande disparate a que ninguém deve ceder ... ;(((]


Bom Ano de 2015 com renovadas energias;)

. disse...

Ia deixar um sorriso - e deixo -, mas o blog distrai-me pedindo, abaixo, que prove que não sou um robô. Não estava à espera de vir aqui sorrir e de sair com uma crise de identidade, mas nem o Júlio nem o Houellebecq merecem menos que isso.
:)

Lia Noronha disse...

Muita polêmica por aqui...ser mãe ou pai..e puramente uma questão de vocação...nem todos a tem...abraços a todos.