Maria,
Jantei com amigo nosso, de origem teu, partidário de nenhum,
antes houvesse campo de batalha a separar-nos e não canal manchado, qualquer
fímbria de nortada seria suficiente para trazer voo de gaivota, lençol a corar
sem vergonha, palidez medrosa de meu ou teu vilão ou nobre, papel de carta
virgem desta pena exausta por não se cansar de te pedir o regresso a capella; um branco dos mil possíveis. E
eu declará-lo-ia indiscutível pedido de tréguas e nelas mergulharia com a
esperança de serem a antecâmara dos teus braços...
“Ela já tinha ido embora antes de partir”, disse ele. E todo
o jantar se tornou em moldura de frase que colocava outras na mesa, indiferentes
a baixela não de prata que pesava como
chumbo e garfadas impotentes perante o nó de marinheiro em terra seca e
bordejando as lágrimas que me estrangulava a partir de dentro e resistiu com
galhardia a vinho bebido sem gozo por medicinal, trouxe o nevoeiro à alma mas
não a paz ao corpo inteiro.
As nossas frases. Sibilinas, para não lhes colar adjectivo
que rimaria e arrepia – será que nos desejámos de tantos modos que só restava
erotizar a separação? Silêncios
nostálgicos de outros, cúmplices. Garras de fora nascidas de unhas que se
cravavam nos corpos, “vem”.
Ele tem razão - separámo-nos juntos. E tu fugiste para não
dizer adeus. Ou disseste-Lhe? Não acredito, afinal fomos...
16 comentários:
Ninguém se vai, verdadeiramente, embora. O corte absoluto com um passado é sempre impossível. Ausentam-se as dores, mas as ressacas do medicamento moem a alma e exudam pelas memórias.
Isto digo eu, que só sei ...
Parece que o amor anda no ar com tanto romantismo musical, ultimamente.
Belo! Triste, também...
"...trouxe o nevoeiro à alma mas não a paz ao corpo inteiro."
O corpo nem sempre se deixa enganar pelo nevoeiro...
Fugir para não dizer adeus?
Sei, as despedidas custam...
Aquiles,
"Ninguém se vai, verdadeiramente, embora."
Ó homem! Ai vai, vai...
Felizmente! Para a vida poder continuar de forma menos atribulada.
Isto digo eu...:)
Andorinha
Partem, saíram, e em definitivo, sim. Tiveram de deixar espaço para que a vida continue, espaço que possa ser ocupado por outrem. Mas embora mesmo, não sei não.
Graciosidade na música:
https://www.youtube.com/watch?v=1KhUo66Nj7w
E continuando na graciosidade:
https://www.youtube.com/watch?v=tu5XohUR3Pg
E a graciosidade de um tropel:
https://www.youtube.com/watch?v=gEsTYZz4wfA
Aquiles,
A ouvir/ver o primeiro link que deixaste. Belo, suave...
Os outros deixo para amanhã.
Abraço
Olá Aquiles
Concordo. Mesmo quando alguém sai da nossa vida e vai embora definitivamente... não vai.
Há uma marca que fica em nós. Seja agradável ou não. Caso contrário esse alguém não teria entrado.
...
:)
Ninguém entra e sai impunemente. Ficam sempre marcas, sejam de que espécie for. Ou então nós não existimos.
As despedidas são tristes. Pior é quando elas não se chegam a fazer e perdemos o rasto da existência.
Eu até sou coleccionadora de lutos por fazer. Não cheguei a enterrar os meus entes mais próximos, nem sei onde eles se encontram. Só há um, que eu estou à espera que o coveiro me informe, para reduzir os ossos a cinza. Não sei se será isso que me tem mantido viva...
Vou ler a escrita do senhor? Respeito! A concorrência. "..."
Aquiles e Moon? Estamos todos! Com saudades. Do amigo imaginário...
Sim, gente, há marcas mas algumas são tão pequenas que quase não se dá por elas...:))))
Depende da importância que as pessoas tiveram nas nossas vidas.
“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”
Aqueles que importam/importaram...
Vou...
Hum...
Marcas pequenas? Até sinal piquinininho é potencialmente perigoso, quiçá letal.Será que terei de começar a citar Camões e Florbela Espanca?
Não é preciso, Aquiles. Sobes um degrau e pronto:) é o que vou fazer. Já mesmo.
Não
Senhor professor, senhor professor, está ficando muito melancólico....
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