Maria,
Beira-rio a conselho médico, trote arquejante, bancos olhados
de esguelha - para não ceder à tentação, livro exilado em casa... -, navego
entre doces, carrinhos de choque, matrecos e gentes que olham o céu com alívio,
S. Pedro não prepara desfeita ao amigo João, assim protegendo o negócio, “sardinha e broa,
euro e meio”. Estivesses aqui e velha discussão nasceria da tua juventude, o
meu horror a noitadas e multidões a empurrar-te para os festejos, “levas a
chave, acordas-me à chegada e abusas de mim...”. O sobrolho franzido – “das três
sugestões aceito duas. Quanto ao resto, prefiro adormecer contigo. Jantamos com
a malta e vimos cedo, já te disse que o prazer das noitadas não depende do
bilhete de identidade”. Ano após ano, o mesmo ritual: protesto meu, decisão
tua, amor nosso.
Mas tu não estás. E assim ficou prejudicada a barraca dos
doces, alguns com nomes açucarados que provocariam o teu azedume, falso como
Judas, “pois não sabes que ando a tentar...?”. A tentar sim, querida, a
conseguir talvez em Londres, que no Porto, viver-te era como trautear o Chico,
jamais faltava açúcar e afecto J. Dei comigo a fazer alongamentos batoteiros ao pé dos
manjericos, sem grande esperança passei os olhos pelas quadras, lembrei com um
sorriso as do meu tempo, muitas não resistiam ao “repenica, repenica...”, o
Santo fazia o resto como qualquer normal pecador e nós ríamos, imberbes. Menos
fisiológicas as actuais, mas não demasiado inspiradas. Até que...
Chamei a senhora, perguntei o preço. O meu ouvido, cuja
dureza já não se satisfaz com a música, a trair – “dois euros e meio?”. Eram
doze... Queixei-me sem muita convicção, ela percebeu-o de imediato e iniciou um
discurso pausado e didáctico sobre jarros de água, prato por baixo do vaso e
longevidade, “dura-lhe até ao Natal!”. Que importa? Que importa se me trouxe a
tua imagem a rodopiar, agarotada – “gostas?” -, eu transformado em público tão
entusiasta como agradecido, a humidade portuense como álibi para voz rouca, “sim”.
Sim, querida, como resistir à quadra?:
“Quando as saias arregaça,
Para bailar
livremente,
Maria, cheia de
graça,
Faz a desgraça da gente...”.
Marotos versos tripeiros, irmãos de fantasias minhas.
(Só não gostei muito do plural que “gente” abriga...).
12 comentários:
Lindo! Como sempre que fala com a Maria:)
(Só não gostei muito da ciumeira final...)
:)
Entre o céu e o inferno
São João
E São Pedro
Santo António é para toda a gente
Quando a saia arregaça,
Desde que para bailar.
Não há gente, há só graça,
E o seu doce rodopiar.
Deixe que a Maria baile,
No seu sonho ribeirinho.
Que os seus braços sejam xaile
Que a aconchegam no caminho
Depois de deixarem o baile,
Enquanto regressam ao ninho.
Esta sua Maria é "imensa"...que inveja!
Quem Sai Aos Seus Não Degenera
Bart,
Uma delícia:))))).
Também gostei, Bart :)
https://www.youtube.com/watch?v=xfwMX0-dUNM
Boa terça.
O que é que não faço para vos saber felizes, meus murcõezinhos adorados?!
;))))
E Viva o Sõe Joõe!!!!!
Bartolomeu. Obrigada pela parte que me pertence! Que seja retribuida? Na mesma proporção...
Não fazes mais que a tua obrigação, Bart:))))))))))))))))
Aliás, devias fazer mais vezes....lol
Fica bem:)
Princesa Rosário, Inveja Tenho Eu De Não Pertencer À Velha Revolução. Meu Pai Nasceu Antes Do Dia Da Instauração Da Republica E Minha Mão Já Na Instauração Da Democracia! Só Falta O Natal Ser Dia De Todos Os Santos? O Momento Em Que Se Nasce Ser Feriado Religioso...
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